terça-feira, 3 de fevereiro de 2015

Vamos parar de falar de racismo

POR FELIPE CARDOSO

Já estou cansado de ouvir essa frase. Em uma época até cheguei a acreditar nisso, mas depois de muitas pesquisas e leituras vi o quão errado é esse pensamento.

Influenciados pela entrevista de Morgan Freeman (que viralizou na internet) na qual ele fala sobre racismo e o mês da consciência negra, muitas pessoas passaram a usar tal argumento para chegarmos a uma solução e vivermos em paz.

Pois bem, o “homem livre” parece não ser tão livre assim.

Para um artista milionário deve ser muito fácil falar isso.

Morgan não é o único (nem será o último, infelizmente) "famoso" negro a ficar distante da luta por igualdade e justiça social. No Brasil temos milhares como ele: Ronaldo Fenômeno, Neymar, Pelé, Alexandre Pires… Para eles, que acreditam não sofrer com o racismo, pode parecer simples a solução para esse terrível problema. Afinal, eles não devem levar a mesma vida que os jovens, adultos e idosos da periferia levam. Alguns deles nem se consideram negros (Ronaldo e Neymar). Logo, eles não devem mais passar pela opressão policial. São tolerados porque são conhecidos e suas contas bancárias podem comprar um pouco de respeito, às vezes. Oprah Winfrey, por exemplo, já sofreu com o racismo mesmo sendo uma "celebridade" mundialmente conhecida (http://g1.globo.com/pop-arte/noticia/2013/08/oprah-winfrey-afirma-ter-sido-vitima-de-racismo-na-suica.html).

O que quero dizer é que, muitas vezes, as "celebridades" negras acabam por esquecer suas raízes e acabam servindo de lacaios para seus patrões. Ficam de quatro pelo dinheiro. Trabalham como capitães do mato para garantir o emprego, o padrão de vida, ou seja, acabam pensando somente neles. Sou mais o Tinga, o goleiro Aranha e, mais recente, a jogadora de vôlei Fabiana Claudino, que não se calaram diante do racismo e aproveitaram a visibilidade para denunciar o que milhares de pessoas “anônimas” enfrentam diariamente.

Imagine se mulheres estupradas ficassem caladas. Imagine se os homossexuais agredidos ficassem calados. Imagine se as crianças mal tratadas ficassem caladas. Imagine se nós negros continuarmos calados.

Você realmente acha que mudaria alguma coisa?

Obviamente não.

O que essas "celebridades" reacionárias não percebem é que elas estão contribuindo para o silenciamento dos movimentos sociais, das “pessoas comuns” que enfrentam todos os tipos de preconceitos e humilhações diariamente e, na maioria das vezes, não têm como se defender.

No texto “A importância da voz” destaco a relevância das lutas dos movimentos sociais. Graças à internet podemos mostrar diferentes pontos de vistas, denunciar e encorajar mais pessoas a não ficarem caladas. Confesso que em certo momento até cheguei a reproduzir pensamentos retrógrados como o do Freeman, mas uma professora da faculdade me apresentou uma certa “autonomia do pensamento”. Comecei a confiar mais na minha cabeça. Li, pesquisei, assisti e analisei. Pude me inteirar mais sobre o assunto e tirar a minha própria conclusão. Não tenho a vida de um artista milionário. Minha realidade é muito diferente das deles e tenho certeza que a da maioria da população negra também é.

Eles não nos representam.

Somos mais Tinga, Aranha, Fabi, Zumbi, Dandara, Teresa, Marighella, Angela Davis, Mandela, Luther King, Malcolm X e muitos outros militantes negros que mostraram e comprovaram que ficar calado diante as injustiças não é a saída, muito menos a solução para os nossos problemas.

Não nos calaremos. Para o desespero de Morgan, Pelé, Neymar, Ronaldo e tantos outros lacaios e covardes.

segunda-feira, 2 de fevereiro de 2015

Volta às aulas!


