POR FELIPE SILVEIRA
Não sei se a explosão que ocorreu durante a Maratona de Boston, na semana passada, foi um atentado terrorista praticado pelos dois jovens chechenos acusados ou um atentado terrorista armado pelo próprio governo estadunidense, como sugerem algumas teorias conspiratórias. Sei, contudo, que há muitas perguntas sem respostas sobre o caso e que precisam ser respondidas. Copio, abaixo, algumas feitas pelo jornalista Flávio Gomes (o texto completo pode ser lido aqui, e vale a pena):
"1. Onde está a tal SUV Mercedes que teria sido roubada pelos garotos da Chechênia? Quem é seu proprietário? Alguém falou com ele? Os meninos disseram ao dono, realmente, que eram os responsáveis pelas bombas? A troco de quê diriam isso? Numa cidade/região monitorada por câmeras a cada esquina, por que não apareceu nenhuma imagem desse carro sendo conduzido pelas ruas em fuga?
2. Os dois garotos, segundo as autoridades, foram perseguidos pela polícia. Houve tiroteio e granadas lançadas. Outras bombas atiradas. Sabemos o contingente que a polícia americana desloca para qualquer ocorrência. Como é que o menino de 19 anos conseguiu fugir ao cerco? A pé? Como assim? Se escondeu onde? Como é possível demorar tanto para encontrar um garoto de 19 anos que estava cercado pela polícia?
3. O que é que os meninos chechenos estavam fazendo no MIT na noite de quinta-feira? Por que é que não fugiram da cidade depois de explodirem as bombas? Terroristas de verdade ficariam batendo perna pela cidade onde cometeram seus atentados por qual motivo? Há alguma explicação para isso? Se você explodisse uma bomba nos EUA ficaria na cidade? Não teria um plano de fuga? Não sumiria? Por que atiraram num policial no campus? Não há imagens desse confronto no campus da universidade, monitorado por câmeras em todos os cantos?"
A indignação do Flávio Gomes é com esse tipo de jornalismo que não faz pergunta, que publica tudo que a autoridade diz, que compra a versão oficial. Versão que aprendemos que deve ser a primeira a ser questionada. No entanto, trouxe a questão aqui para o Chuva Ácida por outro motivo.
O que aconteceu em Boston após os atentados, com comemorações nas ruas após a morte de um dos suspeitos, é um sintoma de uma sociedade que vive com medo, em paranoia. Um medo alimentado dia a dia pelo sistema, pelo governo, pela mídia...
(Talvez valha lembrar aqui que medo é uma coisa que vende, seja sistema de segurança ou seguros de vida.)
Apesar de ter ido até Boston neste texto, a reflexão que quero fazer é sobre Joinville mesmo. Ainda estamos muito longe de viver nessa sociedade paranoica como a americana (principalmente depois de 11 de setembro de 2001), mas me parece muito claro que esse medo é construído é diariamente.
Quando um vereador diz que proibir o consumo de bebidas alcoólicas em espaços públicos “será um avanço social para a cidade” o medo de viver em sociedade é construído. Se uma proibição como essa for um avanço, eu tenho medo do que pode ser o retrocesso. E não se trata aqui de defender o próprio direito de beber, pois eu não lembro de ter feito isso em local público. Trata-se de entender que leis como essa inibem o encontro em público, a confraternização no parque, o uso da praça e da própria calçada. É a lógica de empurrar as pessoas para dentro de casa, onde não conversam, não questionam, não protestam. Vivem como indivíduos, e não como coletivos.
Sem contar, claro, do papel de “higienização” da cidade, desejado por muitos. Resolver o problema do mendigo ninguém, mas expulsá-lo para longe da vista interessa muito aos moradores do centro e dos bairros nobres (vocês não gostam do termo elite, né?). E interessa, principalmente, ao mercado imobiliário, que precisa vender essa cidade "limpa".
Muros cada vez mais altos, câmeras de vigilância em todo lugar, violência na mídia, violência no trânsito, guarda municipal, blitzes surpresas da PM, proposta de redução da maioridade penal, abandono dos espaços públicos... São coisas como essas que vão, aos poucos, formando uma sociedade cada vez mais amedrontada. Gente que vive cada vez mais dentro de casa ou dentro do shopping (o local seguro por excelência, onde você pode comprar, comprar e comprar mais), que vive como indivíduo e não como coletivo.
Apesar disso tudo há muita gente na direção contrária. Mas essa é uma luta política e é preciso acordar para a vida e não aceitar tudo que nos é imposto pelo governo e pela mídia. Ou daqui estaremos todos trancafiados dentro de casa e aceitando tudo que o governo fala e a TV reproduz, como a história lá do começo do texto.
P.S.: Na semana passada eu reclamei das luzes apagadas do Parque da Cidade. A comunidade também reclamou bastante. Soube que houve esforço de alguns setores da Prefeitura para ligar novamente. Ontem as luzes estavam acesas, permitindo que a população pudesse usar o espaço. Obrigado e parabéns ao pessoal do governo que está atento e disposto a trabalhar por uma cidade melhor.