terça-feira, 14 de junho de 2016

Escola sem partido, um crime de lesa-inteligência


POR JOSÉ ANTÓNIO BAÇO

É impressionante o tantão de gente que puxa o Brasil para o atraso. Parece que há um certo prazer em sabotar o país. E nem é preciso ir longe para constatar. A obtusidade fez ninho na Câmara de Vereadores de Joinville (ok... não é de agora), onde está em discussão a ideia de implantar a tal “escola sem partido”. Uau! Agora já se tenta impor a ignorância por decretos. Ou seja, usar a "legalidade" para cometer um crime de lesa-inteligência.

É difícil imaginar as razões que levam a ver mérito numa proposta tão retrógrada. Mas  a vereadora-pastora Léia encontra virtudes e, segundo o site da CVJ, até fez da “escola sem partido” uma bandeira do seu mandato. Aliás, antes de prosseguir permito-me um parêntese. As palavras “vereadora” e “pastora” numa mesma frase provocam comichões. Tudo remete para rebanhos e para a velha expressão “curral eleitoral”.

Parece ser uma questão de fé na iliteracia. A proposta parte de uma visão canhestra do ensino, em que o professor é visto como o inimigo capaz de fazer a cabeça dos estudantes. E o que propõe a tal “escola sem partido”? Ora, uma doutrinação reversa na qual a doutrina passa pela transformação dos estudantes em autômatos abúlicos. Ortogênese dos corpos dóceis, diria Foucault. Parem de brincar com coisas sérias, senhores vereadores.

A vereadora-pastora Léia propõe, em texto no site da CVJ, evitar que os estudantes sejam influenciados (ou doutrinados) em temas mais candentes. “Questões políticas, religiosas e ideológicas são muitos pessoais e familiares. Esse tipo de educação doutrinária pertence aos pais. As crianças e adolescentes têm o direito de ter suas ideias e suas ideologias e não ser influenciados nisso nas escolas”, afirmou.

Errado, pastora. Aliás, como diria Chaves, “dá zero para ela”. Chaves... o outro, porque não quero ser acusado de doutrinação bolivariana. Podemos até deixar a religião de barato, uma vez que a sua essência é ser doutrinária. Mas no plano familiar o prosélito defendido pela vereadora não se aplica aos temas da “política” e “ideologia”. Porque estes obrigam ao embate de ideias. É esse um dos muito papéis da escola.

A vereadora-pastora e seus sequazes demonstram um entendimento canhestro dos processos de subjetivação. Ou seja, esse pessoal acredita que o sujeito, no seu processo de construção, é um receptáculo vazio, pronto a ser preenchido com ideias que lhe são impostas de fora. Isso é besteira. A subjetividade resulta de um processo negocial. Para isso são necessários interlocutores capazes de produzir dissensos, antíteses, oposições.

Mais debate, melhores cidadãos. Mas é exatamente isso o que se propõe retirar com o decreto. Aliás, o nome “escola sem partido” é um slogan político inserido numa velha estratégia: apontar um mal inexistente e depois apresentar a "solução". É capaz de convencer os que pensam em slow motion, mas qualquer pessoa com dois dedinhos de testa sabe que slogans não fazem programas educacionais.

Nem vale a pena discutir a questão pedagógica (os especialistas têm feito um bom trabalho), porque o atraso é evidente. O ideário escondido por trás do slogan “escola sem partido” é obscurantista. Aceitá-lo é um erro grosseiro. E que põe o Brasil a andar na contramão da civilização. Por fim, há um fator incontornável: a educação é coisa séria demais para ser deixada nas mãos de vereadores cuja literacia é questionável.


É a dança da chuva.


Não queria...


segunda-feira, 13 de junho de 2016

O show da LOT está preparado. E é ilusionismo...

POR JORDI CASTAN


A imagem divulgada pela imprensa, na sexta-feira, de um grupo de vereadores visitando algumas das áreas rurais onde está previstas a incorporação ao perímetro urbano (fac símile no final do texto) é parte de um show. Está em curso um espetáculo, cuidadosamente preparado para criar a ilusão que tudo esta sendo feito como deve ser feito, de que não há nada de errado no processo de aprovação da LOT.

Trata-se de um elaborado jogo de cena com o objetivo, não declarado, de iludir o eleitor. O joinvilense que participou das audiências públicas promovidas pela Câmara de Vereadores e aquele que ainda deverá participar da que esta prevista para amanhã no própria Câmara de Vereadores, deve estar ciente que a sua participação é parte do seu dever como cidadão, uma vez que as cartas já foram jogadas.