Essa tal de "Geston"

POR JORDI CASTAN


Essa tal de “geston” é um bicho esquisito. Na campanha foi apresentada como a solução a todos os problemas. O problema de Joinville era um problema de gestão e o candidato que venceu se apresentava como garoto propaganda da gestão. Já no discurso de posse veio com aquele papo mole de "cuidar dos centavos" quando todos sabemos que o problema não são os centavos, o problema são os Reais e a vaca começou a ir para o brejo, devagarzinho no começo, com um trote alegre depois e agora num elegante galope. Em quanto a nível federal as vacas têm optado por ficar tossegosas, as sambaquianas têm se dirigido ao brejo.

Essa tal de “geston” não parece estar dando os resultados previstos. Escolhi alguns exemplos a esmo, estou convencido que cada leitor poderá acrescentar outros com pouco esforço. Como inicio de conversa:
- A arborização urbana.
- O restaurante popular do Bucarein.
- PA da Zona Norte
- A Rua das Palmeiras.
- As escolas municipais. 

A arborização urbana foi objeto de um post recente aqui no Chuva Ácida, e media de perdas das arvores plantadas na ultima empreitada esta sobre os 50%, numa rápida vistoria pela cidade. Ainda há que acrescentar a este numero as arvores que são mortas intencionalmente, as que morrem por falta de manutenção e as que se perdem por causas naturais e que tampouco são repostas. Qualquer leitor atento que passe perto da rotatória do tecelão poderá constatar que verde e arborização não é o ponto forte das empresas que estão perto. É difícil imaginar que quem não planta arvores e não tem um jardim cuidado na sua casa ou na sua empresa se preocupara com isso na sua cidade. “Geston” do verde “0”

O restaurante popular do Bucarein segue fechado. Alguém se lembra do motivo do fechamento e a data anunciada para a sua reapertura? Em novembro de 2013 e com menos de 3 anos de uso o restaurante foi fechado para “reformas” reformas orçadas em mais de R$600.000 e com data prevista de reapertura em junho de 2014. Até agora nada. Já sabemos que cumprimento de prazos e de preços não é o forte desta gestão. Mas ninguém até agora veio a dizer a que ritmo anda a obra e qual o novo prazo. O mais provável é que estem apostando em que logo o joinvilense esqueça que lá um dia teve um restaurante popular.

Fechar o PA da Zona Norte para reformas e transferir os pacientes e usuários para os outros PAs é uma pratica estranha. Já imaginou se uma indústria têxtil fechasse por meio ano a estamparia ou a tinturaria para reformas? Será que as empresas de Joinville não fazem manutenção preventiva dos seus equipamentos e instalações? Se as empresas fazem, essa não é uma pratica que forme parte da “geston” pública. Aqui as coisas se deixam sem manutenção até cair aos pedaços literalmente e depois se fecham “sine die” e se gastam uns bons recursos em grandes reformas que em pouco tempo exigirão novas reformas. Estou tentando lembrar quando foi a ultima vez que o Hospital Dona Helena, por citar um exemplo, fechou durante meio ano para fazer reformas? Alguém me ajuda a lembrar?

A Rua das Palmeiras segue sendo um cartão postal da cidade. Além de um cartão postal é também uma mostra do zelo para com o nosso patrimônio cultural e paisagístico. Depois que o mato tomou conta, que as flores desapareceram e que os canteiros estavam prontos para receber um rebanho de cabritos, a grama foi roçada e o lixo foi recolhido. Os responsáveis pela “geston” do espaço não devem ter sido informados que a grama cresce e deve ser podada regularmente, que a troca de flores e o corte da grama são atividades rotineiras e permanentes que qualquer jardineiro amador conhece bem. Aqui roçar a grama é algo tão extraordinário que vira noticia na imprensa local.

A boa noticia é que não deveremos ter escolas interditadas no inicio do ano escolar, o que não quer dizer que a “geston” municipal tenha feito a sua tarefa bem e tenha se antecipado aos problemas, sempre ao chegar mais perto do inicio das aulas começa a tensão para saber quantas e quais escolas não poderão iniciar o ano letivo por não atender as exigências legais referentes a vigilância sanitária. Deveria ser uma preocupação de toda a sociedade que o poder público cumpra o que exige da sociedade, o cumprimento da lei e que todas as escolas estivessem preparadas para receber os alunos em perfeito estado. Curiosamente neste ano e quando ainda falta fiscalizar 90% das escolas estaduais e mais de 40% das municipais, a única fiscal da vigilância sanitária foi afastada e este ano não teremos nenhuma escola interditada, porque não haverá uma fiscalização adequada. Isso é bom? Em principio que não se fiscalize não é bom. Que se afaste a fiscal Lia Abreu por 60 dias justamente nesta época em que se concentra a maior intensidade do trabalho de fiscalização das escolas é no mínimo estranho. Na verdade quanto mais informação esta disponível sobre o episodio mais aumentam as duvidas e mais estranha parece esta coincidência. A sociedade tem o direito a ser informada e bem sobre se as escolas cumprem o que a lei estabelece e quais os motivos que levaram ao afastamento da fiscal. Transparência é bom e quem não fez nada errado não deve temê-la.  


