terça-feira, 20 de agosto de 2013

O menos mal não é o melhor

POR JORDI CASTAN

Em tempo de poucas opções, ganha corpo a ideia de que escolher o menos ruim é a melhor opção. É um erro supor que o menos ruim seja o melhor. O menos ruim continua sendo uma péssima escolha.

Vivemos esta situação na eleição municipal passada, aqui em Joinville, frente a uma coligação que foi denominada de KCT por congregar, num mesmo grupo, o candidato Kennedy Nunes, com o apoio prefeito Carlito Merss e pelo ex-prefeito Marco Tebaldi. 

Esse engendro político reunia antigos inimigos declarados e, nesse momento, tinha um único objetivo: a volta ao poder, no caso do Tebaldi, a chegada ao poder, no caso do Kennedy, ou simplesmente a permanência nele, no caso do Carlito. É evidente que os maiores interessados, além dos próprios lideres do processo, foram os assessores, cabos eleitorais e apaniguados que corriam um serio risco de perder os cargos e teriam que voltar a trabalhar, alguns provavelmente por primeira vez na vida.

Frente a esta coligação estava a candidatura liderada pelo candidato Udo Dohler, que se apresentava como a menos ruim. Pouca gente que o conhecesse e tivesse acompanhado a sua vida pública fora da empresa tinha a certeza que era a melhor opção para Joinville. Mas representava a opção menos ruim. Eu mesmo votei nele no segundo turno. Se por um lado tinha a certeza, hoje confirmada, de que o seu governo não seria brilhante, por outro sabia que tinha - e tem - experiência administrativa e não deveria cometer erros crassos, inaceitáveis para um administrador público.

Joinville enfrentou naquele momento uma situação que corremos o risco de viver de novo em 2014, tanto no nível estadual, como no nível nacional, o dilema de ter que escolher o menos ruim, porque não há no horizonte nenhuma opção viável que possa ser considerada boa ou que seja claramente melhor.

E teremos que, de novo, fazer escolhas, sabendo que nenhum resultado será bom. Há os que defendem que não se deve praticar o voto útil. Que votar no menos ruim continua sendo uma péssima opção. Anular o voto ou exercer o voto de protesto é uma alternativa, inócua, mas que ganha corpo, entre uma parcela do eleitorado frente a falta de outras opções. O eleitor enfrentará, cada vez com maior frequência, o desafio de ter que escolher entre péssimas opções. E terá que fazer a sua escolha.


Pessoalmente, tenho cada vez menos certeza que votar no menos ruim seja uma boa opção, mas não consigo identificar uma alternativa melhor. Convivo diariamente com o resultado da minha escolha e fico dividido entre acreditar que fiz o melhor possível ou que contribuiu para ter em Joinville um mal menor e a duvida me martela cada dia. Qual será a melhor opção? Qual é a escolha correta? Alguém autoritário, que sabe ler um balanço e que ouve, mas não escuta. Ou alguém que paquera a demagogia sem experiência administrativa, mas que está mais sensível a outras parcelas da sociedade? Difícil escolha. 

segunda-feira, 19 de agosto de 2013

O JEC precisa da politicagem para sobreviver?

POR CHARLES HENRIQUE VOOS

Se há alguma coisa horrível no futebol, e que permeia praticamente todos os grandes clubes brasileiros, é a influência da política (a política suja, aquela da troca de favores, geralmente praticada pela maioria dos partidos políticos) nas mais diversas ações que envolvem a administração de uma equipe. Algumas destas relações podem ajudar, ou simplesmente arruinar com um planejamento e a imagem perante os torcedores.

O Joinville Esporte Clube sabe muito bem como a política é prejudicial. A torcida sabe mais ainda. Após as seguidas crises provocadas pelo rebaixamento em 2004, o então prefeito Marco Tebaldi, na ânsia de "ajudar", virou presidente do Conselho, começou a contratar técnicos em seu gabinete e participar de forma ativa nas dinâmicas do clube. O resultado foi uma queda maior ainda. O time ficou sem divisão e com o nome manchado após tentativas de comprar vagas em uma competição nacional.

Agora, mais recentemente, o presidente do JEC, Nereu Martinelli, envolve o prefeito Udo Dohler em negociações com a Caixa Econômica Federal para trazer um patrocínio da estatal ao clube, visando sanar as dívidas e ter dinheiro em caixa para contratar mais jogadores. Acontece que, para receber o patrocínio, a Caixa precisa receber a conta dos funcionários de algum órgão público. Por isso o prefeito foi chamado. A politicagem novamente ronda a Rua Inácio Bastos.

