quarta-feira, 26 de outubro de 2011

Não é Carlito. É uma questão pessoal

POR JOSÉ ANTÓNIO BAÇO
Um dia destes, ainda no calor da Operação Simbiose, que envolveu vários integrantes da administração pública, vi um twitt interessante do deputado Darci de Matos. Ele punha as coisas nos seguintes termos:
- Se a Polícia Federal investigar vai encontrar mais casos de corrupção na gestão Carlito.
Ah... volto a lembrar. A Operação Simbiose era, naquela altura, o prato forte da agenda midiática da cidade. E escrevi um texto a respeito, aqui mesmo no Chuva Ácida. Não sei se andei distraído, mas não vi qualquer reação da Prefeitura de Joinville às declarações do deputado.
Mas um dia destes, bastou um colunista do Chuva Ácida fazer um comentário mais corrosivo e pronto: lá vem uma ameaça de processo judicial. Hummm... deixem-me ver se eu entendi. Não seria um caso de dois pesos e duas medidas? Vale para um, não vale para outro? Não sei, mas tenho dúvidas de que isso esteja de acordo com procedimentos institucionais.
Mas a conclusão, à luz de um certo histórico, fica fácil. É um caso pessoal. Não vai além disso. É que os autores da ameaça de processo tem sido um alvo das críticas do colunista do Chuva Ácida. Aliás, não só no blog mas em outros veículos de comunicação. Portanto, a ameaça é um ataque ao analista crítico, no particular, e à liberdade de expressão, no geral.
E mais. Quem estiver atento às redes sociais sabe que um alto responsável do governo Carlito Merss (que esteve ligado ao IPPUJ até muito recentemente) produz uma espécie de cruzada contra a pessoa a quem chama “colunista girafa” (vejam a imagem dos twitts abaixo). E, por extensão, acaba por atingir os outros autores do blog.
Viram a imagem dos twitts? A obsessão desse senhor beira o que podemos chamar assédio moral. O colunista em questão tem ignorado as investidas, sou testemunha disso. Mas eu não preciso de paninhos quentes. Não aceito que um tipo qualquer – que não me conhece de lugar algum e não sabe da minha história – vá para uma rede social dizer que sou “anencéfalo” (vejam o primeiro twitt).
Portanto, já que estão a judicializar a liberdade de expressão, vou dar o meu veredito: é uma questão pessoal e uma conspiração de medíocres. Aliás, como já disse alguém (acho que Marx), a burocracia é um gigante operado por pigmeus. Ok... alguém pode argumentar: ele não está mais no IPPUJ. E eu contra-argumento: mas dá para acreditar que não ele exerce influência? É só reler os twitts.
E vou mais longe: não tenho dúvidas em afirmar que isso está a ser feito à revelia do prefeito. Eu conheço Carlito Merss desde os anos 80, quando o PT lutava para se formar e firmar. Sei que ele foi sempre um defensor acérrimo da liberdade de expressão. E só quem estava na política ativa nessa época sabe o valor que isso tem. Para um democrata a sério, a liberdade de expressão é inegociável.
Ao longo do tempo, Carlito construiu um forte capital político, a pulso e por mérito próprio. Isso ninguém lhe pode negar. Mas agora ele corre o risco de ter essa imagem manchada por funcionários públicos que, cegos por vendetas pessoais, preferem apagar fogo com gasolina.
Fatos: os amanuenses nada têm a perder. Mas Carlito tem. Mais do que a imagem, é a sua história que fica marcada.




Acabou o Stammtisch, é hora da AnonimosFest...


POR JOSÉ ANTÓNIO BAÇO

O tema stammtisch não é a minha praia. Aliás, até tropeço na grafia da palavra. E, se vale o depoimento, a expressão "stammtisch" sequer existia no vocabulário da cidade há 17 anos, quando deixei Joinville. Nunca ouvi falar.

O meu primeiro contato aconteceu há poucos anos, quando fui convidado para um encontro. Achei legal. Mas eu sou fácil de agradar: se tem bebida e comida, eu gosto logo. Só houve um senão. Foi meio difícil engolir o fato de os caras se afirmarem alemães, mesmo sem nunca terem posto os pés na Alemanha. Ok... a cerveja gelada ajuda a engolir essas coisas.

