quarta-feira, 9 de novembro de 2016

O inverno logo ali: o que fazer para parar Bolsonaro 2018?

POR FELIPE SILVEIRA

A perspectiva é a pior de todas: Bolsonaro 2018. Se não é isso que se desenha, algo muito diferente disso não vai ser. Alckmin, Aécio ou até mesmo alguma surpresa por aí. Embora estes sejam mais civilizados do que o Bolsa, seus governos e posicionamentos não deixam que nos enganemos.

Eu nunca acreditei nas chances de Bolsonaro presidente, mas até a primeira hora deste 9 de novembro eu não acreditava na possibilidade de Trump ser presidente dos Estados Unidos. Aí temos Crivella, Dória, Sartori, Greca, ACM Neto, Brexit, Le Pen, Putin e tantos outros com discursos semelhantes que não temos como fingir que o perigo não existe. Por isso, deixo aqui minha sugestão para tentar parar o pior que está por vir.

1) Assuma sua responsabilidade e organize-se
Você é um sujeito ou uma sujeita política. Exerça essa competência, faça a sua parte. Não finja que você não é parte responsável pelos rumos do mundo. Não diga “eles”, diga “nós”. Queira ou não você está nesse jogo chamado democracia. Organize-se, faça algo, busque alguma atividade coletiva ou crie a própria trincheira individual. Não estou dizendo que é preciso entrar em um partido político, embora eu recomendo, mas que apenas não se engane achando que já está fazendo algo com compartilhamentos ou no seu trabalho. Por outro lado, não menospreze o trabalho dos outros. Aliás, a quantidade de votos nulos no Brasil e o baixo índice de votação nos EUA mostram que a apatia política tem sido uma das grandes armas dos conservadores.

2) Pare de queimar a esquerda
Uma coisa é fazer a crítica honesta e justa, outra é essa queimação geral em que se meteu o campo progressista. A busca por vilões, por culpados, por erros entre a própria esquerda demanda quase toda a energia que precisamos para frear o retrocesso que se desenha ali na frente.

3) Crie pontes
Em algum momento da história nós tivemos a capacidade de dialogar com o outro. De, a partir dos fatos, ouvir, argumentar, contrapor, explicar e chegar a alguns acordos. Dessa maneira, nós refinavamos os argumentos. Infelizmente, fomos substituindo essa conversa pelo desprezo ao outro, pela lacração e coisas similares. Só que isso gerou um problema mais grave ainda: nós passamos a ter tantas certezas que já não sabemos a razão pra isso. Por não fazer esse exercício de dialogar, de ouvir e de responder, nós não sabemos mais os argumentos. Afinal, eles não são mais necessários quando desprezamos o outro. Estou convencido de que o caminho é outro.

4) Estude e refine seu argumento
Uma onda de anti-intelectualismo varre o mundo ao lado da onda conservadora, se é que se pode dizer que são ondas diferentes. É preciso estudar para ter algo a dizer sobre o mundo e se posicionar nele com algumas bases. Comece pelas suas certezas. Questione a razão pela qual você acha que algo é certo. Leia alguns textos sobre o assunto. Preste atenção nos argumentos de quem pensa diferente de você e reflita sobre eles. Construa a sua própria argumentação.

5) Pare de torcer na política
A ideia de torcer pelo seu time político é tentadora, mas a razão nos obriga a ter outra postura. Ultimamente a esquerda tem feito algo que a direita é especialista, que é compartilhar conteúdos altamente bizarros de blogs e sites travestidos de jornalismo. Sem ler o texto, saímos espalhando mentiras sobre adversários porque isso nos favorece politicamente. É um erro grave do ponto de vista pragmático, pois nos tira a credibilidade, mas é acima de tudo um erro no campo da ética, algo que não podemos nos permitir. Nossa postura crítica tem que ser constante.

terça-feira, 8 de novembro de 2016

Quantos leitos de UTI? Os mesmos que nos anos 90...












POR JORDI CASTAN

Você acreditou que a saúde estava bem e que tinha melhorado nesta gestão? Meu conselho é que não acredite em mitômanos e não fique doente até finais de 2018. E torça para não precisar da UTI porque pode descobrir, da pior maneira, que foi iludido pela propaganda eleitoral. Eis o fato: Joinville tem hoje o mesmo número de leitos que 25 anos atrás. 

