quinta-feira, 31 de outubro de 2013

Hipocrisia idiota


POR GABRIELA SCHIEWE

"Sou brasileiro, com muito orgulho, com muito amor..."

Essa frase é muito bonita e realmente acredito que devamos sempre enfatizar o nosso país.

Eu, sendo brasileira, quero o melhor para o meu país e, claro, terei sempre a vontade de representá-lo.

Agora, não vamos levar isso a ferro e fogo, ok?

Que auê hipócrita nessa história do Diego Costa, que fez opção por jogar pela Seleção Espanhola.

Poxa, idiotice agora vir o Felipão e todo o bonde da CBF detonar o cara.

Primeiro lugar, o jogador se fez na Espanha, está a 25 anos lá, o Brasil nunca deu moral para ele, aí o caboclo está lá destruindo no Campeonato Espanhol então resolvem bater no peito e dizer que ele é brasileiro.

Felipão foi treinar a Seleção de Portugal, ninguém falou nada.

A cúpula da CBF vendeu os direitos da nossa Seleção Canarinho para um grupo árabe e ninguém fala nada.

No entanto, na maior cara de pau, agora estão querendo detonar com o atleta, que não está cometendo nenhum crime, está trabalhando honestamente por pura dor de cotovelo.

É uma hipocria idiota e que me admira o técnico Felipão estar levantando essa bandeira e a CBF, inclusive, estar estudando a possibilidade de acionar o jogador Diego Costa perante a FIFA.

Tudo bem, vocês podem estar dizendo que não sou patriota por ter escrito tudo isso e expressado a minha opinião. Mas sabe de uma coisa...to nem aí, to nem aí...e, se estivesse no lugar do jogador, acredito que tomaria a mesma posição e escolheria por aquele que vem me dando respaldo.

Não tem graça


Michele e os filhos: Gentili não suporta a felicidade deles
POR CLÓVIS GRUNER

Michele Rafaela Maximino mora em Quipapá, uma pequena cidade do interior de Pernambuco, na zona da mata. Auxiliar de enfermagem e mãe de dois filhos, por uma dessas idiossincrasias da natureza ela consegue produzir cerca de dois litros de leite diariamente. Graças a isso, nos últimos meses Michele foi responsável por até 90% de todo o leite materno do banco de leite do Hospital e Maternidade Jesus Nazareno; somente em setembro, foram 39 litros doados. Um detalhe: Caruaru, onde fica a Jesus Nazareno, é distante 80 quilômetros de Quipapá. Assim, depois de ordenhado e mantido congelado em potes esterilizados, para doar o leite Michele e o marido percorrem e custeiam do bolso as despesas do translado semanal entre sua cidade e Caruaru.

Só uma mulher sabe, efetivamente, as dificuldades de amamentar. Mas não é preciso ser uma para ter consciência dos benefícios da amamentação. Maternidades mantem bancos de leite para garantir principalmente a saúde e, em certos casos, mesmo a sobrevivência de recém-nascidos prematuros. Muitas mães optam pelo aleitamento materno exclusivo até o sexto mês, como recomenda a Organização Mundial de Saúde, e algumas – nem todas, infelizmente – contam com o apoio dos pais, dispostos a fazer o necessário ao seu alcance para garantir o máximo de conforto e condições para a amamentação. Um gesto, diga-se, que demanda além da atenção dispensada ao bebê durante o ato, esforço físico e necessárias horas de repouso. Amamentar pode ser um ato de amor, mas quem já passou por isso, mesmo que na condição de pai, sabe que há pouco de idílico.

Em um país onde o índice de amamentação está muitíssimo abaixo do aconselhado pela OMS – pouco mais de 40% dos bebês brasileiros menores de seis meses recebem exclusivamente o leite materno, quando o percentual ideal é de no mínimo 90% –, Michele deveria ser “mamãe propaganda” de uma campanha que reforçasse a importância do aleitamento. Não foi o caso. No começo deste mês, Michele entrou na mira do comediante Danilo Gentili, e não é novidade a ninguém o que isto significa: Gentili faz parte de uma geração de humoristas especializada em um humor baixo e preconceituoso. Em nome do politicamente incorreto, seu histórico de humilhação contra principalmente mulheres, gays e negros é amplamente conhecido.

