quarta-feira, 14 de novembro de 2018

Agora que elegeram "isso"...

POR MÁRIO PAGANINI
Há pessoas que pedem a adesão a uma causa e a coisa até faz sentido. Mas fica estranho quando é Maitê Proença a pedir qualquer espécie de apoio a uma ideia (ainda mais quando essa causa é Bolsonaro). Todos sabemos que ela não é exatamente uma referência em termos de desprendimento das coisas materiais, uma vez que nada a faz desistir da pensão vitalícia que, segundo a imprensa, anda por volta de 20 mil reais. É grana. 

É uma questão que tem passado batida, porque ninguém ousa mexer no vespeiro. Segundo recente matéria da revista Época, a pensões das filhas solteiras de funcionários públicos consomem cerca de R$ 4,35 bilhões do contribuinte. Atenção… bilhões. E, como todos sabemos, muitas delas já tiveram - ou têm - relações duradouras, mesmo com filhos. Mas sem abrir mão da solterice, para não perderem direito à grana.

Seria interessante ver Bolsonaro, o moralizador, acabar com a teta. É claro que não pode e nem quer. Seria divertido ver Bolsonaro a caçar solteiras de araque como Maitê Proença. Mas, ao contrário, dizem por aí que ele até pode convidar a moça para ministra. Ora, tudo é possível no Brasil destes dias. Com um quadro desses, nem ficou estranho o filme divulgado pela atriz a pedir apoio ao futuro presidente.

Só que tem um ou dois detalhes interessantes. O primeiro é o ato falho, quando ela diz: “elegemos isso”, numa referência a Bolsonaro, talvez o seu futuro patrão. Mais adiante, a putativa ministra diz que as  pessoas abriram mão dos “direitos humanos” para ter emprego e comida na mesa. O que só prova a baixa qualidade intelectual dos ministeriáveis do “mito”. Porque emprego e comida são exatamente isso: direitos humanos. 

Cão Tarado - O retorno do Jedi


terça-feira, 13 de novembro de 2018

Direitos e privilégios: a hora do fim?


POR JORDI CASTAN
Devemos defender os direitos e atacar com veemência os privilégios. O Brasil é um país de privilégios e privilegiados. Um país que durante décadas concentrou favores e vantagens, numa casta privilegiada que continua abocanhando uma porção desproporcional de riqueza e poder. E fez isso às custas da maioria da população, essa mesma que hoje está duramente castigada pela crise e que saiu as ruas para eleger o candidato que melhor soube capitalizar seus desejos e frustrações. Ou seja, aquele que identificou com o perfil necessário para mudar tudo aquilo que precisaria ser mudado.

Os direitos são universais, justos e beneficiam a toda a sociedade. Não há um beneficiário direto. Não pode haver “direitos” só de alguns, nem podem haver direitos injustos, tampouco podemos considerar direitos aqueles que só beneficiam aos que os conquistaram.
O país está na encruzilhada de ter que separar privilégios de direitos. Não dá mais para manter castas de privilegiados às custas da maioria da população. Enquanto os direitos são sagrados e devem ser preservados, os privilégios devem ser extintos imediatamente. O brasileiro não consegue mais manter uma elite de privilegiados cada vez mais privilegiados, cada vez mais ousados e desavergonhados.

O vergonhoso aumento de 16,3% concedido pelo senado aos ministros do STF e a PGR é um privilégio. O aumento do salário mínimo em 1,81% é um direito: podemos até convir que seja pouco, mas é igual para todos. A diferença entre direito e privilegio deve ser a primeira iniciativa do novo governo. O resultado das urnas é a resposta dos sem privilégios aos privilegiados. A lista de privilégios e dos setores da sociedade beneficiados com privilégios vergonhosos e inaceitáveis é extensa é não conhece limites.

Começa, numa lista que não pretende ser completa, nem exaustiva e que tampouco tem ordem ou sequência de valor ou gravidade, com alguns casos. As filhas solteiras dos militares, os funcionários públicos que “trabalham” 6 horas ou menos e recebem por 8 horas. Os deputados e senadores que recebem aposentadoria aos 60 anos de idade. Ou os policiais militares, bombeiros e assemelhados que aposentam em geral com menos de 50 anos de idade e antes são reformados para a patente imediatamente superior.
Privilégios são os anos sabáticos pagos com recursos públicos, são os carros, motoristas, as cotas de combustível e as prestações de contas sem comprovação. Privilégios são o auxilio paletó, receber pagamento adicional por periculosidade exercendo função administrativa. Privilégios são também os cartões corporativos, os engraxates, os almoços gratuitos, o DEMED (Departamento Médico da Câmara) para ex-deputados, os planos de saúde ilimitados fora do SUS, quando custeados com recursos públicos.

