domingo, 30 de outubro de 2011

Uma reflexão sobre PICHAÇÃO


POR FELIPE SILVEIRA

Aguardado com expectativa pela população joinvilense, o Parque da Cidade, semana passada, foi notícia nos jornais por ter a pista de skate pichada. Os comentários nas redes sociais, especialmente no twitter, e o título da matéria no jornal A Notícia (“Parque da Cidade sofre vandalismo antes mesmo de inauguração em Joinville”) me chamaram a atenção.

Fiquei um pouco incomodado com a ideia sobre pichação e comecei a questionar se o ato era mesmo um ato de vandalismo. Sem querer discutir o conceito jurídico, quero lançar novos olhares sobre o fenômeno social que é a pichação. Adianto que não sei quase nada sobre o assunto, mas que me senti incomodado com o olhar tão superficial sobre a questão e desejo fazer, junto com vocês, uma reflexão sobre o assunto.

Outra ressalva importante, antes de continuar: eu sei que grafite e pichação são coisas diferentes e que um já é (nem sempre foi) tratado como arte e o outro é considerado vandalismo. Apesar de eu achar que isso simplifica demais a questão e ter minhas desconfianças, gostaria de pedir que não reduzissem o debate a isso.

A pichação, no meu entendimento, é uma resposta dada por excluídos a uma realidade de desigualdades sociais. Pelo que sei, a pichação consiste na assinatura do pichador ou do grupo ao qual pertence. Ou seja, é uma disputa social. Isso ficou mais claro quando vi um trecho do documentário “Luz, câmera, pichação”, de Gustavo Coelho, Marcelo Guerra e Bruno Caetano. Veja o trailer:


Ao ver o vídeo, a gente começa a entender o que significa, para essas pessoas, a cultura da pichação. Ou melhor, começa a entender que é uma cultura (no sentido mais amplo da palavra, que é um conceito que muita gente tem dificuldade pra entender).

Mas clareza mesmo sobre a razão que motiva os pichadores, algo que eu já tinha a impressão, eu tive ao ler uma resenha sobre o documentário com o seguinte trecho: “quando se está confinado à margem, dentro de qualquer coisa que chamamos de classes menos favorecidas, pobres, miseráveis ou favelados, ser um autor pode ser tudo o que se tem. As assinaturas das pichações, que nos últimos 20 anos foram se tornando cada vez mais estilizadas e aprimoradas a ponto de se tornarem ilegíveis ou incompreensíveis para quem não é do meio, ou melhor, da família, são uma forma de registro histórico, de identidade, e auto-estima.”

Para mim, antes de chamar de vândalo, vagabundo, é importante entender o que motiva a pichação. Para algumas pessoas, isso nem faz diferença. Uma conhecida minha, integrante do Coletivo Chá, explicou mais ou menos assim: se alguma coisa está na rua, ela vai sofrer intervenção da rua. Meu amigo Ivan Rocha, ligado ao movimento hip hop, também disse algo parecido no twitter: “Os caras fazem uma pista de skate e não querem que tenha arte urbana? muro unicolor não combina com esportes radicais”. Ou outro, ele diz: “De modo geral eu não curto pichação pq é só divulgação do próprio nome mas numa pista de skate não da pra reclamar”.

Na minha opinião, a pichação torna a cidade mais feia. Eu não gosto, mas me incomodo com o olhar conservador que é o mais comum. Eu percebo que ela é muito mais comum onde a desigualdade é maior, onde a falta de oportunidade é maior, onde falta educação, cultura, esporte e lazer. Esse é um exercício legal para as pessoas que viajam bastante: fazer essa relação entre desigualdade social e quantidade de pichação.

Uma última ressalva: sei que tem muito playboy que gosta de pichar. Para mim, isso não faz diferença. Assim como o hip hop, muitas culturas que nascem nas periferias são incorporadas pela classe média. Às vezes, elas são “estupradas”, outras não. De qualquer forma, esse é o movimento da cultura.