Neste caso em específico, entre outras coisas o apresentador do “Agora é tarde” chegou a comparar Michele com um ator pornô, e a amamentação com a masturbação: “Em termos de doação de leite, ela está quase alcançando o Kid Bengala”, afirmou, um pouco antes de exibir, sem autorização, a imagem de Michele e prosseguir o linchamento moral disfarçado de humor. Tudo muito hilário.

UM RISO REACIONÁRIO – Por tentador que seja fazer um exercício de psicologia de botequim para tentar identificar as razões que explicam o medo doentio que alguns homens tem de seios femininos, e do ódio que nutrem pelas mulheres de um modo geral, não vou ceder a tentação. Meu argumento é outro. Historicamente, o riso tem servido para expor o poder e os poderosos. Desde as origens do carnaval, ainda no medievo, ou nos charivari, comuns nas cidades francesas dos séculos XVII e XVIII, o riso e o escárnio foram sempre um instrumento de subversão e crítica de que se valeram os menos poderosos para ridicularizar aqueles que, sob seu ponto de vista, eram tidos como dominadores – o clero, a nobreza, seus patrões, etc...

Esta tendência subversiva e libertária, é possível reencontrá-la no humor mais contemporâneo. Em Buster Keaton ou nos irmãos Marx, no cinema americano, por exemplo; em Oscarito e em praticamente toda a chanchada, ou em Mazzaropi, no caso brasileiro. Mesmo a comédia stand up que, supostamente, inspirou Gentili, segue esta tendência, o que é notório no humor entre o cinismo e o sarcasmo de seus principais expoentes, tais como Woody Allen, Jerry Seinfeld ou Chris Rock. E estou a falar apenas do humor a que assistimos no cinema ou na televisão, mas se deslocarmos para outras linguagens e mídias, exemplos não faltam; e o cartunista Laerte, cuja tirinha ilustra esse texto, é um desses casos.

No Brasil, salvo raras e honrosas exceções, o humor seguiu o caminho inverso. A ridicularizar os poderosos, preferiu adulá-los. A expor as mazelas, as contradições, o grotesco enfim, do chamado “senso comum” e seus muitos preconceitos, tem servido para reforçá-los, multiplicá-los e legitimá-los. Nosso riso é conservador e nossa história, atravessada pelas muitas formas de violência contra as chamadas minorias, explica em parte esta tendência: somos servis, e o ressentimento gerado por nossa sujeição e impotência tem servido de esteio ao ódio dirigido contra aqueles mais frágeis socialmente. O fenômeno vago e ambíguo do “politicamente incorreto” reforçou esta tendência; sua penetração midiática deu a ela uma roupagem moderna e descolada.

O argumento de que o humor não deve ter limites é débil e tem pelo menos dois precedentes a contradizê-lo. O próprio Danilo Gentili desculpou-se com a comunidade judia de Higienópolis depois de sua piada, no mínimo ofensiva, sobre os trens de Auschwitz. Seu colega Rafinha Bastos também se retratou com a cantora Wanessa Camargo - mas, mesmo assim, perdeu a vaga no CQC, um punhado de contratos publicitários e hoje amarga um relativo ostracismo. Nenhum deles, claro, fez o mesmo com os negros, chamados pelo primeiro de “macacos”, ou com as mulheres, depois da apologia ao estupro feita pelo segundo.

No ano passado uma artista afirmou em entrevista que deixou de amamentar depois que levou uma mordida do seu filho. Danilo Gentili e sua trupe nada disseram: afinal, uma mulher loira e linda – além de rica e famosa – não serve para piada porque, entre outras coisas, não terá de agradecer ao estuprador o favor de tê-la estuprado. Já Michele, que amamenta os seus filhos e os filhos de outras mulheres, sofreu a humilhação de ser exposta ao ridículo pelos epígonos do humor politicamente incorreto. Não há outra conclusão possível. O politicamente incorreto não é apenas preconceituoso e autoritário, mas covarde.

terça-feira, 29 de outubro de 2013

A Grecia é aqui?

