quinta-feira, 28 de abril de 2016

Uma agenda para o desenvolvimento. De quem?

POR RAQUEL MIGLIORINI

No "Plano de Governo" do vice-presidente Michel Temer, encontramos, a partir da página 16, o subtítulo Uma Agenda Para o Desenvolvimento, com o propósito de criar condições para um crescimento médio de 4% ao ano, ao longo da próxima década, e com isso aumentar a renda per capita. Para isso, "alguns princípios deverão ser cumpridos, com grande esforço do Legislativo, porque as leis existentes são, em grande parte, incompatíveis com eles".

Devo confessar que fiz uma longa pausa aqui. Meus neurônios começaram amplas sinapses para compreender por que uma Câmara de Deputados com tantos opositores ao atual governo Dilma Rousseff e tantos favoráveis ao talvez futuro governo Temer/Cunha não coloca as votações paradas em prática. Porque, todos os meus neurônios sabem disso, a Câmara serve para isso. Boa parte do que está parado resolveria muitos problemas.

E esse é o momento em que o leitor pensa que ou sou otimista inveterada ou ingênua de dar pena. Nem uma coisa nem outra. Segue trecho final, transcrito do plano: "Obedecendo as instituições do Estado democrático, seguindo estritamente as leis e resguardando a ordem, sem a qual o progresso é impossível. O país precisa de todos os brasileiros". Bem, parece que seguir as leis não tem sido prioridade ultimamente e que nem todos os brasileiros estão cumprindo seu papel.

Na página 19 encontramos o seguinte texto no item h: "... O Brasil gasta muito com políticas públicas com resultados piores do que a maioria dos países relevantes". Como disse Mujica, quem nunca passou fome acha que se gasta muito com políticas públicas.

Agora, o que realmente me assustou, inclusive porque é da minha área, foi o item k: "promover a racionalização dos procedimentos burocráticos e ... a realização de investimentos, com ênfase nos licenciamentos ambientais que podem ser efetivos sem ser necessariamente complexos e demorados". Parece que esse é o mantra do PMDB, porque vemos isso em Joinville também. Acham que licenciamento ambiental é um impedimento para o dito progresso.

Como pode ser efetivo sem ser complexo? Como será possível um estudo verdadeiro e imparcial para implantação de uma grande empresa se não houver tempo hábil para estudos geológicos, biológicos, socioeconômico, químico, florestal e demais? Como conferir o que foi entregue pela empresa com a realidade do local? Sabemos bem que remediar o estrago de um empreendimento mal feito é muito pior que evitá-lo. Alguém se lembra da Samarco?

Precisamos parar com essa visão colonial de sermos o quintal mal cuidado do primeiro mundo, onde se joga todo tipo de sujeira e se destrói ecossistemas tão frágeis e importantes para o globo, em detrimento do progresso financeiro de alguns. Não me fale de desenvolvimento sustentável para todos onde há interesse econômico de poucos.

O plano termina assim: "Nossa promessa é reconstituir um estado moderno, próspero, democrático e justo”. Que não se acrescente, posteriormente: destruído, poluído e doado.

quarta-feira, 27 de abril de 2016

Os exterminadores do futuro

POR FELIPE SILVEIRA

Antes de mais nada, não acho que a violência vai simplesmente acabar com investimento em cultura e educação. Eu não sei exatamente como ou se a violência vai acabar, mas certamente ela é muito agravada pelo subdesenvolvimento das potencialidades da humanidade. A repressão, obviamente, gera mais violência.

Partindo deste princípio, é de ficar embasbacado com a recente notícia que o Governo do Estado de Santa Catarina não renovou convênios com centros comunitários de Joinville (do Itaum, do Iririú e do Costa e Silva), comprometendo o futuro desses espaços de convivência e desenvolvimento da comunidade.

Diz o governo que pagou os convênios existentes, mas não os renovou por contenção de despesas. Sim, para o governo catarinense, o desenvolvimento cultural, esportivo e educativo da população é simples despesa, como o cafezinho que pode ser cortado.

Para os grandes eventos culturais, que tem visibilidade e patrocínio de grandes empresas, há dinheiro. Para investir no desenvolvimento econômico do estado (o que está certo), há dinheiro; até 2014 foram 1 bilhão de reais só no PlanoSC@2022. Para a construção de presídios, há dinheiro.

Só não há dinheiro para investir no desenvolvimento pela cultura e no lazer da população. O melhor, para eles, é deixar o povo em casa, vendo TV e tomando remédio. Não há, nos bairros periféricos, um centro comunitário mantido por qualquer governo que seja. Nem Udo, nem Raimundo nem Dilma.

