segunda-feira, 6 de fevereiro de 2017

Einstein e o IPPUJ

POR JORDI CASTAN
Einstein foi um visionário, um homem à frente do seu tempo. Mão só pela sua capacidade de elaborar teorias que só puderam ser comprovadas muito tempo depois, como pela sua visão de como funcionavam ou poderiam funcionar algumas organizações e institutos. Sem conhecer Joinville ou o IPPUJ, antecipou a sua filosofia e forma de ação. Não só pressupôs a sua ação sobre cidade como anteviu seu impacto sobre o presente e o futuro de Joinville.



Discorreu Einstein que, embora em princípio uma teoria possa ser provada por experimentos, o inverso não é verdadeiro. Não há um caminho que leve dos experimentos à elaboração de uma teoria. Einstein não sabia naquele momento que era possível, no século XXI, em uma cidade, que um órgão municipal pudesse se dedicar alegremente e de maneira estulta a realizar experimentos, sem que fossem alicerçados por nenhuma teoria. Que não fosse necessário desenvolver nenhum modelo de planejamento teórico, nem, menos ainda, instruções e estudos confiáveis sobre como iniciar  seus impactos possíveis e desejados e os riscos que deveriam a todo custo serem evitados. Einstein entendeu que nestes casos ficaria mais distante a possibilidade de dar-lhes sequência e avaliar seus resultados, fazendo as consequências desta série de experimentos imprevisíveis e perigosas.

Pode ser que esta forma irresponsável de experimentar seja a única justificativa para a situação caótica em que se encontra Joinville. Poderia até ser, como alguns pressupõem maldosamente, que toda esta situação não seja o resultado de um plano intencionalmente perverso, mas o da mais pura e autêntica inépcia. Só assim para entender que tantos desatinos possam suceder de forma sistemática e corriqueira. 

sexta-feira, 3 de fevereiro de 2017

Karneval nón é coisa de xente de Xoinville


POR BARON VON EHCSZTEIN
Guten Tag, minha povo.

Xá sabem que nón vai ter karneval em Xoinville? Auf keinen Fall! A nossa querrida prefeito falô e esdá falado. Quem quisser sarracotear vai ter que mexer a traseiro em outros freguessias. Nón querremos esse festa do pecado no nossa cidade, porque somos tudo xente de bem e não gostamos dessas poca vergonha. Der Zweck heiligt die Mittel.


Ainda bem que tem xente cuidando do morral e das boas costumes em Xoinville. Temos que preservar a estilo de vida do cidade: vícias privadas, virtudes públicas. Wunderbar! Sem karneval nón vamos ter essa pessoal que gosta de mostrar os intimidades, que nem o Globelessa. E nem aquela povo mais escurrinha que gosta de requebrar no afenida.


Karneval nón é festa de xente trabalhadora. É coisa desses vagabundas kommunisten que nón respeitón o morral e os nossos tradiçóns. Que tradiçón? Orra, tradiçón é festa de alemón, o nossa verdadeiro nacionalidade. É festa de xente de bem, parra beber chopes até cair para o lado. Sich besaufen, sich betrinken.


E nón vamo parrá por aqui. Vou pedir para a nossa querrida prefeito para acabar de veiz com esse mania de karneval. Isso não é coisa de xente de Xoinville. Nón querremos blocos, escolas e enchentes de povo no avenida. Aqui enchente é só as do Cachoeirra. Sem povo. Entenderón? Dem Weisen genügt ein Wort.


Palavra do barón. Besser spät als nie.

Joinville mais uma vez sem Carnaval

Foto: Rogério da Silva

POR FELIPE CARDOSO

Mais uma vez Joinville ficará sem o Carnaval. Em uma nota lançada ontem pela Prefeitura da cidade, informou-se que o evento foi cancelado para seguir a recomendação feita pelo Ministério Público de Contas de Santa Catarina.