POR JORDI CASTAN

Europa esté em crise. Alguns países têm sido mais afetados que outros, mas o caso de Grécia é um dos mais significativos. O país declarou falência e exprts europeus se dedicaram a estudar como a Grécia chegou a essa situação econômica.

A primeira constatação foi a que para entrar no euro os gregos falsearam a contabilidade e depois da adoção do euro continuaram praticando a criatividade contábil, convertendo balanços em peças de ficção fiscal.
Houve aposentadorias em massa de gente com 50 anos, e com salário integral. Havia mas motoristas que carros oficiais, em alguns departamentos a proporção era de 1:50. Num hospital p
úblico havia mais de 40 jardineiros para cuidar de meia dúzia de vasos com quatro arbustos.

Grécia tinha os maiores indicadores de longevidade de Europa, a população com mais de 110 anos de idade era das maiores do mundo, porque para seguir recebendo as aposentadorias não se declaravam os falecimentos.
Há casos em que famílias recebiam 4 ou 5 aposentadorias a que não tinham direito, em casos extremos, se seguiam pagando as pensões de falecidos em 1953. Mais de 40.000 mulheres recebiam aposentadorias vitalícias de 1.000 euros mensais, por serem filhas solteiras de funcionários públicos falecidos. O total destas aposentadorias representava mais de 550 milhões de euros ao ano para os cofres do estado. Agora o pagamento destas pensões é feito só as filhas solteiras até os 18 anos. Os hospitais gregos chegaram a pagar mais de 400 vezes mais por um marcapassos  que o preço pago pelo serviço de saúde britânico.

Na Grécia são numerosos os trabalhadores que tem se beneficiado de aposentadorias antecipadas, aos 50 anos para as mulheres e 55 para os homens, graças a um lei aprovada pelo governo socialista em 1978. A lei beneficia aos profissionais de mais de 600 categorias, que de acordo com a legislação grega são consideradas perigosas ou extenuantes e que incluem de cabeleireiros, por conta dos produtos químicos utilizados para pintar o cabelo, os músicos de instrumentos de vento ou radialistas e apresentadores de televisão.

A quantidade de departamentos públicos, sinecuras e comissões no governo grego são tantas que é praticamente impossível saber com certeza quantos funcionários existiam. O estudo feito pelos técnicos da União europeia mostrou por exemplo que o Instituto para a Proteção do Lago Kopais, que secou em 1930, empregava 1736 gregos.

O setor publico tem um peso desproporcional na economia grega, há quase um milhão de funcionários públicos para uma população de pouco mais de quatro milhões de população economicamente ativa.

Grécia tem quatro vezes mais professores que Finlândia, o país que melhor nota obteve no último informe PISA, mas essa superpopulação de docentes só tem servido para que o país tenha um dos piores níveis em educação de toda Europa.

É possível tirar conclusões a partir do caso grego? Há pontos de comparação com o Brasil? 

segunda-feira, 28 de outubro de 2013

Sonegômetro, o vilão dos empresários e dos mais ricos

POR CHARLES HENRIQUE VOOS

Dias atrás eu conheci o Sonegômetro. É um placar online que apresenta, em tempo real, o quanto o país deixa de arrecadar em impostos todos os dias por causa da sonegação (golpe para fugir de tributos). Se tornou um contraponto ao Impostômetro. Até a data em que escrevo este post, o Brasil já arrecadou mais de 1 trilhão e 266 bilhões de impostos, e sonegou mais de 336 bilhões.

Antes de mais nada, preciso esclarecer que considero a política tributária do país muito ruim. Os impostos correspondem a 36% do PIB brasileiro, mas, ao mesmo tempo, prejudica os mais pobres. E a sonegação só acentua este processo. Sem contar que nossos impostos são incididos sobre o consumo, e não pela propriedade. No Brasil, por exemplo, quem ganha até dois salários mínimos paga 49% dos seus rendimentos em tributos, mas quem ganha acima de 30 salários paga 26%. Voltarei a este ponto daqui a pouco.

