quinta-feira, 22 de maio de 2014

O choque de gestão está aí

POR EDUARDO SCHMITZ

O título não é uma ironia. É a realidade. O prefeito Udo Döhler foi eleito atrelado à ideia de que seria o responsável por causar um choque de gestão. Ele é o gestor durão que faz as coisas acontecerem. E o choque está aí. Mas essa afirmação só faz sentido quando entendemos que existem formas diferentes de entender a tal gestão. Podemos falar da gestão administrativa, mas também da gestão política. É nessa diferença que surgem indignações como a segunda greve dos servidores.

Para o cargo de prefeito, cabe muito mais o papel de gestor político do que gestão administrativo. São mais de 10 mil funcionários na prefeitura. Sejam cargos comissionados ou de carreira, eles são os grandes responsáveis pelo funcionamento administrativo da cidade. Para o prefeito fica a missão de dar a linha política da coisa toda.

As notícias dos últimos dias se somam ao primeiro ano de mandato e evidenciam que, sim, o prefeito Udo Döhler deu um choque de gestão (política). Vocês lembram qual foi o primeiro dilema do prefeito quando ele assumiu o executivo? Dívidas. E quem saiu perdendo? O servidor, que, inimaginavelmente, recebeu o salário atrasado.

Gestão política implica em escolhas políticas. Nesse ponto, fico com uma visão completamente dualista. O prefeito pode escolher pelos interesses da população (representados pelos servidores, no contexto atual) ou por outros interesses que não são necessariamente coletivos. Exemplifico.

Crédito: Facebook do Sinsej
O jornal "A Notícia" do dia 14 de maio, na coluna de Jefferson Saavedra, traz a seguinte informação: "Em julho, a Prefeitura de Joinville completa o pagamento dos fornecedores do chamado grupo B, o pessoal que tinha dívidas entre R$ 100 mil e R$ 4 milhões. Desde o início do ano passado, esse grupo vinha levando R$ 2 milhões mensais". A coluna ainda informa que com o total dos pagamentos, a prefeitura terá desembolsado R$ 70 milhões até o final de 2016.

A mesma coluna, no dia 21 de maio, traz a informação de que o reajuste dos salários dos servidores, aplicando apenas a inflação (5,82%), terá um impacto de R$ 26,6 milhões no cofre da prefeitura até dezembro de 2014. Não é possível fazer uma comparação direta e proporcional, mas o que quero evidenciar é que ambas situações lidam com quantias expressivas de dinheiro público. E mais importante: elas só acontecem por causa de vontade política.

A escolha por um dos lados na gestão política do prefeito Udo fica clara quando vemos pelo segundo ano os servidores paralisando suas atividades para conseguirem o mínimo que avanço nos seus direitos e benefícios. Já os outros credores da Prefeitura tiveram sua vida facilitada. Ou alguém viu empresários "acampados" em frente à prefeitura com trio elétrico? Num estalar de dedos, todas as dívidas foram negociadas e tiveram pagamento programado.
"Se o prefeito Udo fosse mesmo o prefeito da mudança, ele bateria no peito e diria para os empresários esperarem. Mas mais ninguém aqui acredita em conta da carochinha, né? "

Eduardo Schmitz é jornalista.

19 comentários:

  1. Muito boa as suas colocações Eduardo. Aliado ao fato de que o peso da folha baixou consideravelmente em função do aumento de arrecadações, estamos vivendo um momento que o prefeito poderia dar fim a este impasse e atender pelo menos o reajuste salarial e o vale alimentação pleiteado pelo servidores. Fica mais evidente ainda a opção política do Sr. Udo Dohler e seus aliados. Mas ainda bem que outubro está bem próximo e ele vai ter uma resposta também nas urnas.

