quarta-feira, 30 de julho de 2014

Tá tudo errado

POR FELIPE SILVEIRA

Bato na tecla: tá tudo errado. Trânsito, poluição, condições de trabalho, sistema financeiro, educação precária, política rasteira, jornalismo conservador, violência, racismo, homofobia, machismo, especulação imobiliária, sucateamento do sistema de saúde, hábitos alimentares, polícia militar etc. A lista é imensa, mas nada vai mudar.

Não vai mudar enquanto você não se envolver.

Eu já escrevi sobre esse assunto aqui no Chuva Ácida, mas retomo pelo seguinte. Toda semana eu preciso escrever um texto para o blog, o que geralmente só acontece poucas horas antes da publicação. Nesta semana, por exemplo, eu poderia escrever sobre um assunto bem local, como as mudanças viárias em Joinville, que deixou meia cidade louca. Poderia escrever sobre o massacre promovido por Israel contra os palestinos. Manifestar minha indignação, pelo menos, já que a tarefa de escrever sobre o assunto não é fácil. Poderia escrever sobre a renúncia da voz dissonante no conselho da cidade, diante do teatro que é aquele espaço, usado para legitimar decisões que prejudicam muitos e beneficiam poucos – vão, inclusive, começar a discutir a Cota 40, que garante a preservação de nossos morros. Poderia escrever sobre a loucura que é a perseguição a ativistas em São Paulo. Até Bakunin, o filósofo russo, pilar do anarquismo, é considerado suspeito.

Aí, diante de tudo isso, a gente olha pro lado e vê o povo concentrado em dez séries de TV, em todos os grandes campeonatos europeus, na redução e enrijecimento dos glúteos, naquilo que podem consumir (e nada contra nada disso, pois também vejo séries, acompanho futebol e basquete, faço atividades físicas e só não consumo um pouco mais porque não tenho dinheiro). Diante de tudo isso não dá vontade de escrever algo que não seja este desabafo. Ou provocação, como queira.

Nada vai mudar enquanto você não pular catraca, não criar alternativas, não se juntar aos movimentos sociais e grupos políticos que propõem a transformação, não cobrar das pessoas que fazem errado para que façam certo. Quando você fizer isso, vai deixar de ser um agente ativo na manutenção de uma sociedade toda errada. Vai parar de achar que faz a sua parte ao fechar a torneira na hora de escovar os dentes. Vai ser um agente transformador dessa bagaça.

Meus mais sinceros votos por uma sacudida na sua vida.

20 comentários:

  1. A minha mudança será em outubro, através do voto.

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    1. Acredite, se eu tivesse de fazer o que tinha de ser feito, eu hoje estaria no xilindró. Adorado pelas pessoas, mas no xilindró.

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    2. Isso mesmo, através do voto. Continue jogando suas responsabilidades e anseios nas costas dos candidatos, que na maioria dos casos estão pouco se importando contigo.
      E depois quando nada der certo, jogue a culpa nele, logo você que é um paralítico politico/social. (ou seria melhor parasita?)

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    3. Anonimo 14:16, sabe o que eu acho melhor? Ao invés de continuar pagando 30%, 40% de impostos para esses FDP's e ainda ser chamado de "parasita social" por ser honesto e trabalhador, deveria fazer um pé de meia, ir para a Europa ou EUA, viver ilegalmemte nesses lugares limpando a bunda de gringo e mandar o Brasil e os demais brasileiros para a PQP.

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    4. Se tu quer ir limpar a bunda de gringo, boa viagem.

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  2. Reclamar, ao mesmo tempo que fazemos diariamente exatamente aquilo que reclamamos ou nos omitirmos em relação aos mesmos fatos é uma característica das pessoas em geral. Talvez como mecanismo de fuga em relação a algo que nos incomoda. No Brasil elevamos isso à condição de arte. Acredito que é uma herança da ditadura militar que não forjou uma geração habituada ao debate político e à apreciação do contraditório. Hoje é mais fácil atribuir a culpa de tudo ao Estado, esse ser onipresente que nos exime de qualquer responsabilidade. Ai é fácil. Se a culpa é do outro porque deveríamos fazer algo não é mesmo?

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  3. Como se não bastasse esse governo irresponsável, essa cambada de incompetentes que administra nossos impostos, você ainda quer que “pulemos a catraca” e causemos mais pânico? Ano passado fizemos isso e a Dilma ainda mantém uma liderança folgada. Definitivamente, não! Vivemos num país onde até as análises financeiras feitas por consultores responsáveis pelos investimentos de correntistas são filtradas pelo governo federal.

    Vou fazer minha parte votando em qualquer outro candidato, comprar dólar e manter meu suado dinheiro na poupança por anos, até passar toda essa incerteza.