No primeiro mandato, Udo Dohler foi eleito com o discurso de seu perfil e experiência como gestor e seu conhecimento da área da saúde. O eleitor acreditou e votou nele. Nem a saúde está melhor, nem a sua gestão pode ser considerada modelo ou referência. No tema da saúde, um bom exemplo das mentiras contumazes é o numero de leitos de UTI. Alguém sabe ao certo quantos novos leitos foram criados entre 2012 e 2016? Foram 14, 16 ou 18? Na gestão Udo Dohler, o Ministério Público cobrou o aumento de leitos de UTI e a romaria de secretários de saúde teve muito a ver com a pressão do MP por melhoras numa área crítica da gestão municipal. 

Com sorte só em 2018 aumentará o numero de leitos de UTI. A realidade hoje é que tanto no São José, HMSJ como no Regional HRHDS há o mesmo número de leitos de UTI que na década de 90. Isso mesmo. Uma situação vergonhosa e que escancara a série de péssimas administrações municipais que temos sofrido. Está prevista, para a próxima semana, o lançamento da licitação para aumentar de 10 para 20 o número de leitos de UTI no regional, uma obra que está prometida desde 2012.  

No Hospital São José, o prazo para passar dos 14 leitos de UTI atuais para os 29 previstos venceu no ano passado. A administração municipal tem dificuldade em cumprir prazos. Entregar obras na data prevista é algo que não se vê por aqui. Apesar da pressão do MP, o edital só será lançado na próxima semana e a obra deve se estender por todo o ano de 2017, com entrega prevista só para 2018. Ainda bem que o prefeito entende de saúde e de gestão. Já imaginou se não fosse esse seu forte? Administração do tempo deve ter sido outra das aulas que o prefeito gazeteou.

Os mentirosos contam com uma ferramenta formidável para espalhar as suas mentiras: a credulidade dos inocentes. Tivemos um show de mentiras na campanha eleitoral e o resultado foi que o mais mentirosos venceram. A culpa não é só dos mentirosos profissionais, porque o eleitor gosta de ser enganado. Prefere acreditar no que quer acreditar, do que na verdade. Aqui nenhum político se elegeria falando a verdade. A verdade é desconfortável e preferimos mentiras piedosas, desde que bem contadas.

Se analisarmos a campanha vencedora em Joinville teríamos uma longa lista de mentiras repetidas até ser convertidas em verdades. No melhor estilo Goebels, o gênio da propaganda nazista que levou Hitler ao poder e o povo alemão a acreditar piamente na sua máquina de propaganda.  

segunda-feira, 7 de novembro de 2016

A sociedade deve tolerar os intolerantes?


POR JOSÉ ANTÓNIO BAÇO
E se fosse você, leitor e leitora, a apontar os “caminhos para combater a intolerância religiosa no Brasil”, como propôs o tema da redação do Enem? Fico a imaginar a molecada a bater cabeça, porque a questão  não é de simples resolução. Pelo contrário. Aliás, imagino que a maioria tenda a focar a discussão na religião, quando o cerne do problema está na tolerância (apesar de haver entrecruzamentos).

O Brasil é um país com déficit democrático e isso abre caminho para a intolerância. Mas qual o perfil do intolerante? É a pessoa que, na relação social, vê as suas posições como "naturais". Portanto,  justas. E erra feio. A intolerância só vivifica num ambiente onde há uma concepção errada da história - ou onde a história for uma abstração completa. A intolerância faz a história evaporar-se, deixando apenas o “natural”, expresso num rastilho de frases feitas e certezas unívocas.

O intolerante é incapaz de reconhecer o Outro. Ele é, o Outro não é. Para o intolerante, o Outro atenta contra a essência do ser humano. A sociedade só faz sentido quando todos acabarem por se tornar o mesmo. Ou seja, quando a sociedade for a corporificação das suas projeções. O intolerante reconhece apenas um lugar na sociedade: o que julga ser seu e, por isso, natural. E esse lugar só pode ser ocupado pelo Outro quando o Outro se converter ao seu credo, seu sexo, sua cor. Mas há coisas inconvertíveis...

Eis a questão: devemos tolerar os intolerantes? O Brasil é um caso de estudo. Protegidos pela tolerância, muitos grupos religiosos não disfarçam a sua intolerância. É um fato que remete para aquilo que Karl Popper chamou “paradoxo da tolerância”. O que é? Diz Popper: “se formos de uma tolerância absoluta, mesmo para com os intolerantes, e se não defendermos a sociedade tolerante contra seus assaltos, os tolerantes serão aniquilados, e com eles a tolerância”. Parece ser uma aporia.

