quinta-feira, 14 de novembro de 2013
quarta-feira, 13 de novembro de 2013
terça-feira, 12 de novembro de 2013
Lei Gabriela Ferreira Duarte
POR JORDI CASTAN
Em menos de uma semana dois fatos marcaram a cidade, o primeiro, em ordem cronológica, foi a aprovação pela Câmara de Vereadores de Joinville da lei que permite o rebaixo do meio fio, com direito a cenas de UFC ou MMA e com vereador fazendo demonstração de artes marciais no plenário. A segunda a morte como resultado do atropelamento na calçada de uma adolescente de 13 anos, na rua Monsenhor Gercino, no Bairro Paranaguamirim.
Inútil explicar aqui qual é a função do meio fio, para que servem as calçadas e qual é a ordem de precedência nas ruas da cidade. Os nossos vereadores faz tempo que desistiram de querer entender qualquer coisa. Estão convencidos na sua supina ignorância que os meio fios devem ser rebaixados, que as calçadas foram feitas para os carros, que os carros devem ter direitos superiores aos dos pedestres ou ciclistas. É difícil argumentar quando o outro lado desistiu de usar a razão, é uma luta inglória e destinada ao fracasso. Deixemos por tanto os nobres vereadores que assumam os seus erros.
Proponho, desde este espaço, que quando o prefeito Udo Dohler sancione a lei, tenho poucas duvidas que em nome da governabilidade, de manter uma maioria confortável e da ausência de assessores competentes, o prefeito, declarado defensor do carro, como meio de transporte e da mobilidade individual, não terá a coragem de vetar a esdrúxula lei, que subverte os valores da mobilidade e coloca os pedestres e ciclistas em risco, como lamentavelmente ficou provado na mesma semana, proponho, pois, que a lei quando sancionada passe a receber alem do numero que a identifique, o nome da menina que foi assassinada, pela falta de fiscalização do rebaixo do meio fio em toda a cidade, pela omissão do poder público e agora também pela irresponsável aprovação de uma lei absurda. Do mesmo modo que temos uma lei Maria da Penha, ou uma lei Carolina Dieckmann, teríamos em Joinville uma lei Gabriela Ferreira Duarte, assim os vereadores poderiam lembrar sempre do nome da primeira vitima da omissão. Ajudaria a que entendessem a função do meio fio e que a calçada definitivamente não é lugar para carro.
domingo, 10 de novembro de 2013
Vale tudo
POR FABIANA A. VIEIRA
Ao ler o título e ver esta imagem ao lado o leitor pode pensar que o texto fará menção as lutas de MMA tão em evidência nos dias de hoje. Não, não é bem sobre isso que pretendo escrever. Embora o conceito seja mesmo o de vale tudo em Joinville.
A foto bombou na minha timeline nesta semana. A imagem foi capturada pela fotografa Maiara Bersch, durante a sessão da Câmara de Vereadores de Joinville no dia 5 de novembro, e que quase acabou em vias de fato. Aliás, parabéns à fotógrafa que conseguiu registrar o clímax da desordem na Casa legislativa. Nada como estar no local certo, na hora certa.
Quem não estava no local certo era o vereador Maurício Peixer - este, que na foto está de pé, em cima do muro de proteção (proteção?) do plenário da Câmara. Eu lamentei muito pelo ocorrido quando li as primeiras matérias sobre esta sessão. Primeiro pelo triste resultado das duas votações nas quais os vereadores aprovaram o rebaixamento total do meio fio em frente aos estabelecimentos comerciais de Joinville (projeto de autoria do vereador Roberto Bisoni). Mesmo com a declaração na imprensa (Calçadas não serão rebaixadas, A Notícia, 18 de julho de 2013) do vereador Peixer, que disse: "É inviável (a proposta) do ponto de vista técnico – diz Maurício Peixer (PSDB), presidente da Comissão de Legislação e Justiça da casa. Aliás, vale lembrar que a comissão deu parecer contrário à proposta. Só que na hora de votar, o vereador mudou de ideia.