    ResponderExcluir
  2. Pois é, sanar as dívidas e regularizar o caixa é um remédio amargo que, mais cedo ou mais tarde precisa ser tomado. Gestores responsáveis e com os colhões bem postos costumam tomar essa decisão, ao contrário dos populistas covardes que sustentam esse tipo de situação até as últimas consequências, deixando as dívidas para a próxima gestão.
    Sobre o descontentamento dos servidores públicos, lembro a eles que antes de mais nada são funcionários públicos e precisam tratar a população com o devido respeito, ao contrário do que presenciei todas as vezes que necessitei do atendimento deles, principalmente na PMJ e secretarias. Excluindo professores e enfermeiros, os demais grevistas não me sensibilizam.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Claudio, até concordo em parte com vc pois também já passei por atendimentos inadequados. Mas posso afirmar categoricamente que forma uma minoria. A estes caberia uma denuncia a seus superiores ou Ouvidoria, e não morrer no purgatório.
      Agora a grande maioria do pessoal trabalha com comprometimento, e sabendo que devido à pouca estrutura muitas vezes não podem dar uma resposta à contento. Várias vezes senti que o servidor gostaria de atender de melhor forma, mas a escassez de pessoas e principalmente de gestão, comunicação eficiente e menos burocracia inviabilizam isto.

      Excluir
  3. Espera aí!
    Concordo que a gestão Udo está bem apagada e muito do que era esperado não está saindo, mas sua visão brasileira de "deixar as dívidas para depois porque eles são empresários" me incomoda.
    Penso que, quando uma dívida é contraída, a maior prioridade existente é tentar economizar ao máximo para zerar tal débito o mais rápido possível. Acredito que isso deveria ser uma preocupação de qualquer governo, empresa ou mesmo pessoa.
    Você está sugerindo o contrário: que a prefeitura deixe de arcar com suas dívidas para conceder maiores benefícios à pessoas que, teoricamente, estão com seus vencimentos em dia. Por mais importante e necessário que seja valorizar os servidores e investir na cidade, não se pode fazer isso deixando de honrar o que se deve.
    Lembrando que essas dívidas não são novas, vindo de outros governos que pensaram exatamente como você. E mesmo que continuem as empurrando com a barriga, em algum momento a bola estoura.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Olá, Diego.

      É por isso mesmo que falou que insisto que são escolhas políticas. A defasagem histórica do reajuste dos servidores chega a mais de 30%, dependendo do cargo. Isso não é uma dívida também? Está maquiada na forma de perda salarial, mas não deixa de ser uma dívida. Mas questiono porque a dívida com o empresariado é mais importante que a dívida com os servidores?

      No âmbito federal, é importante que observemos que o mesmo ocorre. E então não me refiro apenas à questão salarial, mas à estrutura pública como um todo. É inadmissível ver o governo federal investindo quase metade do orçamento para pagamento e amortização da dívida pública. Precisamos estar de olhos bem abertos.

      Francamente: prefiro dar o calote nos empresários, mesmo.

      Excluir
    2. Olá, Diego.

      É por isso mesmo que falou que insisto que são escolhas políticas. A defasagem histórica do reajuste dos servidores chega a mais de 30%, dependendo do cargo. Isso não é uma dívida também? Está maquiada na forma de perda salarial, mas não deixa de ser uma dívida. Mas questiono porque a dívida com o empresariado é mais importante que a dívida com os servidores?

      No âmbito federal, é importante que observemos que o mesmo ocorre. E então não me refiro apenas à questão salarial, mas à estrutura pública como um todo. É inadmissível ver o governo federal investindo quase metade do orçamento para pagamento e amortização da dívida pública. Precisamos estar de olhos bem abertos.

      Francamente: prefiro dar o calote nos empresários, mesmo.

      Excluir
    3. Ok, a loja onde você comprou seu Iphone também é de um empresário. Tente não pagar as demais 36 prestações.

      Excluir
    4. Ataque ad hominum. Brilhante fundamentação.

