quarta-feira, 14 de maio de 2014

Casa Grande é Casa Grande, Senzala é Senzala


Ilustração da capa do livro Casa Grande e Senzala

POR JOSE ANTÓNIO BAÇO

Hoje proponho um exercício. E se muitas das ações dos últimos anos – aquelas que foram alvo de duras críticas – não tivessem sido levadas a efeito? Ou seja, vamos imaginar como seria o Brasil se alguém desse atenção aos críticos e simplesmente deixasse muitas ideias para trás. Então, vamos usar um pouquinho de imaginação e pensar num país feito à imagem dos seus críticos.

- Vamos acabar com o Bolsa Família.
- Não vai mais ter Copa do Mundo.
- Podemos abrir mão dos Jogos Olímpicos, que vão para Londres.
- Acabar com as cotas nas universidades é outra medida inadiável.
- Que tal tirar a Petrobras das mãos do governo e entregar aos privatistas?
- Vamos deixar para lá esse investimento no Porto de Mariel.
- Revogar a lei do Marco Civil é algo que se impõe.
- Também vamos fechar as universidades criadas nos últimos anos.

Parece que temos exemplos suficientes. O que isso significaria? Ora, apenas um regresso à “normalidade”. Pobres sem lugar na economia (não-consumidores) e a continuar na exclusão. Negros fora das universidades. Um país sem eventos capazes de projetar uma imagem internacional e de iniciar uma cultura de turismo. Como em outros casos, uma estratégica empresa petrolífera nas ávidas mãos dos privados. A ausência de estratégias para integração numa economia globalizada. A internet nas mãos dos grupos que mandam mais.

É esse o Brasil vocês imaginaram, leitor e leitora? Aposto que sim. Mas pensemos: não é o mesmo Brasil que tínhamos há 30, 40 ou 50 anos? Exato. Mas é para onde essa gente pretende voltar. Porque tem saudades daquele Brasil onde as coisas estavam todas no seu devido lugar. Ou seja, o que os conservadores desejam é uma volta à velha sociedade onde as posições eram cristalinas: Casa Grande é Casa Grande, Senzala é Senzala. Uma sociedade onde pobre era pobre e não tinha que ficar sonhando com geladeira. Para que geladeira se não tem comida?

O que querem os conservadores? Voltar a um país com universidades apenas para os meninos das boas famílias. Um país fascinado pelo tal primeiro mundo e que, como poucos podiam viajar, criava uma ideia de distinção social. Um país dependente, acorrentado a decisões tomadas por credores externos, e para o qual a expressão diplomacia econômica não existia. Um país que andava de joelhos perante as instâncias internacionais. Um país onde cada um cuida de si e inexiste a solidariedade para com o mais fraco: aquela arenga do "dar a vara..."

Enfim, o que os conservadores propõem é o passado. 

25 comentários:

  1. "Que tal tirar a Petrobras das mãos do governo e entregar aos privatistas?"

    Sinceramente, não sei qual seria o pior cenário. Por experiência do que aconteceu com a Vale e Embraer, acho até melhor entregar a empresa ao setor privado do que mantê-la para cabide de empregos, balcão de negócios ou lavanderia.

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  2. 1- Sim, o Bolsa Família só mantem seu status de programa social se houver expectativa de acabar. As famílias que dependem desse dinheiro devem ter a oportunidade de empreender e criar riquezas para si e por consequência para toda a sociedade.

    2- Infelizmente a decisão errada das prioridades foi tomada no passado. Qualquer pessoa que discordasse era considerada "do mal" e bullyingada massivamente. Que o erro sirva de aprendizado.

    3- Duvido muito, não é boa ideia por ser meio tarde. A solução viável seria impor limite aos gastos e fiscalizar minuciosamente os gastos. Que o erro sirva de aprendizado.

    4- Nada no Brasil é inadiável, mas é importantíssimo nivelar o estudo pelos melhores resultados a partir da base que insistir em medidas paliativas populistas.

    5- Boa ideia, pode ser entregue até para os funcionários que o Brasil sairá ganhando. Como todos sabemos o estado não produz nada, metendo-se na economia cria o impasse de concorrer deslealmente com seus cidadãos e contribuintes.

