quarta-feira, 7 de setembro de 2016

Os betas sociais

POR CHARLES HENRIQUE VOOS

Escutei, certa vez (e não me lembro de quem), que existem na sociedade pessoas barulhentas, e essas influenciam as outras pelo grito. Assim, foram chamadas de “alfas sociais”, simplesmente por falarem o que pensam e se posicionarem perante alguns fatos. Como para tudo na vida sempre existe um antônimo, quem seriam os “betas”?

O beta representa a segunda letra do alfabeto grego e, no século XXI, é uma expressão muito utilizada pela tecnologia de informação para designar programas de computador que ainda precisam de aperfeiçoamento, ou seja, não são as versões principais prontas para o mercado. Na sociedade tão fragmentada como a nossa, posso fazer um paralelo e perceber aquele agente social que representa perfeitamente uma função secundária para pavimentar algo maior que está por vir: o lobista.

Fazer lobby é uma arte que poucos dominam. Exige grande preparo interpessoal e esperteza política necessária para defender interesses diante dos tomadores de decisão sem revelar, sob qualquer custo, as verdadeiras intenções do seu cliente - ou as suas próprias. O lobista é um beta social por isso, pois, ao não conseguir ser um alfa e não ter capitais suficientes para tal, submete-se a uma função representativa para, quem sabe, poder absorver benefícios a si próprio, surfando na onda dos interesses maiores que ele. Geralmente vai defender pessoas muito abastadas, reproduzindo, desse jeito, os privilégios políticos daqueles que possuem em sua figura a voz necessária para fluir os contatos, sem qualquer tipo de desgaste desnecessário mediante escândalos, vazamentos, etc. É um sujeito de coragem, precisamos reconhecer, visto que empresta o seu nome e aposta alto naquilo que o seu sucesso pode trazer.


A cal é outro exemplo de um beta, mas para a construção civil
O recrutamento dos betas acontece de maneira sutil, mas muito eficiente: primeiro, os alfas procuram pessoas influentes, patronos das artes, com bons costumes, nome “limpo” na praça, e próximo de poderosos agentes políticos. Depois, buscam pontos em comum do possível lobista com os seus, fazendo transparecer que o discurso do escolhido representa um interesse só dele, quando, na verdade, o pior está escondido e não é revelado ao grande público, que nem sonha com perversidades da realpolitik. Por fim, potencializam os negócios do investigado, inflando o seu ego e as suas relações sociais, para inseri-lo num contexto fantasioso de importância para aquele grupo que o banca ou o apoia. Basta umas duas ou três falas e reuniões com políticos importantes para criar um perfeito lobista, um perfeito beta social.

Um perfeito tolo que aspira ser alfa, mas nunca vai conseguir. Quando os interesses mudarem, sempre haverá outro beta na fila.

terça-feira, 6 de setembro de 2016

CHUVA ÁCIDA 5 ANOS - Nelson Amorim


POR NELSON AMORIM

Sou leitor do Chuva Ácida há cerca de dois anos, especialmente as colunas do José Baço e Gruner Gruner. Excelente alternativa à mídia corporativista, pois vale lembrar que a linguagem não é neutra e pode ser um forte instrumento de dominação; e seja no aspecto social ou político, não há universalização do direito à livre expressão no Brasil. Ele é apropriado ou pela elite das comunicações ou pela elite econômica, que exercem censura e coação sobre a liberdade de expressão alheia.


Desse ponto de vista, o Chuva Ácida tem o importante papel de representar um mínimo de pluralidade de opinião na tão desgastada democracia brasileira. Parabéns ao Chuva Ácida pelos 5 anos de existência e resistência, seguimos firmes!




Nelson Amorim
é estudante de Direito
na Univille

Fora, primeiro-ministro socialista. Vai para Cuba...
















POR JOSÉ ANTÓNIO BAÇO

Um aviso à reacionaria. O primeiro-ministro português António Costa está no Brasil, para uma visita de quarto dias. A agenda prevê até um encontro com Michel Temer, fato que gerou um certo bururu na esquerda portuguesa. É que o mundo sabe do golpe e os democratas não querem ver o presidente ilegítimo nem pintado de verde e amarelo.

