domingo, 11 de junho de 2023
A “esquerda” brasileira e a nostalgia da URSS
terça-feira, 6 de junho de 2023
O Efeito Flynn Reverso explica a burrice dos bolsonaristas
segunda-feira, 5 de junho de 2023
E o PT, hein? O whataboutism é a tática dos malas
POR JOSÉ ANTÓNIO BAÇO
O whataboutism é uma das coisas mais irritantes nestes tempos de redes sociais. E o pior é ser uma tática usada tanto pelo pessoal de esquerda quanto de direita (porque, afinal, a chatice não tem lado).
Não sabe o que é? Ora, o whataboutism é uma técnica de “argumentação” usada para desviar a atenção de um assunto em discussão. Ou seja, a ideia é mudar o foco da conversa, tentando apontar uma hipocrisia do interlocutor.
Como funciona? Através da introdução de um contra-argumento relacionado a outro tópico, com o objetivo de descreditar ou desviar a crítica original. Para trazer o tema mais para perto da nossa realidade, podemos lembrar o célebre “e o PT?”.
A expressão tornou-se um meme popular no Brasil durante o período eleitoral de 2018 e ainda persiste. Os opositores do Partido dos Trabalhadores (PT) respondiam a críticas usando essa caricatura de argumento.
O problema é maior. Se o “e o PT?” é uma expressão ligada à direita brasileira, também a esquerda tem a sua quota-parte na difusão do whataboutism. É só ver o caso da guerra na Ucrânia. Você diz:
- A Rússia de Putin é o estado invasor.
Ao que os defensores do ditador russo respondem:
- E a OTAN, hein?
Aliás, isso remete para a etimologia da palavra. Ao contrário do que muita gente pensa, o termo é antigo e não surgiu com as redes sociais. Apenas foi intensificado. O whataboutism surgiu durante a Guerra Fria como uma crítica aos argumentos da União Soviética que consistiam em responder às acusações ocidentais com perguntas como “e sobre...?" ou “e quanto a...?".
O fato é que essa tática tem o poder de matar o debate logo à partida. É a ferramenta dos intelectualmente despreparados. O mais trágico é que, pela baixa qualidade de pensamento nas redes sociais, é impossível escapar ao whataboutism.
É a dança da chuva.
sábado, 3 de junho de 2023
Idolatrado pela esquerda brasileira, Putin persegue o público LGBTQIA+
POR JOSÉ ANTÓNIO BAÇO
Há quem defenda regimes autocráticos, como é o caso de muitos brasileiros que estão do lado de Vladimir Putin, na invasão da Ucrânia. É sempre um risco estar do lado de um proto-ditador, porque os ditaduras nada trazem de positivo no plano das liberdades e dos direitos civis.
É interessante, por exemplo, que esses brasileiros apoiem um regime alicerçado, entre outras coisas, na negação e criminialização dos públicos LGBTQIA+. A liderança de Vladimir Putin tem sido problemática. Nos últimos anos, houve um aumento significativo da discriminação e da repressão contra a comunidade LGBTQIA+ no país.
Em 2013, o governo russo aprovou uma lei conhecida como "lei da propaganda gay" ou "lei da propaganda homossexual", que proíbe a promoção de "relações sexuais não tradicionais" para menores de idade. Essa lei tem sido amplamente utilizada para restringir a liberdade de expressão e os direitos dos indivíduos LGBTQIA+.
A lei tem sido o vetor para censurar eventos públicos, paradas do orgulho e para justificar ações contra ativistas e defensores dos direitos LGBTQIA+. Além disso, tem havido relatos de violência, agressões e discriminação, muitas vezes sem a devida proteção e punição das autoridades. Isso cria um ambiente hostil e perigoso para a comunidade LGBTQIA+ no país.
As restrições e a discriminação também afetam a liberdade de expressão e a disponibilidade de recursos e apoio para a comunidade LGBTQIA+. Organizações e grupos de direitos civis enfrentam dificuldades para operar e são frequentemente alvo de assédio por parte das autoridades.
No geral, a situação dos públicos LGBTQIA+ na Rússia sob a liderança de Vladimir Putin é preocupante, com uma crescente onda de discriminação e repressão. No entanto, é importante notar que existem indivíduos e organizações dentro e fora da Rússia que continuam lutando pelos direitos e pela igualdade da comunidade LGBTQIA+.
Enquanto isso, no Brasil tem gente que idolatra Putin. Porque, afinal, ditadura no fiofó dos outros é refresco.
É a dança da chuva.
sexta-feira, 2 de junho de 2023
Plástico no meio ambiente: você não ouviu falar, mas há gente a discutir
A mídia não deu muita importância, mas nos últimos dias a cidade de Paris recebeu representantes de 175 países para deliberar sobre a redução da produção de plásticos no planeta. As metas, lançadas pelas Nações Unidas, são ambiciosas: reduzir em 80% a produção de plástico até 2040. É difícil que isso venha a acontecer, uma vez que a proposta contraria os interesses de grupos econômicos, mas o fato de haver uma discussão sobre o tema é por si muito relevante.