    6- Investimento???? Qual a taxa de retorno???? Como corre em sigilo de conchavo desconheço completamente as regras que foram impostas ou acordadas.

    7- Foi aprovado recentemente a toque de caixa. Confio nas instituições que zelarão pelas liberdades individuais.

    8- Melhor terminar de construir/equipar/formar. Os métodos de avaliação do ensino superior servirão para garantir a qualidade.

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    1. Dirk sempre liberalzão. Mas se fores ler os autores liberais talvez fiques mais ameno.

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  3. Vamos imaginar então. Lula contra o plano Real em 94: " Esse plano é um estelionato eleitoral".

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  4. Dane-se o título de conservador ou radical, direita ou esquerda, pobre ou rico.

    - "Vamos acabar com o Bolsa Família": não, mas acredito que só "dar dinheiro" não basta. Deve haver mais incentivo e um planejamento para que o cidadão que recebe esse benefício consiga um dia não precisar mais recebê-lo. Uma espécie de "plano de carreira", porém com o oferecimento de qualificação e oportunidades;

    - "Não vai mais ter Copa do Mundo": também acho ridículo ver pessoas que querem isso a essa altura do campeonato. Isso deveria ter sido reivindicado lá atrás, quando o Tio Lula fez seus trâmites pra trazer o evento. Porém acho fraco o argumento de "querer fazer uma copa para projetar imagem internacional", sendo que, pelo que vimos até agora, a imagem projetada é a mesma de sempre: país mal organizado, inseguro, que tem caipirinha, samba e mulheres bonitas, porém agora com Arenas. Tapa-se o sol com a peneira e tenta-se fazer do inferno o paraíso para ludibriar os não tão bobos "gringos";

    - "Podemos abrir mão dos Jogos Olímpicos, que vão para Londres": mesmo argumento da copa.

    - "Acabar com as cotas nas universidades é outra medida inadiável': não que seja inadiável, mas vejo como um algo importante. Na minha visão, as cotas agravam o preconceito. Deveriam investir nos ensinos primário e médio para que qualquer pessoa, seja ela de escola pública ou particular, negra ou branca, tenha condições de entrar em uma faculdade de forma padronizada, sem "exceções" ou "favorecimentos". Vejo o sistema de cotas como uma forma de "remediar" a incapacidade (ou falta de vontade) do governo em oferecer boa educação inicial pública, principalmente aos menos favorecidos.

    - "Que tal tirar a Petrobras das mãos do governo e entregar aos privatistas?": não sei o que é melhor ou pior. Teoricamente tudo o que é estatizado deveria ser melhor, pois o lucro "fica" com o próprio estado. Como não é assim que funciona de fato, aquele que tornar nosso gás/combustível mais barato e investir em tecnologias limpas é a melhor escolha.

    - "Vamos deixar para lá esse investimento no Porto de Mariel": se é um investimento importante para o país, que o façam. Mas investir nos portos daqui também é importante. Essa sensação de "esquecimento" gera revolta na população.

    - "Revogar a lei do Marco Civil é algo que se impõe": o Marco Civil tem partes importantíssimas, porém há outras muito invasivas. A revogação é importante para rediscutir e alterar alguns tópicos, como o armazenamento dos registros de acesso por 1 ano ou a retirada de conteúdos denunciados sem a necessidade de término do processo.

    - "Também vamos fechar as universidades criadas nos últimos anos": escola não se fecha, seja do nível que for. Num país com deficiência educacional, o que mais precisamos são escolas e professores.

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    1. Não concordo muito com o "dane-se o título de conservador ou radical, direita ou esquerda, pobre ou rico". O resto é decorrência...

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  5. "Se Lula for eleito, 800 mil empresários deixarão o país." Mario Amato, presidente da FIESP, CNI e etc., exercendo o grandessíssimo espirito conservador...

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    1. Encontrei 400 mil no mês passado a viver em Espanha.

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    2. Ele disse essa frase em 1990...

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  6. Com palavras objetivas e pontuais, sem apresentar os números dos avanços que favoreceram famílias que estavam na extrema pobreza, das centenas de jovens que tiveram acesso às várias universidades (foi o governo que mais abriu universidades públicas) e demais exemplos, você dá a resposta certa. Há um espírito conservador rondando o atual momento. A volta à senzala ainda é incentivado pela grande maioria dos meios de comunicação. Parabéns pela concisão, Baço.