      Excluir
    5. Anônimo das 15h34: Às vezes eu faço isso, embora eu não tenha um iPhone. Normalmente faço com bancos. Enquanto eles não eliminam os juros (ilegais, diga-se de passagem), eu não entro em acordo com eles.

      Um exercício rápido:
      - As empresas são os "carnês" de prestações
      - Os servidores são o pedido do mês no mercado
      Qual dos dois você escolhe?

      Eu escolho botar a comida na mesa.

      Excluir
    6. Ok, o empresário que vende o iphone precisa que seus clientes ganhem bem para poder comprar seus produtos. Tente arrochar seus salários e veja quantos iphones vai vender.

      Excluir
    7. Eduardo,
      Entendi seu argumento e concordo com ele, em partes.
      Concordo com a tal da escolha política e com a defasagem no reajuste nos salários dos servidores, que também pode ser considerada uma dívida. Mas continuo discordando do "deixar de pagar um para favorecer o outro". Acredito que isso poderia ser feito de forma menos agressiva, não comprometendo tanto o orçamento da cidade e possibilitando a concessão melhores condições aos servidores.
      Porém, acredito que nem o tio Udo queria pagar essas dívidas, mas isso caiu no colo dele. O que ele fez foi organizar esses pagamentos para serem quitados o mais breve possível. Assim, no fim do mandato, haverá dinheiro em caixa disponível para transformar a cidade num canteiro de obras e tentar garantir assim mais 4 anos de governo com o pretexto de terminar o que foi iniciado. Isso só vai ser o replay do que já vimos em gestões anteriores.

      Excluir
    8. A comparação do Eduardo foi bem melhor, mas sobre as 36 parcelas não pagas, me digam, quantos não param realmente de pagar? A inadimplência no Brasil é alta, acompanhada dos juros e do "lucro" Brasil. Valorizar o serviço público arroxando o servidor é incompatível e não terá o resultado esperado, a não ser que o resultado esperado não seja melhoria nos serviços públicos, o que infelizmente eu acho que é o caso

      Excluir
  4. Cordão de puxa-sacos!!!! se o prefeito tivesse aquilo roxo ele contrataria mais médicos ortopedistas eu não estaria na fila ha 1 ano e 4 meses . e com certeza daria aumento aos professores e enfermeiros, os demais grevistas

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Outra que desconhece economia doméstica.

      Excluir
    2. OK, pra você não ficar tão chateada: segundo o IBOPE, a Dilma tem 40% dos votos daqueles que a assistem a Globo e a novela das nove.

      Excluir
    3. Anônimo: Não, meu amigo. Você que desconhece vontade política.

      Rebeca: eu usei essa mesma expressão no texto, mas me recomendaram trocar. Mas foi justamente esse seu sentimento que tentei deixar claro no texto.

      Excluir
    4. Negativo anonimo, se vc se informasse veria que o ibope da Globo a cada dia despenca. Como ela é associada à Veja, Estadão e Folha, ou seja, a mídia dos reaças, essa sua tese está totalmente furada. O Brasil está mudando, apesar do ódio e covardia nas redes.

      Excluir
  5. Parabens Eduardo R. Schmitz seu texto expressou todo meu sentimento com relação administração atual prefeito

    ResponderExcluir
  6. A bem da verdade
    Talvez nessa dimensão entre gestão administração e política acredito que
    O prefeito precisa mesclar as duas e o bom senso na tomada de decisões e ser sensível aos direitos dos servidores
    Principalmente áreas da educação e saúde que foram e são linha de frente
    de qualquer campanha política e do senhor prefeito não foi diferente. Na prática com o poder nas mãos as prioridades mudam e o discurso fica demagogo....e ainda que há de se dizer dos vereadores. O legislativo de Joinville viver literalmente "em berço esplêndido"....esquecendo
    de sua função mediadora na solucao de conflitos e nos interesses da população....demagogia ponto!!!!

    ResponderExcluir

O comentário não representa a opinião do blog; a responsabilidade é do autor da mensagem