quinta-feira, 28 de novembro de 2013
terça-feira, 26 de novembro de 2013
As ciclofarsas e dinheiro público
POR JORDI CASTAN

Um deles é o das ciclofaixas. Não vamos aqui relembrar que o
projeto elaborado pelo IPPUJ coloca ciclofaixas ligando a nada a coisa alguma.
Que elas iniciam e acabam no meio do nada e que não tem a largura mínima recomendada
pelo Código Brasileiro de Trânsito. Tudo isso seria chover no molhado. Alguns
até com mais criatividade têm batizado as ciclofaixas em Joinville com o nome
mais adequado de ciclofarsas. O resultado é que os ciclistas as evitam sempre
que possível, pois a sensação de insegurança é grande para o usuário. Qual é o
percentual de aumento do novos ciclistas que passam a usar a bicicleta para
seus deslocamentos diários, ao trabalho, a universidade ou para realizar
compras?
O IPPUJ até agora não apresentou dados que possam servir
para comprovar que as ciclofarsas de fato contribuem a aumentar o número de
ciclistas e o número de deslocamentos feitos com este modal. Deixemos fora da estatística
os ciclistas de final de semana, os que semanalmente em grupos atravessam
Joinville de um extremo ao outro em passeios ciclísticos e outras iniciativas
semelhantes. Nunca vi nenhum desses grupos usando ciclofarsas. Mas encontrei
entre eles alguns dos maiores críticos dos projetos feitos pelos nossos tecnicos locais para estimular o uso
da bicicleta.
As novas ciclofarsas são enfeitadas em alguns trechos, durante
os primeiros 4 ou 5 meses com faixas de rolamento de cor vermelho, deixando a
cidade, por pouco tempo, mais colorida. O Código Brasileiro de Transito
determina a pintura vermelha para melhorar a segurança do ciclista. Ponto para
o Código. Esta é inclusive uma prática na maioria dos países que encaram o tema
das bicicletas com seriedade. Mas não tenho visto que se utilize este sistema
de pintura de curta duração em nenhum outro pais. Em uma cidade que não consegue
manter pintadas durante todo o ano as faixas de pedestres frente as escolas,
hospitais e lugares de maior transito de pedestres é ilusão imaginar que as
ciclofarsas receberão algum tipo de manutenção e serão repintadas com a frequência
que o tipo de tinta, a má qualidade do asfalto e o alto nível de atrito dos
pneus dos carros provocam nas áreas em que a pintura é necessária.
Se o
prefeito e sua equipe zelassem mesmo por cada centavo de dinheiro público, já
teriam percebido que o sistema atual é
caro e ineficiente. Esqueci que essa é um pré-requisito no serviço público,
comprar caro e comprar mal. Quem sabe o prefeito não olha esse tema com mais
atenção e propõe aos seus técnicos que analisem outras alternativas, como o
asfalto pigmentado, que é a técnica mais comum na maioria das cidades que tem
um programa de ciclovias serio e bem planejado. Porque não consigo imaginar que
em Joinville alguém esteja preocupado com a manutenção dessas ciclofaixas.
Um
exemplo o cruzamento das ruas Campos Sales e Benjamin Constant um show de cores
quando inaugurada a ciclofarsa, quanto tempo durou a pintura? Menos de meio
ano. Número de vezes que foi repintada nos últimos 4 ou 5 anos? Zero. Outro as
ciclofarsas da Rua Ottokar Doerfehl, aonde anda quedam traços da pintura
vermelha original? As ciclofarsas que ligariam o Centro de Joinville ao Parque
José de Alencar. Ops! Quero dizer as praças da Cidade, nunca foram concluídas.
