quarta-feira, 27 de abril de 2016

Os exterminadores do futuro

POR FELIPE SILVEIRA

Antes de mais nada, não acho que a violência vai simplesmente acabar com investimento em cultura e educação. Eu não sei exatamente como ou se a violência vai acabar, mas certamente ela é muito agravada pelo subdesenvolvimento das potencialidades da humanidade. A repressão, obviamente, gera mais violência.

Partindo deste princípio, é de ficar embasbacado com a recente notícia que o Governo do Estado de Santa Catarina não renovou convênios com centros comunitários de Joinville (do Itaum, do Iririú e do Costa e Silva), comprometendo o futuro desses espaços de convivência e desenvolvimento da comunidade.

Diz o governo que pagou os convênios existentes, mas não os renovou por contenção de despesas. Sim, para o governo catarinense, o desenvolvimento cultural, esportivo e educativo da população é simples despesa, como o cafezinho que pode ser cortado.

Para os grandes eventos culturais, que tem visibilidade e patrocínio de grandes empresas, há dinheiro. Para investir no desenvolvimento econômico do estado (o que está certo), há dinheiro; até 2014 foram 1 bilhão de reais só no PlanoSC@2022. Para a construção de presídios, há dinheiro.

Só não há dinheiro para investir no desenvolvimento pela cultura e no lazer da população. O melhor, para eles, é deixar o povo em casa, vendo TV e tomando remédio. Não há, nos bairros periféricos, um centro comunitário mantido por qualquer governo que seja. Nem Udo, nem Raimundo nem Dilma.

Não estou dizendo que certos investimentos do governo estão errados. As ações nos museus são importantíssimas, o apoio às festas populares e outros projetos pontuais e eventuais são necessários. Mas falo de algum trabalho constante nas comunidades. Onde estão?

Trata-se de um abandono completo das comunidades, para as quais resta a alternativa de criar o próprio lazer. Belas alternativas são criadas assim, como a Casa Iririú e a Amorabi (Itinga). Mas isso depende de muito sacrifício de algumas pessoas sonhadoras e realizadores que fazem acontecer. O Estado se vale dessa boa vontade para não cumprir suas responsabilidades. E é nesse vazio que a juventude se perde, na busca para extravasar suas potencialidades em algo que o Estado não provê.

Vamos abraçar os centros comunitários dos bairros e não permitir que o governo os abandone. O mínimo que Raimundo Colombo pode fazer é renovar os convênios. E é fundamental que os próprios governos, do estado e do município, assumam a responsabilidade e ofereçam programas e equipamentos para o desenvolvimento cultural, educativo e esportivo da população.

O debate está servido


Nem todos acreditam que um parque no 62 BI é a melhor opção.


Se acredita que esta é uma boa proposta assine a petição


62 BI.Parque ou prédios?

Joinville não tem um parque central. Os 60.000 m² da área de 62 Batalhão de Infantaria são uma das poucas alternativas que a cidade teria para criar um parque bem localizado, com características que permitem a conversão num espaço verde, para o lazer e a cultura. Mas o local hoje está ameaçado pela pressão imobiliária. Há uma proposta para permitir a construção de prédios de 10 andares no local coloca em risco o futuro deste espaço.
O assunto só agora começa a ter a atenção da comunidade. Há quem ache importante a mobilização da sociedade no sentido de escolher entre o parque e os prédios. Há mesmo uma petição a angariar assinaturas a favor do parque. O debate está lançado. Você tem alguma opinião? Se tem, use os comentários no blog. E se for a favor da petição, o endereço para assinar está aqui. 




terça-feira, 26 de abril de 2016

O cheiro da podridão chegou aqui*

POR JOSÉ ANTÓNIO BAÇO

Houve um tempo em que a imprensa europeia – e mesmo a norte-americana – projetava uma imagem favorável ao impeachment de Dilma Rousseff. Mas há alguns meses houve uma mudança de agulha. E a razão é simples. Num primeiro momento, a comunicação social internacional reproduziu a versão dos veículos da velha mídia no Brasil. Ou seja, Globo, Veja, Estadão, Folha, Época e assemelhados.

Deu chabu. Mais recentemente, os jornalistas estrangeiros perceberam que essas fontes eram duvidosas e passaram a usar outros meios para a averiguação dos fatos. E a tese do golpe contra a presidente ganhou força. A machadada final foi o espetáculo deprimente na votação do impeachment na Câmara dos Deputados. O mundo viu um país a caminhar alheadamente para a putrefação.

Há um ponto a destacar. Uma pessoa que viva numa democracia a sério (definitivamente não é o caso do Brasil) só pode ficar estarrecida com o comportamento promíscuo da imprensa brasileira. É certo que a comunicação social estrangeira também tem lado. Há projetos editoriais que alinham com visões mais ou menos liberais, progressistas ou conservadoras. Mas não se perde o pudor, como acontece no Brasil.

Fazer a comparação entre a imprensa do hemisfério norte e a brasileira leva a uma obviedade. Apesar de terem posição ideológica, os meios de comunicação europeus e norte-americanos não vão ao ponto de comprometer o rigor da informação (não quer dizer que não possa acontecer). Desgraçadamente, essa lógica não serve para a velha mídia brasileira, onde a mentira, a distorção e a ausência de contraditório são quase regra.

