terça-feira, 14 de fevereiro de 2017

Joinville: cultura não interessa, turismo não existe

POR JOSÉ ANTÓNIO BAÇO
Dei uma lida no artigo de Udo Dohler, publicado no AN, no último fim de semana. Texto enfadonho, não prende a atenção do leitor. Aliás, se fosse substituído por uma infografia era capaz de fazer a mensagem – ou a falta dela – chegar mais fácil ao cidadão. O que fica desse emaranhado de “reformas” apresentado no artigo é um enorme nada. Aliás, atrevo-me a dizer que o texto reflete a atual administração: burocrático, de eficiência questionável e sem a mínima imaginação.

Há muito para analisar. Mas vamos ficar por uma “reforma” que salta aos olhos: turismo e cultura sob o mesmo guarda-chuva. Diz o prefeito que “vão trabalhar juntos em projetos voltados à educação cultural, promoção de talentos e estímulo aos potenciais turísticos da cidade”. Para começar, parece haver pouco domínio do léxico: o que será a tal “educação cultural”? Ora, é uma expressão vazia de conteúdo. Significa... nada. Maldita semântica!

Ah... e antes que algum assessor se (re)lembre de usar o argumento de “tem que viver aqui para criticar”, deixo um aviso. Se vão falar de turismo, nada melhor que alguém capaz de vestir a pele de turista. Se vão falar de cultura, é aconselhável dar ouvidos a quem, exatamente por viver em outras latitudes, pode trazer outros contributos para a discussão. Sem provincianismos bacocos, senhores assessores. Até porque vocês não são donos da cidade.

Cultura? Joinville precisa de uma revolução cultural. E vai com décadas de atraso. Mas não se faz revoluções com agendas de eventos. É óbvio que os chamados eventos culturais fazem parte daquilo que genericamente chamamos “cultura”. Mas o conceito não se esgota aí. É preciso mudar o inconsciente social. E o primeiro passo é abandonar a caretice, o conservadorismo e os grilhões que mantêm os horizontes mentais da cidade aprisionados entre Garuva e Barra Velha. O que a Prefeitura pode fazer? Muita coisa. Como? Perguntem aos que governam, porque eles são pagos para isso.

Turismo? A situação é igualmente dramática. Stricto sensu não há turismo. O maior problema é a modéstia das ambições dos administradores da cidade. Em Joinville, o poder público nunca olhou para o setor como uma indústria. Eis a ironia: uma cidade que se orgulha de ser industrial não sabe industriar o turismo. E é um dos setores que mais cresce e gera divisas em todo o mundo. O que a Prefeitura pode fazer? Muita coisa. Como? Perguntem aos que governam, porque eles são pagos para isso.

O que diz a história da cidade? Que em Joinville o poder público nunca entendeu o significado de cultura e nunca se interessou pelo turismo como atividade econômica a sério. A cidade vive mergulhada num círculo vicioso. Afinal, como já dizia Einstein, é estupidez continuar a fazer as mesmas coisas e achar que se vai obter resultados diferentes. Não é uma mudança de organograma que produz mudanças estruturais e estruturantes. Aliás, a solução é até mais simples do que se imagina: basta saber enxergar um palmo adiante do nariz.

Quando a assunto é turismo ou cultura, Joinville é a Terra do Nunca.

É a dança da chuva.  

segunda-feira, 13 de fevereiro de 2017

Opa!


Uniforrme parra quê? Parra…guai


POR BARON VON EHCSZTEIN
Guten Tag, minha povo.
Alles in Butter?

Essa povinho non aprende mesmo. A nossa querrida prefeito foi na Parraguai comprar uniforme parra os kinder do escola e agorra essas kommunisten fica tudo ourriçada. “Nón pode, nón pode, na Parraguai nón pode”. Verpiss dich! Onde foceis querriam que a prefeito fosse comprar? Em Cuba? Quatsch!

