domingo, 11 de outubro de 2015

A intolerância religiosa também está aqui


POR FELIPE CARDOSO

Não é só em outras cidades que casos de intolerância religiosa acontecem. Aqui, na cidade dita civilizada e nas cidades vizinhas, o fanatismo tomou conta, seguindo a tendência que vem avançando, nos últimos anos, nas terras tupiniquins. 

Neste domingo, um terreiro foi atacado por alguns moradores da vizinhança que agrediram, depredaram e ameaçaram um pai de santo, no bairro Santa Mônica, em Araquari. 

Estamos voltando para a Idade Média. O fundamentalismo religioso está ganhando força. O discurso moralista, infundado e inverídico tem sido propagado diariamente por padres e pastores que se utilizam da Bíblia para expressar o ódio contra outros grupos, religiosos ou não. 

Engraçado que nunca vemos o povo de santo nas praças, nos ônibus, ou indo de casa em casa pregar a salvação, ou tentando nos amedrontar com a falácia de que o fim do mundo está próximo. Muito menos invadindo igrejas e assembleias, ameaçando ou quebrando imagens, ou agredindo fiéis. Imagine se fossemos reclamar de barulho para cada igreja que além de berrar utilizam microfones e caixas de som para realizar suas orações. 

Todos esses fatos só deixam mais evidente o verdadeiro objetivo de algumas igrejas: amedrontar, anunciar o caos para, assim, seguirem lucrando e conquistando cada vez mais poder. A bancada evangélica está aí. É uma realidade.

Seria cômico, se não fosse trágico.

E como não relacionar essa ocorrência com o racismo? Umbanda e Candomblé são religiões de matrizes africanas. São parte da cultura de África presentes no nosso país. Em terras de “um só povo”, essas religiões são inadmissíveis. Não correspondem com a “verdadeira” cultura do estado que luta para esconder a sua multiculturalidade. A presença dessas religiões em Joinville e região são uma das várias provas de que a população negra existe e que luta, diariamente, para se ver representada e ouvida. 

A educação eurocêntrica nos ensina a ver com bons olhos a religião cristã e ver com maus olhos as religiões de matriz africana. A desconstrução dessa visão da cultura negra passa pelo estudo, pelo diálogo, pelo conhecimento. Só há conhecimento entrando em contato, conversando, pesquisando, visitando. Mas o que vemos é o crescente número de professores cristãos que demonizam tais religiões e fazem questão de não ensinar ou ensinar de maneira errada para seus alunos as culturas vindas de África, desrespeitando a Lei 10.639.

Toda essa ocultação histórica, somada com doses cavalares de fundamentalismo e moralismo, geram a ignorância e a intolerância. 

Não pense que essa onda conservadora irá afetar apenas a liberdade das minorias. Logo, logo ela chegará até você (isso se ainda não chegou), tentando lhe impor o que você deve ou não fazer, como deve viver, a quem deve seguir, como deve se portar, falar e agir.

Precisamos de mais autonomia, mais liberdade. Não precisamos de mais restrições e censura. O povo de santo exige e merece respeito. A população negra, as mulheres e os LGBTs também. 

Nem um passo atrás deve ser dado, devemos continuar caminhando, escrevendo e propagando a nossa história e a nossa cultura. 

Vai ter batuque. Vai ter Orixás. Vai ter cânticos. Vai ter muito povo de santo. Vai ter muito axé! 

Santa Catarina também é negra. Aceitem!

25 comentários:

  1. Nada contra pretos, mas se vc. gosta tanto porque não vai pra África? Cara chato... toda semana a mesma ladainha, vai se tratar cara... por isso que tem gente que não gosta, vcs são uns chatos, não sou obrigado a gostar.

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  2. Inegável que Joinville é uma cidade preconceituosa, também inegável que exitem negros em SC e em Joinville, que eles são minoria (em termos populacionais).