A manobra recentemente virou manchete nacional, através da ESPN Brasil, que corretamente questiona a dependência de nossos clubes para patrocínios de estatais (não é atitude exclusiva do JEC). Além do mais, é sabido que a família Martinelli é uma grande doadora da campanha de Udo, e faz pressão no prefeito para que ele participe das negociações, dando o aval fundamental para que o JEC receba o valor da Caixa. É o clássico problema das doações privadas para campanhas eleitorais: o apoio aparece, ao mesmo passo que espera uma retribuição depois da eleição.

O fato é que o JEC é muito maior que isso tudo. O clube está em uma cidade que tem torcedores fanáticos, parque industrial poderoso, e uma economia dinâmica, pouco vista no Brasil. Parece piada saber que depende de migalhas que a Caixa Econômica faz para se promover em cima de prefeituras e governos Brasil afora, lucrando com as contas de funcionários públicos, em uma vinculação no mínimo imoral. Achar que esta manobra política é solução para o clube é recair no mesmo erro de anos atrás, o que coloca em xeque a grande ascendência que o Joinville Esporte Clube conquistou após uma gestão séria assumir, dando fim a uma sequência que quase o fez chegar ao fundo do poço.

sexta-feira, 16 de agosto de 2013

Recalque e ódio de classe batem e voltam em forma de vidas frustradas e ridículas

Fala na cara, quero ver!
FELIPE SILVEIRA

Olá, virgens, frígidos, frustrados, recalcados e hipócritas que habitam essas bandas chamada internet.

Não, não estou falando de você, caro leitor que não usa o facebook para chamar mulher de puta ou lixo, como vi hoje nos comentários (no facebook) da matéria do Notícias do Dia sobre o show da cantora Anitta em Joinville na noite de quinta-feira (15). Estou falando do tipo abundante de imbecil que faz isso.

É inacreditável ver coisas como essa hoje em dia, mas esse inacreditável está cada vez mais comum. E não é só na internet. Nas rodas de conversa por aí é comum ouvir coisas como “dança igual uma puta” ao se referir a funkeira sensação de 2013.

A explicação que eu mais gosto pra esse tipo de comportamento atende pela alcunha de inveja. Assim que começa o show das poderosas já dá pra ver lá no canto obscuro o bonde das invejosas - e dos invejosos.

Mas a gente também sabe que uma explicação só é muito pouco para qualquer coisa. Tem coisa aí, e essa coisa se chama ódio de classe.

Esse ódio é a gasolina que abastece o coraçãozinho desse povo recalcado e frustrado que é doido pra ter um rebolation e um bronzeado à Anitta, mas que, como não pode, taca pedra em quem tem qualquer tipo de destaque.

E incomoda mais quando esse destaque vem do funk, do rap, da poesia da periferia. Incomoda quando vem do pobre, nesse país de Cacos Antibes (personagem que gosto porque o entendo como uma crítica à imbecilidade da classe média).

E, nesse momento, cabe uma ressalva. A própria Anitta, apesar da adorável simplicidade, é uma figura controversa dentro da própria cultura do funk. Há críticas a respeito da glamourização que a artista leva ao funk (mais como peça da engrenagem do que cérebro por trás dela). No entanto, aposto que os babacas comentaristas de facebook passam longe dessa discussão. O raciocínio deles é que “se é funkeira, é puta”.

Eu, particularmente, não gosto de funk carioca (há exceções). Nunca curti a melodia e acho uma bizarrice que gostem das letras do MC Catra e outros do mesmo naipe. No entanto, minha crítica é para quem ouve Catra e o vê como sensacional enquanto chama a menina lá de vagabunda. É o machismo borbulhando nessas almas, pra dizer o mínimo.

E no passinho do volante vamos voltando à Idade Média. Já estamos pertinho, mas agora tem internet.

quinta-feira, 15 de agosto de 2013

Ouvir ou escutar?


O PT aprendeu com a última eleição?



POR CLÓVIS GRUNER

Os temas políticos pautaram o Chuva Ácida ao longo da semana. Um bom sinal, pois mostra que o blog está a cumprir seu papel, consolidando-se como um espaço alternativo de informação e discussão em uma cidade onde o debate de ideias sempre foi irritantemente frágil e a circulação de notícias está praticamente monopolizada por um único grupo empresarial. O texto do presidente do PT, Írio Correa, comprova isso. Houve choros e ranger de dentes, comme d'habitude. Bobagem: o Chuva nasceu plural e aberto, princípio claramente descrito no post que o inaugurou. Além disso, as ressalvas a Udo Döhler são justificadas e necessárias, embora não cheguem a me surpreender: não aprendemos ainda que um sobrenome alemão e uma carreira como empresário não fazem necessariamente um bom prefeito. 