Para finalizar, um momento jabá, mas que também serve ao debate. No primeiro semestre, eu e o amigo Bruno Isidoro, com orientação do professor Léo Diniz, fizemos o documentário “Coletivo Chá: um olhar sobre a arte urbana em Joinville”. Não tem a ver exatamente com pichação, mas já que estamos falando de arte urbana, aí vai mais um olhar.

A saúde de Lula é alvo de oportunismos


MARIA ELISA MÁXIMO

Tem coisas que precisam ser comentadas no ato, como esta campanha absurda que estão levantando em torno da saúde do ex-presidente Lula. Por isso, vou tentar juntar aqui um pouco do tenho tenho lido e escrito nas redes digitais, em especial no Facebook, como uma tentativa de fomentar e aprofundar o debate.

Ontem, logo após ter me supreendido com a notícia do câncer de Lula, não poderia imaginar que a surpresa maior ainda estava por vir. Horas depois, vários amigos, familiares e conhecidos multiplicavam uma campanha estampada com a imagem do ex-presidente: Lula, faça o tratamento pelo SUS! Eram muitas postagens, inúmeras, e aumentavam a cada atualização de página. A pergunta que não calava era: mas porque diabos o Lula deveria fazer seu tratamento pelo SUS? Pra "sentir na pele" a precariedade do atendimento? Mas, afinal, se há problemas no SUS, estes são de responsabilidade do Lula? Seja o que for, a campanha é uma ironia? Inacreditável, simplesmente. Mas, pra além do teor lamentável da tal campanha, mais indignante ainda era a superficialidade das pessoas que a compartilhavam: apenas repassavam, sem nenhum traço de reflexão, sem a mínima discussão, sem argumento. Meus questionamentos não cessavam: quantos desses que dissipam este tipo de campanha são realmente usuários do SUS? Pela minha intuição, imagino serem poucos. Mas então, com que fundamento criticam? Quanto mais eu me questionava, mais eu concluia que tratava-se de uma crítica gratuita, rasa, parasita, que, de tão perversa, aproveitava-se de um momento difícil na vida do ex-presidente para vociferar insultos contra ele e seu governo (consideremos, ainda, que criticar o Lula, nas mentes rasas, é o mesmo que criticar o governo Dilma).

Expressei minha reação e, ufa!, foram muitos os comentários de apoio. Junto comigo, começaram a surgir, pouco a pouco, outras postagens críticas à campanha, o que transformou minha timeline num verdadeiro front de batalha. Sim, opiniões fundamentadas em argumentos demoram mais a aparecerem, porque exigem tempo de maturação e prudência para serem formuladas. Já a crítica pela crítica pode se alastrar instantaneamente, não precisa de tempo. De qualquer modo, poucos se abriram ao debate. De todos os meus conhecidos que compartilharam a campanha, apenas um deles, me chamou para o debate e expôs seus argumentos. Os demais, mantiveram-se reclusos aos seus ressentimentos, vendidos ao discurso da mídia oficial que não conta tempo para exibir reportagens sensacionalistas, que exploram as pessoas nas filas, nas emergências, aguardando leitos ou atendimento. O que é bom, nunca é mostrado.

Ninguém ousa lembrar ou parar pra pensar que, hoje, o SUS realiza tratamento para portadores do HIV (e que grande parte dos pacientes soro positivo levam uma vida normal graças à distribuição gratuita do coquetel), realiza cirurgia bariátrica (redução de estômago) em casos comprovados de obesidade mórbida, fora os tratamentos contra vários tipos de câncer, dentre tantos outros. Se o Lula tivesse que ser atendido pelo SUS, certamente não seria mal atendido. O fato é que ele não precisa e, aliás, é bem provável que grande hospitais particulares disputem por realizar gratutiamente o tratamento de um ex-presidente com a popularidade de Lula, pois é publicidade para eles.