Em que pese a minha rejeição a Popper (por outras razões), acho que esse aviso merece ser levado em conta. Tolerar os intolerantes é um risco. Mas o Brasil está incubar uma espécie de cripto-teocracia, onde as igrejas adquiriram um peso político que nenhum partido do arco do poder ousa enfrentar. Pelo contrário, nenhum projeto de poder passa ao largo da bênção desses religiosos. 

É exagero? Claro que não. Há poucos dias uma pesquisadora lançou o aviso de que a estratégia evangélica é ocupar o Executivo para chegar ao Judiciário. Há dúvidas? Melhor não dormir de touca. Porque esses movimentos religiosos estão a tomar posse dos aparelhos de Estado e inauguraram um novo modo de produção: o teocapitalismo selvagem, onde a sacanagem é feita em nome de Deus. E nem é preciso falar de nomes, porque todos sabemos quem são e os métodos que usam.

O crescimento da presença dessa gente na política nacional está a dar-lhes poder e a transformar a sociedade numa espécie de cripto-teocracia. E já se vê, aqui e acolá, muita gente a tentar talibanizar a vida dos brasileiros. O que esperar desse fenômeno? Coisas boas não serão, com certeza. Afinal, para onde os fundamentalistas podem levar a sociedade? Para o fundo, claro. Melhor não esquecer, em hipótese alguma, que a intolerância é parteira do ódio.

É a dança da chuva.

quinta-feira, 3 de novembro de 2016

Mito e realidade: os próximos quatro anos também serão medíocres














POR JORDI CASTAN

O resultado das urnas mostrou que o joinvilense preferiu seguir acreditando. É verdade que o baixo nível da maioria dos candidatos, no primeiro turno, e a absoluta falta de opções, no segundo turno, empurraram o eleitor a votar no ruim conhecido.
Começa agora o segundo mandato. Os que agora esperam pelo Udo real, podem esperar sentados. O real é um mito. Não apareceu antes porque não existe. A sua imagem de gestor é uma patranha, resultado de um bom marketing e pouco mais. Uma mentira como tantas outras que nos venderam e que os crédulos preferem acreditar. Há uma fascinação, quase infantil, com a imagem idealizada do colonizador que desbravou a floresta hostil.


Há também a ilusão da honestidade, do trabalhador incansável, do valor de madrugar. Há no DNA do joinvilense esta imagem idealizada do líder, do capitão da indústria, do empresário de sucesso. E é nessa imagem que o eleitor depositou a sua esperança de uma cidade melhor. Quanto maior a esperança maior será o tombo. Sem escusas para não fazer, o mito se desmanchara no ar. Agora com as contas em dia e com todos os projetos prontos Joinville viverá quatro anos de realizações. Só que não. Os próximos quatro anos serão tão medíocres como os últimos.
Pesou a favor de Udo a falta de opção do eleitor. Darci inspira ainda menos confiança. O Udo não ganhou, não teve a maioria dos votos dos joinvilenses. Os outros candidatos perderam e o eleitor ficou órfão de outras opções melhores. O eleitor desta vez votou sabendo que escolhia o “honesto que não faz”. Escolheu minimizar o prejuízo. Quem não faz, tampouco faz grandes estragos. É o que se denominou: “não rouba e não faz”.
Udo sairá deste primeiro mandato menor do que entrou e sairá do segundo ainda menor. Será uma sombra do que foi. A sua imagem de líder realizador e de gestor competente está definitivamente arranhada. O maior risco é que a única imagem que ainda consegue projetar - a de honesto - também acabe desgastada ao final da nova gestão. Em tempo, posar de bonzinho e utilizar capangas para atacar opositores e desafetos não pode ser considerado um exemplo de moral ilibada. É mais típico de covardes e pusilânimes. 

É questão de tempo para que o mito seja corroído pela realidade. E o tempo é implacável. 

Escolhas e neurônios



POR SALVADOR NETO


Uma declaração feita esta semana na mais poderosa rede social causou turbulência na província de Joinville, capitania de Santa Catarina. Rosane Bonessi, a secretária de Gestão de Pessoas do governo Udo Döhler (PMDB), recém-reeleito prefeito, no auge do seu ardor pelo chefe e no calor da disputa dos votos no segundo turno de uma eleição acirrada contra Darci de Matos (PSD) escreveu o seguinte: “Já reparou que quem tem neurônio vota no Udo? Vc (sic) conhece alguém inteligente que não vá fazer isso?”