Agora o conjunto de ciclofarsas do pomposo trinario que envolve as ruas XV, Max
Colin e Timbó é objeto de pintura chamativa e traçado irracional. Então esta
lançado o desafio, quem aposta que a pintura durara mais de 6 meses? Quem
aposta que não será repintada? Façam suas apostas. Sobre o cuidado dos
centavos, já esta claro que quem apostou, perdeu.
segunda-feira, 25 de novembro de 2013
Um presente que a adolescência me deu
POR CAROLINA POMBO
Um dia o
vizinho bateirista, com o qual eu costumava ralhar da janela por causa do
barulho de sua “música”, bateu em minha porta com uma fita k7 em mãos. Ele me
disse (ou eu criei isso em minha memória, mas me lembro mesmo de tê-lo ouvido)
“é isso que você precisa ouvir”. Era a fita de Mount
Moriah Mass Choir & The New Age Community Choir, ilustrada com uma mulher
negra como anjo, que eu ganhei em 1997.
Eu tinha acabado de sofrer um abuso sexual
(que só fui capaz de revelar pra alguém anos depois). Minha família estava
economicamente falida. Eu ia deixar a escola privada onde estudava. Eu ia ter
que morar na casa de uma amiga, até minha mãe acertar as coisas em outra
cidade. Eu tinha quatorze anos, vivendo minha primeira grande paixão mal
correspondida e sofrendo com a instabilidade das minhas amizades mais próximas.
Adolescência. Tempos difíceis. Eu achava que nunca ia acabar, que aquele tempo
ia durar pra sempre, que eu seria marcada definitivamente pelas experiências
que estava vivendo.
Mas, aquela fita veio a calhar. Eu me senti
tão profundamente tocada por aquele apelo de amor – e principalmente de amor
próprio, cantado em Right On:
“There is nothing in this world could ever
change the way I feel. For I know that it's real, it's truly Love. I used to
think that I wouldn't never find my place no no. In a world of high society
there seemed to be no place for me. I used to feel that I was born to be bound
not free Living in a world of changes there seem no escape for me.
But one day love found me in chains
shackled to my past, desiring to be free. I want the world to see this new meet
of it in yourself is the right kind of love who changes. Right on, right on,
right on to love yourself.”
O poder daquele Right on! Right on to love
yourself! Como se aquilo fosse um grito de guerra, um imperativo urgente, um
chamado: você deve amar a si mesma, você tem o direito de amar a si mesma! Eu
mal sabia cantar em ingles, mas aprendi rapidamente a repetir essas palavras.
Era exatamente o que eu precisava.
Em tempos de bullyings virtuais, de
adolescentes sendo atacadas, expostas, culpabilizadas por viverem suas
sexualidades ou por qualquer outro motivo, minha vontade é de compartilhar a
descoberta que fiz naqueles dias. Depois que saí do prédio para viver quase um
ano hospedada nas casas de amigos, nunca mais encontrei o vizinho baterista –
pra ser sincera não me lembro nem o nome dele. Mas, de fato, era exatamente
daquela mensagem poderosa que eu precisava: é necessário amar a si mesma. Você
tem o direito de amar a si mesma. Seja forte!
Hoje, eu tenho uma filha, que ainda tem
quatro anos de idade, mas já penso nas pressões e constrangimentos que ela
passará ao longo de sua vida de menina e depois ao transformar-se em mulher, se
assim ela desejar. E tenho me armado, cada vez mais, dessa verdade, de que ajudá-la
a descobrir-se e a amar a si mesma é o melhor que eu posso fazer enquanto mãe,
feminista e mulher que já viveu muitas coisas sofridas e fortes nessa vida. Eu
queria pegar você no colo para sempre e protegê-la de todos os males, todos os
insultos, bullyings, constrangimentos… Mas, o que posso fazer é compartilhar
esse grito de guerra que recebi das mãos daquele mensageiro, da fita com aquela
anja a me encarar com força e tranquilidade: vai passar, e você vai sobreviver
pra contar.
Eu posso te contar que, anos depois, depois
do meu feminismo e da maternidade, tive a oportunidade de testemunhar contra
meu opressor, diante de uma juíza, uma promotora e uma escrivã grávida. O amor
me presenteou com um destino inimaginável, e estou aqui podendo escrever sobre
ele.
Portanto, Right on to love yourself!
