quarta-feira, 6 de abril de 2016

Questão de prioridades

POR FELIPE SILVEIRA

Em tempos de um debate ensandecido sobre a política nacional, questões locais ficam um pouco esquecidas. Pensei nisso ontem, ao passar pela avenida Santos Dumont, que está em obra de duplicação. A promessa de campanha é de Udo Döhler, o prefeito, mas a obra é do governo do estado, e parece bem cara.

Não pude deixar de pensar, então, em uma ocasião recente, em que estive numa escola estadual da periferia de Joinville. Lá conversei com algumas pessoas da coordenação, pois tinha interesse em desenvolver um projeto por lá, e duas coisas me chamaram muito a atenção. A primeira é que na sala da coordenação, com três mesas para três profissionais que ficavam ali, não havia computador. A segunda é que não havia nenhum projeto na escola para trabalhar com as crianças e os adolescentes.

Também pudera, sem um computador para desenvolver as ideias, pesquisar na internet e fazer contatos necessários, fica difícil esperar um milagre. Ou pela boa vontade de algum professor dedicado, que ainda não foi exaurido pelo sistema.

Sem projetos, experiências multidisciplinares e ideias que despertem a paixão pelo conhecimento, não podemos esperar dos nossos jovens que rompam o ciclo de perpetuação da condição social. Já na escola privada, ocorre o contrário. Os estímulos são abundantes.

Com este apontamento, não quero misturar as coisas. O orçamento da infraestrutura é uma coisa e o da educação é outro. Mas é uma questão de observar as prioridades dos governos municipal e estadual. A duplicação é uma obra caríssima, atendendo a uma velha demanda dos empresários da cidade. E, enquanto o governo investe nela, fecha diversas escolas públicas nas periferias, onde mais se precisa do Estado para reduzir as desigualdades.

Mas este é um compromisso que não podemos esperar de Udo e Raimundo.

terça-feira, 5 de abril de 2016

Heróis da direita têm prazo de validade...


POR JOSÉ ANTÓNIO BAÇO

Deve haver alguma maldição sobre os heróis da direita. Hoje o Brasil acordou com um vídeo onde a advogada Janaína Paschoal, a nova musa do golpe, aparece completamente descontrolada (parecia possuída por uma entidade qualquer ) a fazer um discurso inflamado onde anunciava o fim de uma tal “república da cobra”. É um daqueles casos de terrível vergonha alheia, extensiva a todos os que aplaudiam a bacorada.

Não imagino que tipo de febre provoca essa espécie de alucinação, mas não é com essas demonstrações de oligofrenia que essas pessoas vão conseguir o impeachment. Aliás, o episódio leva a refletir: mal uma pessoa se torna herói da direita, a coisa começa a desandar. Será mesmo uma maldição? Mesmo os mais céticos devem considerar essa teoria. Há muitos casos de heróis com prazo de validade.

Lembram de Venina Velosa? Não, né? Mas houve um tempo em que todos achavam que ela ia derrubar o governo. E, óbvio, virou heroína dos neopolitizados. Hoje a moça não passa de uma vaga lembrança. Depois veio o culto a Joaquim Barbosa. De tal maneira que o homem chegou mesmo a ser comparado ao Batman. Isso sim é herói. Mas hoje, aposentado, o juiz limita-se a postar uns twitts e a fazer palestras. Ah... e esta semana o seu nome apareceu relacionado aos Panama Papers.

Quando o Brasil votou para escolher o novo presidente, o herói da vez passou a ser, acreditem, Aécio Neves. Sem superpoderes, ele foi batido por Dilma Rousseff. Mas herói é herói e poucos se importaram com a enxurrada de denúncias contra ele: desde o aeroporto na fazenda do tio até citações em delações como no caso de Furnas. E não vamos esquecer o recente “um terço São Paulo, um terço nacional, um terço Aécio”. Enfim, um herói que incorpora a moralidade da direita.

Um dia Eduardo Cunha impôs uma derrota ao governo e conquistou a presidência da Câmara dos Deputados. E virou herói. Foi uma festa. “Somos Todos Cunha” virou slogan da direita e até nome de uma página de política no Facebook. O resto é o que se sabe. Tornou o impeachment uma forma de vingança contra Dilma Roussef, mesmo sendo o alvo de denúncias atrás de denúncias. Aliás, alguém estranhou ver o seu nome envolvido com os Panama Papers?

O tom burlesco dos heróis da direita atingiu os estertores com o “Japonês de Federal”, apelido de Newton Ishii. A insanidade foi tão grande que o homem até inspirou um conto erótico chamado “Prenda-me, Japonês da Federal” ou uma marcha de Carnaval. Há gosto para tudo. Mas qualquer pessoa medianamente informada já sabia, há muito, que o japonês tinha os seus problemas com a Justiça, condenado por corrupção.