Em meio a este debate, eis que hoje de manhã nos deparamos, na MegaPix, com a exibição do documentário Sicko, do genial Michael Moore. Ele adentra as profundezas do sistema de saúde estadunidense e mostra a podridão que permeia as políticas de saúde do país geralmente apontado como referência de modernidade e avanços. Corrupção, descaso, maus tratos... No contraponto, busca entender de dentro a realidade de sistemas universais como o do Canadá, da Grã Bretanha, da França, de Cuba, onde todos (inclusive estrangeiros, imigrantes) têm acesso gratuito a todo, todo tipo de tratamento: das pequenas suturas às grandes e complexas cirurgias. Fazendo as devidas ressalvas relativas às especificidades da realidade brasileira, marcada por profundas diferenças sociais e por uma extensão territorial e densidade populacional incomparáveis às dos outros países, estamos, com o SUS, muito "bem na foto".

Talvez, o que mais esteja faltando para melhorar é, mais do que qualquer coisa, a crença da população brasileira no SUS. O SUS, garantido pela Constituição de 1988, é uma conquista dos movimentos populares e sociais no Brasil pautada pelos princípios da universalidade, equidade e defesa de um Estado laico e verdadeiramente democrático. Antes de criticar o SUS, sem nem ao menos ser seu cliente, precisamos defender o SUS e, aí sim, reivindicar as melhorias necessárias participando mais efetivamente dos centros decisórios. Ficar em casa, apenas clicando no "curtir" ou "compartilhar" destas campanhas toscas não ajuda em nada a melhorarmos esse sistema. Espero que, um dia, as pessoas saibam aproveitar melhor o potencial multiplicador e a esfera de ação das redes sociais para dissipar o bom debate, crítico sempre, mas pautado por argumentos e pela troca inteligente de idéias.

sábado, 29 de outubro de 2011

A droga da criminalização

MARIA ELISA MÁXIMO

Em 2008, orientei um TCC em Jornalismo sobre os Mutantes. Sim, aquele grupo musical dos anos 60/70, que teve Rita Lee como uma das suas integrantes e que misturava ao rock e ao som estridente das guitarras uma série de outras referencias musicais, sob forte influência do Tropicalismo. Como todos sabem, os Mutantes faziam um som psicodélico, "inspirados", talvez, pelo consumo significativo de LSD.

A orientação deste trabalho perfaz uma das lembranças mais marcantes da minha carreira docente, pois lembro do quanto "briguei" com a visão conservadora do aluno a respeito das drogas e do seu uso. Para analisar o consumo de LSD pelos Mutantes, o aluno recorria a discursos oficiais da polícia, por exemplo, para chegar à conclusão de que teriam sido as drogas as responsáveis pelo fim do grupo. Do outro lado, eu insistia na possibilidade de pensarmos o uso de drogas, em especial do LSD, como o motor criativo do grupo e, mais do que isso, como uma forma de resistência. Afinal, estávamos falando de um dos períodos políticos mais complexos que o país vivia. Os Mutantes integravam, nesse sentido, a contracultura brasileira, e o uso de drogas, pra mim, não deixava de ser um caminho de se colocar na contra-mão do sistema conservador que minava, principalmente, a liberdade de expressão e de ação das pessoas.

A despeito de minha insistência em promover uma visão mais crítica do aluno, ele manteve seu ponto de vista. O trabalho foi entregue e encaminhado à banca e, como eu já esperava, foi fortemente contestado. Entre outros aspectos frágeis do texto e da análise, um dos pontos bastante criticado foi a maneira como o aluno pensava o papel das drogas na produção artística do grupo. Mas, mesmo diante das críticas, o aluno não apenas se manteve em sua posição, como a reforçou. Foi reprovado em banca, pelo conjunto de problemas que o trabalho apresentava.

