quarta-feira, 5 de novembro de 2014

Água e gasolina

Montagem da página Anarcomiguxos III, ironizando o
discurso da direita sobre meritocracia
POR FELIPE SILVEIRA

Findo o processo eleitoral, a discussão política segue mais viva e louca do que nunca. A coisa está tão louca que a direita tá na rua, e olha que nem é no stammtisch. Assim, diante das circunstâncias penso que temos uma tarefa muito importante pela frente, que é jogar duas coisas na fogueira: água e gasolina.

Água no sentido de termos que acalmar alguns ânimos. Sobretudo os golpistas. Não dá pra exigir vergonha na cara desse pessoal, mas dá pra dar uma sacudida e ver se conseguimos trazer alguns de volta pra Terra. Sejamos didáticos e calmos com os próximos, irônicos com outros perdidos e ignoremos os malucos. Que sumam por falta de plateia.

Já a gasolina tem que ser jogada sobre cada movimento e manifestação de oposição ao sistema de opressão que está aí e vai muito além de qualquer governo, embora os governos sejam o braço forte do sistema. Assim, cada pixo, cada texto, cada debate, cada reunião do movimento social ou da associação de bairro, cada fala de resistência se torna, neste cenário, ainda mais significativa.

O mundo é muito tranquilo apenas para alguns poucos. Nós, aqui embaixo, apenas nos acostumamos. Nos acostumamos a trabalhar uma hora a mais, nos acostumamos a morar em bairros cada vez mais distantes, nos acostumamos a demorar mais de uma hora pra chegar em casa num ônibus lotado sem segurança e lugar pra sentar, nos acostumamos a trabalhar algumas horas a mais, a estudar apenas para conquistar uma promoção.

Nos acostumamos a tomar porrada, com o abuso de autoridade, com o assassinato e com a tortura. Nos acostumamos com o racismo, com a homofobia, com o machismo e com a xenofobia. E os reproduzimos. Nos acostumamos a pagar caro e a não ter opção.

Mas, mesmo acostumados, seguimos queimando por dentro, lentamente, até que uma hora estejamos prontos para explodir. E nesta hora coisas importantes podem acontecer. Por isso que a gasolina é importante.

3 comentários:

  1. E como era nossa nação antes da constituição de 1988? Pessoas não eram tão mal educadas. O que aconteceu com a geração que cresceu na democracia? Continua existindo ricos e pobres, mas ambos de baixa categoria. Agua e Gasolina quem fornece?

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  2. Só posso lastimar. A vitória de Dilma (e do PT) foi um revés, uma derrota da democracia. E não culpo os nordestinos, culpo a falta de educação, o próprio PT (que sobre se aproveitar desta mazela) e dos intelectuais com diploma.

    Vocês, intelectuais com diploma, caíram no conto do vigário. Não olharam o passado nem vislumbraram um futuro, apenas acreditaram na ideia estúpida de que o PT é o partido do bem e o PSDB, o partido do mal; o PT governa para os pobres, o PSDB, para os ricos. Achei que essa visão rasa era restrita aos jovens doutrinados por professores da esquerda que votaram pela primeira vez. Lamentável.

    Democracia é um exercício de pluralidade de ideias, de projetos, de ideologias. Democratas e Republicanos nos EUA, Trabalhadores e Cristãos na Alemanha, Esquerda e Direita na França. Um país governado 16 anos por um partido, só pode ter algum problema muito sério.

    Vejamos: os militares governaram por 21 anos, Getúlio Vargas nos seus dois mandatos, 18 anos, e o PT por 16 anos. Levando em consideração que a recente democracia brasileira teve início com a promulgação da Constituição de 1988, o governo de Dilma vai terminar em 2018 festejando seus 30 anos, dos quais metade foi governado por um único partido.

    Metade da população brasileira reprovou Dilma, dentre os quais, extremistas da direita que pedem a intervenção militar. Bobagem. Uma fonte disse que os militares não vão mover um dedo contra o governo e que os civis terão que responder por suas escolhas. Sabia decisão.

    Todos saíram perdendo, embora vocês da Esquerda só admitirão isso mais tarde. A vitória de Dilma e as incertezas que ela trará custará muito caro ao país. O bom disso tudo será a aprendizagem.

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  3. Caro Anônimo, vou te responder à altura, e já que você fica mais confortável sendo anônimo, também vou postar resposta como Anônimo. Considero que apresentastes um recorte da história moderna de nosso País, avaliando-o em números de anos, um pouco reducionista, pois não considera aspectos que considero mais importantes, vou me furtar ao direito de utilizar também um critério reducionista: a educação. A formal, não a individual, mas que das duas acredito possuir ambas. A propósito, sim sou um Intelectual de diploma! Mas conheço também vários intelectuais sem diploma: Meu pai, minha mãe e muitos membros da minha e de muitas famílias que não puderam evoluir nos estudos justamente porque viveram nos períodos que você listou: Getúlio e Militares e não puderam conquistar estudo formal e diplomas, porque aqueles grupos políticos não se interessaram em assim o fomentar. Conheço também vários diplomados não intelectuais, que são os que não se utilizaram da formação que tem para reafirmar o bom senso que todos carregamos, utilizam-na para reafirmar as diferenças e não atenuá-las! Então, o que diferenciaria justamente o período de gestão do governo atual, independente do partido que o representa? Eu respondo: A oportunidade de obter estudo de forma democrática e ofertado de forma a atravessar um espectro social tão amplo que jamais foi visto! Lembre-se que a maioria dos votos conquistados na urna que elegeram a atual presidente em gestão não veio do nordeste, veio sim dos grandes centros. Comparar os últimos 12 anos, que na sua conta você já se situa em 2018 conferindo 16 anos ao atual grupo em gestão, com as gestões de Getúlio Vargas e os anos de chumbo da ditadura só indica um foco de crítica contra o grupo atual que considero uma agenda um pouco superficial, que só se sustenta na força do ódio e uma energia direcionada em derrubar ideias e não construí-las. No entanto, tenho que ser honesto com minhas convicções, eu gostei do teu texto! Acho que você pode ser uma pessoa com quem eu gastaria boas conversas e tenho certeza que poderia encontrar alinhamento em muitas ações que considero importantes. Portanto, acho que num futuro breve, passado calor recente da natural polarização, pois considero mesmo esta polarização muito importante pra formação de nossa cidadania moderna, poderemos juntos lançar um olhar largo mirando o futuro. Convido-o como a um amigo, companheiro de jornada a continuarmos a reflexão, de engajamento intelectivo e político, mas com compromisso histórico e tomando a caneta do futuro em nossas próprias mãos. Com a liberdade de poder afirmar uma percepção contrária à sua, considero que todos saímos ganhando, pois hoje todos estão mais ativos no processo! Num passado recente só os progressistas tinham voz, os demais se calavam. Agora todos tem a sua voz! Se o levante popular que tomou as ruas em julho deste ano foi responsável por alguma mudança, considero que hoje podemos traçar um rico e fragmentado panorama de posicionamentos políticos, os mais diversos, mas agora explícitos e detalhados. Tenha certeza que é graças a liberdade que conquistamos hoje e que outrora não nos era possível. Miremos o futuro e caminhemos lado a lado, mesmo que com opiniões diferentes, mas sempre próprias. E pra que de anônimo fique apenas o nome, me despeço com um pouco mais de informação pessoal: sou professor e tenho 50 anos!

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