O golpe contra Dilma Rousseff ficou evidente e já não dá para disfarçar. O Brasil virou motivo de piada e o cheiro de podridão chegou a outras latitudes. Mas também caiu a máscara de uma certa imprensa, useira e vezeira de métodos inaceitáveis em democracia. Exemplos? O jornal português Diário de Notícias definiu a Veja com “conservadora, de direta e obstinadamente antigoverno”. O Le Monde pediu desculpas por ter feito uma matéria tendenciosa, a partir de imprensa brasileira.

Enfim, hoje o mundo todo sabe que a imprensa brasileira não é parte da solução, mas parte do problema.


É a dança da chuva.

* José António Baço vive em Portugal.


segunda-feira, 25 de abril de 2016

62 BI - Empreendimentos Imobiliários



POR JORDI CASTAN

Há, no texto da LOT em discussão na Câmara de Vereadores, uma longa relação de desejos atendidos. A maioria das mudanças propostas na LOT atende pedidos concretos, tem nome e endereço certos. Alguns feitos à boca pequena, outros protocolados formalmente. Um caso interessante é o que envolve o imóvel que hoje ocupa o 62º BI. Um imóvel tombado, localizado em região bem valorizada, com construções com reconhecido valor histórico e com potencial para ser no futuro um pulmão verde. E uma área de lazer que poderia reunir, num único espaço, cultura, verde, lazer e preservação. Quem conhece a área sabe que há espaços vazios não ocupados e não haveria nenhum motivo aparente para que o tenente-coronel Sandro Emilio Dureck enviasse, ao prefeito Udo Dohler, em 12 de 2014, o ofício nº 10 – EB 64069.003262/20014-28, solicitando alterar a lei de uso e ocupação do solo L.C. 312/10, de forma a que a área do batalhão permitisse a construção de edifícios de até 10 pavimentos para "atender as necessidades atuais desta organização militar."  




Imaginar o Exército construindo prédios de 10 andares naquele imóvel é uma ideia estranha. Poderia até fazer sentido se houvesse alguém interessado em adquirir o imóvel para converter o espaço num sofisticado empreendimento imobiliário. O valor do imóvel aumentaria consideravelmente e os benefícios seriam significativos, se numa área tombada fosse possível construir prédios. Pode até ser por isto mesmo que o IPPUJ mantém a oposição ferrenha a cogitar o imóvel como a área ideal para que Joinville tenha, algum dia, um parque central com área compatível com a necessidade de uma cidade de mais de meio milhão de habitantes.

A pesar do ofício ter sido devidamente protocolado na Prefeitura, o pedido aparentemente não foi atendido, pois não houve alteração na LC 312/10. Mas uma leitura atenta na minuta da LOT possibilita identificar as mudanças que permitiriam que o pedido fosse atendido cabalmente.






Antes que alguém venha a dizer que o imóvel não é tombado e que a LOT não altera o zoneamento da sede do 62º BI - e que segue sendo Setor Especial -, é bom entender que recomendável fazer uma leitura detalhada da minuta da LOT. E que os enfadonhos ANEXOS SÃO PARTES INTEGRANTES DA LEI, principalmente nos números e letras miúdas das observações. O Diabo esta nos detalhes e os anexos escritos em letra miúda são os detalhes onde o Diabo gosta de ficar. No Anexo VII, dos Requisitos Urbanísticos para a ocupação do solo, a redação do projeto de lei em discussão na Câmara - e apresentado nas audiências públicas realizadas pelo Executivo - está prevista, para este local, a possibilidade de construir edifícios com 30 metros de altura (algo em torno de 10 andares), o que atenderia amplamente o pedido feito. 

Além de poder nos surpreender com edifícios de 30 metros de altura na área que hoje ocupa o 62º BI, caso vingue a iniciativa de flexibilizar os EIVs (Estudo de Impacto de Vizinhança), como alguns vereadores defendem,  o texto da LOT acabaria permitindo que o “órgão competente” licenciasse ocupações desse tipo em áreas como, por exemplo, o entorno do Museu Nacional da Imigração, da Estação Ferroviária e até no terreno do Cemitério dos Imigrantes. Porque mudar o zoneamento hoje está ficando simples.


Assim, aos poucos vamos retirando as poucas salvaguardas e garantias que ainda restam. E em nome do progresso, do desenvolvimento e da flexibilização, podemos permitir tudo e mais um pouco. Porque a lei não pode engessar o progresso. Qual é a cidade que não dá para engessar? A do lucro fácil e a dos interesses especulativos? Quantos outros casos como este não se escondem nos anexos, nas vírgulas e na letra pequena da LOT? Uma leitura detalhada permite identificar dezenas.

Há poucos que o fazem direta e abertamente como o fez o comandante do Batalhão. A maioria esconde seus interesses em reuniões a portas fechadas, em conversas em gabinetes, com os presidentes dos órgãos competentes que no futuro próximo deverão se manifestar a favor das mudanças solicitadas. E assim se faz o desenvolvimento urbano de Joinville e se planeja a cidade do futuro.