Não sou um especialista em stammtisch, mas a comunicação é o meu habitat. E me dou a liberdade de analisar a repercussão do texto escrito pelo Felipe Silveira. Eu disse "a repercussão", não o texto em si. Mais para falar nos excessos de alguns "anônimos", que emparedaram a discussão com posições claramente terceiro-mundistas. Nunca se sabe o que esperar de pessoas que se escondem por trás do anonimato.

Para começar, deixo aqui um estatement. O texto do Felipe tem um bom insight. É uma abordagem criativa, que foge ao blablablá comum. E, independente do teor, só isso já indicia um bom profissional de jornalismo. Hoje em dia, em qualquer profissão, a criatividade é o grande diferencial.

E por falar nisso, eis a minha primeira referência aos anônimos. Houve um deles que, em tom de ironia, chamou o Felipe de menino estudante. Mas isso diminui alguém? Não. Aliás, a importância que se dá ao diploma é uma das maiores tolices da pequena burguesia do patropi.

É claro que o diploma é importante (estudar é bem mais, claro). Mas o diploma não é uma divindade a ser venerada. Nem pode ser usado como uma afirmação de classe. Não sei se ajuda a entender, mas eu dei aulas numa das maiores universidades da Europa e nunca tive que mostrar um único canudo. Simples. Os caras conheciam o meu trabalho. E o portfólio fala por si.

Outra coisa que arrepia os neurônios é quando aparece alguém a tentar desqualificar o autor do texto com o argumento de que ele é comunista ou socialista. Meus amigos e amigas, vamos deixar isso bem claro. Ser socialista ou comunista só é defeito para quem não evoluiu do estado mental dos anos de chumbo. Ei... e isso foi no século passado e tinha o nome de ditadura. No mundo civilizado e democrático, ser socialista ou comunista significa apenas uma coisa: ter uma posição política que deve ser respeitada. Simples. Não vale como argumento.

Aborrecida também é a paulocoelhização da opinião do anônimo. Tem gente que toma o autor do texto por um pobre coitado e, numa dica de auto-ajuda, afirma que se ele deixar de ser invejoso, a vida começa a correr bem. Inveja? Mas que raios leva a pessoa a imaginar que ser bem sucedido é ter um carrão e roupas de marca? Ou que isso provoca inveja em todo mundo? Ah... Baudrillard explica.

Enfim, há muitos anônimos. E entre eles muitos intolerantes. Tantos que dava para fechar a Visconde e fazer uma AnonimosFest. O problema é que tinha que ser um baile de máscaras, porque essa gente não gosta de mostrar a cara.
Para terminar, ficam dois registros.

1. Há muitos comentários que estão de acordo com a proposta do Chuva Ácida. Sérios, ponderados, propositivos e sem ofensas pessoais. Esses são sempre bem-vindos.

2. Ah... e eu uso Nike. Mas não uso Tommy, porque na Europa é roupa de gente brega. Sinto muito se é uma má notícia.

terça-feira, 25 de outubro de 2011

Integrantes do governo Carlito Merss ameaçam processar integrante do Chuva Ácida por não concordarem com crítica

POR COLETIVO CHUVA ÁCIDA

Foi mais rápido do que pensávamos. O Chuva Ácida não completou sequer um mês de existência e já há uma tentativa de silenciamento. O mais surpreendente, no entanto, é que a ameaça vem do governo Carlito Merss, do Partido dos Trabalhadores. Não eram eles os intransigentes defensores da liberdade de expressão?

Um dos integrantes do coletivo Chuva Ácida recebeu um e-mail de um dos órgãos da Prefeitura (Ippuj) com uma ameaça de processo judicial. O crime? Dar a sua opinião. Ou seja, estamos à frente de um caso de delito de opinião. Parece que o conceito de liberdade de expressão ainda não chegou ao corredores do paço municipal. E aos poucos as máscaras vão caindo. Afinal, parece que eles não são tão democráticos.

Neste momento, Carlito Merss está na Europa a ver como as coisas são feitas. Seria recomendável que também prestasse atenção ao conceito de democracia, mais maduro no Velho Mundo. E depois devia partilhar a experiência com os seus assessores mais diretos, que parecem não entender o que é o espírito republicano.