Trago este fato à tona porque creio que ele seja ilustrativo do senso-comum que existe sobre o uso de drogas atualmente, inclusive nas gerações mais jovens, universitárias, que são frequentemente expostas a pontos de vista mais diversificados e alternativos a respeito de assuntos polêmicos. Em geral, as pessoas fincam raízes no caminho mais fácil: droga é uma droga, e ponto. Esta semana recebi a visita de um rapaz que pedia ajuda a uma casa de recuperação de dependentes químicos aqui de Joinville. Ele pedia R$10 por um kit com saco de lixo, esponja, grampos de roupa e um adesivo da entidade. No adesivo, o slogan: Diga não às drogas! Crime nem pensar. Verdadeiramente não compensa! Mais uma vez me surpreendeu o fato de que até mesmo aqueles que são vítimas do sistema punitivo, usam o discurso desse sistema para passar sua mensagem: usando drogas, você será um criminoso e isso "verdadeiramente não compensa". Estranho, não?

Vale pensarmos um pouco sobre a serventia desse sistema punitivo, que tudo criminaliza (o que retoma, em parte, nosso debate sobre o aborto, iniciado aqui no Chuva Ácida). Um texto interessante do Ilanud (Instituto latino americano das nações unidas para a prevenção do delito e tratamento do delinquente), publicado no Promenino, levanta algumas questões sobre o impacto da criminalização das drogas sobre os índices de delinquência juvenil. E, dentre outras coisas, o texto procura mostrar como os mecanismos de controle e de repressão são seletivos, servindo à manutenção das desigualdades sociais: enquanto jovens das classes sociais mais favorecidas, flagrados como consumidores de drogas, dificilmente chegam às portas da justiça, jovens pobres são facilmente criminalizados pela via do tráfico de entorpecentes, como traficantes ou auxiliares do tráfico, e raramente como apenas consumidores. Esta diferença no tratamento de jovens "ricos" e "pobres" ou, mais especificamente, entre brancos e negros, no âmbito do consumo de drogas, é exaustivamente discutida por Vera Malaguti Batista, no livro Difíceis ganhos fáceis: drogas e juventude pobre no RJ (Editora Revan, 2003). A obra é recomendadíssima para quem deseja aprofundar-se na reflexão crítica sobre o tema.

À criminalização somam-se outras medidas radicais, que implicam em reclusão, como a internação compulsória, em prática no Rio de Janeiro desde maio deste ano como parte das políticas de "combate ao crack". Sobre esse assunto, a revista Caros Amigos deste mês trouxe uma entrevista com o psiquiátra Dartiu Xavier, professor da Escola Paulista de Medicina da Unifesp e diretor do Programa de Orientação e Assistência a Dependentes (Proad). Nesta entrevista, Xavier nos presenteia com um contraponto não apenas à criminalização, mas também ao próprio uso, sugerindo outras maneiras de ser ver a droga e seu uso, sobretudo ao falar da perspectiva da "redução de danos". Criticando severamente a prática da internação compulsória, Xavier alerta para a perversidade deste tipo de política, que recorre ao modelo carcerário, dos grandes hospícios, e acaba sendo ineficaz em termos terapêuticos. No final das contas, acaba servindo a propósitos higienistas, de "limpeza" urbana. Segundo ele,
existe uma lógica muito perversa da internação compulsória que atribui a situação de miséria e de rua à droga, quando, na realidade, a droga não é causa daquilo, ela é consequência. Acredito que o trabalho feito nas ruas, nas cracolândias e com crianças de rua deveria ser no sentido de resgate de cidadania, moradia, educação, saúde (XAVIER, 2011, p. 16).

