terça-feira, 11 de abril de 2017

Austeridade é o remédio que mata o paciente: o caso português

POR JOSÉ ANTÓNIO BAÇO
Portugal, 2011. “Austeridade” é escolhida a palavra do ano. É um momento em que a crise econômica atinge um dos seus pontos mais dramáticos. Afundado numa recessão, o país vai às urnas e faz ascender ao poder o governo de direita (e ultraliberal) de Pedro Passos Coelho. E tem início um dos mais lamentáveis governos desde que a democracia foi instaurada em abril de 1974, com a Revolução dos Cravos.

Não foi o que podemos chamar um “governo”. O novo primeiro-ministro tornou-se um simples títere da “troika” formada pelo Fundo Monetário Internacional, Banco Central Europeu e Comissão Europeia. Tudo o que fazia era aplicar a cartilha da austeridade determinada por essas três entidades. A população, rendida à “evidência” de que não havia alternativa, aceitou de forma passiva.

Mas os resultados da fórmula teimavam em não aparecer. Pelo contrário, as coisas pareciam ir de mal a pior. O remédio neoliberal parecia estar a matar o paciente. Houve  um ou outro aviso esporádico, que era logo abafado pela voz da “razão” dos poderosos. Não há alternativa. E viveu-se uma situação impensável. A estratégia do governo passava por empobrecer os portugueses e mesmo por estimular a emigração.

Em 2015, depois de quatro anos de um governo que levou o país à exaustão, vieram as eleições. E o partido de Passos Coelho conseguiu uma nova vitória. Mas os sistemas parlamentares têm as suas virtudes. De forma inédita na democracia portuguesa, as esquerdas (Partido Socialista, Bloco de Esquerda e Partido Comunista) optaram por um acordo parlamentar que lhes deu uma maioria e permitiu formar governo.

Muitos vaticinaram o fim do acordo em pouco tempo. O convívio entre partidos de esquerda não podia ter futuro. Apeada do poder, a direita tentou realçar a esquisitice do acordo, apelidando a solução de “geringonça”. Mas as primeiras medidas do novo governo passaram justamente por reverter muitas das ações austeritárias (austeridade mais autoritarismo) dos anos anteriores. E a coisa tem dado certo.

Até este momento o resultado é positivo, apesar da enorme dívida externa do país, que muitos analistas classificam como impagável. Os dois parceiros mais à esquerda do governo socialista – Bloco de Esquerda e Partido Comunista – já falam em restruturação da dívida. A questão é séria, mas por enquanto a “geringonça” mostrou que é possível crescer sem austeridade. E é aí que mora o perigo. Porque muitos decisores da União Europeia não parecem particularmente felizes com o sucesso português.

Se um país abandona a política de austeridade (não foi totalmente extirpada) e ainda cresce, surge a evidência de que há alternativas à política austeritária. E a pior das evidências: muitos países foram sangrados por causa de políticas econômicas equivocadas. Aliás, é só lembrar que o FMI tem sido ziguezagueante nesse aspecto. Ora defende a austeridade, mas esporadicamente diz que não funciona.

Há gente pouco confortável com a situação. Um dos casos mais flagrantes é o do ministro alemão Wolfgang Schäuble, das Finanças. O sucesso português parece ter-lhe estragado o fígado e ele não perde uma oportunidade mandar recados azedos. Outro caso mais midiático foi o do holandês Jeroen Dijsselboem, que acusou os países do sul da Europa de gastarem o dinheiro com “mulheres e copos”. O preconceito é indisfarçado.

O fato é que Portugal mudou. Depois de quatro anos sombrios, os portugueses voltaram a sorrir. Os problemas não estão todos resolvidos (longe disso), mas há motivos para confiar. A economia cresce, o desemprego desce, os salários e as aposentadorias aumentaram e o déficit de 2016 foi o mais baixo da história da democracia. Aliás, até os feriados que haviam sido cortados por moralismo da troika foram repostos e trouxeram ganhos para a economia.