No afã de puxar o saco do chefe, chamou a todos os pouco mais de 200 mil eleitores que decidiram votar em Darci, anular, votar em branco ou mesmo não votar, dos seguintes antônimos em relação a palavra "inteligente": ignorante, pacóvio, imbecil, idiota, tonto, parvo, estúpido, estulto. Ela, professora de cursos superiores (?!), já tem um histórico de declarações contra servidores (leia aqui), agora estendeu sua superioridade e suprema humildade também aos eleitores que não pensam como ela. Nada novo no jeito de governar e tratar as pessoas que foi a marca do primeiro governo Udo, e pelo visto, também o será no segundo.

Ocorre que é preciso ensinar a esta Secretária que em primeiro lugar ela ocupa por indicação política um cargo público, portanto, é paga regiamente com o dinheiro público que vem dos bolsos destes inteligentes que votaram em seu chefe – segundo ela – mas também dos idiotas, estúpidos e imbecis – que também segundo ela não tem neurônios, tampouco são inteligentes. Ou seja, ela é paga, é funcionária dos cidadãos joinvilenses. Ela deve satisfações, trabalho, e respeito a quem é seu verdadeiro chefe: o povo. E não há registros de que a digníssima secretária tenha se retratado, também é marca registrada do atual governo que jamais se redime dos seus erros.

É bom lembrar também à professora secretária de que nascemos com mais de 100 bilhões de neurônios e com eles vamos até o fim das nossas vidas. Neurônios são as células que impulsionam a atividade cerebral. Mas elas dependem de algo fundamental, muito importante: a qualidade do conteúdo que colocarmos nestes neurônios. Se o conteúdo for ruim, grosseiro, autoritário, é lógico o resultado que teremos. Se colocarmos informações como respeito, educação, humildade, boas informações teremos resultados muito melhores. Portanto, somente ter neurônios, um que fosse, nada significaria. Mas o que inserimos de conhecimento, educação, fará com que tenhamos algo de bom a nós mesmos e às pessoas que nos cercam, isso sim faz a diferença.

O fato é que as manifestações desastradas e desrespeitosas da secretária do prefeito Udo Döhler aos eleitores merecem ação rápida do chefe. No mínimo exigir retratação pública na medida e alcance da infeliz declaração. E claro, quem sabe uma demonstração de que realmente alguém manda na gestão, com a substituição da secretária. Ambas as coisas dificilmente acontecerão porque há traços inequívocos de autoritarismo nas informações contidas nos neurônios tanto do chefe quanto da sua subordinada. O resultado? É este que lemos nas redes sociais e vemos no dia a dia da gestão peemedebista.

Eleição, Secretária, nada tem a ver com neurônios e a quantidade que cada ser humano tem em seus cérebros. Tem a ver com escolhas que cada eleitor faz. E as faz com o que tem de informações contidas, e claro desenvolvidas, em seus cérebros. No caso a maioria dentro das regras eleitorais escolheu o seu chefe. Mas 200 mil cidadãos também deram outra mensagem, e merecem respeito. Tiveram outras escolhas que não as suas. A democracia nos oferece essas possibilidades. Neste retrato do momento, o conteúdo nos neurônios de parte da população escolheu a continuidade. Amanhã, pode escolher outra saída com base em outro retrato. É da vida e seus momentos.

Todos têm seus neurônios, bilhões deles, e mais que isso são pessoas que merecem respeito por suas escolhas, opiniões, votos. Afinal elas pagarão por essas escolhas. Ao escolherem continuar com a buraqueira nas ruas, a falta de remédios, o abandono dos bairros, a falta de diálogo, etc, etc, preferindo a hipótese simplista do slogan mãos limpas, receberão o que decidiram. Simples assim.
Recomendamos mais conteúdo inteligente, cordial, respeitoso e educativo para seus neurônios Secretária, com a diversidade de ideias, opiniões. Seria ótimo enquanto continuar neste cargo público ao qual nos deve satisfações, um pedido formal de desculpas, e muito mais respeito com quem paga seus salários. Todos que escolheram e os que não escolheram o seu chefe, são os seus verdadeiros chefes. A estes, com neurônios e suas escolhas, deve prestar contas dos seus atos.