Mas por que a visita merece um alerta? Ora, só trouxe o tema para avisar os reaças brasileiros para o perigo. É um risco receber um primeiro-ministro socialista, ainda mais sabendo que o seu governo é sustentado pelo Partido Comunista e pelo Bloco de Esquerda, que também se orienta por ideias “subversiventas”, como diria Odorico Paraguaçu.

Receber socialistas – ainda mais amigos de comunistas – com todas as vênias é o fim dos tempos. Fico a imaginar que esse insulto diplomático não vai passar batido aos reaças. Aliás, já estou a ver a reacionaria a preparar uma reação dura. O pessoal nas ruas com cartazes e palavras de ordem a exprimir o sentimento da gente de bem:

-       Fora socialista.
-       Costa... vai para Cuba.
-       Primeiro-ministro esquerdopata.
-       Pretalha lusitano.
-       A nossa bandeira não será vermelha.
-       Esquerdista com iPhone.

Ok... a esta altura vocês já perceberam que estou de zoa, certo (menos os adiantados mentais anônimos, porque eles são mais lentos)? Mas é apenas para dizer que vocês, reaças, são uns ignorantões e não fazem a menor ideia do que é “socialismo”, “comunismo”, "veganismo" ou qualquer outro “ismo”. E que, pela falta de leitura, não conseguir ir além da repetição de clichês néscios.

Quando a discussão pede ideias, eis o que os reaças têm para trazer ao debate: mentes fechadas e bocas abertas. Como nada entra na cabeça, estão sempre a comer moscas.


É a dança da chuva.


segunda-feira, 5 de setembro de 2016

Fora!


Eleições em Joinville: há os que partem com vantagem


POR JORDI CASTAN



O processo eleitoral brasileiro é complexo, como quase tudo neste país. Nada esta feito  para ser simples e há uma fascinação pela complicação. O sistema partidário tampouco ajuda, mas isso interessa muito a alguns e muito pouco a outros. Quem disputa a reeleição parte com vantagem. E com uma larga vantagem, diga-se. As chances dos partidos pequenos e dos candidatos novos é muito pequena.

Vamos ficar no exemplo do varejo local. É um mundo político que mais parece uma quitanda ou uma loja de secos e molhados. Qualquer prefeito que queira se reeleger terá maior facilidade em atrair aliados se tiver secretarias e cargos para oferecer em troca de apoio. Apoios que significam tempo de televisão, mais recursos e mais visibilidade. Além da inegável vantagem que representa o permanecer no cargo durante toda a campanha.

No Legislativo, cada vereador tem à sua disposição assessores parlamentares, que poderiam ser chamados “cabos eleitorais”, uma vez que apenas lutam desesperadamente para que seu candidato se reeleja. Desnecessário ter que explicar, ao leitor do Chuva Ácida, que na verdade lutam pelos seus próprios empregos. Manter por outros quatro anos o cargo de assessor parlamentar tem lá suas vantagens, ou deve tê-las pelo afinco com que trabalham pelos seus candidatos. Não é pouco. Mas há ainda a estrutura que a Câmara coloca à disposição de cada vereador. Difícil separar em que momento o prefeito esta sendo prefeito ou candidato, da mesma maneira é difícil saber quando o vereador esta exercendo seu mandato ou fazendo campanha.

Para os outros candidatos, especialmente para os dos partidos menores, o caminho é longo e duro. Faltam recursos, tempo de televisão e rádio e não ha cargos que oferecer. Não tem como obrigar que os detentores de cargos comissionados façam campanha em seus carros ou participem ativamente de caminhadas e mobilizações. Há que afirme que há até uma lista informal de presença, que se faz um controle severo de quem participa e de quem faz corpo mole. 

A verdade é que as melhores propostas até agora estão nos programas e discursos dos que nada têm a perder. São os candidatos que podem permitir-se o luxo de dizer a verdade. Entre os três candidatos que estão na frente nas pesquisas e que têm as maiores estruturas de campanha e tempo de mídia não há nada novo. Não esta com eles a parte interessante da campanha, até porque o que se escutou e viu até agora é mais do mesmo. Há só cheiro de ranço, de “deja vu”. 

Os discursos são cada vez menos convincentes. Estão órfãos de ideias novas e só contam com a vantagem que o sistema lhes proporciona para ganhar uma corrida que é desigual desde muito antes de começar. Ruim para o eleitor, pior para Joinville.