Xavier relativiza a relação entre o consumo de drogas e a dependência química, afirmando que, para o alcool e a maconha, por exemplo, menos de 10% dos usuários se tornam dependentes, enquanto que para o crack a porcentagem de dependência é de 20% a 25% dentre os consumidores. Os demais permanecem no padrão do consumo "recracional"; são pessoas que trabalham, são produtivas, têm família. E, nesse sentido, ele tenta desconstruir a associação entre uso de drogas e perda da noção de realidade (associação esta que, muitas vezes, justifica a internação forçada). Enfim, não se trata de querer minimizar o problema das drogas, mas de vê-lo sob outros ângulos que não o do senso-comum, do caminho mais fácil e, principalmente, da criminalização e da repressão. Até mesmo porque não se pode excluir os próprios consumidores como informantes privilegiados na elaboração de políticas públicas relativas à prevenção, ao tratamento, desintoxicação, ressocialização, etc. Eu não tenho dúvidas de que a criminalização não é o caminho e acho importantes os movimentos que emergem, atualmente, contra isso. É claro que a descriminalização do uso deverá, num futuro ideal, vir acompanhada de políticas sócioeducativas e de formas de controle da comercialização, mas este é ponto pra outro debate.

O Twitter está bombando

sexta-feira, 28 de outubro de 2011

Polícia norte-americana endurece com manifestantes

POR ET BARTHES


Está muito mal a civilização quando o país que representa a maior democracia do planeta começa a tratar manifestantes com bombas de efeito moral. A ação da polícia de Oakland, na California, nos Estados Unidos, foi marcada por excessos inadmissíveis. Um manifestante ficou ferido e os outros, na tentativa de prestar socorro, foram também alvo de granadas dissuasoras. Para o mundo, ficaram imagens que até hoje só eram vistas em países de terceiro mundo. Há algo de muito podre no reino do neoliberalismo.

Se enrolar numa cobra?

POR ET BARTHES

As imagens são antigas, mas mesmo assim não perdem o interesse. Se você tivesse que deixar o seu filho brincar com um animal doméstico, escolheria uma cobra python gigante com cinco metros de comprimento? E ainda deixaria a criança rolar com ela pelo chão? Pois esta família no Camboja acha natural ter o bicho em casa e brincando com o filho. E acha que dá sorte.

quinta-feira, 27 de outubro de 2011

A Prefeitura e a liberdade de expressão


Por JORDI CASTAN

Não é novidade. Alguns dos inquilinos atuais da Prefeitura Municipal não conseguem lidar bem com as críticas. Na verdade, algumas pessoas menos que as outras. É uma dificuldade manifesta em alguns setores e que se agrava pela total falta de maturidade e da prática de algo tão importante na sociedade democrática: o respeito pela liberdade de expressão.
É preciso maturidade para aceitar as opiniões contrárias, da mesma forma que se recebem os elogios dos áulicos. A dificuldade é tão manifesta que, não conseguindo refutar o argumento da crítica – nem sequer contra-argumentar ou mostrar o contraditório –, a prática mais comum é tentar desacreditar o crítico, o argumentum ad hominem. Tem até quem parta diretamente para o xingamento.

Ocupar cargos públicos exige outros predicados. Deveria prevalecer a competência antes da fidelidade partidária e, principalmente, o respeito aos direitos do cidadão que paga impostos. E, entre eles, o direito à liberdade da expressão. No atual governo municipal, o que separa “os homens dos meninos”, sem nenhum sexismo explícito na frase, é a capacidade para lidar com as críticas. Ter ataques chiliquentos pelos corredores do paço municipal é impróprio de quem tem por obrigação respeitar e servir o cidadão.
Toda administração pública tem que saber lidar com a crítica. E há de se reconhecer que nunca ficou tão fácil a crítica, tamanha a quantidade de trapalhadas, atitudes insensatas e desatinos produzidos.

Os críticos estão divididos em grupos: as viúvas das administrações anteriores, que choram a perda do poder e das suas benesses e que só esperam a oportunidade de voltar a ele. Do outro lado estão os que entendem que a cidade está regredindo, que há uma perda de qualidade tanto no dia a dia das pessoas como na forma como a coisa pública é tratada. Essas pessoas acreditam que as coisas podem e devem ser melhores do que são e as suas criticas vem acompanhadas de propostas e alternativas para melhorar.