Kein Problem. Esdá certo. Tem que ser na Parraguai mesmo. Porque é uma país muita parrecida com a Brassil. Lá eles também derram uma golpe e impicharón a presidente Fernando Lugo, aquele padreco kommunisten. E agorra andam perseguindo a ex-presidente parra que ele nón possa concorrer nos eleições. Igualzinho aqui. Wer im Glashaus sitzt, soll nicht mit Steinen werfen.

E foi tudo feito de acordo com o lei. Teve licitaçón e tudo. E se teve licitaçón pode ser bom. Vai que a prefeito pega o costume e faz licitaçón pros ônibus também. Mas tem xente fofoqueirra dissendo que foi tudo um mal entendido. Que foi assim:
Prefeito: Eu quero uniforme…
Assessorra: Parra quê?
Prefeito: Parra… guai. Uah uah uah.

É que a prefeito tem aquele carra zangado até quando conta piada. Aí o assessorra levou a sérrio e convidou uma empresa do Parraguai. Irren ist menslich. Só tem uma problema de comprar na Parraguai: é que dá dor de cabeça na dia seguinte.

Palavra de baron. Das Billige ist immer das Teuerste.

"Não são daqui": o provincianismo em Joinville


POR JORDI CASTAN

É uma característica típica das pequenas vilas do interior desenvolver animosidade e preconceito contra todos aqueles que vieram de fora ou não nasceram aqui. Em Joinville, como toda boa cidade de interior que se preze, vez por outra arrefecem este tipo de sentimentos.

O “ele/ela não é daqui” é uma forma de segregar e de identificar estigmatizando. Há nesta crítica a todo aquele que não é local,um sentimento de medo, de aversão, mas principalmente de insegurança. É esta insegurança a que cria desconforto nos nativos. Estranhos representam perigo. Porque dos nativos, sejam eles amigos ou inimigos, sabemos o que esperar e por tanto como reagir.

Não sabemos como lidar com o que nos é estranho. É impossível prever como agirão frente às nossas ações e isso os faz imprevisíveis. É esta imprevisibilidade a que cria desconforto, insegurança e preocupação. Nada molesta tanto para um local que aquilo que lhe é estranho, diferente.

O não saber faz que os locais se sintam ignorantes. Ignorantes por não saberem como reagir aos perigos que os estrangeiros representam, sem saber optam sempre por pressupor o pior. E o pior é sempre perigoso, uma ameaça. Assim, no primeiro momento sentem-se ignorantes e esta ignorância se transforma em impotência, por não saber como lidar com eles.

Ignorância e impotência são condições humilhantes, incômodas, impróprias de alguém que nasceu aqui. Ao deixar os locais sem saber como agir, os estranhos se convertem num elemento perturbador da sociedade. Bárbaros que trazem outros hábitos, costumes, outras formas de se alimentar, de se vestir ou de se expressar. Ante a impossibilidade de fazê-los desaparecer, é preciso minimizar sua presença. E, se possível, neutralizar a influência dos estranhos para recuperar a tranquilidade tão prezada pelos locais.

Por isso é tão forte o desejo de que essa gente estranha seja isolada, excluída, barrada, impedida de ameaçar a forma de vida e os valores locais. Nada é tão precioso nas pequenas vilas do interior como a segurança que proporciona o saber. Saber quem, saber quando, saber aonde, saber com quem. Saber como cada um reagirá ou responderá a cada uma das nossas ações e comentários. É o desconhecido o que assusta. É o que não sabemos que nos amedronta. O que ignoramos é o que mais tememos.

Tem gente forasteira que ousa criticar a nossa vila. Pior ainda tem a ousadia de questionar o nosso prefeito, um homem tão bom e tão trabalhador, que acorda cedo e vai à missa todos os domingos. Gente assim não pode ser daqui. Não nasceu aqui. Se tivesse nascido aqui saberia que há sobrenomes que não se questionam. Que esta vila é o que é porque os fundadores assim a fizeram, com o seu esforço e o seu trabalho. Que esta é a nossa idiossincrasia. Que aqui somos de baixar a cabeça e trabalhar. Que ordem do patrão não se questiona, só se obedece. Que quem pergunta muito não é bem visto. Como pode ser que as pessoas não entendam?

