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O jornalista Vladimir Herzog, o Vlado, "encontrado morto em sua cela". Uma das fotos mais chocantes da história do Brasil |
POR FELIPE SILVEIRA
Estamos a alguns dias do aniversário de 50 anos do golpe civil-militar que colocou o Brasil em uma violenta ditadura de 21 anos. Ainda não sabemos nada sobre ela. Individualmente até conhecemos algumas coisas, lemos alguma coisa aqui, outra ali, um filme acolá. Mas é pouco. Enquanto Brasil, nada.
Cheguei a essa conclusão por causa do aniversário. Muito material bom está sendo produzido por causa da data emblemática. Mas não somente. É também uma resposta a esse reaparecimento de um fascismo escancarado, como apresentadoras de TV malucas, gatos pingados pedindo intervenção militar, polícia ameaçando manifestante e matando donas-de-casa. Enfim, todos os dias tem muita coisa boa para ler acerca daquele período. Material novo e antigo. Inclusive, uma entrevista indicada por um anônimo no texto da semana passada foi uma das leituras dessa semana. Há muita coisa mesmo. E não sabemos da missa a metade.
Na semana passada, neste espaço, defendi a criação de uma Comissão Municipal da Verdade, ideia que surgiu na audiência pública de comemoração dos 35 anos do Centro dos Direitos Humanos Maria da Graça Bráz (CDH) e que contou com a presença do coordenador da Comissão Estadual da Verdade. Uma comissão municipal faria este trabalho de resgate da memória acerca da ditadura, contando uma história que foi ocultada por aqueles que se aproveitaram do governo militar. Também foi defendida a criação de espaços voltados à memória, e eu citei como exemplo o Memorial da Resistência, em São Paulo. Insisto: todos devem conhecer.
Essas ideias – da criação da comissão e de um espaço similar ao memorial – vão ao encontro de outra provocação sobre o tema. Em outro evento sobre o tema, questionei o professor Wilson de Oliveira Neto, autor do livro “O Exército e a Cidade” (juntamente com Sandra Guedes e Marília Gervasi Olska), sobre o que ele imagina como solução para este cenário tão frágil que é a nossa sociedade, ao que ele comentou o texto “Educação após Auschwitz”, de Theodor Adorno, no qual o filósofo alemão sustenta a ideia de que é preciso desenvolver uma educação que impeça o retorno à barbárie. A referência à barbárie é Auschwitz, o maior campo de concentração e extermínio da Alemanha Nazista.
Para o professor, nós brasileiros temos que desenvolver uma “educação após 64”, a nossa maior expressão da barbárie. Essa ideia me tocou profundamente e por isso eu a reproduzo aqui. Talvez ela seja o ponto de partida para um mundo mais justo e livre, no qual pessoas não sejam amarradas a postes e arrastadas por viaturas.