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quarta-feira, 31 de outubro de 2012

Eu e o 50 tons


POR AMANDA WERNER

Na semana passada, acabei de ler o fenômeno literário do momento: "Cinquenta Tons de Cinza". Já fazia algum tempo que estava ouvindo efusivos comentários sobre o livro e, confesso, estava curiosa. Ao iniciar a leitura, tentei me despir de todo e qualquer preconceito em relação a best sellers.

Apesar do livro envolver sadomasoquismo, o 50 tons segue a tradicional receita dos romances femininos: homem multimilionário, complicado + mulher comum. Christian Grey, o galã da vez, além de rico, não usa drogas, não trai, e é louco pela protagonista - Anastasia Steele, que é uma garota comum, insegura, frágil e  sem sal, mas consegue a proeza de fazer o moço se apaixonar perdidamente. Qualquer semelhança com Bella Swan e Edward Cullen, de Crepúsculo, não pode ser mera coincidência.

A sensação de déjà vu se repete a cada parágrafo. A autora recriou uma espécie de cinderela moderna. O conto de fadas onde Grey não é um príncipe, mas um ricaço, e realiza a fantasia de grande parte das mulheres. Com muito mais do que a conhecida pegada forte.

Ultrapassado e clichê, o que atraía mulheres nos idos da rainha do romance, Barbara Cartland, continua fisgando muitas em 2012. O livro não tem plano de fundo, e a única complexidade é o sadomasoquismo.

Me causa espanto a quantidade de mulheres adultas que estão caindo de amores por Christian Grey.  Com linguagem adolescente, o livro é sim meio bobinho. E segue o mesmo roteiro de tantos outros como Sabrina, Júlia e Bianca. Quem não se lembra? Enquanto o lia, não pude evitar a comparação.

Juro que curto literatura de entretenimento, não acho que a leitura deve servir somente para intelectualizar. Mas daí a transformar um livro comum no preferido de muitas mulheres maduras, já é exagero. A coisa na vida real deve estar feia mesmo.

Talvez o livro sirva de alguma forma como porta voz da mulher que quer ser considerada descolada. E liberada sexualmente. Mas apesar da mulher, depois de tantas batalhas, ter conseguido conquistar sua autonomia financeira, e ser mantenedora de grande parte dos lares brasileiros, não consegue se desvencilhar do sonho de princesa. E creio que a personificação do homem ideal pelo imaginário feminino continua sendo o real motivo pelo qual o livro 50 tons de cinza tem tudo para quebrar o recorde de vendas mundial.