É importante a pretensão de lançar um tratado global para atuar contra a poluição causada pelo plástico. Mas qual é a razão para a preocupação? Nunca é demais lembrar que o plástico, pela sua degradação lenta, apresenta enormer problemas ambientais. A começar pela poluição dos oceanos, uma vez que o descarte inadequado de plásticos, especialmente de produtos de uso único, resulta em uma grande quantidade de resíduos plásticos nos oceanos.
Esses resíduos causam danos à vida marinha, como tartarugas, pássaros, peixes e mamíferos marinhos, que podem ficar emaranhados em fragmentos de plástico ou ingerir pedaços de plástico, levando à asfixia, ferimentos e morte. Enfim, o impacto na vida selvagem é sério, uma vez que ingestão de plástico por animais terrestres também representa uma ameaça para a fauna selvagem. Muitos animais confundem o plástico com alimentos e acabam sofrendo danos internos ou morrendo devido à obstrução do trato digestivo ou à liberação de substâncias tóxicas dos plásticos.
Mas talvez um dos maiores problemas sejam os microplásticos, fragmentos menores que cinco milímetros encontrados em diversos produtos. Os microplásticos podem entrar na cadeia alimentar humana e animal, representando riscos para a saúde. As pessoas não estão atentas, mas é possível que os microplásticos, pela dificuldade de serem identificados, já façam parte da dieta e muita gente avisada e desavisada.
Pouca gente dá atenção. Mas o fato é que a produção anual de plástico duplicou nas duas últimas décadas, atingindo um nível de 460 milhões de toneladas. A projeção é de que poderá triplicar até 2060. O problema é complexo, mas está a passar batido em muitas regiões do planeta. Enquanto nos países desenvolvidos há um maior controle, há outros onde o uso de plástico ainda não tem sido enfrentado de frente.
Para dar um exemplo, na União Europeia há anos estão a ser implementadas regras severas para reduzir o consumo de plástico descartável, incluindo a proibição de produtos de plástico de uso único, como talheres, pratos, canudos e cotonetes. Além disso, há metas ambiciosas de reciclagem e estão incentivando a transição para alternativas mais sustentáveis.
Mas ainda é pouco. Muito pouco. E em poucos lugares.
É a dança da chuva.
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Foto: Magda Ehlers |
quinta-feira, 1 de junho de 2023
Será a Moldávia uma nova Ucrânia?
Há pouco mais de uma semana, milhares de moldavos se concentraram na Praça da Grande Assembleia Nacional, na capital Chisinau, para a manifestação "Moldávia Europeia". O ato foi convocado pela presidente europeísta Maia Sandu, a favor da integração na União Europeia. Há mais de duas décadas o país está à espera de uma adesão, que agora começa a ganhar forma. É claro que isso pôs a Moldávia na mira de Putin.
Há quem aponte um risco real de um ataque e fale de uma nova Ucrânia. Afinal, os ucranianos também queriam integrar a União Europeia, mas acabaram levando uma chuva de mísseis do autocrata russo. Todos sabem, menos alguns brasileiros, que Putin tem motivações imperialistas e os vizinhos não podem dormir descansados, sob o risco de serem invadidos.
É bom lembrar. No Brasil, há um segmento da esquerda - nostálgicos de uma URSS que não viveram - que considerava a Ucrânia um perigo para a Rússia, razão pela qual a invasão era justificada. E a Moldávia? Muitos sequer sabem onde fica o país no mapa e por isso aqui vão algumas informações:
1. A Moldávia tem uma população multiétnica, composta sobretudo por moldavos, ucranianos e russos.
2. A Moldávia é uma república parlamentar, com um sistema político democrático.
3. A Moldávia possui uma economia baseada principalmente na agricultura, em especial frutas, vegetais, grãos e vinho.
4. A Moldávia enfrenta desafios econômicos, incluindo elevados índices de pobreza, emigração e corrupção.
5. A Moldávia enfrenta problemas de integridade territorial por causa da Transnístria, uma região autoproclamada que busca independência.
6. A Moldávia é afetada pela corrupção em vários setores, o que representa um desafio para o desenvolvimento econômico e a estabilidade.
7. A Moldávia tem 2,6 milhões de habitantes. Devido às dificuldades econômicas, muitos moldavos emigram em busca de melhores oportunidades de emprego em outros países.
8. A Moldávia tem o moldavo (muito semelhante ao romeno) como língua oficial, mas o russo também é falado e tem uma forte influência na sociedade local.
9. A Moldávia é um país em tensão, que vive uma encruzilhada geopolítica entre a União Europeia e a Rússia.
10. A Moldávia busca uma maior integração com a União Europeia, buscando reformas políticas e econômicas para fortalecer seus laços com o bloco.
Enfim, os moldavos querem os padrões de vida da União Europeia e não os russos. Há uma tensão com a Rússia, como já havia acontecido no caso da Ucrânia. Aliás, a região da Transnistria, onde há forte presença russa, pode ser um cavalo de tróia. Enfim, a curiosidade é sobre a posição que essa "esquerda" brasileira, alimentada pela propaganda russa, vai tomar neste episódio. Porque no caso da Ucrânia, a vontade dos ucranianos (que queriam integrar a Europa) nunca interessou. É gente que prefere adorador de tiranos.
