sexta-feira, 9 de agosto de 2013

Sobre a Mídia Ninja, mídia alternativa e os novos tempos da comunicação

POR FELIPE SILVEIRA

Os protestos de junho sacudiram o Brasil e mesmo que algumas cornetas insistam em dizer que o tal do gigante já botou o pijaminha para dormir novamente fica claro que foram fincadas bases para uma grande mudança política e social que ainda virá. Isso pode ser observado mais claramente em alguns ambientes, como o da política partidária e o da comunicação, mais especificamente do jornalismo.

Este último já é um universo em constante ebulição e que há anos discute uma crise econômica e ética (tá, a questão ética não é assim tão discutida quanto a econômica), além de não saber o que fazer com a tal da internet. E, enquanto empresas e profissionais se debatem para achar soluções lucrativas, mais e mais informação passa a circular livremente em novos e criativos espaços criados por gente que não quer repetir as velhas fórmulas.

Nesse sentido, junto e por causa dos protestos de junho emergiu a Mídia Ninja, a rede de informação que cobre os protestos das ruas, dentro das manifestações, publicando informação na hora com quase nada de edição (lembrando que o lado para o qual você aponta a câmera já é uma edição). Além do imediatismo e do local privilegiado de transmissão, a Mídia Ninja também se diferencia pelo claro posicionamento que toma - sempre ao lado dos manifestantes. É importante ressaltar que, apesar do trocadilho óbvio, o nome Ninja é uma sigla para Narrativas Independentes, Jornalismo e Ação.

Mas, como tudo que ganha fama e importância, a Mídia Ninja logo ganhou críticas. A maior parte delas ligadas ao Fora do Eixo, uma organização política e cultural a qual a Mídia Ninja é ligada. E elas (as críticas) aumentaram significamente a partir de segunda-feira, 5 de agosto, quando o principal articulador do Fora do Eixo, Pablo Capilé, e um dos principais articuladores do Mídia Ninja, Bruno Torturra, estiveram no programa Roda Viva, da TV Cultura, entrevistados por tradicionais jornalistas do país. O programa pode ser visto aqui e eu recomendo para quem se interessa por esse debate. Assim como recomendo a leitura deste relato sobre o Fora do Eixo (aqui), que é apenas uma das críticas contundentes ao Fora do Eixo.

Dito tudo isto posso enfim dar a minha opinião sobre o tema, que é quase uma não opinião. Apesar de ser um entusiasta da mídia alternativa e da revolução que vem sendo causada pela internet, não cheguei a me encantar pela Mídia Ninja em junho e julho (lembrando que os protestos seguem acontecendo ainda hoje, principalmente no Rio de Janeiro). Assim como, mesmo sendo um entusiasta do crowdfunding (financiamento coletivo), nunca me encantei pelo Fora do Eixo. E, apesar de não saber formular direito a razão da minha antipatia pelas duas coisas, aos poucos começam a aparecer fatos que a justificam. O que acho lamentável.

No entanto, minha preocupação é que as falhas da Mídia Ninja e do Fora do Eixo se tornem munição no debate sobre novas formas de fazer jornalismo e também de trabalhar com a produção artística e cultural fora do sistema tradicional da indústria. Mais ou menos como criticar a ideia de comunismo a partir das experiências na Rússia e na China.

É evidente que o resultado da experiência é um rico material a ser usado pela crítica, mas também é um rico material de aprendizado. A Mídia Ninja não é a primeira e não vai ser a última experiência de democratização da informação. Assim como o Fora do Eixo não vai ser a experiência definitiva em relação a uma forma diferenciada de produção e distribuição cultural.

Acredito que neste momento é importante refletir sobre a Mídia Ninja e sobre o Fora do Eixo, mas também ter em mente que os novos tempos da comunicação e do jornalismo já chegaram. Que esse debate seja rico e qualificado.