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  7. Baço, foi vc que criou a propaganda do pt que tah sendo veiculada na tv?

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    1. Não fui. Mas achei muito bem sacada. Tem estratégia...

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    2. Belíssimo vídeo, que se as "pessoas de bem" pudessem se despir momentaneamente dos seus ódios e preconceitos até poderiam enxergar algo muito interessante nela.
      Mas como a copa é do mal, o bolsa-família também, a Petrobrás não dá lucro e é uma empresa pé-de-chinelo, as universidades e escolas técnicas criadas de 2002 prá cá são imaginárias, etc, etc, etc,.....

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    3. isso manoel, lula inventou o brasil em 2002...

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    4. E vc só lê a Veja desde então, não é anônimo 01:03? (este negócio de anonimo mais horário sempre me parece a denominação de andróides, não sei por que...)

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    5. não manoel, eu li a veja até 1989. o que nunca fiz foi ser propaganda ambulante de partido ou político nenhum.

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  8. Baço, qual seria a estratégica integração econômica globalizada da era petista? Será que é aquela que visa permanecer no Mercosul, com os grandes aliados como os falidos Venezuela e Argentina, e propondo a entrada da Bolívia? Quais seriam os grandes últimos acordos comerciais que o Brasil fez? Quem é o atual presidente do Mercosul mesmo? Fiquei sabendo que o Brasil é um dos países mais protecionistas.

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    1. Anônimo. Se me disseres quais são os índices econômicos na relação do Brasil com os parceiros do Mercosul eu respondo.

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    2. A relação é de crescimento pífio e de risco de calote.
      Não dê uma de espertinho respondendo uma pergunta com outra. Os leitores querem saber, ou está pesquisando ainda uma resposta no Google? Quero conhecer o Baço "economista".

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    3. Desistiu da Venezuela, Anônimo das 14:47?

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    4. Tô esperando seu texto até hoje, mas, ao que parece, botou o rabinho entre as penas de novo e correu para o caviar de cada dia.

      Mas te dou mais uma chance, responda-me qual é a estratégia integração econômica globalizada petista. Será que vai se acovardar de novo?

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    5. Eu sei que estás acostumado a essa coisa de textos por encomenda. Como é que chamam isso? Ah...´é verdade: pena de aluguel. Mas não meças o meu caráter pelo teu. Somos vinho de pipas diferentes.

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  9. A questão aqui não é o de "fazer ou não fazer", mas sim de "fazer certo ou fazer errado". O governo do PT pode até ser bem-intencionado (o que eu tenho minhas dúvidas), mas é incompetente de qualquer maneira. Simples assim.
    Não acredito que, caso o Serra tivesse ganho em 2002 ele não teria ampliado os benefícios sociais. O Bolsa Família é uma consolidação e uma ampliação de vários programas sociais que já existiam antes de 2002. A classe C, que independe do Bolsa Família, teria sido ampliada naturalmente pelo ambiente econômico estável e pelos ventos de prosperidade que duraram 4 ou 5 anos. Resultado esse que é proveniente de um trabalho que começou lá em 1993, com a estabilização da economia, com o saneamento do sistema bancário, com o enxugamento do estado, com a criação das agências reguladoras, com a renegociação da dívida externa, etc.. etc..
    O governo do FHC não teve nada de conservador, pelo contrário, bateu de frente com os coronéis que não queriam a venda do Bamerindus, do banco Econômico, do Nacional, etc. Mesmo o todo poderoso ACM que era da base aliada, teve que baixar a bola, porque a banda já não tocava a música dele.

    Enfim, acredito que muito desse debate está fortemente influenciado por cores partidárias e menos centrado nas idéias. O que é uma pena.

    Não estamos discutindo esquerda x direita, até porque todos os que detiveram o poder estavam com um pézinho na Casa Grande, bebendo da fonte de um Sarney, de um ACM, de um Barbalho. Tudo em nome da tal "governabilidade".

    Portanto, viúvas do Lula, não gastem vela com o defunto ruim não.

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