Enfim, a depender da experiência portuguesa parece que a austeridade não é o único caminho. É um remédio tão forte que pode matar o paciente. Enfim, parece haver alternativa. E a alternativa é a morte lógica neoliberal da TINA (there is no alternative).

É a dança da chuva.

24 comentários:

  1. Interessante... A Grécia manteve a austeridade e também saiu da crise. Quem vai se manter por mais tempo fora dela: o governo austero ou o gastão?

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    1. Grécia já está nadando em dinheiro, né? Nunca se viu tanta prosperidade por lá.

      http://exame.abril.com.br/economia/grecia-pode-ter-que-pedir-o-quarto-emprestimo/

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    2. A Grécia saiu da crise? De que Grécia você está falando? Só se for do antigo império grego, porque a grécia atual vai de mal a pior. Ronaldo Aidos / Joinville / SC

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  2. Sim, sim. A Grécia saiu da crise... uh...

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  3. Mudando um pouco de assunto...

    O discurso de ódio da esquerda não tem limites. Desta vez esses racistas e homofóbicos do PSOL, PT e REDE tentam, a todo instante, cassar o mandato de Fernando Holiday (DEM) vereador de SP. Racistas e homofóbicos não passarão!

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    1. KKKKK! Vai lá fazer ele tomar tenência de homem e parar de chorar. O MBL elegeu um incapaz agora aguenta as consequências. E quanto ao problema do caixa 2 ele que responda na justiça.

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  4. Keynesianismo é o nome do receituário dos comunistas que tomaram o governo português (depois que Passos Coelho foi deposto por uma coalizão esquerdista no parlamento).

    Pobres portugueses... Já foi o tempo que o keynesianismo funcionava (funcionou bem com a recuperação de países europeus no pós-guerra e nos EUA, com o New Deal). Basicamente é a intervenção do Estado nos modos de produção, tudo vai de encontro com liberalismo. Uma outra faceta do keynesianismo é a do Capitalismo de Estado, aquilo que conhecemos bem aqui no Brasil, na Venezuela, na Bolívia e no Equador, assim como suas consequências.

    Acontece que os tempos são outros. Keynes não conhecia a globalização, quiçá uma União Europeia onde as soberanias econômicas dos países membros passam por Bruxelas. Sem dúvida é um péssimo receituário. Os simpáticos desta teoria são populistas, tentem a maquiar dados oficiais e empurrar problemas com a pança.

    A Grécia, por sua vez, ainda sofre com as consequências da crise (como Portugal), porém o receituário de lá é outro: a austeridade. A falta de popularidade de Tsipras fez com que o governo aproveitasse a deixa e tomasse medidas sérias, como as reformas necessárias para o país receber o resgate econômico e estabilizar sua economia. O Brasil passou por isso no governo de Itamar Franco, quando, com auxílio do FMI, estabilizou a inflação de três dígitos e criou o Plano Real (defenestrado pelos esquerdistas).

    Em suma Portugal e Grécia sofrem da mesma doença cancerígena, a diferença é que, enquanto os gregos fazem a quimioterapia, os portugueses são tratados com Aspirina: quem vai ter mais chances de cura?

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    1. Antônio Carlos. Vai plantar batatas. Não fazes a menor ideia do que estás a falar. É só um chorrilho de besteiras...

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    2. Bom dia, Baço,primeiramente.
      Segundo, grato pela atenção e parabéns por teres mencionado a questão das melhoras econômicas, e muito mais importantes, as melhoras sociais em Portugal, com o fim da austeridade sufocante. Eu mencionei semana passada esse fato brevemente e tu, que vives aí, colocaste mais e melhor o êxito que tem ocorrido e rendido ao povo e ao país por investir mais na sociedade e menos nos cortes absurdos nas áreas sociais.
      Terceiramente, mas não terceirizadamente, fora Temer, fora golpistas, fora tercerização e fora as austeridades austeritárias; é investindo no povo e não na mídia ou nos ziliardários que 1 país cresce e se desenvolve.
      Quarto, ao que parece o tal de Antônio Carlos parece pensar que conhece mais do que tu do realidade do teu próprio país! Que tal fazeres 1 desafio com ele sobre a história, geografia, cultura, sociedade portuguesa, artes, etc...

