quarta-feira, 10 de maio de 2017

Aos 199 anos, o velho barbudo continua vivo


POR JOSÉ ANTÓNIO BAÇO
Na semana passada, se fosse “imorrível” (porque imortal ele é), Karl Marx teria completado 199 anos de idade. Isso significa que no ano que vem vai ter festa das grandes. O fato é que o velho barbudo, tão anatemizado pelos que nunca o leram (e pelos que não entenderam), é um dos maiores pensadores da história. E não sou eu a dizer. É quase um consenso nos meios acadêmicos. E não só...

Um exemplo. Faz alguns anos, a respeitável BBC Radio 4, lá das terras de Sua Majestade, realizou uma votação para escolher o maior pensador de todos os tempos. Quem ganhou? Karl Marx, claro. E com uma goleada sobre o segundo colocado, o filósofo e historiador escocês David Hume (27,93% contra 12,67%). Mais atrás ficaram Wittgenstein, Nietzsche, Platão, Kant, São Tomás de Aquino, Sócrates, Aristóteles e sir Karl Popper (vá de retro).

A coisa até podia passar despercebida se não fosse a Inglaterra o país do liberalismo e da tal terceira via. Não vamos esquecer que o Reino Unido nos deu uma Margareth Thatcher e toda a herança nefasta do neoliberalismo. Portanto, não deixa de ser estranha a escolha de um pensador cujo nome ainda provoca ranger de dentes.

O mito (no sentido barthesiano) está instalado. Para desqualificar um interlocutor, é só dizer que ele é marxista. Porque é sinônimo de atraso, anacronia e fracasso. Quem publica sabe que é preciso medir as palavras ao citar Marx: quando se fala ao homem comum, quando se escreve um artigo de jornal ou mesmo quando se defende uma tese académica. Qualquer discurso que cheire ao tal marxismo é logo amaldiçoado pelos conservadores.

Depois da queda do Muro de Berlim, o neoliberalismo impôs-se como modelo sem alternativa. Modelo único, pensamento único. Todas as teses que estejam em discordância com o liberalismo econômico acabaram banidas do sistema de circulação de ideias. Qualquer pensamento dissonante é considerado datado, inoportuno. É tese sem antítese. Não há comunicação.

Mas o método de análise do velho filósofo ainda tem muita força. É preciso ler a sua obra. O problema é que os sicofantas do establishment não gostam de livros, preferem o conforto das verdades prontas. Marx falou em boa sociedade, mas nunca construiu uma cartilha para ensinar como chegar lá. Aliás, a força do seu pensamento vem justamente de ter empreendido um competente análise do capitalismo. Que ainda hoje serve como referência.

Não curto as auto-referências, mas para terminar o texto de hoje tomo a liberdade de reproduzir um excerto de um texto meu publicado aqui no caderno Anexo, do jornal A Notícia, num distante dia 18 de abril de 1993. Faz muito tempo. Nessa época já muita gente não gostava, mas as pessoas não tinham o hábito de escrever cartas anônimas para os jornais (não era tão fácil quanto escrever barbaridades nas caixas de comentários dos blogs).

Então, lá vai: “Nos tempos de euforia liberal, Marx se transformou em sinônimo de atraso e a simples citação do seu nome podia colocar o indivíduo do lado menos recomendável do muro. Tornou-se impossível falar acerca do pensamento do velho filósofo sem que se esbarrasse em argumentos apriorísticos cuja irracionalidade impedia qualquer discussão. Prevaleceu a histeria burra que dividia o mundo em mocinhos e bandidos (estes os que nutrissem simpatia pelo pensador alemão). Fruto de irrefreável compulsão ao reducionismo, aqui no patropi estigmatiza-se o que se julga entender por marxismo e, frase feita, joga-se tudo na lata de lixo da história. Só que qualquer pessoa com um mínimo contato com esse campo teórico sabe que Marx não se presta às simplificações pretendidas pelo senso comum”.

O pensamento do velho barbudo continua vivo. E válido. E no ano que vem, pelos 200 anos, vai ter festa da boa.

É a dança da chuva.



28 comentários:

  1. Mas “Marques” vai existir enquanto houver fanáticos religiosos do carcomido marxismo que tentam, a todo custo, fazer um paralelo entre uma análise histórica do capitalismo de um determinado período (início da industrialização na Inglaterra) com os modos de produção atuais. Seria o mesmo que um pastor com a bíblia em mãos debater a caminhada de Cristo sobre as águas do Mar Morto...

    Discutir a divisão de trabalho e a mais valia, por exemplo, é irrelevante nos tempos atuais, então um pensador de “Marques” num fórum econômico, por exemplo, torna-se um ser caricato, exótico, pois ninguém quer discutir alhos com bugalhos.

    Herança nefasta de Margareth Thatcher? Sério?
    O fato de Thatcher não ser populista (como querem os esquerdistas) não tira o mérito da “Dama de Ferro” que simplesmente transformou o que o Reino Unido no é hoje, a segunda maior potência econômica do continente europeu. A propósito, os milhares de imigrantes e refugiados pretendem permanecer em França ou atravessar o canal para o liberal Reino Unido? E os próprios sociais democratas da França, derrotados por um liberal e uma extremista? Qual o sistema não tem dado respostas para os problemas da sociedade?