A exemplo do que fez com o dia da Consciência Negra, a atual gestão se blinda atrás de entidades e órgãos para manter a sua imagem preservada. Para quem não lembra, após aprovar o dia 20 de novembro como feriado municipal, o prefeito se viu obrigado a acatar a decisão judicial (pois entidades empresariais entraram com uma ação judicial contra o feriado) e cancelar o feriado sancionado. Parece que é uma prática comum dessa gestão não responder por conta própria a decisão de não realizar algumas festividades e eventos.

Veremos se o Ministério Público de Contas também se pronunciará a respeito das Festas das Flores. Não que queiramos que essa festa não aconteça, mas se tratando de crise, o pau que dá em Chico tem que ser dado em Francisco. Mesmo porque tal festividade ocorrerou tranquilamente em todos esses anos sem Carnaval, mesmo tendo um valor de investimento mais elevado se comparado com o evento do começo do ano. Haverá alguma outra explicação para tamanha coincidência? Ou talvez seja apenas o fato da diferença na pigmentação da pele das pessoas que fazem e frequentam cada evento? Não saberemos. Apenas podemos trabalhar com especulações e lamentar profundamente mais essa perda cultural.

A atual gestão e sua equipe sabem que tem respaldo para cancelar o Carnaval, pois o senso comum da cidade acredita ser um evento pecaminoso. E é com isso que o prefeito conta para realizar suas ações. O discurso de defesa é único: prioridades. Saúde e educação em primeiro lugar.

Como se, com um bom planejamento, não pudéssemos reunir tudo isso dentro da mesma festividade. Já imaginou quantas calorias se perde sambando? Já pesquisou como a autoestima interfere na saúde das pessoas? Pois bem, o Carnaval é capaz de produzir isso tudo e muito mais. Sem contar os resgates históricos que são feitos na produção do enredo de uma escola de samba, a moda presente nas fantasias que apresentam por meio de suas cores, formas e detalhes, o que a escola quer passar para os espectadores, a engenharia por trás da construção de um carro alegórico, dentre outras coisas.

Em 2013, por exemplo, a Escola Príncipes do Samba trouxe em seu enredo a história da Avenida Cubas. Uma das mais famosas avenidas da cidade. Em seu samba-enredo contou histórias e trouxe, para muitas pessoas, informações desconhecidas e também relembrou a importância de uma das ruas que contribuiu para o crescimento da cidade, econômica e culturalmente, falando da importância do Rio Bucarein na construção da cidade e as festas que aconteciam por lá. Lembrou de personagens que marcaram época em Joinville como os jogadores Pingo e Piava e o Mestre Bera (escute o samba-enredo: https://goo.gl/Vld8Yj).

Educação e saúde não se resumem apenas na construção de mais prédios. Educação também se faz fora das salas de aulas e podem ser muito bem introduzidas e misturadas com o universo rico do carnaval, bem como, pode abrir novas portas para que novos temas sejam abordados e estudados, para que a memória e a tradição da cidade sejam preservadas e propagadas. E a construção de mais hospitais é investimento em doenças, precisamos investir também na prevenção delas, seja através de esportes ou da dança, como o samba, que ajuda a queimar calorias, a manter o corpo saudável fisicamente e contribui para a alegria e autoestima de quem pratica, conservando a saúde da mente.

Enfim, com um bom planejamento e com boa vontade, há espaço para tudo ser feito. Mas parece que falta isso para alguns gestores que dizem querer trabalhar.

quarta-feira, 1 de fevereiro de 2017

Cães, gatos e lama


POR RAQUEL MIGLIORINI
O ano mal começou e já vemos promessas de campanhas sendo levadas pela enchente. O Executivo e o Legislativo se batem e se misturam na lama deixada pelas águas. Vereador dá entrevista afirmando que o papel do Legislativo é ajudar o Executivo. Vereador comunica que será feita limpeza de rios após sua solicitação ao subprefeito. Vereadora  coloca no Facebook que o Executivo atendeu prontamente à solicitação de um castramóvel.