    Mas se quer falar mal de Joinville, acusa-la, use casos que ocorram em JOINVILLE.

    Araquari é outra cidade, vizinha, mas não somos nós. Eles tem a história deles e uma composição populacional diferente.

    Se for desse jeito você está caindo na falácia do declive escorregadio, do tipo: "Vejam, Joinville odeia negros porque em Araquarí ocorre crimes contra negros!"

    Isso é um atentado contra a lógica.

    É por isso que seus textos são tão atacados nos comentários, o problema não é sua militância (que é correta) mas os problemas de semântica (lógica) dos textos que produz e as falácias (meias-verdades) que populam suas linhas de argumentação.

    Deixe de fazer militância cega e comece a prestar atenção nas falhas de lógica antes de publicar os textos.

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    1. Querido anônimo, eu falei de um problema que é nacional, disse que é um problema que vem acontecendo em todo o país e aqui, infelizmente, não é diferente. Você sempre quer pegar um ponto para dizer que estou sendo excessivo ou errado nas minhas colocações, você nem chega a interpretar direito. Joinville não é uma maravilha, moço. Fale com os pais e as mães de santo aqui da cidade, entre em contato. Estou pesquisando, já vi, já presenciei. Por mais que fale nada vai adiantar cara. Continua criticando sem saber, continua falando. Abraço.

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    2. Escreva um texto com menos meia-verdardes que não irei comentar.

      Diversos textos seus também também nem comentei porque não vi viés.

      Agora se presenciou em Joinville algo assim, devia ter colocado neste texto, assim não veria nada de errado nele.

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    3. Cara, eu coloquei o nome do bairro ali porque coletei a informação do A Notícia, fui lá no terreiro e é no bairro Itinga, considerado Joinville, inclusive no mapa. Talvez o objetivo do jornal foi o mesmo que o seu, colocar para outro local um problema que também está presente aqui. Enfim, continue se iludindo.

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  3. E ainda fica censurando comentários.

    Por isso não dá para confiar.

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  4. Fácil fazer esse tipo de discurso em Joinville. Quero ver você passar um ano em Bangu -RJ convivendo com a verdadeira cultura afro-brasileira e, de quebra, ouvindo funk 24hr por dia... Vais repensar muitos conceitos.

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  5. Porque não aceitou meu comentário no seu post anterior? Muitas verdades? Legal que começaram a moderar comentários como lhes convém, mesmo sem ofensas. Bem conveniente e patético.

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    1. Assim, Eduardo Jlle Murara, não dá para ficar olhando sempre as atualizações dos comentários. Temos outras coisas para fazer. Quando nos sobra tempo, liberamos os comentários pendentes. Não precisa chorar, não vamos censurar comentários argumentativos e até liberamos comentários ofensivos. Dá uma olhada ali em cima. Seu comentário no post anterior já foi liberado. Desculpe a demora. Espero que entendas.

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    2. OK. Obrigado pela publicação e espero que considere aquele comentário do outro post. Obs.: Não sou nenhum Eduardo. Acredito que esse cara sempre assina as postagens dele, enfim.

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    3. Não fiz comentário algum!
      Não perco mais o meu tempo.

      Eduardo, Jlle

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  6. Engraçado que de ontem para hoje já julgaram o caso e o veredito foi intolerância religiosa, é isso mesmo? Pode acabar com o judiciário então. Nada justifica a atitude dos moradores, que deve ser combatida com rigor. Mas querer pré-julgar o caso apenas com a opinião da mulher do agredido é ridículo. Quando morava em outra cidade, havia um terreiro que funcionava em uma casa próxima, em uma zona residencial. O barulho era alto e incomodava os vizinhos próximos e os não tão próximos, visto o volume da música, e avançava a noite, infringindo a dita lei do silêncio. A associação de moradores tentou conversar com os responsáveis, de forma pacifica, como deve ser. A resposta, ironicamente, foi quase igual ao penúltimo parágrafo. Santa Catarina também tem gente mal educada e arrogante, e os moradores de lá continuam tendo que aceitar.

