POR AMANDA WERNER
Na semana passada, acabei de ler o fenômeno literário do momento: "Cinquenta Tons de Cinza". Já fazia algum tempo que estava ouvindo efusivos
comentários sobre o livro e, confesso, estava curiosa. Ao iniciar a leitura,
tentei me despir de todo e qualquer preconceito em relação a best sellers.
Apesar do livro envolver sadomasoquismo, o 50 tons segue a tradicional receita dos romances femininos: homem
multimilionário, complicado + mulher comum. Christian Grey, o galã da vez, além
de rico, não usa drogas, não trai, e é louco pela protagonista - Anastasia
Steele, que é uma garota comum, insegura, frágil e sem
sal, mas consegue a proeza de fazer o moço se apaixonar perdidamente. Qualquer
semelhança com Bella Swan e Edward Cullen, de Crepúsculo, não pode ser mera
coincidência.
A sensação de déjà vu se repete a cada parágrafo. A autora recriou uma
espécie de cinderela moderna. O conto de fadas onde Grey não é um príncipe, mas
um ricaço, e realiza a fantasia de grande parte das mulheres. Com muito mais
do que a conhecida pegada forte.
Ultrapassado e clichê, o que atraía mulheres nos idos da rainha do
romance, Barbara Cartland, continua fisgando muitas em 2012. O livro não tem
plano de fundo, e a única complexidade é o sadomasoquismo.
Me causa espanto a quantidade de mulheres adultas que estão caindo de
amores por Christian Grey. Com linguagem adolescente, o livro é sim
meio bobinho. E segue o mesmo roteiro de tantos outros como Sabrina, Júlia e
Bianca. Quem não se lembra? Enquanto o lia, não pude evitar a comparação.
Juro que curto literatura de entretenimento, não acho que a leitura deve
servir somente para intelectualizar. Mas daí a transformar um livro comum no
preferido de muitas mulheres maduras, já é exagero. A coisa na vida real deve
estar feia mesmo.
Talvez o livro sirva de alguma forma como porta voz da mulher que quer
ser considerada descolada. E liberada sexualmente. Mas apesar da mulher, depois
de tantas batalhas, ter conseguido conquistar sua autonomia financeira, e ser
mantenedora de grande parte dos lares brasileiros, não consegue se
desvencilhar do sonho de princesa. E creio que a personificação do homem ideal
pelo imaginário feminino continua sendo o real motivo pelo qual o livro 50 tons
de cinza tem tudo para quebrar o recorde de vendas mundial.