POR JOSÉ ANTÓNIO BAÇO
Houve um tempo em que a imprensa europeia – e
mesmo a norte-americana – projetava uma imagem favorável ao impeachment de
Dilma Rousseff. Mas há alguns meses houve uma mudança de agulha. E a razão é
simples. Num primeiro momento, a comunicação social internacional reproduziu a
versão dos veículos da velha mídia no Brasil. Ou seja, Globo, Veja, Estadão, Folha, Época e assemelhados.
Deu chabu. Mais recentemente, os jornalistas
estrangeiros perceberam que essas fontes eram duvidosas e passaram a usar
outros meios para a averiguação dos fatos. E a tese do golpe contra a
presidente ganhou força. A machadada final foi o espetáculo deprimente na
votação do impeachment na Câmara dos Deputados. O mundo viu um país a caminhar alheadamente
para a putrefação.
Há um ponto a destacar. Uma pessoa que viva numa
democracia a sério (definitivamente não é o caso do Brasil) só pode ficar
estarrecida com o comportamento promíscuo da imprensa brasileira. É certo que a
comunicação social estrangeira também tem lado. Há projetos editoriais que
alinham com visões mais ou menos liberais, progressistas ou conservadoras. Mas
não se perde o pudor, como acontece no Brasil.
Fazer a comparação entre a imprensa do
hemisfério norte e a brasileira leva a uma obviedade. Apesar de terem posição
ideológica, os meios de comunicação europeus e norte-americanos não vão ao
ponto de comprometer o rigor da informação (não quer dizer que não possa
acontecer). Desgraçadamente, essa lógica não serve para a velha mídia
brasileira, onde a mentira, a distorção e a ausência de contraditório são quase regra.
O golpe contra Dilma Rousseff ficou evidente e
já não dá para disfarçar. O Brasil virou motivo de piada e o cheiro de podridão
chegou a outras latitudes. Mas também caiu a máscara de uma certa imprensa,
useira e vezeira de métodos inaceitáveis em democracia. Exemplos? O jornal
português Diário de Notícias definiu a Veja com “conservadora, de direta e
obstinadamente antigoverno”. O Le Monde
pediu desculpas por ter feito uma matéria tendenciosa, a partir de imprensa
brasileira.
Enfim, hoje o mundo todo sabe que a imprensa brasileira
não é parte da solução, mas parte do problema.
É a dança da chuva.
* José António Baço vive em Portugal.
* José António Baço vive em Portugal.