Podemos destrinchar cada uma das falas e ações. No primeiro caso, eu podia jurar que o papel do Legislativo era fiscalizar o Executivo, criar leis e propostas . Se é para ajudar, deveria ser a cidade e os cidadãos, não é não? A entrevista deixa claro que oposição não é saudável para o bom andamento das atividades do Executivo. Inacreditável.

No segundo caso, temos um conflito entre a fala do vereador e a do Secretário da Seinfra que afirmou limpar os rios duas vezes por ano. Um outro olhar seria: só limpa rio quando vereador solicita? O subprefeito não faz vistoria? Vale lembrar que as chuvas mais fortes ocorreram na segunda quinzena de janeiro. E, nunca é demais dizer que esse tipo de limpeza, onde a vegetação é totalmente retirada das margens dos rios, só aumenta o risco de erosão e consequente assoreamento, levando a mais cheias na próxima chuva.

Antes do terceiro caso, um pouco de contextualização: em meados de 2013, o vereador Lioilson se solidarizou com a causa animal e procurou a Secretaria do Meio Ambiente para uma campanha maciça de castração em cães e gatos, através da aquisição de um castramóvel. Foram feitas reuniões com o Conselho Regional de Medicina Veterinária, em Florianópolis e com a coordenação do curso de Medicina Veterinária do IFSC, em Araquari. 

A resposta foi que estagiários poderiam fazer as cirurgias mas sempre acompanhados por um professor supervisor e que o uso de castramóveis eram regulamentados pelo CRMV desde que vinculados à uma Universidade. Em Novembro de 2016, o vereador publicou no seu Facebook que o prefeito havia se comprometido com a aquisição do veículo. Isso mesmo. Levou três anos só para se comprometer.

E podemos analisar o terceiro caso. Se temos três vereadores que lutam pela causa animal, por que só uma foi conversar com a Secretária da Saúde?A desunião e estrelismo só enfraquecem a causa. Se já existiam os veículos, por que o prefeito demorou 3 anos para se comprometer? Quando a vereadora diz que o serviço funcionará em breve, ela tem ciência que é necessário modificar o veículo, fazer as adaptações, equipar e tudo o mais? Para isso, precisa de termo de referência e licitação. E, como a população toda já pôde perceber, agilidade não é o forte da prefeitura. Quem trabalhará nesses veículos?

Diante de todas essas dúvidas, fica uma certeza: o Executivo tem a obrigação legal de controlar a população de cães e gatos e de zelar pelo bem estar desses animais. O Executivo tem a obrigação de fazer a manutenção da cidade. Não precisa de vereador pra ir atrás disso. Cabe aos vereadores fiscalizarem se a lei está sendo cumprida. Chega de populismo.

Enchente.


terça-feira, 31 de janeiro de 2017

Joinville sofre com inundações e precisa discutir politicamente o assunto

POR FELIPE SILVEIRA

Joinville sofre mais uma vez com as cheias e o momento pede solidariedade com as pessoas que perderam seus pertences nesta segunda-feira que passou. De acordo com matéria do jornal A Notícia, 120 pessoas ficaram desalojadas. Muitas pessoas precisam de roupas, móveis, materiais de construção e ajuda para a limpeza de suas casas. E Joinville, que deve cuidar para não fazer uso politiqueiro das tragédias, precisa de uma discussão mais séria sobre o assunto.

Embora sofra ano sim outro também com as enchentes e alagamentos, a cidade não se presta a discutir o problema em alguma conferência municipal. Também não monta uma equipe especializada a identificar as causas e criar políticas públicas para combater o problema. O curso de Geografia da universidade da região, matéria que estuda justamente esta relação entre a humanidade e o lugar em que ela se encontra, está fechado por falta de procura. O conhecimento – e há trabalhos na cidade – acerca do assunto é simplesmente ignorado em uma cidade historicamente só pensa no desenvolvimento econômico. Uma cidade na qual as empresas fazem lobby para descartar o estudo de impacto na vizinhança tende a sofrer justamente por isso.