A ordem é aprovar a LOT a tudo custo e rapidamente. Se os mapas da LOT fossem detalhados (não são) e estivessem completos (tampouco estão), os vereadores poderiam verificar a amplidão e o alcance da mancha de alagamento. A cartografia do município tem estas informações disponíveis. Se a LOT incluísse os estudos e dados necessários (que não inclui), os vereadores poderiam avaliar o impacto que terá para a cidade.

Por exemplo, a mudança do ângulo dos prédios, que era de 60 graus no projeto original elaborado pelo IPPUJ, agora aumentou para 76 graus sem que tenha sido apresentado qualquer estudo técnico que justifique este aumento e a correspondente redução da insolação. Maior ângulo, menor insolação. Menor insolação, maior insalubridade e menor qualidade de vida. 

Um estudo adequado mostraria o quanto a LOT avança sobre áreas de mangue e de preservação permanente. Áreas que estão protegidas por lei , mas que as plantas que formam parte do projeto da LOT desconsideram. Se a LOT incorporasse os estudos imprescindíveis para permitir a correta avaliação de cada uma das propostas apresentadas, seria possível avaliar o impacto que teria sobre a mobilidade quando implantadas as Faixas Viárias. E estamos falando de uma Joinville que deixou de mover-se para só rastejar. 

É bom que se diga que implantar Faixas Viárias em ruas que não tenham a largura mínima, que não sejam estruturantes e que não tenham a infraestrutura adequada é uma temeridade que só atende aos interesses especulativos e alimenta a cobiça dos que olham a cidade como um tabuleiro de “Banco Imobiliário”.

Mas como o projeto apresentado continua incompleto. Os vereadores seguem sem ter as informações e os dados que precisariam para poder analisar e votar com conhecimento e responsabilidade. É preciso muito mais que colorir o mapa da cidade, é preciso que a lei garanta a sua preservação, a qualidade de vida dos seus moradores e o seu desenvolvimento futuro.

Caso essa LOT seja aprovada com as emendas apresentadas até agora, o resultado será que as Faixas Viárias terão lotes com largura de 5 ou 6 metros. E isso fará aumentar o caos no trânsito. Há casos em que se permitirá a construção de prédios com até 90 metros, equivalentes a 33 pavimentos. A ventilação e a insolação estarão comprometidas irremediavelmente.

O pior é ainda ter que escutar, nas audiências públicas, as avalizadas vozes que defendem os interesses dos especuladores. E dizem que ninguém deve se preocupar com isso, porque em Joinville não é possível construir edifícios tão altos. Escutar calado tantas sandices e ver os vereadores concordando com tais estupidezes requer paciência e tolerância. Se fosse verdade que a nossa engenharia não detém a tecnologia para construir edifícios de 90 metros, para que apresentar emendas que permitam construir tais prédios? Nem precisa responder, a resposta é obvia. 


Aumentar o perímetro urbano resultará numa cidade mais espalhada e mais cara para todos. O transporte público terá que percorrer mais quilômetros e as tarifas aumentarão. Será preciso construir mais escolas. E também mais PAs. A rede de água e saneamento, que já é insuficiente, precisará ser aumentada. E precisaremos de mais infraestrutura urbana para atender às novas demandas.

Para Joinville e os joinvilenses ficará muito pior. Mas para quem comprou estas áreas rurais a preço de banana e graças a LOT pode vê-las convertidas em áreas urbanas, o beneficio será gigantesco. O resultado será a socialização dos prejuízos, que pagaremos entre todos e a privatização dos lucros entre a minoria de sempre.


Vereadores não têm informações necessárias para saber os efeitos da aprovação.



domingo, 12 de junho de 2016

Políticos e politiquices #5 (com adendo)


POR JOSÉ ANTÓNIO BAÇO

O post "Políticos e Politiquices #5", publicado na semana passada, tinha o conteúdo exposto na fotografia e texto abaixo. Mas a publicação levantou um questionamento do autor da foto, Jaksson Zanco, segundo consta funcionário da PMJ, nos termos a seguir:

"Fui eu quem fez essa fotografia, e realmente foi inesperado, não sei o que vc quer com este texto, mas acho que respeito pelos profissionais é o mínimo. Acredito que vc não estava neste jogo, não estava próximo ao local em que foi feita a foto então querer insinuar qualquer coisa que seja a respeito é muito estranho. Costumo me pronunciar quando por qualquer motivo alguém coloca em dúvida algo que eu tenha feito. Então espero que esta postagem colabore com este teu texto sem fundamento".  Jaksson Zanco

Tendo em vista a manifestação do fotógrafo, ficam dois comentários:
1. Não parece ter havido qualquer falta de respeito pelo profissional. Afinal, o tema é "as coisas que os políticos fazem". O foco está todo sobre os políticos e não sobre quem faz as fotos. Mas se foi entendido como falta de respeito, fica o pedido de desculpas.