Em segundo lugar pela atitude deplorável do parlamentar, que está num espaço de debate e não num octógono de MMA (mesmo sabendo que na ânsia eleitoreira, as regras da Casa as vezes são meio que um 'vale tudo' mesmo). Em terceiro lugar, pela proposta em si, que é inconstitucional.
Que o rebaixamento das calçadas fere o princípio da acessibilidade, qualquer pessoa sabe. Só por isso já mereceria um olhar mais humano dos nossos representantes. Além disso, essa proposta anda na contramão da mobilidade urbana. Grandes centros hoje estão atentos ao movimento inverso do desenvolvimento desenfreado, sobretudo no trânsito e estão priorizando mais a qualidade de vida das pessoas. Diga-se qualidade de vida, andar com segurança pelas calçadas. Com essa proposta aprovada na Câmara (e que não quero acreditar que seja sancionada pelo prefeito) não consigo imaginar um pedestre caminhando com segurança pelas calçadas de Joinville. O que hoje já é uma tarefa não muito fácil.
Agora, voltando para a imagem do vereador, é preciso repudiar, condenar, punir atitudes como essa num ambiente de debate. Joinville não merece esse tipo de vale tudo.
quinta-feira, 7 de novembro de 2013
Poesia de passeio
![]() |
Foto: Fabrício Porto/ND
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POR CLÓVIS GRUNER
A data na dedicatória – “outono/2013” – denuncia: venho
querendo escrever sobre “Farda de passeio: poesia quase toda”, do Caco de
Oliveira, desde que recebi meu exemplar pelo correio. Mas a tal “realidade” – as manifestações de junho, o assassinato do Amarildo, a desmilitarização da PM, os médicos cubanos, o conservadorismo reacionário dos politicamente incorretos, etc... – atropelou, um após o outro, meus planos de resenhar esta merecida e necessária
antologia – e digo uma coisa e outra porque Caco vem fazendo poesia há umas
três décadas, utilizando como suporte para sua escrita meios os mais diversos:
varais literários, poemas xerocados e carimbados, grafites em pedras e muros,
etc...
Conheço o Caco de Oliveira dos tempos em que morava em
Joinville e cheguei a guardar por um longo período alguns de seus poemas
carimbados, infelizmente perdidos depois de três mudanças. Naquela época – final dos anos
1980 e 90 adentro – eram poucos os lugares e eventos que costumávamos – estudantes,
jornalistas, artistas, etc... – frequentar. Ele era presença assídua, tímida e
generosa, e suas intervenções já sinalizavam a possibilidade de ler a cidade
sob uma clave poética.
Tal possibilidade é uma das que surgem da leitura de “Farda
de passeio”. Mas não se trata, por certo, da cidade em seu sentido mais estrito
e tangível: nos versos de Caco de Oliveira, ela é mais uma metáfora que coisa,
e seu desenho se faz pela confluência de pequenas impressões, desejos e
símbolos. Flutuante e incorpórea como uma chama, ela nem por isso é menos real
e visível, e os muitos indícios de sua presença surgem em versos como “A
vidraça do ônibus coletivo/ chora,/ chove dentro e fora dos olhos.”, ou “Verão/
a lesma refresca a barriga/ no mármore do banheiro.” Em outros, a dicção
poética caminha pari passu à solidariedade que denuncia as muitas contradições
ainda entranhadas na história e no cotidiano urbanos – e se é possível
identificar um nome e uma presença, Joinville, ainda assim pode se tratar de
qualquer outra cidade: “Mangue, revirar o passado dói, remói sentimentos.
Invasão, fiação de gatos, privadas de buracos no chão, pinguelas e janelas
negras. (Saímos donde a gente tava, porque o aluguel comia em nossa mesa).”