Não dá para ignorar a relação das inundações com a questão da especulação imobiliária e do crescimento desordenado. A cidade está localizada entre a serra e o mar, com centenas de rios e córregos passando no meio dela e sujeita às marés. O índice pluviométrico é alto. O planejamento urbano precisa considerar tais fatores. Os rios precisam, portanto, de margens extensas o suficiente para dar conta do eventual excesso de chuva.

É com justiça que partidários e simpatizantes do ex-prefeito Carlito Merss (PT) reclamem do tratamento diferenciado dado a ele e ao atual prefeito Udo Döhler. A gestão petista fez um trabalho constante de limpeza dos rios, em especial na zona sul, controlando as cheias que eram mais constantes. Moradores próximos desses rios sabem que o trabalho foi interrompido.

Mas acho que a questão não pode ser reduzida a isso, embora considere o trabalho de extrema importância. Um amigo engenheiro ambiental me disse que as próprias tubulações, ao restringir a área de escape da água, são um problema. Como o (importante) trabalho de drenagem (no caso, a colocação de tubulação, que não drena) tem avançado, o problema acaba se agravando. A impermeabilização do solo (cimento e asfalto em casas, ruas e empresas) também se torna um problema a passos largos.

Cidades urbanizadas como São Paulo investiram na construção de alguns piscinões para evitar alagamentos. Joinville também está construindo um na região central. Porém, com um planejamento adequado, não seria preciso investir dinheiro em obras assim em outros bairros. Terrenos baixos que acumulam água da chuva existem naturalmente. É o crescimento desordenado, no entanto, que pode impedir a própria natureza de fazer a sua parte para amenizar a questão.

Não quero oferecer respostas neste texto, até porque isso exige um conhecimento técnico que não tenho. Quero apenas apontar que a cidade precisa pensar politicamente este problema, e não tratá-lo com a ideia de que aqui chove mesmo e ninguém tem culpa.

segunda-feira, 30 de janeiro de 2017

Lobo


COSIP [2]


POR JORDI CASTAN 

Finalizado o primeiro ato em cena da pantomima da COSIP, é hora de fazer uma análise dos seus atores, os resultados e os impactos. Quem ganhou e quem perdeu. E, principalmente, como se desenvolveu todo o show ante o olhar impávido da maioria da população, que foi ludibriada pela ação articulada pelo prefeito, tendo a Câmara de Vereadores como executora.

Udo Döhler – Foi o grande vencedor da ação. De uma tacada só acabou com a imagem da nova legislatura. Mostrou o seu controle sobre a maioria dos vereadores e deixou claro que pode fazer que votem e aprovem qualquer estupidez que proponha. Com o Legislativo desacreditado na primeira ação do ano, o seu modelo de gestão autoritário tem campo aberto para cometer novos exageros e desatinos. É o dono do pedaço e quase ninguém se atreve a questionar suas sandices. Um exemplo de sandice típico: “Quem consome mais energia terá alguma majoração, mas é muito pequena e bem distribuída. Isso vai permitir que a gente avance na iluminação elétrica”.

Câmara de Vereadores – Foi a grande derrotada do episódio. Mostrou a sua fragilidade, a sua pequenez. Fez tudo de forma servil, atrapalhada, apressada e pouco democrática. Agiu de costas para a população que, em teoria, deveria representar. Tampouco esta legislatura vai defender os interesses da população que a elegeu. E ficou patente que seus compromissos são com outros interesses, com mais peso que a defesa dos interesses da sociedade. Cada vereador garantiu seus interesses pessoais e votou a favor de um aumento escandaloso, baseado unicamente nas planilhas e dados - questionáveis, diga-se -, apresentados pelo Executivo. Não houve debate. Não houve análise dos dados apresentados. E não foram apresentados estudos técnicos que dessem sustentação ao discurso do Executivo. Qual é o saldo da conta da COSIP? Qual realmente será o impacto do aumento? Como fica a situação dos grandes contribuintes industriais? Comércios e shoppings vão pagar mais ou terão a sua conta reduzida? Quanto se arrecada hoje e como é gasto? Os dados pelo executivo são confusos e se contradizem, os valores divulgados no Portal da Transparencia são da ordem de R$ 2,4 milhôes mensais. O secretario Romualdo França informou ao jornal A Notícia de R$ 1,6 milhões ao mês. A diferença entre uma informação e a outra é de mais de 50%. Esta claro que informações verazes não são o forte desta gestão e uma Câmara que não questiona contribui muito pouco a trazer dados em que se possa acreditar. Qual é a economia real com a instalação de lâmpadas de LED? Se houve uma redução de quase R$ 1 milhão pela troca de lâmpadas mais econômicas por que é preciso aumentar? Com demasiada pressa por aprovar a Câmara se comportou como um cartório de homologação.