E, claro, temos o juiz Sérgio Moro, que tem sido mais perene. É certo que boa parte dos neopolitizados ainda o considera herói. Mas ele não tem sido capaz de disfarçar decisões contaminadas pela política. Há episódios a mais. E a estocada final foi a divulgação ilegal dos grampos do ex-presidente Lula, que o levou a pedir desculpas ao Supremo Tribunal Federal. Parece que a capa de herói não assenta bem no juiz.

E agora temos Janaína Paschoal. Mas parece ser musa de pouca dura. Ontem a moça acordou heroína e foi dormir como uma mulher em transe que luta contra cobras. Isso importa? Não. As balizas morais dos conservadores são muito frouxas. Para virar herói dessa gente basta estar contra o partido do governo. E não importam os valores. Como a ética, por exemplo.

E fica um aviso: se é candidato a herói da direita, tome cuidado. Parece haver uma maldição que atira a todos para o lado menos aprazível da história.


É a dança da chuva.




segunda-feira, 4 de abril de 2016

Fazer campanha contra os candidatos desonestos



POR JORDI CASTAN



Estamos longe de ter um quadro definido para as próximas eleições. Há quem ache que o prefeito se reelege fácil. Menos por méritos próprios e mais pelos péssimos candidatos que os partidos apresentam. Seria uma reedição piorada da eleição anterior, a vitória do menos ruim. A vantagem que o eleitor tem hoje é que sabe o quanto ele é ruim. Sabe quanto há de gestão e quanto há de parolagem na imagem de gestor honesto e trabalhador. O eleitor não pode alegar não saber agora que o menos ruim é péssimo e os outros são muito piores. Um cenário desacorçoador.

A boa notícia é a quantidade de gente que coloca o seu nome para concorrer a vereador. Há muita gente boa. E esse “boa” tem muitos significados. Desde o seu nível de formação, ao seu histórico de luta pela cidade desde a militância em organizações apartidárias, gente que não tem um histórico de militância partidária mas que carrega a bagagem de anos de trabalho reconhecido por Joinville.

A maioria não vai chegar à Câmara. O sistema confere vantagens enormes aos atuais vereadores, que contam com uma constelação de assessores, recursos e estruturas para buscar a reeleição com maior facilidade que os candidatos que o intentam por primeira vez. Aliás, é bom lembrar que quando vereador usa assessor, telefone, carro e material da câmara para fazer campanha está usando recursos públicos. Ou seja, dinheiro que todos pagamos e que nem é contabilizado na prestação de contas feita ao TRE. Essas mazelas em que os políticos brasileiros são mestres e doutores.

Seria bom que houvesse uma grande renovação. O meu sonho seria que não ficasse um, que nenhum dos atuais vereadores conseguisse se reeleger. Quem sabe se elegêssemos uma nova geração de políticos, que, como a maioria da população, estão enojados com a corrupção e a sem-vergonhice que assola o Brasil. Oxalá pudéssemos começar a mudar o país desde os municípios. Um sonho? Sim, um sonho. Porque não nos enganemos: a corrupção que lemos cada dia nos jornais e vemos na televisão não é exclusividade dos cleptocratas de Brasília. Eles iniciam sua formação nos municípios, aperfeiçoam nas assembleias legislativas e ganham doutorado na Capital Federal.

Ninguém imagine que vivemos numa sociedade em que predomina a honestidade. A cada dia somos levados a acreditar que os corruptos são maioria e que a justificativa para tanta desonestidade é a desonestidade dos outros. Que se rouba porque os outros também o fizeram antes, que não há nada de errado em fazê-lo, que se você estivesse lá faria a mesma coisa.

É provável que para a maioria da sociedade assim seja. A maioria quer enriquecer na política. Vendo os exemplos que temos, inclusive aqui em Joinville, é fácil acreditar que nesta leva de novos candidatos haja muitos idealistas que queiram uma cidade melhor. Mas não nos enganemos, porque muitos querem se locupletar com as benesses do cargo, andar de carro alugado, indicar cabos eleitorais para cargos comissionados, nomear assessores pagos com o nosso dinheiro, viajar com diárias generosas a cidades distantes. 

O desafio do eleitor é saber diferenciar uns dos outros. Não só não votar nos desonestos, fazer campanha contra. Divulgar os nomes dos que não merecem ser eleitos. Porque não é a política que faz o candidato virar ladrão, é o nosso voto que elege o ladrão. Tão importante como fazer campanha pelos bons é fazer campanha contra os ruins, porque os ruins são em maior número. Cumpre-se no Brasil a máxima de Monteiro Lobato que dizia que "A política virou um privilegio irrestrito, com feroz exclusivismo à casta dos mais audaciosos amorais".

domingo, 3 de abril de 2016

Charges traçam personalidade de Cunha

POR ET BARTHES

Eduardo Cunha é um dos temas favoritos de muitos chargistas. E hoje o Chuva Ácida foi à internet recolher algumas obras que foram publicadas recentemente. Uma visualização rápida e clarificadora. As duas charges de abertura são do Sandro Schmidt, chargista residente do blog.