sábado, 9 de janeiro de 2016
sexta-feira, 8 de janeiro de 2016
Assim não verás cidade nenhuma
POR SALVADOR NETO
Em 1981 o jornalista e escritor
Ignácio de Loyola Brandão lançou o romance Não
verás país nenhum, uma obra mais atual que nunca. A história conta sobre um
lugar onde tudo era controlado pelo Esquema, um tipo de governo totalitário do
futuro. O cenário é de águas poluídas, avanço do deserto, doenças estranhas,
miséria crescente, comidas artificiais com aditivos químicos que injetam tranquilidade
direto no sangue, urina reciclada para beber (para os menos privilegiados), o
nordeste do país vendido para transnacionais, aquecimento solar...
Passados 35 anos dessa
surpreendente antevisão do que poderia vir a ser o país – e porque não o mundo?
– em que viveríamos, proporcionada por Loyola, vemos com olhar complacente que
nos encaminhamos para esse fim. Após o pretenso fim da guerra fria – acabou mesmo?
– nos deparamos hoje com ameaças de bomba de hidrogênio pela Coréia da Norte,
guerras sem fim no Oriente Médio que causam um êxodo de populações inteiras,
todas fugindo da insanidade humana, que só aumenta. Catástrofes ambientais como
a de Mariana (MG) se sucedem aqui e acolá, acabando com a fauna, a flora, e com
o homem que não pode mais beber a água limpa, cuidar do seu gado e das suas plantações,
e sequer casa pode ter.
Não vou me alongar nos exemplos que
temos, pois faltariam linhas e espaço para tantos desastres socioambientais.
Mas é claro que avançamos para ter esse mundo do Souza, de Loyola, batendo à
nossa porta. O que temos feito para evitar que o Esquema continue a nos pilhar,
controlar, envolver e aceitar suas imposições? Quase nada. Souza precisou de um
buraco em sua mão para sair da inércia. Em Joinville mais de 600 mil pessoas
caem em buracos todos os dias nas ruas, e acreditam que não podem fazer nada
para reverter tal abandono. Quantos buracos em ruas, calçadas, precisaremos ter
a frente dos olhos para contrapor esse esquema perverso que empurra a cidade em
que moramos para ser a cidade do romance de Loyola?
"BOM SENSO" - O esquema do governo atual da
Prefeitura de Joinville tem feito muito mal aos cidadãos que acreditam em um
lugar adequado para se viver. Com muita publicidade, propaganda em meios de comunicação
de massa, tenta impor uma cidade moderna, perfeita, que não existe na prática. A
receita oferecida, um empresário com fama de bom gestor construída na mídia ao
longo de muitos anos, se mostra um parco arrazoado de boas intenções, mas sem
verdade e sem indicações claras para atacar os problemas. Andar pela cidade
mostra isso. A última ação, o aumento “bom senso” na tarifa de transporte
coletivo, abusivo, mostra o lado para o qual o Esquema atua. E não é o da
maioria da população.

A maioria da população está
enfrentando os buracos que já fazem parte da geografia da cidade, pois proliferam
tal quais os mosquitos da dengue. Continuam a buscar remédios que também
continuam a faltar na rede publica de saúde, assim como leitos para que seus
doentes sejam bem tratados. Somente nesta gestão de Udo Döhler a saúde já teve três
secretários, cujos afastamentos se deram pela ameaça da Justiça à porta.
Mobilidade urbana continua a mesma imobilidade, com avanços rápidos para a paralisação
da cidade, pois obras de vulto só existem nas entrevistas, promessas. Vagas
para as crianças nas creches? Eles resolvem facilmente: cortam o turno integral
de pais carentes e – vupt! – lá aparecem mais vagas... Os pais e as crianças?
Ah... se virem por aí.
Para piorar, enquanto a incompetência
na gestão só cresce e joga a cidade para trás, o Prefeito segue um receituário
proposto por algum Goebbels de plantão. Cria histórias para que o povo esqueça
as anteriores. É o caso do bordão de campanha – não falta dinheiro, falta
gestão -, que tentam esconder agora com Biervilles (qual foi o prejuízo?),
cortes de gastos (?), apontando o dedo para a corrupção que grassava na
Prefeitura (onde, quando, quanto, quem, valores?), sem mostrar dados concretos.
A mais nova é que as prioridades são educação, saúde e salários. Novidade? Não é
mais que a obrigação determinada na Constituição Federal. Esse Esquema não é
novo, mas continuou na gestão atual, e já vem de muitos anos na cidade.
PODER PELO PODER - Como enfrentar isso? Bem, comecemos
por participar mais da política. Comparecer à Câmara e ver o que e como votam
nossos vereadores em casos como aumentos, etc. Ver se fiscalizam a Prefeitura,
ou somente dizem amém a tudo que vem de lá. E usar o voto, a ferramenta da democracia
que sempre pode pelo menos oxigenar a gestão pública. Com consciência, participação
e fiscalização. Sim gente, é no legislativo que se legitimam muitas das ações do executivo. E olhem que o atual governo Udo tem maioria absoluta.