Quando já transcorreu mais de 50% do mandato desta administração parece que o gestor tem perdido brilho e que o que aparentava ser ouro resplandecente é só latão. A população segue esperando um choque de gestão, até agora só tem recebido lamurias e essa coisa chamada “geston”.

sábado, 31 de janeiro de 2015

Brainstorming

POR MANOELA DO NASCIMENTO


Assim como tantas outras lendas que fazem parte da cultura de São Francisco do Sul, a lenda do Marinebus já assombra os francisquenses.  Mas, precisando ir a Joinville e cansada de enfrentar as frequentes filas da BR 280, resolvi enfrentar outros perigos e tentar encontrar o tal Marinebus.

Primeiro, vou em busca de notícias: “O transporte começou a operar no dia 6 de janeiro. Em seu primeiro dia de viagens, o Marinebus, que tem capacidade para transportar 47 passageiros, realizou o trajeto entre as duas cidades com uma média de 20 pessoas a bordo.”  (ANoticia, 12 de janeiro)

Então, anoto os horários divulgados e os seus locais de aparição.

Saída de São Francisco do Sul para Joinville
06h20
8h20
12h
14h
18h

Saída de Joinville - para São Francisco do Sul
07h30
9h30
13h15
15h30
19h15

Faço um reza e vou ao encontro no trapiche de São Francisco do Sul. Era aproximadamente 7:45h da manhã e sol já refletia na Babitonga.

Enfim, chego ao trapiche de São Francisco do Sul. Respiração já ofegante, penso que deve ser pelo sobe e desce nas já conhecidas ladeiras do Centro Histórico.

Deparo-me com uma simpática senhora que estava a contar outras histórias a outro simpático rapaz. Para não assustá-los, emito um som baixo e agudo, como de costume, e pergunto como faço para comprar a passagem para o horário das 8h20. Torcendo por uma positiva resposta.

A simpática senhora pede então que eu me aproxime e me fala quase que ao pé do ouvido: - Shhhhhhh! Nas segundas ele costuma não aparecer por aqui... Você devia saber destas coisas menina...

Um buraco abre embaixo dos meus pés e meu coração dispara: - Então é verdade! A lenda existe mesmo! Isto é quase que como ter certeza que o Curupira existe, menos nas segundas-feiras.

E lá vou eu, feliz da vida, até a rodoviária pegar o ônibus, pois perdi a carona depois que decidi me aventurar pelos lados obscuros da nossa cultura.

Chego ao ônibus e para minha surpresa não tem mais lugar para sentar. – Que maravilha! Hoje é mesmo meu dia de sorte. Logo penso.

Começo a ver pessoas idosas, pessoas com necessidades especiais, trabalhadores, estudantes, turistas e crianças. Algumas no corredor. Com eles, suas bolsas, malas, travesseiros, livros e garrafinhas de água para amenizar o sufocante calor.
O ônibus começa a andar tranquilamente até que.............. trânsito parado na 280!

Passadas 3 horas, começo a ouvir turistas dizendo que perderam o horário de outros ônibus, que as senhoras perderam o horário da consulta, que os estudantes perderam o horário da prova, que os trabalhadores perderam tempo e que todo mundo perdeu a paciência.
Reflito: Sim! É verdade.... Este Marinebus existe mesmo! Mas deixa rastros e pistas falsas para despistar sua identidade. De acordo com a lenda, é impossível um francisquense alcança-lo. Após encantar os moradores, ele desaparece e ficamos apenas tentando descobrir seus mistérios. Enquanto isto, nos resta a imaginar como seria se ele existisse...