Carolina Pombo é doutoranda em Saúde e Bem
estar social na Escola de Autos Estudos em Ciências Sociais de Paris, faz parte
do coletivo FemMaterna www.femmaterna.com.br, é blogueira no Com a cabeça fora
d’água www.maetempo.net e no Kaléidoscope www.carolinapombo.blogspot.com, e autora
do livro A Mãe e o tempo: ensaio da maternidade transitória.
quinta-feira, 21 de novembro de 2013
O Mensalão, a memória e o esquecimento
POR
CLÓVIS GRUNER
Alguns
eventos precisam acontecer; outros, precisam não ter acontecido. Eleito pela
primeira vez em 1994, FHC chegou ao governo como principal protagonista de um
projeto de “20 anos de poder”, nas palavras do então ministro Sérgio Motta. A
um ano da eleição de 1998, no entanto, um dilema: como manter-se duas décadas
no poder sem um candidato forte para substituir o presidente? Os tucanos
enfrentavam o mesmo problema do PT anos depois, porque cometeram exatamente o
mesmo equívoco, apostar todas as suas fichas em um único carisma.
A
solução encontrada por “Sérjão”, uma espécie de José Dirceu do governo tucano,
foi simples. Como a Constituição de 1988 não
previa a reeleição, FHC comprou parte do Congresso e aprovou a emenda da
reeleição. Em bom português, ao mudar a Constituição em seu benefício, deu um
golpe branco que custou aos cofres públicos milhares, talvez milhões de reais. Os
detalhes, como em todo caso de corrupção, são sórdidos. Estima-se que foram
comprados cerca de 150 parlamentares, pagos em dólares. “O pessoal votava a favor e na saída do plenário já
tinha gente esperando para acertar o pagamento junto a doleiros. Não tinha erro”,
confidenciou recentemente a um jornalista um dos deputados beneficiados com o “mercado
da reeleição”. O resultado da farra? Nenhum. Com maioria no Parlamento, FHC
conseguiu barrar a instalação de uma CPI. O procurador Geraldo Brindeiro – não por
acaso chamado à época de “Engavetador Geral da República” – encarregou-se de
enterrar a denúncia. Sérgio Motta morreu em 1998, poucos meses antes de ver seu
chef-d'œuvre
concluído, com a
reeleição de FHC no final daquele ano, em primeiro turno.
Do roteiro
acima, a maioria se lembra apenas da reeleição, como se ela tivesse acontecido
em clima de normalidade. O esquecimento, como a lembrança, não é natural. Desde
1997 e ao longo dos anos seguintes, houve um esforço conjunto, orquestrado
pelas lideranças tucanas e seus aliados – fora os demos, basicamente os mesmos
que hoje apoiam o PT, incluindo José Sarney –, além obviamente dos meios de
comunicação, para condenar ao limbo o episódio. Não nego ao governo tucano seus
méritos. Esse é um deles: FHC e seus asseclas construíram um “não evento”. Claro,
as tentativas de produzir o olvido, por eficientes que sejam, só conseguem resultados
provisórios. Há sempre um espírito de porco disposto a lembrar que uma mentira
contada mil vezes não se torna uma verdade, mas apenas uma mentira contada mil vezes.
"EU VEJO PESSOAS CORRUPTAS" – Tudo muito diferente de outra narrativa, protagonizada também
por um governo envolvido em denúncias e práticas de corrupção. Desde o nome, “Mensalão”,
quase toda a trama foi tecida de maneira a produzir um evento que precisava ter
acontecido. Um dos pontos altos veio na semana passada, com as primeiras prisões
dos condenados. Não me sinto particularmente
comovido ao ver presos José Dirceu e José Genoíno: se todo aprisionamento é em
si absurdo e violento, esse não deveria me deixar mais ou menos indignado. Por outro lado, não se trata de uma prisão qualquer, e que ela tenha
ocorrido no simbólico 15 de novembro e sob os holofotes da chamada grande mídia, é
apenas um dos elementos do espetáculo.
Não se trata de uma prisão comum porque Dirceu e Genoíno não são prisioneiros comuns: gostemos deles ou não, ambos são figuras emblemáticas na trajetória da esquerda brasileira e particularmente do PT. Não sei a extensão da responsabilidade de ambos e do PT no processo em que foram condenados – e, pessoalmente, penso que a verdade está em algum lugar intermediário entre o discurso de ódio da direita e a defesa exasperada dos governistas. Mas é notório que o STF e particularmente Joaquim Barbosa, serviram particularmente neste episódio a interesses que não necessariamente os da justiça.
