POR JOSÉ ANTÓNIO BAÇO
A frase é muito
repetida em política: a vitória tem muitos pais, a derrota é sempre órfã. E
parece que no caso da vitória de Udo Dohler a paternidade anda bastante dividida.
Há uma óbvia vitória pessoal do candidato. Mas também tem gente a falar na
vitória de Luiz Henrique. Outros reivindicam uma vitória do PMDB. E os
opositores, claro, apontam uma vitória das oligarquias. Tem para todos os
gostos.
Esse vício de
contar armas é coisa da velha política de Joinville. Quem ganhou, quem perdeu, quem vai ficar com o butim.
O problema é que quase ninguém discutiu o essencial: em democracia a
vitória só pode ser do eleitor. Udo Dohler conquistou o mandato, mas o mandante
é o cidadão joinvilense. O futuro prefeito terá que responder ao cidadão e, ao mesmo tempo, definir o
papel que quer ter na história da cidade.
Dito isto, não
restam dúvidas de que a primeira decisão do prefeito eleito terá que ser uma escolha
de base: optar por um projeto de governo ou por um projeto de poder. E é aí
que o bacorinho torce o rabo. Todos sabemos que Udo Dohler entrou para o quadro eleitoral nas vestes
de gestor de empresas. Mas as relações políticas estabelecidas nesse processo obviamente
vão deixá-lo refém de interesses partidários.
Há coisas que
nunca mudaram ao longo de décadas: para
os partidos da velha política joinvilense, a conquista do poder nada mais é do que o assalto ao
aparelho da administração pública (vide cargos e posições). E é evidente que o PMDB e demais
aliados vão atuar no sentido de empurrar Udo Dohler para um projeto de poder. Porque
é disso que os partidos sobrevivem.
Mas há o reverso da medalha. O que o
cidadão espera do novo prefeito? Ora, que ele trabalhe para resolver os problemas da cidade e
não os problemas dos partidos. Tem muita gente a se indagar se Udo Dohler terá pulso suficiente para dar um murro na mesa e dizer que é ele quem manda. Ou seja, fazer uma opção
clara por um projeto de governo (o que, claro, não exclui os partidos aliados). Mas é isso que os joinvilenses esperam.
E uma coisa é certa.
Um percentual bastante expressivo dos eleitores de Udo Dohler espera um governo
profissionalizado, com pouca politicagem. Mas a relação com os partidos aliados
– e não vamos esquecer também a necessidade de negociar com a Câmara de Vereadores –
vai exigir concessões. E de concessão em concessão, o prefeito corre o risco de
fazer uma administração que, no final, acabe parecendo mais do mesmo.
Eis as opções: dar o murro na
mesa e fazer um governo com pouca politicagem ou se deixar devorar pela voracidade dos partidos políticos. Esse é o primeiro e talvez principal dossier sobre a mesa de Udo Dohler.
P.S.1.: Sobre as
eleições. Luiz Henrique da Silveira deve ter dado boas gargalhadas no segundo
turno. Aposto que nem ele sabia que era tão poderoso quanto os seus opositores
pintaram. A oposição tanto insistiu no seu nome que o tiro saiu pela culatra: retiraram
o senador do seu ocaso e recriaram o mito de raposa política.
P.S.2.: Para quem
estiver interessando na discussão do tema Udo Dohler-PMDB, recomendo a leitura
deste texto escrito em janeiro. Reli e parece que continua valendo.