E, claro, é preciso prestar muita atenção nos nomes
que virão este ano para concorrer à Prefeitura. Há muitos, ou quase todos, que
gostam do mesmo que o atual alcaide: o poder pelo poder. Uma cidade como
Joinville precisa de um Prefeito que tenha de fato liderança, que inspire e
motive a população, que mostre trabalho, intensidade, propostas e ações que
engajem as pessoas a crer em um futuro melhor. Precisamos nos empoderar da
cidade, ou não veremos cidade nenhuma para nossos filhos e netos. Pessimista,
catastrófico? Não, apenas realista. Ignácio de Loyola Brandão anteviu em sua
obra muito do que vemos hoje. Nós podemos mudar.
Finalizando, completo um ano de participação
neste coletivo Chuva Ácida agradecendo aos colegas do blog, aos leitores de
todas as semanas, aos comentaristas e a todos os que apoiam um jornalismo
independente. Sigamos em frente, obrigado!
É assim nas teias do poder...
quinta-feira, 7 de janeiro de 2016
Ônibus em Joinville? Um horror
POR DIEGO LIP*
Um amigo
informa que Joinville foi citada no "Jornal da Record" como a cidade com a
passagem de ônibus mais cara do país. Muito interessante. Saudades de
ver nossa cidade ser orgulho nacional, porque agora viramos vergonha e
piada nacional. Recordes de assassinatos, ex-prefeito condenado na justiça por
desvio de verbas, anúncios de perdas de obras por falta de projeto ou dinheiro,
colégio particular querendo mandar na cidade etc.
E agora,
com essa notícia do aumento das passagens, fico pensando como essas duas
empresas de ônibus sanguessugas chamadas Gidion e Transtusa podem fazer tudo o
que querem em Joinville e ninguém pode fazer nada por força de um contrato
maldito? Elas reclamam na Justiça um suposta dívida de mais de R$ 300 milhões
da Prefeitura, por conta de aumentos dados abaixo do que elas pediram ao longo
desses quase 18 anos (desde o contrato de permissão de 1998). Mas se elas
tivessem ganhado os aumentos pedidos, quanto custaria a passagem hoje? Se com
R$ 4,50 alegam prejuízos.
Porra!
Todavia essas empresas compravam ônibus de uma mesma fábrica de carrocerias,
dentro de Joinville. Nos últimos anos unificaram as compras de chassi, da marca
mais barata, a carroceria, também as marcas mais baratas, e temos a passagem
mais cara do país!
A cada mês
mais linhas e horários são extintos, a cada renovação chegam ônibus cada vez
piores, secos, desconfortáveis, com peças de soltando. Uma integração de merda
onde você perde a baldeação, funcionários despreparados, calor e ruídos insuportáveis
dentro dos coletivos. Um horror. Nem gado é tão maltratado assim!
Onde está a Prefeitura de Joinville? Incompetente administração. Udo
Döhler foi eleito com a promessa de um transporte público melhor e cadê? Disse
que não tinha pressa na licitação e que o mais importante era que todo joinvilense
pudesse comprar um carro. E agora há engarramentos por todos os lados.
Em 2014,
tivemos que fazer um vídeo de repercussão nacional para agirem sobre um
corredor de ônibus. Levou mais de um ano pra agirem de fato. Pior é a
fiscalização deficitária da Secretaria de Infraestrutura de Joinville (apenas
um fiscal trabalha de verdade, o resto se esconde), responsável por fiscalizar
o transporte da cidade. Os fiscais multam as empresas por irregularidades
cometidas e elas debocham das multas. Por quê? Não existe, praticamente,
punição no contrato de permissão da exploração do transporte coletivo. Esse
mesmo contrato impede que empresas intermunicipais façam embarque/desembarque
dentro de Joinville, comum dentro de outras grandes cidades.
Está tudo uma merda!
*Técnico em gestão da mobilidade urbana
quarta-feira, 6 de janeiro de 2016
Como sangram os trabalhadores

Para quem ganha um salário acima de R$ 3.000,00 - portanto, baixo - e sofre para pagar a prestação do carro, do apartamento ou da faculdade, pode parecer estranho que a vida seja tão mais difícil para outros. Daí vem a ideia que ao outro falta esforço, que desperdiçam as oportunidades. Afinal, se "eu" me sacrifico e, aos poucos, conquisto, por que "eles" não conseguem?
Mas isso acontece porque boa parte da população não conhece - ou seria reconhece? - a situação dos trabalhadores do país. Quem gasta uma parte do seu salário na prestação da casa e do carro não sabe (ou não lembra) como é gastar a maior parte do salário com aluguel e com transporte público.
Quem ganha três mil ou mais parece não se ligar que os salários nos empregos mais precários variam do mínimo (agora R$ 880,00) a R$ 1.200,00. Um salário baixo de R$ 3.000,00 é, portanto, o triplo do salário do grosso da massa trabalhadora.
Por isso, quando a passagem de ônibus, que já era absurdamente cara, aumenta para 3,80 e 4,50, o milionário prefeito, rico desde a infância, não tem direito de falar de bom senso.
Para quem ganha bem e anda de carro, o aumento da tarifa em alguns centavos é irrelevante. Para quem ganha até mil reais, mora na periferia, precisa pagar ou ajudar a pagar o aluguel, gasta o que sobra com remédios, cada centavo é um roubo. Digo, um rombo.
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