Fosse
assim, junto com Dirceu e Genoíno ou mesmo antes deles, outros já teriam sido punidos.
Fernando Henrique Cardoso usou dinheiro público para salvar da falência o banco
onde seu filho era sócio-diretor. Paulo Maluf está na lista de procurados da
Interpol. Eduardo Azeredo, do PSDB, deu início em Minas, e com o mesmo Marcos
Valério, ao esquema que condenou Dirceu e Genoíno. Demóstenes Torres,
ex-senador Democrata, e seu cúmplice Carlinhos Cachoeira, enriqueceram fazendo
da política uma extensão do crime organizado. José Serra, Geraldo Alckmin e
Gilberto Kassab impediram que nos últimos anos quase meio milhão de reais
entrassem nos cofres do estado de São Paulo. Estão todos livres e, suspeito,
continuarão exatamente assim.
QUEM
CONTROLA O PRESENTE – Todo
mundo tem o direito de aplaudir a prisão dos dois Zés do PT, mas daí a
acreditar que se está a combater a corrupção vai uma distância: nunca se
prendeu corruptos nesse país, e o reality show dirigido pelo Ministro Barbosa
mantém a tradição. Ao prender Dirceu e Genoíno, não se pretendeu dar uma “lição
aos corruptos”, como afirmou outro ministro do STF, fazendo coro à capa de
uma revista semanal. O alvo era outro, o PT. Mas com que propósito?
Tenho
dúvidas se os fins são exatamente eleitorais. Em 2006, ano em que explodiu o
escândalo, o máximo que a oposição conseguiu foi levar a eleição para o segundo
turno, e amargou o vexame de ver Geraldo Alckmin ganhar menos votos do que no
primeiro. No ano passado, e apesar do providencial ajuste na agenda do STF para
fazer coincidir o julgamento com a campanha eleitoral, o PT conseguiu eleger
Fernando Haddad, o que parecia ainda mais improvável que a eleição de Dilma
Rousseff. E embora seja muito cedo para prognósticos seguros, pesquisas
indicam que ela mantém hoje larga vantagem sobre seus virtuais opositores.
Na falta de um projeto para o país, a oposição pode continuar a apostar no discurso moralizante, embora ele já não convença muita gente vindo de onde vem. Particularmente, acho que o propósito é outro. Em uma passagem emblemática de “1984”, de George Orwell, o personagem O'Brien afirma, a um impotente Winston Smith, que “quem controla o passado, controla o futuro; quem controla o presente, controla o passado”. O que está em jogo não são apenas as eleições presidenciais, mas qual interpretação sobre os acontecimentos políticos passados e coevos prevalecerá. Na “novilingua” forjada pela oposição e por parte da mídia nativa, seus colunistas e blogueiros, a urgência não é moral – a nenhum deles interessa combater a corrupção e os corruptos, nenhum deles está preocupado com a coisa pública –, mas narrativa. Fazer o acontecimento e produzir o não acontecido. E ao menos por enquanto, quem continua a escrever a história são os vencedores.
Na falta de um projeto para o país, a oposição pode continuar a apostar no discurso moralizante, embora ele já não convença muita gente vindo de onde vem. Particularmente, acho que o propósito é outro. Em uma passagem emblemática de “1984”, de George Orwell, o personagem O'Brien afirma, a um impotente Winston Smith, que “quem controla o passado, controla o futuro; quem controla o presente, controla o passado”. O que está em jogo não são apenas as eleições presidenciais, mas qual interpretação sobre os acontecimentos políticos passados e coevos prevalecerá. Na “novilingua” forjada pela oposição e por parte da mídia nativa, seus colunistas e blogueiros, a urgência não é moral – a nenhum deles interessa combater a corrupção e os corruptos, nenhum deles está preocupado com a coisa pública –, mas narrativa. Fazer o acontecimento e produzir o não acontecido. E ao menos por enquanto, quem continua a escrever a história são os vencedores.
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