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    3. Sim, ouvi a sugestão e escrevi sobre o tema, apesar de não estar no scope do blog. E estou pensando em mudar os meus processos: sempre que quiser saber algo sobre a economia portuguesa vou perguntar primeiro ao Antônio Carlos. Parece que ele sabe mais de Portugal que eu. Abraços.

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    4. Mas quanto mimimi desse anônimo 10:10!

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  5. O Baço esqueceu de dizer que, segundo o próprio FMI, Portugal manteve as políticas de auteridade entre 2011 e 2014, ou seja, nesse período o governo português conseguiu minimamente equilibrar as contas, até chegar os comumistas para abrir os cofres e chamar o governo austero anteriror de "herança maldita". Já vimos essa história pelas bandas de cá.

    Eduardo, Jlle

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    1. Ah ah ah. Deixa de ser palerma...

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    2. Faltam argumentos ao Baço... É a formação em História que deixou sequelas.

      Eduardo, Jlle

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    3. Existem coisas muito mais importantes que equilibrar as contas, que equilibrar meros números, Eduardo: equilibrar as relações de poder, equilibrar as oportunidades, equilibrar as condições mínimas e dignas para uma vida financeiramente estável e plena de direitos. Se o importante é equilibrar as contas fazendo corte de gastos, então que se corte do dinheiro e privilégios absurdos de quem muito dinheiro e/ou bens tem e recebe, que se corte da sonegação, da corrupção, da publicidade, especialmente a publicidade que não seja de uso informativo para o bem social, que se corte de super-salários e das disparidades preconceituosas que há, sobretudo na iniciativa privada, que se corte na divulgação de produtos nocivos como cigarro, drogas outras e bebidas prejudiciais à saúde, que se corte em instrumentos de violência como as armas.

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    4. Putz, Eduardo. Fui apanhado. Tu és tão brilhante que me deixas sem argumentos. Então eu fujo. Ora... vai dar banho ao cão.

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  6. Com tudo o que está acontecendo no Brasil,... você escolhe falar de Portugal? Mas é uma esquerda bunda mole mesmo!
    Qua qua qua qua qua ...

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    1. É verdade. O que as coisas da Europa vão interessar aí na província?

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  7. A equipe da Dilma foi fazer a contabilidade pública de Portugal, por isto as contas melhoraram, kkkk.

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    1. Uau! Que veia humorística. Se quiseres que eu interceda em teu favor, posso indicar o teu nome para o Marcelo Adnet. Ouvi dizer que ele anda à procura de novos talentos. E tu és hilariante...

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  8. " Ó mágoa revisitada, Lisboa de outrora de hoje!
    Nada me dais, nada me tirais, nada sois que eu me sinta. " Alvaro de Campos.

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  9. Tá de sacanagem, vi agora a lista de partidos que governaram Portugal nos últimos 30 anos é basicamente são socialista e sociais-democratas ou seja a esquerda e quer jogar a responsabilidade para o outro lado?

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  10. O governo de esquerda português, que restaurou a economia portuguesa e deu novo fôlego ao povo português, que se cuide: os capitalistas predadores do mundo não devem estar satisfeitos com os feitos dos "comunistas" portugueses e já devem estar preparando, há muito tempo, suas armadilhas costumeiras para acusar as esquerdas portuguesas de corruptas, comprar os tribunais de contas, as promotorias públicas e a justiça de Portugal, e botar todos os esquerdistas "comunistas" na cadeia, restaurando a austeridade tão necessária a manter o povo português a serviço da prosperidade dos ricos "liberais" do mundo. Ronaldo Aidos / Joinville / SC.

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