sexta-feira, 23 de outubro de 2015

Nos fios da teia #2



POR SALVADOR NETO

Nos Fios da Teia agradou aos leitores do Chuva Ácida, como esperado. E aqui vamos nós a mais alguns fios que tecem parte do mundo em que vivemos. Vamos em frente?
Cunha, sigilo e grana – O quase ex-deputado e ex-presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha, foi com tanta sede ao pote que se afogou no próprio oceano da sua hipocrisia. Com dois inquéritos abertos contra ele no STF, contas na Suíça em seu nome e da família com apenas (?) 9 milhões de reais, agora sequestrados a pedido do ministro Teori Zavascki, seu fim se aproxima. E a turma do impítim (leia-se PSDB, DEM, PPS) se afoga junto.

CPMF vem aí – O imposto, ou contribuição como queiram, que mais assusta os ricos e afortunados, grandes empresas e multinacionais, além de bancos e financeiras, vai valer em breve. O governo Dilma costura os apoios, já tem governadores e até prefeitos ao seu lado. Com essas canetas não há deputado que deixe de aprovar. Afinal, se suas cidades quebrarem, e assim seus estados, para que serviriam deputados e senadores? E cá prá nós, quem pagará a CPMF é quem nunca paga nada, os mais ricos. Que venha, e logo.

Congretrevas – Essa legislatura eleita pelo povo brasileiro tem feito uma força danada para arrastar o Brasil às trevas da Idade Média. A proposta do Estatuto da Família negando a realidade, a derrubada da criminalização da homofobia e, pasmem a tentativa ridícula de criminalizar atos contra heterossexuais (kkk), para ficar somente nisso, nos colocam no século X. E você aí em casa, vai ficar só olhando?

Mídia Caolha – Na província de Joinville, nossa Sucupira, nossa velha e carcomida mídia local/regional enxerga festival de cucas, distribui afagos ao fascista Bolsonaro, negando ao seu público conhecer o outro lado da moeda, ou das notícias. Em meio às enchentes desta quinta-feira (22) os joinvilense descobriram que não há radio jornalismo para prestar serviço em meio às águas e caos instalado. Fujam para os meios digitais alternativos gente!

Mídia Caolha 2 – Você já deve ter ouvido falar de Dalmo Dallari não? Grande jurista brasileiro, professor Emérito da Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo, com grandes obras publicadas, teve participação importantíssima na Constituinte. Esta personalidade esteve na província de Joinville esta semana em evento sobre direitos humanos. Você soube? Não, claro que não. A mídia local/regional usou o tapa-olho. Não viu, não quis ver, não publicou. Não interessa aos donos do poder. Aguardem a vinda do Bolsonaro. Ganhará capa e espaços de entrevista generosos.

Enchente – Algo que não é novidade desde que os imigrantes afundaram os pés no mangue das terras de Dona Francisca, as enchentes por toda a cidade tornaram a vida dos joinvilenses um inferno nesta quinta-feira (22). Caiu muita água entre a madrugada e o meio da tarde, e os prejuízos como sempre, serão altos. No mandato anterior, de Carlito Merss, a limpeza permanente dos rios, bocas de lobo, riachos, causou grande redução das cheias. Hoje, esse processo cessou. Resultados aparecem dentro das casas e comércios.

Troca-Troca – Enquanto a chuva encharcou a paciência dos joinvilenses, um troca-troca chamou a atenção: Udo, que deixou um Rodrigo, que deixou para outro Rodrigo. O primeiro foi passear em outro continente, e deu um agrado ao seu vice, de quem na verdade quer distancia. Este ficou um pouquinho, e passou a bola para o outro Rodrigo, o Fachini. Este, por sua vez, destacou em cerimonia familiar o “desafio”, a “missão” que teria por... 48 horas. Ele só não contava com as chuvas. É, essa Joinville faz coisas...
E a prevenção?  – Santa Catarina sofre com cheias há décadas. É um convívio diário e permanente com as águas dos rios, somadas ao grande fluxo de chuvas que já sabemos até em quais meses acontecem. A pergunta que nunca tem resposta é: porque os governos e suas estruturas não colocam em ação um plano de prevenção, já que tem informações antecipadas das intempéries? Porque não soam avisos à população tão sofrida, com antecedência? Porque não colocam planos de contingenciamento das águas, deslocamento das pessoas, proteção aos seus patrimônios? É uma falta de vontade política e de governo que beira a um ato criminoso contra as comunidades.
É assim, os fios da teia nas teias do poder...

quinta-feira, 22 de outubro de 2015

Tudo sob controle!


O sul não é meu país


POR FELIPE CARDOSO

O respeito à democracia é fundamental, principalmente no momento de polaridade política que enfrentamos no país. Apesar de sempre respeitar opiniões de conhecidos e amigos nas publicações que fazia no Facebook, parei de publicar alguns posicionamentos na rede social pelo simples fato de perceber que as pessoas não estão preparadas para respeitar o próximo, muito menos realizar debates com bons argumentos, sem ofensas, sem partir para a apelação, para os xingamentos, reduzindo problemas políticos, econômicos e sociais a ataques pessoais.

Recentemente, a notícia da morte de um imigrante haitiano a facadas, em Navegantes, chocou boa parte dos catarinenses. A notícia teve destaque nacional. Também pudera. Dez pessoas assassinaram uma.