Obs. Lendas fazem parte do imaginário das pessoas. Assim como esta história.

sexta-feira, 30 de janeiro de 2015

Movimento LGBT, é preciso mesmo tantas letrinhas?

EMANUELLE CARVALHO

Ocorre frequentemente, nas situações mais distintas. Na TV, com uma reportagem  que trata o assunto indevidamente e confunde a população. No rádio, ao trocarem qualquer identidade de gênero ou orientação pela palavra gay. E também quando você está lá, bebendo aquela cerveja com os amigos e de repente alguém toca no assunto: "É como a galera GLS, Manu". Você corrige rapidamente para LGBT, e o logo os questionamentos sobre nomenclaturas, expressões de gênero, orientação sexual começam a surgir, e com eles as dúvidas tão comuns.


Mas será que é preciso tantos nomes diferentes? Será que a gente não pode chamar tudo de homossexualidade pra ficar mais fácil?
Não, a resposta correta é não. 

E não é porque nós somos "tudo bicha pintosa que gosta de frufru, glamour e purpurina" (até por que tem muita sapatão caminhoneira nesse barco, tem muita diversidade  nesse bolo, mas isso é outro papo, ou melhor, outro texto). O fato é que nomear os comportamentos e identidades ajuda a debater sobre elas, cria um ambiente propício a diferenciação dessas identidades, orientações e culturas e a entender um pouco de suas subjetividades e desse conceito tão amplo que é a diversidade.
Quando dividimos os sujeitos LGTBs em letrinhas podemos debater suas demandas uma a uma. Podemos dar atencão a problemas não vistos por outros grupos e por isso, pouco evidenciados. Chamamos isso nos movimentos sociais de visibilidade (guarde bem essa palavra, vou utilizá-las bastante dialogando aqui nesse espaço).
Ao debater as demandas individualmente a gente pode devagarinho, passo a passo, visualizar algumas opressões da sociedade que comumente não veríamos mas que nos afligem e são motivos de muitos traumas. 

Por exemplo, mulheres lésbicas sofrem lesbofobia e dentro disso, problemas como estupros corretivos , onde uma parcelas de homens machistas idiotas acreditam que podem corrigir a sexualidade dessas mulheres estuprando-as.
Já os bissexuais sofrem com as ideias bifóbicas equivocadas de que suas mentes e corpos são indecisos, que querem tão somente a promiscuidade e que não conseguem sustentar relações monogâmicas. Somos na ideia da sociedade atual uma espécie programada para fazer sexo sem se apaixonar independente do outro ser alguém legal ou não, ser inteligente ou não, nos atrair ou não. Algo criado para agradar a homens heterossexuais, já que a bissexualidade masculina é sempre vista como um disfarce e pouco admitida sua existência (sim, é preciso provar que sua sexualidade existe!). Uma grande bobagem do fetichismo e estereótipo televisivo.

Mas será que nomear tanto e trocar frequentemente essas nomenclaturas não piora essa visibilidade? Será que não confunde as pessoas? Será que não era mais fácil falar somente sobre amor?
Claro que sim, mas isso não é de fato um problema. Nesta sociedade plural e pós moderna estamos acostumados a modificar as coisas o tempo todo. Em 1960 a minha mãe teve um lance com meu pai, já minha avó teve um chamego, meu irmão flertou aos 15 e eu fiquei aos 12. Viram só, estamos modificando nossas formas de falar, então por que a nossa sexualidade, sempre tão invisível e agora talvez um pouco mais debatida não pode receber um novo olhar?
Claro que pode.

É preciso atentar que algumas palavrinhas são ressignificadas, ou seja, recebem um novo sentido, uma nova carga simbólica, moral e política e outras podem ser utilizadas pejorativamente. Se você não sabe que termo utilizar com uma determinada pessoa ou determinado grupo, pergunte. Não é feio, não dói, e principalmente, não machuca o outro. 

Além disso, é preciso ter paciência para explicar  (estou trabalhando arduamente nisso gente!), especialmente aos que foram educados para um mundo mais cinza, que essa pluralidade de cores não nos inferioriza enquanto sociedade, pelo contrário, nos fazem sujeitos ainda mais tolerantes, fortes e múltiplos.