POR JOSÉ ANTÓNIO BAÇO
Deve haver alguma maldição sobre os
heróis da direita. Hoje o Brasil acordou com um vídeo
onde a advogada Janaína Paschoal, a nova musa do golpe, aparece completamente
descontrolada (parecia possuída por uma entidade qualquer ) a fazer um discurso inflamado onde anunciava o fim de uma tal “república da cobra”. É um daqueles casos de terrível vergonha
alheia, extensiva a todos os que aplaudiam a bacorada.
Não imagino que tipo de febre provoca essa espécie de alucinação, mas não é com essas demonstrações de oligofrenia que essas pessoas vão
conseguir o impeachment. Aliás, o episódio leva a refletir: mal uma pessoa se torna herói da direita, a coisa começa a desandar. Será mesmo uma maldição? Mesmo os mais céticos devem considerar essa teoria. Há muitos casos de heróis com prazo de validade.
Lembram de Venina Velosa? Não, né? Mas houve
um tempo em que todos achavam que ela ia derrubar o governo. E, óbvio,
virou heroína dos neopolitizados. Hoje a moça não passa de uma vaga lembrança.
Depois veio o culto a Joaquim Barbosa. De tal maneira que o homem chegou mesmo
a ser comparado ao Batman. Isso sim é herói. Mas hoje, aposentado, o juiz
limita-se a postar uns twitts e a fazer palestras. Ah... e esta semana o seu
nome apareceu relacionado aos Panama Papers.
Quando o Brasil votou para escolher o novo presidente, o herói
da vez passou a ser, acreditem, Aécio Neves. Sem superpoderes, ele foi batido por Dilma Rousseff. Mas herói é herói e poucos se importaram com a
enxurrada de denúncias contra ele: desde o aeroporto na fazenda do tio
até citações em delações como no caso de Furnas. E não vamos esquecer o recente “um
terço São Paulo, um terço nacional, um terço Aécio”. Enfim, um herói que
incorpora a moralidade da direita.
Um dia Eduardo Cunha impôs uma derrota ao
governo e conquistou a presidência da Câmara dos Deputados. E virou herói. Foi uma festa. “Somos Todos Cunha” virou slogan da direita e até nome de uma página de
política no Facebook. O resto é o que se sabe. Tornou o impeachment uma forma
de vingança contra Dilma Roussef, mesmo sendo o alvo de denúncias atrás de denúncias. Aliás, alguém estranhou ver o seu nome envolvido com os Panama Papers?
O tom burlesco dos heróis da direita atingiu
os estertores com o “Japonês de Federal”, apelido de Newton Ishii. A insanidade
foi tão grande que o homem até inspirou um conto erótico chamado “Prenda-me,
Japonês da Federal” ou uma marcha de Carnaval. Há gosto para tudo. Mas qualquer pessoa medianamente informada já sabia, há muito, que o japonês tinha os seus problemas com a Justiça, condenado por corrupção.
E, claro, temos o juiz Sérgio Moro, que tem
sido mais perene. É certo que boa parte dos neopolitizados ainda o considera herói.
Mas ele não tem sido capaz de disfarçar decisões contaminadas pela política. Há episódios a mais. E a estocada
final foi a divulgação ilegal dos grampos do ex-presidente Lula, que o levou a pedir desculpas ao
Supremo Tribunal Federal. Parece que a capa de herói não assenta bem no
juiz.
E agora temos Janaína Paschoal. Mas parece ser musa de pouca dura. Ontem a moça acordou heroína e foi dormir como uma mulher em transe que luta contra cobras. Isso importa? Não. As balizas morais dos conservadores são muito frouxas. Para virar herói dessa gente basta estar contra o partido do governo. E não
importam os valores. Como a ética, por exemplo.
E fica um aviso: se é candidato a herói da direita, tome cuidado. Parece haver uma maldição que atira a todos para o lado menos aprazível da história.
É a dança da chuva.