    José. Jlle

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  4. Em vez de ficar reclamando do governo, o que nós fazemos para mudar o lugar onde moramos?
    - Será que separamos o lixo reciclável? Ou achamos que o caminhão da coleta seletiva é dinheiro jogado fora?
    - Temos um resfriado ou corte superficial e vamos no São José atrapalhar o atendimento de pacientes graves...
    - Ignoramos as medidas de segurança para promover a agilidade e aumentar o lucro.
    - Usamos o nosso carro pra ir na padaria ou mercado que fica a 1km da nossa casa.
    - Temos horror a pegar um ônibus para ir pro centro.
    - Temos milhares de amigos no Facebook, mas dizer um simples oi pro vizinho não somos capazes.
    - Não damos esmola ou comida, porque não temos dinheiro... mas gastamos 700 reais num celular que usamos só pra passar o tempo.
    - Gastamos centenas de reais num cachorro ou gato de raça e o abrigo animal não consegue mais absorver os animais perdidos na rua.
    - Não somos capazes nem de ligar para a prefeitura ou sub-prefeituras exigindo que as luzes queimadas da nossa rua sejam trocadas.
    - Bebemos e dirigimos, fumamos sem preocupação com os outros.
    - Trabalhamos nos nossos empregos só para conseguir nossos salários, não apresentamos nenhum projeto de melhoria para a empresa, só reclamamos que somos explorados.
    - Saímos da faculdade em busca de um concurso público, pois tem inúmeras vantagens.

    Se não conseguimos fazer o mínimo para melhor a cidade e o nosso convívio social com os outros, simplesmente fazendo coisas simples como citado acima, exigir que as pessoas participem de grupos de melhoria e façam manifestações é algo muito difícil.

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    1. Acredito, Rudimar, que o envolvimento com causas pode fazer as pessoas criarem hábitos diferentes. Sugiro isso no texto. Por exemplo, quem se envolve com a causa do meio ambiente, vai passar a enxergar e tratar de maneira diferente o próprio lixo.

      O texto é apenas uma provocação para que as pessoas reflitam sobre seus hábitos.

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    2. Quem disse que as pessoas querem mudar os hábitos? Comunistas, mesmo depois de falharem tantas vezes, ainda não conseguiram entender que as pessoas não querem mudar seus hábitos. O que as pessoas querem são luxo, entretenimento, coisas supérfluas, etc... isso é inerente ao ser humano. Como deve ser complicado para os intelectuais de esquerda não conseguir mudar homem como ele realmente é, ou seja, em busca de distração frívola e pura diversão.

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  5. Bom...
    Entre a ação equivocada e a omissão consciente creio existir algo diferente.
    O problema é que nem mesmo o pessoal do Chuva Ácida consegue apontar (e isso não é um desrespeito para com eles, mas uma constatação) o caminho para as mudanças que consideram importantes e necessárias, embora consigam defini-las.
    Voltamos para o "na teoria a prática é outra".
    Sendo assim, acredito que sobra o voto mesmo, desde que consciente.
    Especialmente porquê pular catraca, quebrar bens públicos e privados, quem paga a conta é e sempre será o povo, direta ou indiretamente.
    Não creio ser um bom conselho, mas viva a liberdade de pensamento e expressão, desde que com ela venha junto coragem e a dignidade de assumir as conseguencias de tais atos, e não sair correndo encapuçado.
    Protestar destruindo e pichando bens públicos e privados não me parece ser uma ideia muito inteligente.
    Gostaria de ver os que pensam e agem desta forma oferecendo seus endereços como os próximos alvos.

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    1. Curioso que um anônimo tenha feito esse comentário.

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    2. Curioso sim, mas pertinente.
      Já que na liberdade de expressão deve estar incluído o direito de ser ou não anônimo, desde que o respeito mutuo, em todos os aspectos seja mantido.

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  6. Desculpe, mas o que o cara ai tentou dizer é que há uma grande diferença entre "anonimato" e "marginalidade".
    A História mostra ao longo dos tempos a importância da influência de pessoas anônimas, que por motivos pessoais, políticos e até econômicos, preservaram a si e a suas famílias, tanto quanto mostra que alguns buscavam liderança visível com interesses puramente pessoais.
    Quem sabe Clóvis Gruner possa ser mais contundente quanto a este fato na história.
    Acredito que observar a relevância do que foi dito é mais relevante do que que fazer pré julgamento de quem o disse.
    Sendo assim, realmente é curioso observar que um ANÔNIMO conseguiu expressar o sentimento de um número significativo de pessoas.
    E até onde se pode observar, sem tirar o direito daqueles que pensam ou agem de forma diferente.



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    1. Não precisa me convencer. Sou dos que defende o anonimato de unha e dente. Mas foi curioso, sim. Mais curioso ainda que tenha anônimo que usa desse argumento apenas porque não tem coragem de bancar suas falas.

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  7. Felipe... Você continua contraditório... como sempre... não é capaz de validar a opinião sincera e relevante de um anônimo.
    No entanto, observa-se anônimos com essa capacidade em relação a você... quando possível. Dê uma passeadinha no seu histórico e vai observar isso.

    Que tal um pouco de humildade?

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