Dos mais de 50 comentários contabilizados, o da Maria Elisa Máximo – ex-colaboradora do Chuva – se destaca. Lúcida, ela cobra do presidente petista – e, por extensão, do partido – aquilo que o título prometeu, mas não entregou: autocrítica. Além de apontar a necessidade de uma avaliação crítica do governo Carlito ainda a ser feita pelos petistas, lista alguns dos muitos equívocos cometidos ao longo dos últimos quatro anos. Subscrevo todos. O que ela cobra provavelmente já foi feito internamente, e quem já militou no PT – como eu – sabe que as tais “autocríticas” podem ser tensas e mesmo traumáticas. Mas o momento é outro, e uma discussão interna, por exaustiva que tenha sido, não basta.

Desta vez o PT não está a tratar apenas de mais uma derrota eleitoral. No pleito de 2012 perderam-se quatro anos de governo certamente por conta de inúmeros fatores externos – que vão da falta de uma maioria sólida no legislativo à oposição hostil de boa parte dos meios de comunicação. Mas uma avaliação séria e madura não poderia deixar de levar em conta os equívocos do próprio governo e de sua base aliada. O PT tinha a obrigação de dialogar com a sociedade e especialmente com seus eleitores, e o presidente do partido perdeu uma ótima oportunidade de começar a fazê-lo.

ASSUMIR OS ERROS – Sei que não é usual políticos criticarem a si e suas gestões. Se fosse, não teríamos o senador Luiz Henrique ocupando há anos um espaço privilegiado nas edições dominicais de A Notícia apenas e tão somente para desfilar seu monumental ego. Mas não é demais lembrar que no caso do PT joinvilense e de Carlito foram mais de duas décadas de oposição, pleiteando a oportunidade de governar a cidade. Responsabilizar a oposição e os meios de comunicação pelo fracasso não é o suficiente – aliás, o partido esperava o que por parte de uma oposição orquestrada pelo maior inimigo político do ex-prefeito? E dos comunicadores e veículos locais, historicamente hostis ao partido? Condescendência e simpatia?

A dificuldade em assumir a cota de responsabilidade já aparecia na entrevista que Carlito concedeu no final do ano passado. Segundo ele, seu único erro foi não ter obtido maioria na Câmara de Vereadores. E chega a responsabilizar Adilson Mariano pela rejeição ao governo. Mas há de se perguntar: os vereadores da oposição, os meios de comunicação ou Adilson Marino podem ser responsabilizados pela falta de transparência e pela dificuldade de diálogo com os movimentos sociais? As estratégicas equivocadas de comunicação, confiando uma área estratégica do governo, em especial a de um governo hostilizado pelas mídias e comunicadores, a um grupo despreparado e – como bem observou a Maria Elisa – muitas vezes covarde, foram escolhas de quem? E pelas alianças espúrias, o troca-troca partidário, as nomeações tecnicamente duvidosas, quem se responsabiliza? E pelo apoio a Kennedy Nunes no segundo turno, quando seria muito mais digno e coerente com a história do partido declarar-se neutro e liberar os votos de militantes e demais eleitores?

Eu trabalhei na assessoria de imprensa da campanha de 1996, e lembro como o monopólio do transporte público era um tema fundamental. Foram quatro anos e absolutamente nada, além do aumento nos preços das passagens, mudou. A gestão petista foi subserviente aos interesses monopolistas exatamente como foram as anteriores e continuarão a ser a de agora e as que vierem depois, e o transporte público em Joinville segue caro e ineficiente. Igualmente fundamental era o discurso de valorização e diálogo com os funcionários públicos, e não foi o que se viu na greve de 2011, quando o tratamento dispensado ao sindicato e aos servidores foi, mais que arrogante, autoritário.

É ingenuidade achar que o PT um dia voltará a ser o que era. Ninguém é governo impunemente. Mas o partido precisa decidir o que ele pretende ser – por exemplo, não dá para se dizer oposição ao governo mas autorizar que seus vereadores se declarem independentes em relação a esse mesmo governo. Avaliar e aprender com os erros são bons exercícios; eles ajudam a ponderar e planejar as possibilidades de futuro. Mas, antes, é preciso admiti-los.