POR OSNY MARTINS
Seria cinismo, falta de visibilidade política
ou aposta na memória curta do eleitor?
Quem sabe não seria sede pela manutenção do poder e das benesses oriundas do
magistral cargo de vereador? O que estaria levando a grande maioria dos nossos
19 vereadores de Joinville, a buscar a reeleição depois de protagonizarem uma
das piores e mais criticadas legislaturas já vistas na cidade?
Correto estará o vereador que responder
laconicamente se tratar de um direito democrático legítimo. E é sim. Direito
que todos eles tem, afinal de contas, para se candidatar a vereador ou, como é
o caso, a reeleição como vereador, basta preencher os preceitos legais do TRE.
Nem a história do ficha limpa ta valendo, nem a consciência particular de cada
um. Nem quaisquer outros argumentos que lembrem balanço das atividades
prestadas. O que vale, pelo jeito, é o custo/benefício da decisão da
candidatura.
Em caso de vitória, mais quatro anos para se
locupletar no pseudo poder que usufrui um vereador. Em caso de derrota, a
certeza de que se buscou até o fim permanecer nesta espécie de pedacinho do
paraíso. Paraíso perfeito para quem não é acomodado. Sim, porque comodismo é
chegar ao poder e não fazer nada. No caso da Câmara de Vereadores de Joinville,
o que se tem visto é exatamente o contrário. Com exceções, nossos simpáticos
ocupantes de cadeiras na Casa, trabalham e trabalham muito.
Claro que às vezes eles se enganam e o
trabalho árduo que exercem não vai ao encontro de quem deveria: o povo. Mas que
trabalham, isso é inquestionável. Trabalham pela reeleição. É a obstinação pelo
cargo com o qual se identificaram tanto. Salário bom, mordomias melhor ainda,
equipe numerosa paga com o dinheiro público, carro alugado às custas dos cofres
municipais, ar condicionado, material de expediente e tudo que mais lhe convier
no árduo exercício de... digamos... trabalhar pelo povo.
Há... E o horário de trabalho também é uma
facilidade. Escolha individual de cada um. Nem nas apáticas sessões da Câmara
se é obrigado a comparecer. Talvez uns 5 ou 10 minutos e nada mais. Uma
desculpa de trabalho de base, reunião aqui ou acolá ou quaisquer outras
justificativas pra lá de convincentes. Também não há necessidade de se fazer
presentes nas inúmeras sessões especiais do Legislativo. Outorga de prêmio de
Cidadão Benemérito ou Honorário só serve mesmo para ganhar espaço na mídia.
Tanto que o que se viu nos últimos tempos foi um constrangedor esvaziamento na
maioria destas ocasiões.
Não há bom senso, boa educação, nem tampouco
sensatez. Eu quero o meu e ponto final. Tenho os meus esquemas, as minhas
reuniões, os meus bairros, a minha agenda. A pauta da Câmara – o que é isso
mesmo? -. que se lixe. E que tal organizar um grande encontro com um tema
pertinente? Usa-se a estrutura da Casa, paga com o dinheiro público, chama-se a
imprensa, o povo, mostra-se serviço e nada vai além da própria reunião ou o
nome que se dê ao “evento”.
Saúde é um tema sempre recorrente. Vamos
chamar esse povinho que adora falar em público. Dar vez e voz pra ele. Mostrar
que estamos interessados na sua doença, no seu drama. Mostrar serviço e, de
preferência, socar a mesa com raiva para protestar contra o descaso dos
governantes de todos os níveis com o panorama em que a saúde se encontra. Mas
há também a duplicação da BR-280, a federalização da Univille, o trânsito
citadino e a falta de viadutos. Que tal um túnel no Morro do Boa Vista ligando
o Saguaçu a Papa João XXIII?
É tão fácil mostrar serviço... E o apoio aos
protestos pelos buracos na rua? Não se pode esquecer a ida aos aniversários,
casamentos, batizados e velórios. Afinal de contas, o eleitor simples adora ver
autoridades presentes em sua casa, no seu bairro. Vamos fazer valer nossa
condição. Somos os homens da lei na cidade – ainda mais agora que distribuímos
verbas. Somos bonzinhos, devolvemos o dinheiro que não gastamos e ainda
mandamos o prefeito aplicar aqui, lá e acolá e ai dele se não aceitar nossas
sugestões.
É uma receita perfeita. Vereador ganha bem,
trabalha quase nada e ainda posa de benfeitor, obreiro e engana ter a caneta na
mão. Quando não tem saída, lembra com cara de tadinho, que só pode legislar e
fiscalizar. O resto é com o prefeito. Mas quando tem o poder de decidir, decide
nada decidir, como quando não definiu o número de vereadores da Câmara, apesar
de todo o apelo popular.
Mas isso é só um detalhe. O povo nem lembra
mais direito dessa história. Ele quer votar em quem mostra força, mostra poder.
Vota em quem conhece. O coitado do candidato novo, não tem dinheiro, não tem
estrutura, não tem assessores, não tem sequer apoio partidário muitas vezes.
Então, a reeleição, por mais incompetente que tenha sido o titular do mandato
de quatro anos, estará infinitamente mais fácil do que o novo candidato a
vereador.
Culpa por este triste e injusto cenário é do
vereador? Claro que não. É de quem? Quem sabe digam se tratar da conjuntura, da
situação como um todo, das regras eleitorais, da democracia como se desenha...
Tudo lorota. Desculpa esfarrapada. A culpa é nossa mesmo. Vereadores sempre
continuarão se comprometendo cada vez menos, se incomodando cada vez menos,
exercendo seu poder cada vez de forma mais objetiva em busca da reeleição e o
resto que corra atrás do prejuízo. Bem no estilo, montei meu circo e vamos ao
picadeiro porque a platéia quer rir e se divertir até o fim do espetáculo.
Misto de ignorância e masoquismo popular, mas, claro, o show tem que continuar!
Osny Martins é radialista