Na democracia deve existir espaço para estimular o contraditório, o debate, a troca de idéias. Tanto uns como outros tem o direito e a obrigação de expressar as suas idéias e convicções, pois a decisão final caberá ao eleitor. As iniciativas do poder público de desacreditar os críticos acabam desacreditando também os elogios dos áulicos. Porque nem uns nem os outros não sobrevivem sem a liberdade de expressão.

quarta-feira, 26 de outubro de 2011

Anonymous responde à Veja

POR ET BARTHES

E já que o tema liberdade de pensamento e de expressão está na ordem do dia, hoje o Chuva Ácida traz o manifesto do Anonymous (movimento em crescimento em todo o mundo), que pretende desmascarar a revista Veja. A publicação é acusada de tentar desacreditar os movimentos sociais em nome dos interesses da direita. “Já é de conhecimento público, até mesmo entre a sociedade menos informada, que a revista Veja é um instrumento de manipulação ideológica e política”, diz o vídeo.

Não é Carlito. É uma questão pessoal

POR JOSÉ ANTÓNIO BAÇO
Um dia destes, ainda no calor da Operação Simbiose, que envolveu vários integrantes da administração pública, vi um twitt interessante do deputado Darci de Matos. Ele punha as coisas nos seguintes termos:
- Se a Polícia Federal investigar vai encontrar mais casos de corrupção na gestão Carlito.
Ah... volto a lembrar. A Operação Simbiose era, naquela altura, o prato forte da agenda midiática da cidade. E escrevi um texto a respeito, aqui mesmo no Chuva Ácida. Não sei se andei distraído, mas não vi qualquer reação da Prefeitura de Joinville às declarações do deputado.
Mas um dia destes, bastou um colunista do Chuva Ácida fazer um comentário mais corrosivo e pronto: lá vem uma ameaça de processo judicial. Hummm... deixem-me ver se eu entendi. Não seria um caso de dois pesos e duas medidas? Vale para um, não vale para outro? Não sei, mas tenho dúvidas de que isso esteja de acordo com procedimentos institucionais.
Mas a conclusão, à luz de um certo histórico, fica fácil. É um caso pessoal. Não vai além disso. É que os autores da ameaça de processo tem sido um alvo das críticas do colunista do Chuva Ácida. Aliás, não só no blog mas em outros veículos de comunicação. Portanto, a ameaça é um ataque ao analista crítico, no particular, e à liberdade de expressão, no geral.
E mais. Quem estiver atento às redes sociais sabe que um alto responsável do governo Carlito Merss (que esteve ligado ao IPPUJ até muito recentemente) produz uma espécie de cruzada contra a pessoa a quem chama “colunista girafa” (vejam a imagem dos twitts abaixo). E, por extensão, acaba por atingir os outros autores do blog.
Viram a imagem dos twitts? A obsessão desse senhor beira o que podemos chamar assédio moral. O colunista em questão tem ignorado as investidas, sou testemunha disso. Mas eu não preciso de paninhos quentes. Não aceito que um tipo qualquer – que não me conhece de lugar algum e não sabe da minha história – vá para uma rede social dizer que sou “anencéfalo” (vejam o primeiro twitt).
Portanto, já que estão a judicializar a liberdade de expressão, vou dar o meu veredito: é uma questão pessoal e uma conspiração de medíocres. Aliás, como já disse alguém (acho que Marx), a burocracia é um gigante operado por pigmeus. Ok... alguém pode argumentar: ele não está mais no IPPUJ. E eu contra-argumento: mas dá para acreditar que não ele exerce influência? É só reler os twitts.
E vou mais longe: não tenho dúvidas em afirmar que isso está a ser feito à revelia do prefeito. Eu conheço Carlito Merss desde os anos 80, quando o PT lutava para se formar e firmar. Sei que ele foi sempre um defensor acérrimo da liberdade de expressão. E só quem estava na política ativa nessa época sabe o valor que isso tem. Para um democrata a sério, a liberdade de expressão é inegociável.
Ao longo do tempo, Carlito construiu um forte capital político, a pulso e por mérito próprio. Isso ninguém lhe pode negar. Mas agora ele corre o risco de ter essa imagem manchada por funcionários públicos que, cegos por vendetas pessoais, preferem apagar fogo com gasolina.
Fatos: os amanuenses nada têm a perder. Mas Carlito tem. Mais do que a imagem, é a sua história que fica marcada.