9 comentários:

  1. A entrevista do Roda Viva tá dando o que falar, muita veneração de um lado, e detonação por outro. Mas uma coisa é certa, comunicação não é mais a mesma depois das redes, quem não levar isto à sério que fique à beira do caminho...
    Segue link interessante do Nassif sobre a matéria: http://www.advivo.com.br/blog/luisnassif/midia-ninja-e-casa-fora-do-eixo-a-explosao-do-novo

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  2. “Roda Morta” da TV Cultura de São Paulo assisti a entrevista dos líderes do Mídia Ninja, Pedro Torturra e Pablo Capilé. Os caras da mídia ninja mandaram bem! Espero que estejamos assistindo o início do fim do PIG. Tentaram ligá-los ao PT, mas não conseguiram.. Tentaram acusá-los de “mamar nas tetas do governo”, mas também não conseguiram.. Essa é a voz das ruas, uma voz que clama por renovação! Pura e simplesmente! Pela verdade! E é somente por isso que terão sucesso na quebra dos velhos e corrompidos valores que, ainda, norteiam nossa sociedade.Este é o melhor exemplo da “nova mídia”, o futuro de alguns é tenebroso.!!!!!

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  3. Olá,

    Não é possível pensar o grupo Mídia Ninja sem o Fora do Eixo. As pessoas são as mesmas, a metodologia de trabalho também e a perspectiva de criar novas regras para o mercado também.

    Sabe, muito do trabalho feito pelo Mídia Ninja já era realizado pelo Centro de Mídia Independente, é claro que a cobertura não era tão rápida, afinal, a internet era outra, assim como a tecnologia disponível no mercado.

    No campo da esquerda um debate bem profundo está ocorrendo há um tempinho. Eu sugiro a leitura: http://passapalavra.info/2011/06/41221

    Mas se o debate é sobre novas formas de jornalismo de mercado e novas perspectiva para salvar o mercado editorial, sinceramente, a mídia ninja é possível saída. Agora, pensar uma mídia de esquerda ou algo assim, a mídia ninja só pode oferecer como não organizar uma mídia de esquerda.

    maikon k

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  4. Li hoje: "Capilé, um dos organizadores, agora nega, mas durante a reunião que preparou o ato de 28 de maio mencionou a possibilidade de patrocínio da Coca-Cola à marcha, sem necessariamente ter que expor a marca (a empresa estaria apenas cul­tivando "boas relações" com os ativistas). A pro­posta foi vetada pelo coletivo Desentorpecendo a Razão (DAR) e Movimento Passe Livre, segundo re­latos divulgados pelo coletivo Passa Palavra".

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  5. Mídia NINJA e MPL são farinha do mesmo saco: grupos bancados com $$$ público através da política terrorista do PT.
    Sem mais.

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    1. cara... uma pessoa que escreve que o MPL é financiado pelo PT merece levar uma surra.
      maikon k.
      ps: eu não sou do MPL.

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  6. Conheci esse grupo pelo Roda Viva, ou seja , quase nada. Mas a explicação da contabilidade e geração de recursos deles tem muitos aspectos semelhantes a pirâmide financeira.

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  7. Por que não podem conseguir recursos públicos, como todo mundo faz? É verba destinada prá isso. A negação do "establishment" deles não é essa. Se até a Ivete Sangalo pega meu filho, esta "crítica" é totalmente infundada.

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  8. Aqui vai uma contribuição ao assunto do texto...

    "Parece que é o que vem acontecendo na atual polêmica em torno da Mídia Ninja e do coletivo Fora do Eixo, sobretudo a partir da entrevista de seus respectivos líderes ao programa Roda Viva, da TV Cultura, na semana passada (ver aqui). Nas redes sociais, o desempenho de ambos foi imediatamente comemorado – eles teriam “jantado” experientes jornalistas, muitos dos quais insistiam em indagar sobre a origem dos recursos que mantinham aquelas atividades, aparentemente interessados em identificar alguma falcatrua –, mas logo que começaram a surgir graves denúncias contra o grupo a situação se alterou, e houve mesmo quem falasse na “armadilha” que representava participar de um programa como aquele, num canal comandado pelo tucanato."...

    http://observatoriodaimprensa.com.br/news/view/uma_critica_a_contracorrente

    Du Von Wolff

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