Como se não bastassem os altos índices de reprovação no aspecto administrativo, o Governo Carlito Merss agora também põe em xeque o pouco capital político que lhe resta, pois tal atitude projeta uma imagem de antidemocrático, autoritário e contra a liberdade. A oposição agradece. Assim, as chances de reeleição se esvaem.

Para muitos, Carlito está cercado de pessoas com pouca preparação para os cargos que exercem. E o ataque direto a este blog parece ser uma prova disso. O caminho de pessoas habituadas à democracia seria exercer direito ao contraditório. Mas os assessores diretos de Carlito Merss, que parecem tomados por uma febre de autoritarismo, preferem seguir o caminho da retaliação.

O episódio mostra um fato inequívoco. No poder, o Partido dos Trabalhadores não parece ser diferente dos outros. E recorre aos mesmos métodos de tempos passados no Brasil, quando os coronéis políticos pediam a cabeça dos seus desafetos. É uma situação muito semelhante. Aliás, judicializar a liberdade de expressão é uma das marcas dos regimes autoritários.

O Chuva Ácida surgiu com uma proposta clara: um blog de opinião feito por pessoas sem rabo preso com o poder. E sabíamos que seria um caminho difícil, uma vez que ainda há muita gente pouco habituada ao debate quotidiano e a uma efetiva liberdade de expressão.

Mas o exemplo vem de cima. E se os governantes de Joinville são os primeiros a desconsiderar a liberdade de expressão, então ainda há muito por fazer. Mas o Chuva Ácida estará aqui para abrir o caminho que leva à democratização da opinião na blogosfera joinvilense. Podem contar com isso.

E fica um aviso. Olhem para o número de pessoas que já acederam a este blog. Porque uma coisa podemos garantir: são pessoas (e eleitores) que certamente acreditam na liberdade de expressão. Sem ferrolhos.

A casa, o trabalho, a rua e o Stammtisch na Visconde de Taunay

POR CHARLES HENRIQUE

Ontem me deparei com uma ótima discussão promovida pelo Felipe Silveira aqui no Chuva Ácida. O Felipe foi no cerne da proposta inicial deste blog, e escancarou sua opinião sobre a Visconde de Taunay, o Stammtisch, e a “bolha”. Pra quem não leu, recomendo ler o texto dele (e os comentários) antes de continuar a leitura do meu. Não que eu siga a mesma linha, mas serve para ampliar e qualificar mais ainda o debate.

Estive sábado lá na Visconde de Taunay participando do Stammtisch (fui o organizador da barraca dos Twitteiros de Joinville) e claro, como um bom cientista social, estava numa observação participante. E após ficar processando as situações que presenciei, juntando com as características da cidade, vou usar-me um pouco das idéias do brilhante antropólogo Roberto daMatta, principalmente as contidas no livro “A Casa e a Rua”. Nesta obra, o autor conta como as pessoas convivem com suas moradias, e quais as relações que elas tem com a rua, com o “mundo exterior” a casa. Os padrões de comportamento são completamente diferentes.

Ainda segundo daMatta, a rua é o lugar do anonimato, do impessoal, onde não há espaço para elos mais especializados. Mas, devido à estratificação do trabalho (uns ganham mais que os outros) algumas ruas tornam-se lugares para manter o status dos freqüentadores, seja lá para quem for, mesmo que para o desconhecido. O que importa é mostrar que “tenho” e que “ganho mais que você”. A rua vira uma “entidade moral”, lugar de “domínios culturais institucionalizados” capazes de despertar “imagens esteticamente emolduradas” pela mídia e pelo marketing das marcas ou dos produtos que “poucos podem ter”. Tudo isso esteve presente no Stammtisch de sábado.

A Visconde de Taunay com seus bares é um lugar perfeito para quebrar a impessoalidade que a rua tem. Por ter se tornado um point, principalmente dos mais jovens, a necessidade de mostrar-se e manter-se “emoldurado” para os contatos que lá estarão é evidente e necessário. É só uma parte de Joinville! No Iate Clube é assim, no Golf Club e muitos outros lugares. Até em lugares menos “prestigiados” pela classe média (ou a falsa classe média) é assim. Cada grupo social tem seu “point”. Uns são mais evidentes que os outros, dependendo do ponto de vista de quem observa. Na Visconde é explícito justamente por estar a céu aberto, ou seja, na rua.