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  7. Quem tem mais de 30 anos sabe que esse alvoroço contra religiões não existia há 15 ou 20 anos, pelo menos não nesse número de casos.
    O que aconteceu?
    Uma ala mais conservadora religiosa ascendeu ao poder, mas porquê?
    Porque os fies religiosos, de repente, se revelaram?

    Extremismos!

    De um lado uma retórica demagoga politicamente correta para ouvidos poucos treinados devido à péssima qualidade de ensino que temos, de outro, rebeldes religiosos insuflados por conservadores que tentam combater essa retórica demagoga.

    Pelo menos sabemos quem começou essa "guerra de ideologias" que não tínhamos no país.

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    1. Não existia porque as pessoas tinham vergonha, se escondiam, agora que estão se mostrando e professando sua fé ficam mais vulneráveis a agressão. Retórica demagoga? Leia o livro "Os atabaques da manchester", do Gerson Machado, um estudo sobre as religiões de matriz africana aqui em Joinville. Essa "guerra de ideologias" sempre existiu, você que precisa estudar mais história. Abraço.

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  8. Felipe parabéns. Conseguiu um texto consistente do início ao fim. Gostei.

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  9. O ódio denunciado pelo Felipe é incrivelmente justificado pelos comentários, que se não estou enganado, são daqueles mesmos que vociferam que bandido e petistas bons são só quando mortos. É a mesma ladainha, a mesma lavagem cerebral, a mesma semente do mal que baixou no inconsciente coletivo nacional.
    Só um conselho para aqueles que se julgam morar no centro do Universo: tanto Araquarí como Joinville já possuem orgãos que atendem questão de ruídos. Aliás este tipo de conflito (barulho de igrejas e centros religiosos de TODAS as religiões) é o mais comum no trabalho dos fiscais. Esta história de levar a associação de moradores para discutir na porta do Centro Espírita é crivada de má fé e pre-disposição para "levar às vias de fato", ou sejam, a agressão. Que neste caso foi consumada.
    Menos preconceito e hipocrisia e mais informação sempre é bom e não faz mal a saúde, minha gente.

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    1. Olha: preconceito com certeza teve, agora, hipocrisia é com vocês.

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  10. Ainda bem que o pai de santo não era preto. Se não logo seria, além de intolerância religiosa, racismo. Simples e rápido, julgado e sentenciado do dia para a noite. Essa semente do mal...

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    1. Mas a religião é de matriz africana, por isso que ele foi atacado, porque durante anos a cultura africana foi e continua sendo demonizada, visto como ruim, sim tem ligação com racismo, por mais que ele seja branco.

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    2. Cara, a tua lógica é de fazer rir, ou tu ta de brincadeira. Não pode ter sido pelo barulho ou por qualquer outro motivo possível, certo? Reforço, atitude injustificável dos moradores vizinhos, mas julgar tão rápido assim, baseado na noticia do jornal com a opinião da mulher do agressor é ridículo. É forçar qualquer merda que acontece pra corroborar com teus ideais, e tu sabe disso. Isso vai te levar a loucura.

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    3. Não, não pode ter sido. Cara, eu fui lá, eu visitei, eu vi, eu conversei. Tem uma igreja próximo ao terreiro. A vizinhança frequenta a igreja, os familiares dos agressores também, os agressores também. Se você acha que a minha lógica faz rir, vai você lá, visite, converse, pesquise. Nada do que eu escrever aqui vai te fazer mudar de ideia. Então tenha a disposição de ir lá ver você mesmo com os seus próprios olhos. Se quiser te passo o endereço e o contato. Loucura é da sua parte se escondendo no anonimato para escrever besteiras para mim, desmerecendo as coisas que eu faço, sem ao menos saber como eu faço. Se você não acredita, vai lá e veja você mesmo. Abraço.

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