segunda-feira, 11 de maio de 2015

A Secretaria das Roçadas

POR JORDI CASTAN



Quem esperava um choque de gestão vai ter que começar a aceitar: a maior obra desta administração são as roçadas. Na falta de outra coisa para mostrar, a poderosa Secretaria de Comunicação, a SECOM, dedica o seu esforço, a sua equipe e o seu orçamento a divulgar a trivialidade do quotidiano. Tudo aquilo que passaria despercebido se alguma coisa importante estivesse acontecendo passou a ganhar o destaque de um grande acontecimento.

Roçadas de mato, troca de lâmpadas queimadas e novos uniformes passam a ser notícia de capa. E podemos juntar a boa disposição da imensa maioria da imprensa sambaquiana, que não tem a menor dificuldade em assumir o papel de caixa de ressonância das notícias diariamente encaminhadas pela a assessoria de imprensa da Prefeitura Municipal.

Noticiar o trivial, o dia a dia de uma cidade como Joinville é um exemplo interessante de como fazer jornalismo. Imagino os profissionais que um dia sim e outro também precisam escrever notas sobre a roçada do mato na Rua dos Caraminguás ou a troca de lâmpadas na servidão do Zé das Couves. Talvez a repintura de alguma faixa de pedestres ou a reparação, pela enésima vez, do buraco entre as Ruas dos Macacos e dos Saguis se esforçando em dar uma nova redação ao texto que será encaminhado para a imprensa local. A única diferença é que o texto que ontem falava da Rua Xis, hoje fala da Rua Ípsilon. E até poderá ser utilizada a foto da mesma rua de ontem, só que tomada desde outro ângulo.

Mas temos que ser compreensivos. À falta do que mostrar, à falta do que inaugurar é bom saber em que é gasto o dinheiro público em Joinville. Imaginamos, inclusive, um projeto de reforma administrativa criando a Secretaria Municipal das Roçadas e dos Capins, com recursos oriundos do Fundo Municipal do Mato e realocando funcionários deslocados do cerimonial que, não tendo muito que inaugurar ultimamente, terão lugar em áreas em que o seu trabalho se faz mais necessário. O risco é que passemos a inaugurar roçadas e capinas, organizemos velórios para lâmpadas queimadas e que organizemos cursos de desenho de moda para uniformes da Guarda Municipal. Ou seja, que glamourizemos o nada absoluto, convertendo em notícia a ausência de notícia. 

Ops!!! mas se já estamos fazendo isso hoje.


quinta-feira, 7 de maio de 2015

Que a Força esteja com você!


O menino, a mãe e o juiz




POR VALDETE DAUFEMBACK NIEHUES

No segundo domingo do mês de maio costuma-se homenagear as mães. Seja qual for a motivação que deu origem a esta tradição, pode-se afirmar que hoje, em razão desta data, o comércio é o maior beneficiado, uma vez que movimenta a economia cujo lucro somente é superado pela festa natalina. Porém, não é sobre valor econômico o tema ao qual me reporto, mas tão somente o valor à vida, à capacidade de nos indignarmos diante de injustiças e à sensibilidade de nos manifestarmos por meio de gestos singulares em determinadas situações que resultem em direitos, dignidade, esperança e cidadania. 

Homenagear as mães de forma genérica pode ser importante para cumprir um ritual simbólico positivista por reconhecer as virtudes e a grandeza espiritual que somente elas possuem. Afinal, o marketing sabe muito bem como abordar e conduzir este tema para agradar às mães, aos filhos, à família. 

A partir daí dá-se atenção especial a esta data consagrado que, conforme reza a história, foi inspirada em um caso de profunda dor e solidão de uma filha, cuja mãe havia falecido. O espírito solidário de quem presenciara a tristeza da menina, fez nascer o sentimento coletivo de reconhecimento e valorização da presença materna por todo e sempre na vida dos filhos, independente de quem quer que seja. Assim, elegeu-se um dia, o “Dia das Mães”, que o comércio dele também se apropriou e o popularizou, embora nem todos os filhos e nem todas as mães conseguem fazer parte deste círculo e freqüentar templos de consumo para cumprir o ritual que se espera nesta data. 

Existem muitos meninos e meninas que, por vários motivos, sequer têm a possibilidade de viver na companhia de sua mãe, crianças que desde muito cedo aprenderam a dura realidade que as cerca, em face, principalmente, das dificuldades econômicas, sociais e culturais. Por estas crianças, não somente o mercado, mas também a sociedade tem desprezo, pois ambos não vislumbram nelas futuros consumidores, quando não as estigmatizam como uma ameaça. Daí decorre a adesão de tantos “cidadãos de bem” aderirem à ideia da redução da maioridade penal como medida de prevenção à segurança pública. Afinal, já é sabido que o sistema carcerário no Brasil tem cor e tem classe social. E o Estado punitivo é o mesmo que permite a desigualdade social e o abandono de crianças, jovens e mulheres à sua própria sorte. 

Se já não bastasse isso, a sociedade, de maneira geral, está cada vez mais intolerante, mais odiosa, menos solidária e disposta a analisar e compreender o contexto que envolve as famílias pobres, dentre as quais, aquelas que sobrevivem graças aos programas de governo e instituições que prestam assistência social.    

Porém, cada vez mais me convenço de que nas instituições públicas ou privadas algumas pessoas fazem a diferença porque são “dotadas” de sensibilidade e capacidade para tomar decisões orientadas pela ética e solidariedade. Cada pessoa dessa qualificação vale por mil. 

Recentemente, os meios de comunicação deram atenção a um caso que envolveu três personagens, um menino, sua mãe e um juiz, cuja história comoveu muita gente pela sensibilidade da atitude, tanto do menino (que enviou uma mensagem de agradecimento ao juiz por ter permitido que sua mãe, doente, deixasse a prisão para passar seus últimos dias em companhia dos filhos), como do juiz (que por meio de uma decisão judicial extremamente humana devolveu ao menino a perspectiva de sonhar). No entanto, não faltou quem reprovasse a decisão do juiz, pois o embrutecimento do olhar punitivo dissemina a cegueira coletiva e impede o exercício da justiça e da cidadania. Por outro lado, não há como negar de que a atitude do juiz tenha provocado a possibilidade de um debate reflexivo sobre ética e direitos humanos. 

O que nos torna humanos é a capacidade de raciocínio para tomar decisões que, por vezes, desestruturam a nossa zona de conforto ao se configurar tendências que fogem dos padrões aceitos pela maioria. As leis e a tradição são instrumentos de manutenção da ordem social. No entanto, a compreensão, a sensibilidade, a solidariedade e a justiça são valores responsáveis pela promoção da cultura da paz. Assim, nossos meninos e meninas estarão protegidos e livres para sonhar.