quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013

Leonardo Boff fala sobre Bento XVI

POR ET BARTHES
Há quem goste e há quem não goste do homem. Mas num país cheio de religiosos medíocres, Leonardo Boff surge como um homem de letras e um teólogo que, concordando ou não, podemos levar a sério. Aqui ele fala sobre a resignação de Bento XVI.


Meus pêsames!


Araquari para quem?

POR CHARLES HENRIQUE VOOS

A política desenfreada de espraiamento urbano da cidade de Joinville, implementada ao longo dos últimos cinqüenta anos, tornou a conurbação um processo inevitável aos olhos dos planejadores urbanos. Por mais que sejamos vizinhos de várias cidades,  uma em especial está se utilizando do crescimento econômico joinvilense: Araquari.

Adotando uma política fundiária esdrúxula, fortes renúncias fiscais e a integração socioespacial com Joinville (principal pólo econômico do estado) e a malha portuária (São Francisco do Sul, Itajaí e Itapoá), esta cidade tornou-se, nos últimos dez anos, uma das que mais aumentou o PIB no Brasil (369% de 1999 a 2008). A população também aumentou muito (55% nos últimos vinte anos). Recentemente, vários investimentos estão planejados para a zona sul de Joinville, ou na própria cidade de Araquari. O projeto da UFSC-de-um-curso-só, juntamente com parques industriais e aeroporto internacional foram atrativos que levaram a multinacional BMW a anunciar a instalação de uma fábrica por lá.


Acompanhando tantas mudanças, o prefeito reeleito, João Woitexem (PMDB), está preocupado com o planejamento da cidade. Os prefeitos das cidades vizinhas também. E, nesta semana, acompanho pelos jornais o desastre anunciado. A cidade de Araquari contratou uma consultoria especializada para um "planejamento estratégico".

A BMW vai auxiliar a Prefeitura de Araquari a estruturar seu planejamento estratégico de longo prazo. O município terá de se ajustar a uma nova realidade socioeconômica, a partir da chegada de indústrias de porte, complementa o secretário secretário de Desenvolvimento Econômico Sustentável Paulo Bornhausen. O prefeito João Pedro Woitexen já contratou a Pontifícia Universidade Católica do Paraná para fazer estudo sobre o futuro da cidade. (Coluna "Livre Mercado", Jornal A Notícia de 12 de fevereiro de 2013)
 É visível que a prefeitura de Araquari não está interessada em planejar a cidade, mas sim o crescimento econômico dela. Este novo démarche estratégico vêm devastando as prioridades sociais das agendas governamentais Brasil afora, e Araquari está sendo um exemplo bem claro disto. Tudo em prol de uma suposta competitividade: se em Joinville demoram para abrir empresas, aqui abrimos "na hora". Se lá não tem um Aeroporto decente, aqui nós doamos terrenos para grandes aeroportos. E a lista de itens competitivos é infindável. A cidade (e o desenvolvimento urbano), portanto, vira mercadoria. Uma mercadoria de luxo. Para quem?

A cidade é feita de pessoas, mas o "planejamento estratégico" é feito para poucos. Como qualificar a infra-estrutura de Araquari para a maioria da população, que nem possuiu esgotamento sanitário na maioria das vias públicas? Por que pensar em aeroportos, multinacionais, economia a todo vapor... se o problema da cidade é outro? Acompanhamos mais um exemplo clássico de confusão do que é crescimento econômico e do que é desenvolvimento urbano.

O "planejamento estratégico" sublima qualquer intenção da sociedade na participação da tomada de decisões. Instaura, por sua vez, o poder de uma nova lógica, com a qual se pretende legitimar a apropriação direta dos instrumentos de poder público por grupos empresariais privados (e o pior: grupos multinacionais). E podem apostar: um dos itens mais importantes desta nova lógica será a região metropolitana. Se isso acontecer, a tragédia urbana estará com dias contados para se iniciar.