O tema da COSIP não era urgente, não precisava ser votado atabalhoadamente e só vai entrar em vigor em janeiro de 2018. O presidente do Poder Legislativo poderia e deveria ter chamado a população, permitir que fossem apresentados estudos e provas que corroborassem ou não os dados apresentados na justificativa do Executivo. Faltou experiência e assessoria. Não é mais o detentor de um cargo comissionado de livre indicação do prefeito. O presidente do Legislativo Municipal precisa ter mais estatura e não obedecer sem questionar qualquer ordem que venha do Executivo. Ainda tem tempo para aprender, mas a leitura de Montesquieu e a perfeita compreensão do modelo republicado - e do papel de cada um dos três poderes - seria a primeira tarefa a que deveria se dedicar com determinação. Ele é um político jovem e com futuro. E esses são os primeiros que os velhos políticos gostam de desacreditar.

Na condução os vereadores mais experientes aproveitaram do pouco conhecimento do regimento dos vereadores recém empossados e patrolaram o processo forçando a aprovação apressada sem permitir que a sociedade se articulasse, argumentasse e se fizesse ouvir. Impecável na forma como cumpriram o que tinham se proposto a fazer. Visto com o olhar do espectador, o Legislativo apequenou-se ainda mais.

Rodrigo Coelho – Foi o vereador que se posicionou de uma maneira mais clara contra a aprovação da COSIP. Mostrou que é possível ser da base do governo e ter opinião. Inaugurou um bloco interessante, ainda que minoritário: o dos vereadores com consciência.

Havia até vereadores que começaram a legislatura com bom pé, com ações coerentes em relação ao discurso de campanha. Mas no episódio da COSIP deixaram muito a desejar. Nem questionaram, não se posicionaram e acabaram aprovando. Seria bom que os vereadores com este perfil conversassem um pouco com Rodrigo Coelho. Se o bloco dos vereadores que votam com consciência aumentasse, Joinville ganharia muito - e há varios que tem perfil para integrar este grupo.

Vereadores que votaram a favor – Não apresentaram argumentos convincentes, como papagaios repetiam os argumentos do executivo. Os vereadores que votaram a favor do aumento da COSIP não acrescentaram nada novo e deixaram exposto o nível desta legislatura. Os únicos argumentos apresentados foram Ctrl-C/Ctrl-V do documento encaminhado pelo Executivo. A maioria dos que foram para as redes sociais tentar justificar a trapalhada acabou apagando seus posts, ficando com o rabo entre as pernas. Lamentável.

Imprensa – Acordou tarde. Ou dormiu no ponto e não soube avaliar o impacto real que o aumento de mais de 100% na maioria dos casos causaria na população. Nos dias seguintes correu atrás do prejuízo e tentou esclarecer. Mas o controle feroz que o maior anunciante exerce sobre os meios de comunicação faz com que qualquer voz diferente da bajulação e a concordância seja rapidamente cortada.

ACIJ – Os seus maiores contribuintes foram os mais beneficiados. Nenhuma grande empresa de Joinville vai pagar mais de R$ 110 por mês de COSIP, um excelente negócio, quando um prédio com 20 e poucos apartamentos vai pagar mais de R$ 600. Por isso, olhou para o outro lado e ficou em silêncio. O silêncio cúmplice de quem sabe. Aliás, se uma medida como esta tivesse sido tomada por qualquer outro prefeito, a ACIJ estaria na primeira linha questionando o aumento exagerado. Poupadas as maiores empresas, o peso do aumento recai sobre a classe média e as pequenas e médias empresas.