É compreensível ver o aumento de comentários xenófobos nas redes sociais. Frases do tipo: “Se não gosta daqui por que veio?”. “Não critique, se não gosta, vá embora”. “Se a sua cidade era tão boa, por que não ficou lá?”. Compreensível não quer dizer, de modo algum, que seja tolerável. É preocupante que convivamos com este tipo de atitudes que lembram outras épocas, aquelas em que se dizia abertamente: “ame-o ou deixe-o”.


sexta-feira, 10 de fevereiro de 2017

Incrédulo, o mundo vê o Brasil descendo a ladeira...


POR JOSÉ ANTÓNIO BAÇO
Episódio 1. Há duas semanas, o jornal “Metro”, do Reino Unido, publicava uma matéria a dizer que “detentos fazem churrasco de carne humana e despertam medo de canibalismo em tumultos nas prisões”. Era uma matéria sobre os motins nas prisões brasileiras, que fizeram dezenas de mortos, e narrava os episódios de decapitações e desmembramentos de prisioneiros.

Episódio 2. Nesta quinta-feira, o espanhol “El Mundo” trazia a seguinte manchete: “candidato ao Supremo brasileiro plagiou um livro de um ex-presidente do Conselho de Estado espanhol”. É uma referência à indicação de Alexandre de Moraes, atual ministro da Justiça, para o Supremo Tribunal Federal.

Episódio 3. Ontem à noite, o telejornal do canal português SIC Notícias mostrou uma reportagem de quase oito minutos sobre os acontecimentos no Espírito Santo, com intervenções ao vivo. Havia uma certa incredulidade dos realizadores da peça, que teve a participação de jornalistas de uma emissora de televisão capixaba, e destacou os mais de 100 mortos.

A ideia de pinçar estes três episódios, aparentemente desconectados (claro que não são), tem a intenção de mostrar como o Brasil é visto no exterior neste momento. As notícias que vão chegando todos os dias criam a imagem de um país que caiu na anomia. Ou seja, uma terra onde a lei corre ao sabor dos “donos do poder” e onde o estado de direito virou quimera. Há um preço. Os investidores fogem, os turistas não se interessam e o respeito internacional de esfacela.

Os críticos do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva sobem nas tamancas com este tipo de afirmação, mas o fato é que desde que ele ascendeu ao poder a imagem do Brasil passou a ser respeitada em todo o mundo. O país saiu da minoridade (a velha teoria da dependência) para tornar-se um player proeminente. E isso, como é óbvio, impulsionou a economia do país. Infelizmente são tempos que já lá vão.

Hoje a degradação tornou-se uma imagem de marca do país. Mas a coisa não vem de hoje. O momento de viragem parece ter sido o ano de 2013, quando a ascensão do ideário neofascista - portanto, contra a democracia - ganhou expressão e levou o Brasil à esculhambação institucional. O resultado concreto dessa situação foi o impeachment de Dilma Rousseff. A olhar para a situação caótica do país nos dias de hoje, fica a lição. Não se brinca com a democracia. Uma vez quebrada, ela é como um espelho: não adianta colar, porque a imagem nunca vai ser a mesma.

A cara de pau de um ministro plagiador e de quem o indica para um dos cargos mais importantes da nação. A assustadora introdução da palavra “canibalismo” na semântica de rebeliões nos presídios. A polícia a ser o motor de uma greve que promove o caos. Todos estes elementos, de consequências mais ou menos graves, estão interligados. Porque refletem a desumanização da sociedade, a desagregação do estado de direito e a banalidade do mal (passe o clichê).

O mundo está de olho. Incrédulo. E sabe que o denominador comum é o desprezo pela democracia. A história cobra quando se abre mão da moral, da ética e do mais elementar bom senso. É um preço que todos vão pagar, desde os que vestiram de amarelo até os que pediram o respeito pela regra do jogo. 


É a dança da chuva.