É a dança da chuva.
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FOTO: Anaghan Km |
domingo, 28 de maio de 2023
A paz é fria, a tolice congela o cérebro
sábado, 27 de maio de 2023
Dog-whistle: a linguagem dos cães racistas
POR JOSÉ ANTÓNIO BAÇO
Sabe o que são as “dog-whistle politics”? É uma expressão da língua inglesa muito usada por grupos específicos, em especial nos Estados Unidos, mas que começou a ser difundida em outros países, graças à ascensão da extrema mundial em todo o mundo. A tradução literal significa “política do apito do cão” e é fácil entender o significado. Há um som de apito que apenas os cães conseguem ouvir. Ou seja, os fascistas reconhecem o apito dos fascistas.
O que isso quer dizer? Que é um código partilhado por grupos específicos. É uma mensagem política dirigida a um grupo que domina o código e é capaz de entender os significados. A maioria das pessoas não nota, mas essas mensagens estão espalhadas de forma subliminar pela internet, em especial nas redes sociais.
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Como a coisa acontece? Há a apropriação de um símbolo inocente e atribui-se um segundo sentido. Ou seja, deixa de ter a sua significação inicial para adquirir outro significado, percebido apenas por um determinado grupo. E para que o leitor entenda o conteúdo das “dog-whistle”, vamos a um exemplo prático. Em 2022, o presidente Jair Bolsonaro foi fotografado - e a imagem amplamente partilhada entre os bolsonaristas - com a camisa do time da Lazio, de Roma.
Ora, é um recado até pouco sutil. A Lazio tem fama de ser um times de futebol mais fascistas do mundo. E a explicação é fácil: Benito Mussolini, que engendrou o fascismo italiano, era o seu mais ilustre torcedor. A sua torcida também é conhecida por ter cantos racistas e até por idolatar, por exemplo, o jogador Paulo di Canio, que em 2005 fez gestos nazistas no clássico contra a Roma. Ainda há pouco tempo, em 2021, o clube italiano demitiu o funcionário responsável por cuidar águia mascote do clube, em consequência de ter feito a saudação fascista numa vitória sobre a Inter de Milão.
Também podemos lembrar do caso de Filipe Martins, assessor especial para assuntos internacionais do presidente Jair Bolsonaro. O sujeito reproduziu um gesto considerado supremacista, que significa "white power". É um “ok” que por vezes usamos no dia a dia, mas que foi apropriado pelos militantes racistas. Se feito com a mão esquerda tem o significado original de “tudo bem”. Mas com a mão direita é usada para significar “poder branco”.
Em suma, a linguagem dos "dog-whistle" é uma estratégia política utilizada por grupos específicos para transmitir mensagens subliminares e direcionadas a um público que compartilha seus ideais. Essa tática envolve a apropriação de símbolos aparentemente inocentes, aos quais é atribuído um segundo significado compreendido apenas por esse grupo. Essas mensagens são disseminadas principalmente nas redes sociais, e sua eficácia tem sido evidenciada em várias esferas políticas. É crucial ter atenção a esses códigos e suas conotações, a fim de combater o discurso de ódio.
É a dança da chuva.
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Bolsonaro com a camisa da Lazio: apito de cão. |
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Filipe Martins, assessor de Bolsonaro, a fazer o gesto... |
quarta-feira, 23 de dezembro de 2020
ACIJ e o Processo Seletivo do NOVO
O candidato Darci de
Matos errou na dose e na estratégia e acabou jogando no colo do Adriano Silva o
apoio da ACIJ. Pode até ser que Adriano Silva não fosse o candidato dos sonhos
da entidade empresarial no primeiro turno, mas no segundo turno os empresários não
tiveram alternativa que não fosse apoiar um dos seus.
O partido NOVO inovou
com o “Processo seletivo”, o intuito do processo é o de deixar de indicar os
cargos comissionados por amizade, compadrio, filiação partidária ou por indicação
política e utilizar um processo curricular, que privilegie a capacidade e a competência.
A percepção do eleitor médio é que o resultado não saiu como esperado. Muitos
nomes são velhos conhecidos do cenário político local, já ocuparam cargos em
governos anteriores, sem ter conseguido mostrar competência ou resultados que
os qualifiquem. Há muitas críticas, expressadas abertamente, sobre a manutenção
de um número significativo de secretários do governo Udo Dohler, no que é visto
como uma continuidade da gestão anterior, algo contra o que a maioria dos
eleitores votaram e que agora se sentem traídos.
A pergunta é se estes
são mesmo os “melhores” nomes que teríamos em Joinville para formar um NOVO
governo e dar a guinada necessária para colocar de volta a cidade no eixo do
desenvolvimento. Se estes foram mesmo os melhores entre os mais de 1.500
candidatos a cargos de primeiro escalão, o futuro de Joinville é preocupante.