Ajorpeme – Se fez presente, se posicionou e continua liderando o processo de oposição ao absurdo. Já avisou que vai se posicionar contrária e entrar na justiça. Se no primeiro momento foi pega de surpresa e não teve tempo nem argumentos suficientes, sua posição foi crescendo e ganhando força. Seria importante articular com as outras entidades empresariais. Ou será que foram todas cooptadas pelo “Lado escuro da Força”? Onde ficaram CDL, Acomac?

Redes sociais – Mostraram de novo a sua capacidade de resposta. Foram publicados em poucas horas argumentos e estudos com excelente nível. A sociedade cada vez mais descobre nas redes sociais uma fonte de informações para aquilo que a imprensa oficial cala. Um espaço plural para o debate e o contraditório. Um espaço, aliás, que quanto mais tentam calar mais alto fala e mais se espalha. Este episódio da COSIP esta longe de acabar. Por enquanto só se concluiu o primeiro ato.

sexta-feira, 27 de janeiro de 2017

Uma nova catraca para a juventude


POR JESSICA MICHELS

Este é um convite para uma conversa as margens do lago do MAJ (Museu de Arte de Joinville). É meu primeiro texto no Chuva Ácida e, por esse motivo, acho necessário avisar que sou relativamente jovem, tenho 26 anos, e minha premissa de debate é exatamente sobre o acesso da população jovem à cidade.  

Há uma discussão acontecendo, mais um burburinho talvez, que prevê cercar o espaço do jardim do MAJ. Não sei detalhes sobre esse possível projeto, se ficaria aberto até meia-noite ou talvez se haveria mais policiamento nessas áreas. Reconheço que são informações necessárias para se discutir a justificativa real desta ação, mas enquanto elas não estão públicas, vamos antecipando a conversa. 

Para quem não conhece (sim, infelizmente tenho que trabalhar com essa ideia), o Museu de Arte fica na região central da cidade. No espaço (que é público, sempre bom reforçar), além do museu (uma estrutura belíssima que já foi residência de Ottokar Doefffel), temos um amplo jardim e um pequeno lago. E esse lugar tem sido frequentemente ocupado pela juventude nos fins de semana para realizações de piqueniques, luaus, saraus e tudo mais. Por ser um lugar com ‘gente jovem reunida’, sabemos que incomoda. 

Os eventos recentes que ocorreram no jardim do MAJ apontam mais de duas mil pessoas circulando naquele local numa noite. Um luau/sarau que tinha como simples objetivo distribuir amor e entrosamento com as pessoas, respeitando toda a diversidade. E trouxeram muitas considerações sobre o gerenciamento dos resíduos que foram acumulados, sobre a falta de banheiro, sobre o barulho e outras problemáticas que devemos discutir também em outro momento. 

Mas sobre simplesmente cercar este espaço público e limitar o acesso, eu fico realmente entristecida com a proposta. Penso que já há grades demais na cidade, há catracas demais. Além da falta de dinheiro para alguns programas privados, ainda temos uma tarifa abusiva de transporte público, que dificulta - e muito -, o acesso da juventude para todas as possibilidades de lazer, esporte e entretenimento. Seja para assistir a uma peça teatral gratuita na Ajote ou ir ao cinema no shopping, ou até mesmo o acesso para participar de um culto de uma igreja moderninha de Joinville. 

A juventude não tem espaços. A juventude não tem acessos. A juventude vem sofrendo um cerceamento constante. Não tem esporte, lazer, cultura acessíveis em todos os bairros. E depois, temos que suportar as duras críticas sobre a marginalidade e a vulnerabilidade dos nossos, sobre a criminalidade e o tráfico de drogas.  

E o questionamento: o que é um espaço público?
E dependendo desta resposta, me pergunto também: 
- Para onde vamos, então?


Piquenique organizado no jardim do MAJ pela autora em agosto de 2016. Foto: Débora Michels.

A zebra do Doria