PS: para os interessados neste tema, vale a pena a leitura do texto "Pátria, empresa e mercadoria. Notas sobre a estratégia discursiva do Planejamento Estratégico Urbano", do Professor Carlos Vainer (UFRJ).

quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013

É muito estresse

POR ET BARTHES
É uma ação promocional da Nivea. Mas merece ser vista. O produto que eles querem vender é um anti-stress. Mas para passar a mensagem, levam as pessoas a um nível exagerado de estresse.


Mais que um 'fora Renan'


POR FABIANA A. VIEIRA



“Exerci minha cidadania, votei no abaixo-assinado contra Renan”. Essa frase não me saiu mais da cabeça. Mais de um milhão de assinaturas, um movimento embalado pelas redes sociais que reivindica apenas e sinceramente a ética na política.

Quando surgiu, a crítica conservadora dizia que a internet iria gerar seres individualistas, fixados na tela do computador e não nas relações sociais. A sociedade seria despedaçada por indivíduos atomizados. Não foi isso o que aconteceu. Hoje cada notebook é um emissor de opinião, cada tela sintetiza milhares de manifestações e o Facebook promove a opinião pública, inaugura relacionamentos, garante a autonomia da sociedade, desbanca os veículos institucionais contaminados pelos interesses econômicos e faz de cada terminal conectado um exercício de direitos e ideias.

Tudo bem. Isso é inexorável. Um verdadeiro avanço na liberdade de opinião. É até compreensível que devemos tolerar manifestações irrelevantes ou sem sentido em determinado momento, mas o relevante é que o conjunto do fenômeno é positivo. As pessoas escrevem mais, têm mais ideias, mais contatos, melhor posicionamento e conhecimento sobre tudo, ou quase. 

Agora qual a eficácia de uma mobilização virtual? Até que ponto Renan vai perder o sono e o mundo da política vai verdadeiramente repensar suas práticas fisiológicas e corruptas porque uma corrente virtual chega à casa dos milhões? A cidadania se resume a uma assinatura em um manifesto ou deveria incidir de forma mais contundente e objetiva na realidade mesma da denúncia?

Sugiro essa reflexão porque não vejo o mesmo engajamento social e midiático pela reforma política. Enquanto não forem alterados os pressupostos que conformam a representação política não teremos sucesso. E aponto o financiamento privado das campanhas e a escolha de líderes carismáticos e não projetos políticos como uma causa determinante para a contaminação ética dos eleitos.

Enquanto as campanhas continuarem galgando patamares absurdamente milionários, gerando uma conivência explícita entre quem financia e quem se elege, entre quem se elege e o que legisla e fiscaliza, entre o patamar astronômico de uma campanha e os salários miseráveis do serviço público, entre os “fornecedores amigos”  e as licitações viciadas, entre o poder político e o tráfico de influência, não teremos uma vida pública sadia.

Da mesma forma não podemos aceitar que ainda vingue a cultura atrasada do voto personalista no famoso, no carismático, no líder tradicional, no volume publicitário de campanha ou no aliciamento financeiro de lideranças em detrimento de compromissos duradouros e fiéis às propostas programáticas.

Depois de renunciar, o povo trouxe Renan de volta. Agora é presidente do Senado da República, do Congresso Nacional e sucessor na linha do poder nacional. Está na hora deste povo acordar. Exigir um fora Renan e também, mas ao mesmo tempo, uma reforma política ampla, transparente, animadora de uma dimensão pública verdadeiramente civilizatória.

As redes sociais podem e devem ajudar a fomentar a mobilização crítica. E podem mais do que isso. Podem estimular ações práticas. Agora precisamos incluir na agenda temas estruturantes que produzam mudanças para valer e não apenas para sensacionalizar o inconformismo, criar espetáculos ou alimentar a rebeldia.  É preciso botar o dedo na ferida e produzir resultados inovadores nas ações políticas e sociais. 

É urgente valorizar o voto e melhorar a presença da sociedade nos executivos e nos parlamentos.
Uma sociedade não será saudável enquanto sua classe política estiver doente, em estado de dependência, totalmente viciada no poder econômico.