São privilegiados os que recebem sem trabalhar, sem assinar o ponto, o sem cumprir horário. São privilégios inaceitáveis motoristas, veículos a disposição e funcionários administrativos para ex-presidentes, mais ainda se estiverem presos e condenados em segunda instância. Tampouco podem ser considerados direitos as férias forenses superiores aos 30 dias por ano, como estabelece a CLT, nem receber salários acima do teto constitucional, por muito que todos estes privilégios sejam legais, amparados por leis, resoluções, normas e tenham amparo legal. São legais, mas são imorais e injustos.
No caso do aumento concedido pela maioria dos senadores aos ministros do STF, que são os magistrados que julgam as 55 mil autoridades de 40 cargos diferentes, entre os que se encontram os senadores que aprovaram os 16,3% de aumento. Em tempo, o foro privilegiado é também um privilégio que não deveria existir.

Para pôr de volta o Brasil nos trilhos da moralidade e da justiça é preciso enfrentar de frente as castas de privilegiados, essas mesmas que estão espalhadas por todos e cada um dos elementos que compõem o tripé republicano. Ou se combatem e se extirpam estes privilégios - e os privilegiados que os defendem e representam - ou a república estará definitivamente perdida. O eleitor votou no Brasil dos direitos e votou também contra o dos privilégios. Responder a este anseio exigirá coragem, firmeza e persistência. E a mobilização para defender privilégios começou antes mesmo que o novo governo assuma.

segunda-feira, 12 de novembro de 2018

É assim que nascem os bolsonaros

POR JOSÉ ANTÓNIO BAÇO
A coisa virou uma espécie de piada em Portugal, nos últimos dias. Sempre que você tem uma atitude que cheira a “intolerância”, a pessoa dispara:

- “É assim que nascem os bolsonaros”.

Faz sentido. Tudo isso é reflexo da forma como todo o mundo está a ver a eleição de um personagem como Jair Bolsonaro para a presidência: como uma piada perigosa.

O Brasil parece ter entrado em transe. Mas o mundo não. Talvez Donald Trump seja o único presidente feliz com a ascensão de um brucutu o Planalto. Não por identificação - mesmo um doidivanas como Trump conhece certos limites - mas porque ele está de olho no butim e as coisas parecem estar bem encaminhadas. Os interesses dos EUA na região estão acautelados e nem foi preciso disparar um único tiro.

Os governantes das nações democráticas estão reticentes acerca do futuro das relações com o Brasil. É só lembrar que o presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker, e o presidente do Conselho Europeu, Donald Tusk, só enviaram os cumprimentos uma semana depois da eleição. Parece que foi difícil engolir o sapo lá para os lados de Bruxelas. Aliás, as mensagens de alguns líderes mundiais tinham a carga emocional de uma boneca de silicone.

No entanto, o arco-íris é a cor preferida da diplomacia. E é óbvio que as relações entre os países vão continuar. O problema é que Bolsonaro será sempre uma figura contagiosa para qualquer democrata. Ninguém quer ser visto ao seu lado. O que levanta uma questão: isso vai interferir nas relações internacionais? É provável. Ninguém vai abandonar as transações comerciais, mas o crivo ideológico será evidente. Todos querem distância de Jair Bolsonaro.

O problema é que ele dificilmente poderá sair às ruas num país democrático. Porque o ambiente é de rejeição e ele vai enfrentar reações dos grupos ligados à causa dos direitos civis. Mas, por outro lado, poderá contar com apoio dos grupos neonazistas (o que não o incomoda, claro). Aliás, em Portugal um partido de extrema-direita - que no espectro político está entre os malucos e os doidos - já fez a sua homenagem ao futuro presidente, com a exibição de um outdoor (ver abaixo).

O PNR - Partido Nacional Renovador quer que o estilo Bolsonaro atravesse o Atlântico e chegue a Portugal. A ironia é que o mesmo partido em tempos publicou outro cartaz a pedir que o governo feche as portas aos imigrantes. Se tivermos em consideração que os brasileiros formam o maior contigente de imigrantes em Portugal, então a piada está pronta. Enfim, “é assim que nascem os bolsonaros”.

É a dança da chuva. 


MEMEZEIRO: Tem que pedir desculpas