    E se o Reino Unido é a herança do Liberalismo, o que seria a do socialismo, a Venezuela? (sim, o filho feio sempre é rejeitado pelo pai...)

    O marxismo é o atraso, não pelas ideias do seu pensador, mas pelo séquito de “intelectuais” que tenta fazer um paralelo improdutivo com a atualidade. Pode-se encontrar Marx by Fulano, Marx by Ciclano, Marx by Beltrano... é esse o exemplo de antítese de ideias que envolvem o Marxismo: se Cristo caminhou sobre a águas, qual era a temperatura do liquido? Qual o indumentário? Quem presenciou o evento?

    Por fim, “Marques” representa muito bem a esquerda com toda a sua desonestidade e contradição: inverteu as ideias de Engels e discorreu sobre o materialismo nos modos de produção do trabalho, sendo que nunca trabalhou na vida. Aliás, sugiro a leitura da biografia de “Marques”, é bem mais interessante.

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    1. 1. Não entendes nada de Marx ou de marxismo. Isso é evidente. 1. Não entendes nada de Thatcher. 1. Não entendes nada de Reino Unido e nem de liberalismo. 1. De onde veio essa coisa de Venezuela? 1. "A leitura da biografia"? Não existe "a biografia". Já li pelo menos três... 1. Precisas parar de recitar clichês. Não dá tesão de responder.

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    2. Não da tesão? Clichês?
      Isso não passa de recurso retórico. Seria melhor ter ficado sem falar que não dá tesão, e que é clichê. Pois isso só desqualifica sem mostrar o por que, e passa uma ideia de que os argumentos são fracos sem demonstrar a fraqueza. Tipo gritei truco, VC grita seis, agora quero ver o gato.
      A esquerda faz muito disso ela panfleta , mas na hora do vamos ver ela sai fora usando recurso retórico. Simplesmente pra converter neófitos e espalhar seu evangelho, pois se não ganha no varejo, vai ganhando no atacado.

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    3. Quem colocou a Inglaterra como a 2ª potência econômica européia não foi Margaret Thatcher, foi a Alemanha..lá no início do século passado. Hoje, a tal da política social de mercado, adotada pelos alemães, mantém a ilha na eterna vice liderança...rs. Engraçado que vira e mexe e o pessoal arruma um cantinho pro social do Tio Marx. Elite alemã de lá percebeu que é melhor perder alguns anéis...já a de cá...

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    4. Seguinte, Fabio Rosa... zzzzzzzzzzzz....tédio.... uahhhhhh.... zzzzzzzzzz....

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    5. Fábio só para informação "o capital" foi finalizado pó Engels os dois eram tão próximos que creio que não tenha havido qualquer distorção no máximo uma visão um pouco mais à esquerda.
      Anderson Titz

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  2. Li o Capital e creio que há uma construção lógica interessante e é possível aprender algo sendo possível usar alguns conceitos e idéias. O problema é que assim como muitos autores que se arriscam a inovar há riscos grandes de seus principais conceitos estarem completamente errados. No caso desta obra em específico, o conceito central "valor" é calcado unica e exclusivamente no tempo de trabalho empregado na construção de algo, ou seja, valor não é algo que eu valorizo e estou dispostos a dar em troca e sim no quanto alguém dedicou de tempo. Se o conceito central está errado arruína a maior parte das conclusões e portanto é necessário muito cuidado, mas isso sem sobra de dúvidas não invalida tudo sendo necessário dar devido valor as críticas nas relações de trabalho e em especial ao contexto histórico da época.

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    1. Eu só li partes do "O Capital". A edição brasileira tem 900 páginas. É muita coisa e algumas muito técnicas para o meu interesse. Só li o que respondia as minhas questões mais prementes. O problema é que Marx não é só "O Capital" ou o "Manifesto". Eu prefiro ler o jovem Marx, que é mais voltado para a filosofia. E tento também, sempre que posso, encontrar textos que ele escreveu para jornais. E, sim, o sujeito histórico de Marx é hoje um problema...

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    2. Baço, ainda vais ganhar muito dinheiro com Marx.

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    3. Estranha ligação, anônimo. Quer dizer que a gente só deve ler o que dá dinheiro?

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  3. Ué, Monteiro Lobato também está aí, firme e forte!

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  4. O que diria Marx da esquerda atualmente? Essa esquerda que não quer mais acabar com o capitalismo, apenas domestica-lo. Essa esquerda democrática ? Como assim? Contaminada por essa afetação burguesa. Há uma total incongruência com as idéias de Marx de ontem com a esquerda de hoje. Qual seria legado real de Marx? Pq o que ficou foi apenas o idealismo, pq nem a critica ao capitalismo como cita o texto é levada a sério.
    O marxistas que existem hoje dentro da esquerda são como um seita animista perdida no tempo, a própria esquerda abandonou as idéias de Marx, e diria que seu principal ideologo daquelas épocas é muito mais Rousseau.

