quinta-feira, 8 de setembro de 2016

Vice pra quê?
















POR FILIPE FERRARI


Nessa semana, o professor Renato Janine Ribeiro publicou em sua página no Facebook uma provocação interessante: para que um vice-presidente? É uma figura que está lá para dar golpe, ou para gastar dinheiro. Tem que viajar, tem que ter equipe, casa, gabinete... A solução para o Janine Ribeiro é simples, se o/a presidente/a estiver incapacitado (morte, doença, renúncia, impeachment) para o cargo, nos dois primeiros anos se chamariam novas eleições, ou se na segunda metade do mandato, eleições indiretas. Uma ideia simples e prática, que valeria uma boa discussão.

Entretanto, essa fala me levou a pensar sobre os vice-presidentes da história brasileira. Já Floriano Peixoto, nosso segundo presidente, foi vice empurrado goela abaixo do Marechal Deodoro. Pela Constituição de 1891, presidente e vice eram escolhidos em eleições distintas, não em chapas únicas. No período de Floriano como chefe executivo, ocorreram a Segunda Revolta da Armada e a Revolução Federalista, duramente reprimidas pelo mesmo.

Pela Constituição de 1945, o vice também continuava sendo eleito de maneira desvinculada, e nesse período temos o grande vice João Goulart, herdeiro político de Vargas, que foi o protagonista da Campanha da Legalidade, levantada pelo Brizola, e que por conta da covardia de um congresso sórdido com medo das reformas propostas, foi enfraquecido e foi derrubado pelo Golpe de 1964.

Na reabertura democrática, temos o Sarney, vice do Tancredo, e Itamar Franco, vice do você-sabe-quem. Como podemos perceber, o vice-presidente é uma figura que não pode ser menosprezada na história política do Brasil. Como pensar em Lula sem José Alencar para sossegar o empresariado?

Nas eleições municipais, dois candidatos souberam escolher muito bem seus vices. Ou melhor, suas vices. Quando a preocupação se mostrou a segurança, Udo e Xuxo não hesitaram em chamar militares para compor chapa. Tebaldi, raposa velha que é, compôs com a delegada Marilisa Boehm, nome forte ligado à segurança, sem ter o ranço do militarismo. Além disso, Marilisa é muito bem articulada, tem presença e, o mais importante, é uma figura feminina.

O mesmo se pode dizer do PSOL e do Ivan Rocha. Não há dúvidas que a advogada Cynthia Pinto da Luz eclipsa o candidato, e que é um grande polo de votos. Nesses casos, as vices se mostram como ponto estratégico fundamental para as campanhas, e certamente vem para somar com os candidatos.

Dá pra ver que nem todo vice é dor de cabeça.

quarta-feira, 7 de setembro de 2016

CHUVA ÁCIDA 5 ANOS - Diego Felipe da Costa













POR DIEGO FELIPE DA COSTA

O que falar sobre o Chuva Ácida? São cinco anos! Sempre gostei de ler alguns artigos compartilhados pelas redes sociais, mas foi a partir deste ano que conheci de fato o blog, quando fui convidado a publicar um texto. Depois do convite, passei a conhecer mais o site e passei ser um leitor assíduo.

O que me chama atenção é a pluralidade das ideias e pensamentos. Além disso, há a democracia para todas as opiniões, algo não tão comum em outros sites. Isso impera aqui no Chuva Ácida, algo formidável. O site chama para um debate amplo e acalorado.

Sempre atualizado com o que acontece em Joinville e no Brasil, com textos fortes, charges criativas e comentários ácidos, o Chuva Ácida passa a ser um grande porta-voz para quem precisa.
Parabéns pelos cincos anos! Que venham mais cinco!






Diego Felipe da Costa
é turismólogo e técnico
em gestão da mobilidade urbana

Os betas sociais

POR CHARLES HENRIQUE VOOS

Escutei, certa vez (e não me lembro de quem), que existem na sociedade pessoas barulhentas, e essas influenciam as outras pelo grito. Assim, foram chamadas de “alfas sociais”, simplesmente por falarem o que pensam e se posicionarem perante alguns fatos. Como para tudo na vida sempre existe um antônimo, quem seriam os “betas”?

O beta representa a segunda letra do alfabeto grego e, no século XXI, é uma expressão muito utilizada pela tecnologia de informação para designar programas de computador que ainda precisam de aperfeiçoamento, ou seja, não são as versões principais prontas para o mercado. Na sociedade tão fragmentada como a nossa, posso fazer um paralelo e perceber aquele agente social que representa perfeitamente uma função secundária para pavimentar algo maior que está por vir: o lobista.