A linha que separa a “cidade real” da “cidade imaginada”,
portanto, é tênue. E diferente do que supõe uma racionalidade mais dura e instrumental,
pouco afeita à experiência sensível, é justamente essa configuração imaginária
que permite acessar tanto o seu caráter plural, como os muitos significados
atribuídos a ela por meio da linguagem. Quando diz que “o vento balança/ a
estátua da praça”, Caco problematiza o cotidiano fluído e “sem tempo” dos que
circulam pela cidade sem, muitas vezes, percebê-la. Mas, igualmente, confronta
um passado objetivado nos monumentos públicos, opondo-lhe a possibilidade de
outros pretéritos encobertos pela almejada solidez dos discursos e imagens
oficiais.
OUTRAS FARDAS E PASSEIOS – É esse olhar a cidade, essa
tentativa de apreendê-la para além da sua superfície mais visível, que a meu
ver aproxima a poesia de Caco de Oliveira de algumas das experiências que o
antecederam. Falo dos poetas e da poesia feita nos anos 70 e 80, da revista
literária “Cordão” (onde escreveram, entre outros, Alcides Buss, Borges de Garuva, Germano Jacobs, Ives Paz, David
Gonçalves, Carlos Adauto Vieira e Eunaldo Verdi); das publicações independentes
do mesmo período (tais como “O aprendiz da esperança”, de Apolinário Ternes,
“Vida dura”, de Celso Martins e “Saindo da escuridão”, de Luiz Alberto Correa –
estes dois últimos, aliás, meus preferidos); dos eventos literários organizados
por Dúnia de Freitas, já nos anos de 1990; e, mais recentemente, da poesia
escrita por uma geração de novos poetas – e me recordo particularmente de Patrícia
Hoffman, Marcos Vasquez, Marcos Alqueire e Fernando Karl, além do próprio Caco
de Oliveira.
Em que pese as muitas diferenças – de época, temas e estilos – entre os poetas citados, há alguns elementos a aproximá-los. Sem entrar no mérito do seu valor literário, há neles um esforço por produzir uma poesia que não descuida do mundo; antes, procura ocupar um espaço entre a linguagem e o mundo, aquilo que o ensaísta francês Maurice Blanchot denominou “espaço literário”. É deste espaço-trincheira que se pode apreender e interpretar a linguagem como uma arma de luta; resultado de pressões e violências culturais, sociais e políticas, mas também como uma forma de reagir a elas, um golpe desferido em meio a uma batalha.
Em que pese as muitas diferenças – de época, temas e estilos – entre os poetas citados, há alguns elementos a aproximá-los. Sem entrar no mérito do seu valor literário, há neles um esforço por produzir uma poesia que não descuida do mundo; antes, procura ocupar um espaço entre a linguagem e o mundo, aquilo que o ensaísta francês Maurice Blanchot denominou “espaço literário”. É deste espaço-trincheira que se pode apreender e interpretar a linguagem como uma arma de luta; resultado de pressões e violências culturais, sociais e políticas, mas também como uma forma de reagir a elas, um golpe desferido em meio a uma batalha.
Em sua
trajetória, Caco de Oliveira construiu inúmeras trincheiras, multiplicou e
potencializou espaços, fez com que seus versos, sua ironia, sua apenas aparente
leveza (o italiano Ítalo Calvino já disse que só sabe a leveza quem conhece o
peso das coisas) chegasse até onde de direito: os leitores, sem os quais a
palavra, qualquer palavra, resta incompleta. “Farda de passeio” celebra e
sintetiza o percurso de um “guerrilheiro da poesia” que, como todo bom poeta,
não declinou do compromisso com seus contemporâneos. Um dos meus haikais
preferidos diz: “Enxurrada de palavras/ no asfalto quente da linguagem./ O
mormaço põe delírio nos versos.” Pode-se reconhecer na escolha das palavras – enxurrada,
asfalto quente, mormaço – a presença latente da cidade que Caco escolheu sua.
Latente, mas não limitadora. Ser a um só tempo local e universal, eis aí uma
das riquezas dessa joia chamada poesia e deste pequeno grande livro que é
“Farda de passeio”.
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