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    1. Putz, Fabio Rosa. Juro que li tudo o que escreveste, mas não consegui tirar uma ideia daí. É puro jibber-jabber...

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    2. Aqui vai uma ajuda
      Há uma total incongruência com as idéias de Marx de ontem com a esquerda de hoje,essa é a ideia. As 3 primeiras linhas referem aos exemplos que corroboram com essa ideia.

      Pq uma pessoa usa a palavra jibber-jabber..? Veja se não é a falacia do sou o máximo, não preciso argumentar com essa ralé, então uso palavras ininteligíveis que são por sí só a prova de minha sabedoria infinita. Num argumento circular de arrogância ad nauseam.

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    3. Sabes que precisas melhorar a tua redação, não sabes?

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    4. O ataque sempre é a melhor defesa, né Baço.

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  5. Isso me faz lembrar uma tirinha de jornal bem interessante, que relata bem o que é socialismo e toda bobagem marxista. A tira é dividida em quatro cenas:

    A primeira cena mostra uma dondoca levando passear um tiranossauro rex do tamanho de um cachorro. A dondoca chama-se Socialismo e o tiranossauro rex, Estado.

    A segunda cena mostra a dondoca com o tiranossauro já do mesmo tamanho. Ela diz: “vou alimentar esse Estado para que ele cresça firme e forte e realize todos os meus desejos”.

    A terceira cena mostra o tiranossauro no seu tamanho normal, com a dondoca desesperada tentando segurá-lo na coleira e dizendo: “meu deus, o Estado está descontrolado, ele subverteu Marx!”

    Na última cena o tiranossauro rex engole a dondoca quando essa grita: “maldito capitalismo opressor que tomou conta do meu Estado de estimação!”

    Eduardo, Jlle

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    1. Estou impressionado, Eduardo. Já consegues interpretar gravuras rupestres do paleolítico...

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  6. Só não esqueça de avisar o pessoal do PC chinês que o marxismo-leninismo acabou e que eles estão perdendo tempo...vai q eles te levem a sério...com certeza o pessoal do instituto mimises manda fazer uma estatua procê.

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  7. Só pra lembrar aos tontos de plantão, que o comunismo marxista prega o fim do estado. Por conta disso é que os liberalecos graúdos odeiam tanto o velho, uma vez que acabando o estado, acaba a mamata.. visto que o capitalista e sua cria, o rentista, precisam do estado e, mais do que isso, precisam controlar o estado, precisam da estrutura dos 3 poderes, tanto pra garantir que o proletário fique passivo à condição de explorado, quanto para ter sob seu controle a chave do cofre, a política monetária e por ai vai...

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    1. Estás enganado Lemos, originalmente como fim marxistas defendem o fim do Estado, mas primeiramente defendem a concentração nele. Já por sua vez os liberais sempre defendem o Estado mínimo o que se define como sendo aquele que cuida apenas das atividades básicas como saúde, educação e segurança.
      O que vc define como liberal não está relacionado com algo que acredito que seja capitalismo de Estado que necessariamente é um monstrengo que necessita de um Estado forte e concentrador de poder, neste sentido mais ligado ao pensamento marxista que permita concentração de poder em uma de suas fases.
      Anderson Tirz

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    2. Ele prega o filme do Estado democrático.

      Mas e ontem, Lemos, fizeste parte dos 4 mil (contando com o MST) que foram coçar do saco em Curitiba? Levaste ao menos uma bandeirola do Brasil ou só vestiu-se de vermelho?

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    3. 1- Não estou enganado Anderson. Comunismo, segundo Marx, seria o fim do processo...que deveria passar primeiro pelo capitalismo, seguido do socialismo e por fim, o comunismo, quando deixaria de existir estado. 2- Com relação ao estado mínimo, que seria o sonho dos liberais..pausa para risos. Vc só esqueceu de colocar nessas prioridades do tal estado mínimo, os 15% do PIB que os liberais americanos gastam com a industria bélica, mais 4,5% com a estatal NASA, as medidas protecionistas (subsídios e incentivos estatais) exigidas pelos liberais, na contramão do laissez faire, laissez passer, le monde va de lui-même..sem falar do US$ 1 trilhão que o tesouro torrou pra conter a crise de 2008... provocada por quem? Pelos liberais...como eu disse..pausa para risos.

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    4. Sim, fiz parte... e sim, confesso que vez ou outra, cocei o MEU saco..enquanto meia dúzia os lunáticos coçavam o saco dos PM´s com uma mão, enquanto seguravam panela com outra, uns até seguravam as panelas atrás, confesso q não entendi..rs..

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    5. Eu queria estar em Ctba e lançar uma carteira de trabalho no meio da multidão pró-lula. Queria ver esse povo correndo como o diabo foge da cruz.

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    6. Garanto q c é daqueles que enche a boca pra falar que o trabalho liberta...em alemão é claro.

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  8. Lemos me referi ao processo para chegar ao fim. O processo Marxista passa pelo aumento da presença Estatal. O seu exemplo não é de estado liberal.

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  9. Para alguns recomendo que leiam o artigo do Léo Vortis vão se reconhecer.

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