2. Admitir também a falha na interpretação. Num segundo olhar sobre a foto fica inequívoco que nada foi preparado e que é tudo mesmo muito inesperado. O leitor e a leitora certamente vão concordar.


POR ET BARTHES

Você, que já assistiu um jogo de futebol no estádio, pode responder a esta pergunta. Quem comemora um gol de costas para o gramado, onde o time comemora? Sim... um candidato em campanha, com um assessor e uma câmara fotográfica que "casualmente" estava ali. Milhares de pessoas olhando para o campo e o candidato é o único que olha para outro lado.  Tudo muito "inesperado"...



sábado, 11 de junho de 2016

Uma mentira contada 15 milhões de vezes

POR WAGNER DIAS*

“Uma mentira repetida mil vezes torna-se verdade”. Esta é uma frase muito utilizada na política, que é creditada ao ex-ministro de Comunicação da Alemanha e doutor pela Universidade de Heidelberg, Paul Joseph Goebbels. Nos dias atuais, do jeito que a carruagem anda, muitas pessoas iriam parar de utilizá-la ao saber que o doutor Joseph Goebbels foi ministro de Hitler. Mas como o foco desse texto não é exatamente o  Partido Nacional Socialista dos Trabalhadores Alemães ou quaisquer de suas ações, vamos pular essa parte.

Escrevi algumas linhas com o intuito de desmistificar o mantra que vem ecoando na cidade, de forma equivocada, sobre os possíveis R$ 15 milhões que serão gastos com publicidade pela Prefeitura neste ano. Segundo informação levantada e devidamente confirmada por mim no Portal da Transparência (que recebeu nota 9,8 do Ministério Público), o orçamento previsto para a área de comunicação da Prefeitura em 2016 é de R$ 19,5 milhões, sendo que pouco mais de R$ 3,5 milhões são para Pessoal e Encargos Sociais. O que resta dessa conta são os R$ 15,9 milhões que, principalmente a oposição ao prefeito Udo Döhler usa como crítica ao seu governo.

No entanto, a maioria deve lembrar que na Eleição de 2012, Carlito Merss foi punido por empenhar no último ano do seu mandato como prefeito, um valor superior a média dos três primeiros. Usei o mesmo Portal da Transparência para ver esse números e confirmei essa informação.

A limitação do gasto em publicidade, prevista no artigo 73 da lei eleitoral (9.504/1997), busca impedir o uso de dinheiro público em benefício do gestor que ocupa o cargo e tenta a reeleição, em prejuízos dos demais concorrentes no pleito. O mesmo artigo proíbe a publicidade institucional nos três meses que antecedem o dia da eleição até a posse dos eleitos. Dessa forma, se Udo Döhler não quiser sofrer a mesma punição que o seu antecessor, não vai gastar todo o orçamento previsto.

Também usando o Portal da Transparência, cheguei aos seguintes números:

2013 = R$ 4,1 milhões
2014 = R$ 9,9 milhões
2015 = R$ 8,9 milhões

Se seguirmos a lógica, mesmo que quiser, Udo Döhler não poderá gastar mais do que uns R$ 7,7 milhões em publicidade esse ano.

Devemos levar em consideração outros fatores também. O primeiro deles é que os investimentos em publicidade em anos eleitorais precisam seguir algumas regras, o que acabará impedindo os anúncios por um certo período. E o segundo fator é que nesses primeiros cinco meses o valor investido foi de R$ 1,9 milhões, tendo que ser muito “mão aberta” para gastar mais de 70% desse orçamento em poucos meses.

Assim sendo, mesmo sendo o atual prefeito “o alemão” da história, parece que é a oposição que está utilizando a cartilha de Hitler para tentar ganhar a eleição.

*Wagner Dias é assessor de imprensa