Acabou o Stammtisch, é hora da AnonimosFest...


POR JOSÉ ANTÓNIO BAÇO

O tema stammtisch não é a minha praia. Aliás, até tropeço na grafia da palavra. E, se vale o depoimento, a expressão "stammtisch" sequer existia no vocabulário da cidade há 17 anos, quando deixei Joinville. Nunca ouvi falar.

O meu primeiro contato aconteceu há poucos anos, quando fui convidado para um encontro. Achei legal. Mas eu sou fácil de agradar: se tem bebida e comida, eu gosto logo. Só houve um senão. Foi meio difícil engolir o fato de os caras se afirmarem alemães, mesmo sem nunca terem posto os pés na Alemanha. Ok... a cerveja gelada ajuda a engolir essas coisas.

Não sou um especialista em stammtisch, mas a comunicação é o meu habitat. E me dou a liberdade de analisar a repercussão do texto escrito pelo Felipe Silveira. Eu disse "a repercussão", não o texto em si. Mais para falar nos excessos de alguns "anônimos", que emparedaram a discussão com posições claramente terceiro-mundistas. Nunca se sabe o que esperar de pessoas que se escondem por trás do anonimato.

Para começar, deixo aqui um estatement. O texto do Felipe tem um bom insight. É uma abordagem criativa, que foge ao blablablá comum. E, independente do teor, só isso já indicia um bom profissional de jornalismo. Hoje em dia, em qualquer profissão, a criatividade é o grande diferencial.

E por falar nisso, eis a minha primeira referência aos anônimos. Houve um deles que, em tom de ironia, chamou o Felipe de menino estudante. Mas isso diminui alguém? Não. Aliás, a importância que se dá ao diploma é uma das maiores tolices da pequena burguesia do patropi.

É claro que o diploma é importante (estudar é bem mais, claro). Mas o diploma não é uma divindade a ser venerada. Nem pode ser usado como uma afirmação de classe. Não sei se ajuda a entender, mas eu dei aulas numa das maiores universidades da Europa e nunca tive que mostrar um único canudo. Simples. Os caras conheciam o meu trabalho. E o portfólio fala por si.

Outra coisa que arrepia os neurônios é quando aparece alguém a tentar desqualificar o autor do texto com o argumento de que ele é comunista ou socialista. Meus amigos e amigas, vamos deixar isso bem claro. Ser socialista ou comunista só é defeito para quem não evoluiu do estado mental dos anos de chumbo. Ei... e isso foi no século passado e tinha o nome de ditadura. No mundo civilizado e democrático, ser socialista ou comunista significa apenas uma coisa: ter uma posição política que deve ser respeitada. Simples. Não vale como argumento.

Aborrecida também é a paulocoelhização da opinião do anônimo. Tem gente que toma o autor do texto por um pobre coitado e, numa dica de auto-ajuda, afirma que se ele deixar de ser invejoso, a vida começa a correr bem. Inveja? Mas que raios leva a pessoa a imaginar que ser bem sucedido é ter um carrão e roupas de marca? Ou que isso provoca inveja em todo mundo? Ah... Baudrillard explica.

Enfim, há muitos anônimos. E entre eles muitos intolerantes. Tantos que dava para fechar a Visconde e fazer uma AnonimosFest. O problema é que tinha que ser um baile de máscaras, porque essa gente não gosta de mostrar a cara.
Para terminar, ficam dois registros.

1. Há muitos comentários que estão de acordo com a proposta do Chuva Ácida. Sérios, ponderados, propositivos e sem ofensas pessoais. Esses são sempre bem-vindos.

2. Ah... e eu uso Nike. Mas não uso Tommy, porque na Europa é roupa de gente brega. Sinto muito se é uma má notícia.