Fazer lobby é uma arte que poucos dominam. Exige grande preparo interpessoal e esperteza política necessária para defender interesses diante dos tomadores de decisão sem revelar, sob qualquer custo, as verdadeiras intenções do seu cliente - ou as suas próprias. O lobista é um beta social por isso, pois, ao não conseguir ser um alfa e não ter capitais suficientes para tal, submete-se a uma função representativa para, quem sabe, poder absorver benefícios a si próprio, surfando na onda dos interesses maiores que ele. Geralmente vai defender pessoas muito abastadas, reproduzindo, desse jeito, os privilégios políticos daqueles que possuem em sua figura a voz necessária para fluir os contatos, sem qualquer tipo de desgaste desnecessário mediante escândalos, vazamentos, etc. É um sujeito de coragem, precisamos reconhecer, visto que empresta o seu nome e aposta alto naquilo que o seu sucesso pode trazer.


A cal é outro exemplo de um beta, mas para a construção civil
O recrutamento dos betas acontece de maneira sutil, mas muito eficiente: primeiro, os alfas procuram pessoas influentes, patronos das artes, com bons costumes, nome “limpo” na praça, e próximo de poderosos agentes políticos. Depois, buscam pontos em comum do possível lobista com os seus, fazendo transparecer que o discurso do escolhido representa um interesse só dele, quando, na verdade, o pior está escondido e não é revelado ao grande público, que nem sonha com perversidades da realpolitik. Por fim, potencializam os negócios do investigado, inflando o seu ego e as suas relações sociais, para inseri-lo num contexto fantasioso de importância para aquele grupo que o banca ou o apoia. Basta umas duas ou três falas e reuniões com políticos importantes para criar um perfeito lobista, um perfeito beta social.

Um perfeito tolo que aspira ser alfa, mas nunca vai conseguir. Quando os interesses mudarem, sempre haverá outro beta na fila.

terça-feira, 6 de setembro de 2016

CHUVA ÁCIDA 5 ANOS - Nelson Amorim


POR NELSON AMORIM

Sou leitor do Chuva Ácida há cerca de dois anos, especialmente as colunas do José Baço e Gruner Gruner. Excelente alternativa à mídia corporativista, pois vale lembrar que a linguagem não é neutra e pode ser um forte instrumento de dominação; e seja no aspecto social ou político, não há universalização do direito à livre expressão no Brasil. Ele é apropriado ou pela elite das comunicações ou pela elite econômica, que exercem censura e coação sobre a liberdade de expressão alheia.


Desse ponto de vista, o Chuva Ácida tem o importante papel de representar um mínimo de pluralidade de opinião na tão desgastada democracia brasileira. Parabéns ao Chuva Ácida pelos 5 anos de existência e resistência, seguimos firmes!




Nelson Amorim
é estudante de Direito
na Univille

Fora, primeiro-ministro socialista. Vai para Cuba...
















POR JOSÉ ANTÓNIO BAÇO

Um aviso à reacionaria. O primeiro-ministro português António Costa está no Brasil, para uma visita de quarto dias. A agenda prevê até um encontro com Michel Temer, fato que gerou um certo bururu na esquerda portuguesa. É que o mundo sabe do golpe e os democratas não querem ver o presidente ilegítimo nem pintado de verde e amarelo.

Mas por que a visita merece um alerta? Ora, só trouxe o tema para avisar os reaças brasileiros para o perigo. É um risco receber um primeiro-ministro socialista, ainda mais sabendo que o seu governo é sustentado pelo Partido Comunista e pelo Bloco de Esquerda, que também se orienta por ideias “subversiventas”, como diria Odorico Paraguaçu.

Receber socialistas – ainda mais amigos de comunistas – com todas as vênias é o fim dos tempos. Fico a imaginar que esse insulto diplomático não vai passar batido aos reaças. Aliás, já estou a ver a reacionaria a preparar uma reação dura. O pessoal nas ruas com cartazes e palavras de ordem a exprimir o sentimento da gente de bem:

-       Fora socialista.
-       Costa... vai para Cuba.
-       Primeiro-ministro esquerdopata.
-       Pretalha lusitano.
-       A nossa bandeira não será vermelha.
-       Esquerdista com iPhone.

Ok... a esta altura vocês já perceberam que estou de zoa, certo (menos os adiantados mentais anônimos, porque eles são mais lentos)? Mas é apenas para dizer que vocês, reaças, são uns ignorantões e não fazem a menor ideia do que é “socialismo”, “comunismo”, "veganismo" ou qualquer outro “ismo”. E que, pela falta de leitura, não conseguir ir além da repetição de clichês néscios.

Quando a discussão pede ideias, eis o que os reaças têm para trazer ao debate: mentes fechadas e bocas abertas. Como nada entra na cabeça, estão sempre a comer moscas.


É a dança da chuva.