Não estou dizendo que certos investimentos do governo estão errados. As ações nos museus são importantíssimas, o apoio às festas populares e outros projetos pontuais e eventuais são necessários. Mas falo de algum trabalho constante nas comunidades. Onde estão?

Trata-se de um abandono completo das comunidades, para as quais resta a alternativa de criar o próprio lazer. Belas alternativas são criadas assim, como a Casa Iririú e a Amorabi (Itinga). Mas isso depende de muito sacrifício de algumas pessoas sonhadoras e realizadores que fazem acontecer. O Estado se vale dessa boa vontade para não cumprir suas responsabilidades. E é nesse vazio que a juventude se perde, na busca para extravasar suas potencialidades em algo que o Estado não provê.

Vamos abraçar os centros comunitários dos bairros e não permitir que o governo os abandone. O mínimo que Raimundo Colombo pode fazer é renovar os convênios. E é fundamental que os próprios governos, do estado e do município, assumam a responsabilidade e ofereçam programas e equipamentos para o desenvolvimento cultural, educativo e esportivo da população.

O debate está servido


Nem todos acreditam que um parque no 62 BI é a melhor opção.


Se acredita que esta é uma boa proposta assine a petição


62 BI.Parque ou prédios?

Joinville não tem um parque central. Os 60.000 m² da área de 62 Batalhão de Infantaria são uma das poucas alternativas que a cidade teria para criar um parque bem localizado, com características que permitem a conversão num espaço verde, para o lazer e a cultura. Mas o local hoje está ameaçado pela pressão imobiliária. Há uma proposta para permitir a construção de prédios de 10 andares no local coloca em risco o futuro deste espaço.
O assunto só agora começa a ter a atenção da comunidade. Há quem ache importante a mobilização da sociedade no sentido de escolher entre o parque e os prédios. Há mesmo uma petição a angariar assinaturas a favor do parque. O debate está lançado. Você tem alguma opinião? Se tem, use os comentários no blog. E se for a favor da petição, o endereço para assinar está aqui. 




terça-feira, 26 de abril de 2016

O cheiro da podridão chegou aqui*

POR JOSÉ ANTÓNIO BAÇO

Houve um tempo em que a imprensa europeia – e mesmo a norte-americana – projetava uma imagem favorável ao impeachment de Dilma Rousseff. Mas há alguns meses houve uma mudança de agulha. E a razão é simples. Num primeiro momento, a comunicação social internacional reproduziu a versão dos veículos da velha mídia no Brasil. Ou seja, Globo, Veja, Estadão, Folha, Época e assemelhados.

Deu chabu. Mais recentemente, os jornalistas estrangeiros perceberam que essas fontes eram duvidosas e passaram a usar outros meios para a averiguação dos fatos. E a tese do golpe contra a presidente ganhou força. A machadada final foi o espetáculo deprimente na votação do impeachment na Câmara dos Deputados. O mundo viu um país a caminhar alheadamente para a putrefação.

Há um ponto a destacar. Uma pessoa que viva numa democracia a sério (definitivamente não é o caso do Brasil) só pode ficar estarrecida com o comportamento promíscuo da imprensa brasileira. É certo que a comunicação social estrangeira também tem lado. Há projetos editoriais que alinham com visões mais ou menos liberais, progressistas ou conservadoras. Mas não se perde o pudor, como acontece no Brasil.

Fazer a comparação entre a imprensa do hemisfério norte e a brasileira leva a uma obviedade. Apesar de terem posição ideológica, os meios de comunicação europeus e norte-americanos não vão ao ponto de comprometer o rigor da informação (não quer dizer que não possa acontecer). Desgraçadamente, essa lógica não serve para a velha mídia brasileira, onde a mentira, a distorção e a ausência de contraditório são quase regra.

O golpe contra Dilma Rousseff ficou evidente e já não dá para disfarçar. O Brasil virou motivo de piada e o cheiro de podridão chegou a outras latitudes. Mas também caiu a máscara de uma certa imprensa, useira e vezeira de métodos inaceitáveis em democracia. Exemplos? O jornal português Diário de Notícias definiu a Veja com “conservadora, de direta e obstinadamente antigoverno”. O Le Monde pediu desculpas por ter feito uma matéria tendenciosa, a partir de imprensa brasileira.

Enfim, hoje o mundo todo sabe que a imprensa brasileira não é parte da solução, mas parte do problema.


É a dança da chuva.

* José António Baço vive em Portugal.