Vale lembrar também que pagamos impostos para termos as nossas necessidades básicas realizadas: saúde, educação, mobilidade urbana, habitação, cultura, lazer, etc. Logo, em um país onde o Estado geralmente é ineficiente em suas obrigações, e não consegue dar conta do que lhe é dever, a população tende a interpretar o imposto como algo nocivo. Em consequência, "faz parte do jogo" que se evidenciem táticas para burlar o sistema tributário. Até nas faculdades isto é ensinado para obter mais lucro. Para quê pagar impostos se o governo não o utiliza de melhor forma? "Dar o calote é a melhor solução", você pode pensar. Mas é aí que mora o perigo.

Quanto mais é sonegado, maior é o imposto cobrado para atender as necessidades de nosso dia-a-dia. Quanto mais imposto é cobrado, maior a taxa de imposto no rendimento do pobre. Quanto mais rendimento do pobre for tirado para pagamento de impostos, maior será a desigualdade deste país, pois não acontece na mesma proporção para com os mais ricos.

O boletim do Sindicato dos Procuradores da Fazenda Nacional é muito claro:
“na hipótese ainda de se levar em conta apenas a média dos indicadores de sonegação dos tributos que têm maior relevância para a arrecadação (ICMS, Imposto de Renda e Contribuições Previdenciárias) poder-se-ia estimar um indicador de sonegação de 28,4% da arrecadação (percentual muito próximo do indicador de sonegação para o VAT em países da América Latina que foi de 27,6%), que equivale a 10,0% do PIB, o que representaria o valor de R$ 415,1 bilhões caso levado em conta o PIB do ano de 2011. Tomando-se em consideração esse último indicador para a sonegação, poder-se-ia afirmar que se não houvesse evasão, o peso da carga tributária poderia ser reduzida em quase 30% e ainda manter o mesmo nível de arrecadação. Esses R$ 415,1 bilhões estimados de sonegação tributária são superiores a tudo o que foi arrecadado, em 2011, de Imposto de Renda (R$ 278,3 bilhões), a mais do que foi arrecadado de tributos sobre a folha e salários (R$ 376,8 bilhões) e a mais da metade do que foi tributado sobre bens e serviços (R$ 720,1 bilhões).”
 Por fim, está muito claro que existem dos grupos de pessoas: em um deles, encontra-se a grande maioria dos cidadãos, que precisa trabalhar até quatro meses por ano só para pagar impostos. No outro, estão os empresários (25% da arrecadação das empresas brasileiras é sonegada, também segundo o mesmo boletim) e os mais ricos, que proporcionalmente pagam menos impostos. Este último é "muito bem camuflado" e se beneficia das diversas brechas da legislação tributária, do sucateamento da Advocacia-Geral da União (AGU) e da Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional (PGFN), fazendo fortuna e alimentando os caixas da corrupção, da lavagem de dinheiro e do crime organizado.

Por isso eu sempre duvido do choro de empresários (ressalto aqui que não são todos, porém uma maioria esmagadora destes), ricos em postos privilegiados e movimentos articulados por estes mesmos grupos. Quem sofre com os altos impostos não são eles; mas sim o pobre, o morador da periferia, que utiliza ônibus todo dia, come pão com queijo no jantar para não gastar o gás e requentar o almoço, aquele que usa o SUS, que come no restaurante popular e necessita do bolsa família para sobreviver. Além da porrada na cara com a má gestão pública, o pobre sofre com o cheiro do arroto dos empresários e mais ricos que, na medida do possível, fazem de tudo para ficarem cada vez mais ricos.

Apenas um pequeno exemplo: a Associação Comercial e Industrial de Joinville (ACIJ) é promotora do Movimento Brasil Eficiente, e articula-se com o Estado para provimento de políticas públicas que favoreçam os seus associados (a LOT é uma estratégia neste sentido), entretanto, tem processos na justiça por não pagar IPTU à Prefeitura (basta consultar no site do TJ-SC). Arrecadar dinheiro (com doação dos outros) para hospital é fácil. Pagar impostos (com recursos próprios) e ajudar na melhoria da cidade, não.

PS: antes que alguém questione as fontes do sonegômetro, o IBPT (Instituto Brasileiro de Planejamento Tributário) também é um dos responsáveis pelo impostômetro.