quarta-feira, 6 de setembro de 2017

No dicionário de Udo, “cimento” vem antes de “ambiente”

POR JOSÉ ANTÓNIO BAÇO
Às vezes pergunto se Udo Dohler gosta de Joinville. Ou dos joinvilenses. Ok... muita gente fica ofendida com este tipo de questionamento – os chauvinismos são sempre bacocos – mas o fato é que quem gosta cuida. Repito: cuida. No entanto, não parece que o atual prefeito esteja particularmente empenhado em cuidar do futuro da cidade e dos seus cidadãos. Afinal, parece não haver ações de fundo nesse sentido.

Exagero? Udo Dohler está a lavar as mãos na questão do licenciamento ambiental. É grave. A propósito, memórias recentes permitem dizer que está a lavar as mãos nas águas vermelhas do Cachoeira. Mas o ambiente é razão para tanto barulho? O cidadão comum pode pensar de forma objetivista: “a gente tem que fechar os olhos para certas agressões à natureza porque o importante é ter empresas, progresso, emprego”. Nada mais errado.

O processo civilizacional aponta no sentido contrário. O ambiente é essencial para acautelar o futuro da cidade e a qualidade de vida dos cidadãos. O tempo é de construir cidades modernas, inteligentes e inclusivas. E, ainda melhor, ganhar com a nova economia (já não tão nova assim). Mas o atual prefeito é um homem com o mindset no século 19 e, no seu dicionário, as palavras “chaminé” e “cimento” vêm antes de “ambiente”.

Há perguntas a fazer. Por que Udo Dohler está a se demitir da defesa do ambiente? Por que está a rejeitar a obrigação de, enquanto prefeito, defender as atuais e futuras gerações de joinvilenses. Deixemos de barato. Afinal, seria impensável ver confirmado o que escreveu o co-blogger Jordi Castan esta semana: “uma decisão tão desatinada que leva a pensar que esteja a atender outros interesses que não os da sociedade joinvilense”.

Eis a tragédia histórica. Ao longo dos tempos, os prefeitos de Joinville têm mantido a cidade amarrada ao passado, com modelos clientelistas e métodos ultrapassados. O leitor eleitor pode questionar as prioridades e pensar: isso de meio ambiente é frescura dos ecochatos, porque tem é que cuidar da saúde, da educação e dos transportes. Claro que sim. O problema é que uma coisa não exclui a outra. Pelo contrário.

Fica a dúvida. Talvez o atual prefeito esteja mais preocupado com o seu próprio projeto político – esqueçam lá a conversa do gestor, porque as decisões são sempre políticas – do que com a modernização da cidade e o bem-estar dos joinvilenses. Afinal, quem só olha para a árvore acaba por não ver a floresta. Ops! Péssima metáfora. Porque, como ficou evidente, árvores e florestas não interessam muito lá pelas bandas da Prefeitura.

Ah... e não duvido que a esta hora os chiens de garde do prefeito já estejam a arreganhar os dentes:
- Quem não vive na cidade não pode falar. Porque fala de uma cidade virtual, vista pela internet, e não sabe sobre a cidade real.
E eu responderei:
- É só uma questão de quilômetros. A entourage de Udo Dohler vive acantonada na torre de marfim do poder na Hermann Lepper e, por não praticar a democracia e não dialogar com o exterior, também só vê uma Joinville virtual.

É a dança da chuva.

8 comentários:

  1. É medíocre o pensamento de que, se vc mora longe não interessa o que acontece aqui, ou então que tem muito "mato" pra devastar. Tá tudo integrado. O que acontece na Amazônia interfere na Europa. Sem Mata Atlântica não tem água. Realmente estamos presos em 1950 😞

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    1. É medíocre mesmo esse pensamento de morar longe e não interessar o que acontece em Jlle. Mesmo estando alguns quilômetros de Jlle me importa muito o que acontece por lá. 80% dos manguezais do estado situados na Baía da Babitonga. Temos uma das maiores fundições do mundo situados em uma área de preservação permanente onde está localizado também um enorme aterro de resíduos contaminando toda a água da baía desde décadas. Algum tempo atrás a dona FATMA autorizou a ampliação deste aterro. Uma medida sem dúvida criminosa por parte do órgão ambiental estadual. Imagina quando o licenciamento ambiental voltar para o estado que não possui técnicos efetivos o suficiente. Realmente acreditava que os anos de experiência do Sr. Udo a frente de uma grande empresa faria a diferença na gestão municipal. Estava errado!

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  2. "Ao longo dos tempos, os prefeitos de Joinville têm mantido a cidade amarrada ao passado, com modelos clientelistas e métodos ultrapassados." Parabéns, Baço. Isso é visível mesmo com um oceano entre nós. Imagina para nós que vivenciamos isso no dia a dia...

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  3. Mas e o Paloffi, hein? O "guerreiro do povo brasileiro" abriu o jogo!

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    1. Não, péra... este é um texto sobre o "Paloffi"? Juro que li do começo ao fim e nem percebi. Que tonto que eu sou...

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    2. Então. Que boa pauta pro próximo texto, heim?
      Será que o "italiano" iniciou uma nova fase dentro do PT?: a Antropofagia? Vai vendo...

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    3. Não vou escrever sobre o tema. Estou triste. Dilacerado. Nem consigo sair da cama de tão deprimido.

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    4. Anime-se! Um humorista não pode desistir assim!

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