O erro que não podemos cometer é associar Stammtisch à Visconde. O Stammtisch da Visconde está desconfigurado, virou uma feira de empresas e um ambiente extremamente segregado, muito diferente de um “encontro de amigos”. Quem já foi no Stammtisch de Pirabeiraba sabe do que estou falando. É um clima muito diferente. Outro detalhe que devemos prestar atenção é que cada vez mais as pessoas tem atitudes na rua que nunca teriam em suas casas, principalmente nos lugares de reprodução da imagem, como na Visconde de Taunay (em casa temos o sentimento de comunhão; na rua, competição). O que representa hoje a ‘Via Gastronômica’, a Avenida Getúlio Vargas já representou nos anos de 1910, por exemplo. Mudam-se os nomes, mas as atitudes parecem ter o mesmo padrão.

segunda-feira, 24 de outubro de 2011

A bolha


POR FELIPE SILVEIRA

Em Joinville há uma bolha. Uma bolha social. A teoria é do meu amigo Ronaldo Santos, mas eu concordo plenamente e assino embaixo. Tem muita gente nessa bolha joinvilense. E elas vivem lá, dentro da bolha, distantes da realidade, com a percepção distorcida, interagindo apenas com as pessoas da bolha. Neste texto vamos falar de algumas características desse “fenômeno social” e espero que me digam o que acham.

A bolha é a classe média, mas não somente. Um lugar interessantíssimo para observar a bolha é o Stammtisch que ocorreu neste sábado (22) na Via Gastronômica. Aliás, a Via Gastronômica é o QG da bolha.

Não tenho absolutamente nada contra o stammtisch, muito menos contra a Via Gastronômica. Inclusive, quando posso (nunca), vou lá tomar um chopinho. A ideia do stammtisch, expressão alemã que significa “encontro de amigos”, em português, é muito legal. Grupos de amigos montam barracas (cada grupo monta uma) e lá tomam chope, assam carne e oferecem petiscos. Todo mundo confraterniza. Realmente, um encontro de amigos.

Mas o interessante do stammtisch da Via Gastronômica é que toda a bolha estava lá. E tuitando que estavam lá, claro. Imagina que feio não ser visto no maior evento da bolha e nem registrar o momento?!

É fácil reconhecer alguém da bolha. Eles andam uniformizados. Homens com camisa da Tommy Hilfiger (ou similar. Mas, se você é da bolha, corra comprar uma. É feio usar similar), bermuda (jeans, de preferência) e relógio estilo Fausto Silva. Sapatênis (ultrapassado) ou tênis Nike. Bonés são opcionais. Não importa qual seja a época ou o ano, eles estão sempre assim.

Já as mulheres, claro, acompanham a moda. Ano passado todas usavam aquele shorts com bolso aparecendo (imagina se o bolso era feito de lixo hospitalar? A “bolhana” teria um troço). Relógio gigante e dourado é item básico deste ano, assim como as duas ou três correntes de tamanhos diferentes usadas ao mesmo tempo. A única coisa que não muda é o tamanho dos óculos: gigante sempre. E, pra finalizar, maquiagem quase pra noite. Todas lindas, inclusive as feias.

O problema da bolha joinvilense, no entanto, não é o vestuário. O problema da bolha é a influência que ela tem sobre ela mesma. As pessoas da bolha sabem que existe uma grande Joinville fora dela, mas para elas não importa. Uma pessoa da bolha costuma falar muito dos seus amigos da bolha como referência e de trocar elogios com os seus iguais, mesmo que mal os conheçam. Por isso, o habitat natural da bolha é a coluna social.

A bolha detesta os problemas de Joinville. Por exemplo, a demora nas obras da Via Gastronômica. A bolha também adoraria melhorias nos bairros, como o América, o Saguaçu e o Atiradores. A bolha adora falar mal do prefeito Carlito, pois onde já se viu deixar uma cidade com tantos buracos?! (Não é uma defesa de Carlito, é apenas uma característica da bolha) E a bolha adora vestir a camisa do JEC e ir na Arena na fase boa! Ah, e a bolha tuita muito.

A bolha está aí, exercendo influência sobre os seus iguais. O que me preocupa é que a bolha está de olho na próxima eleição. E, se ganhar, vai querer governar para a bolha, achando que a bolha é o povo. Ainda bem que a bolha não tem força para eleger ninguém.