Quem observou e analisou todas as movimentações feitas com a chegada dos imigrantes em terras tupiniquins não ficou tão surpreso com a notícia, pois está alertando, constantemente, sobre o agravamento desse problema, enquanto o Estado assiste tudo e se mantém omisso. Mesmo assim, não tem como não se assustar com tamanha barbárie.

O descaso do governo, o exagero da imprensa mostrando de maneira negativa a chegada de imigrantes haitianos no país, a diferença de tratamento em relação aos outros imigrantes, o racismo por trás de todo o tratamento negado... Tudo isso foi relatado em um texto postado aqui no blog, meses atrás.

Infelizmente, as consequências estão aparecendo. Todo o discurso de ódio, todo o racismo e toda a xenofobia ficaram escondidas em desculpas sobre a crise.

Talvez, tentando respeitar a tal democracia, permitimos que o discurso de ódio se propagasse, que as ideias de separação entre povos tomassem força, que sulistas se achassem superiores a nordestinos, que brasileiros se achassem superiores aos imigrantes, que brancos continuem se achando superiores aos negros.

O patriotismo e o nacionalismo só servem para dividir a classe trabalhadora, bem como o racismo. Ao amar cegamente uma cidade, um estado ou um país você pode não enxergar as imperfeições presentes nele. É o que acontece por aqui, no sul maravilha. A movimentação separatista, junto com uma imprensa pra lá de bairrista, insiste em jogar a culpa e a responsabilidade dos problemas para os outros. Outros estados, outros governos, outras pessoas...

Em um momento de crise financeira, as vítimas da vez foram os imigrantes, mas não todos, apenas os negros. O alarde dos perigos foram feitos por diversos veículos de comunicação, assistimos diversos casos de xenofobia e racismo por todo o país, contra os imigrantes negros. Poderíamos ter aprendido com o erro dos outros estados, mas, infelizmente, seguimos o fluxo. Na onda separatista e conservadora defendemos algo que achamos ser nosso. Um pedaço de terra, um papel, um emprego... Preferimos o ter pelo o ser. Em troca, expulsamos, afastamos. O diferente, o outro é a ameaça. Essa ameaça precisa ser extinta, não pode estar perto. E assim vamos construindo muros simbólicos e físicos, deixando de lado o respeito, a empatia, a troca de experiência e conhecimento.

A morte do imigrante haitiano, em Santa Catarina, não foi efetuada apenas com as mãos das pessoas que cometeram o crime físico. Foram efetuadas com as mãos dos que cometem os crimes psicológicos e simbólicos. Do movimento separatista, da imprensa, dos empresários, dos políticos, dos que negam a oportunidade e, também, com as mãos dos que se mantêm em silêncio diante tudo isso.

Devemos entender que o mundo foi feito para todos e que um mapa não pode ser motivo para a segregação.

O mundo é meu país!

Mobilidade, o item que falta no TOP 10


POR IVAN ROCHA*
Ao ler o preciso texto “A prova dos nove de Udo Dohler”, do jornalista José António Baço (link), senti falta de uma discussão sobre a Mobilidade Urbana e o tema merece um comentário à parte.


Lembro de quando presenciei uma reunião do Movimento Passe Livre com Udo Dohler, ainda em 2013. O prefeito ainda professava absurdos como um carro por pessoa em 30 anos, “mesmo que não usassem”. De lá pra cá muita coisa aconteceu.
Tivemos o labirinto do anel viário do Iririú, onde os moradores tinham que “descobrir” os melhores caminhos por conta própria, parte sem infraestrutura mínima para o aumento da demanda. Ou aquela lombo-faixa fora dos padrões mínimos de qualidade em frente ao colégio, que teve morte. Ou ainda o fim do programa aluno guia, lembrado após a segunda morte na saída das escolas.
Apesar disso tudo, a falta de competência na hora de fazer intervenções não é o pior dos problemas. A falta de coragem de enfrentar os velhos privilégios parece ser uma marca ainda maior da gestão Udo Dohler. Isso é bem claro em dois casos bem conhecidos na cidade.
O mais recente é o privilégio que os pais dos estudantes do Colégio Santos Anjos tinham de parar seus carros no corredor de ônibus da avenida JK. Isso teve fim desde a última segunda-feira, mas só aconteceu após insistência do pessoal da página “Não é só pelo corredor”, que levou o caso ao Ministério Público. A administração municipal estava tentando enrolar através de um projeto de R$ 800 mil que nunca sairia do papel. E a solução foi simples, com alguns cones e mudança nas placas de sinalização.
O segundo caso é a licitação do transporte coletivo, que já venceu a concessão inconstitucional em janeiro de 2014. Mas até agora a Prefeitura continua enrolando com dificuldades de fazer um plano de mobilidade participativo, ou com o processo das empresas de um suposto prejuízo que os usuários teriam que arcar na tarifa. Como no primeiro caso, a solução é simples. Basta reabrir a ação direta de inconstitucionalidade, pois o valor cobrado certamente confrontaria o arquivamento da ação, que seria a falta de prejuízo aos contribuintes.

Assim está minguando o mito Udo Dohler, o empresário que resolveria os problemas da cidade com um “choque de gestón”. Espero que tenhamos aprendido que precisamos de um líder com projeto que quebre paradigmas, e não de um gestor que enrola e não enfrenta velhos privilégios.

*Ivan Rocha integra o grupo de comentaristas do Barulho na Chuva