POR JOSÉ ANTÓNIO BAÇO
Há poucos dias teve um começo de festa na
Reaçolândia. O pessoal estava a comemorar a milionésima queda de Lula. A “Veja”
tinha uma entrevista em que Marcos Valério estaria a jogar merda no ventilador.
A manchete da revista era “Os Segredos de Valério” e, como seria de esperar, o
objetivo da matéria era detonar Lula.
Conversa de raposa é a morte da galinha.
Por isso, decidi dar um tempo antes de escrever a respeito. Para ver se surgia
alguma denúncia irrefutável ou algo que fosse além do rame-rame habitual. E
apesar da alegada existência de gravações, o fato é que até ao momento em que
escrevo o texto não houve qualquer desdobramento sério. Só slogans.
Todos sabemos que a “Veja” é a muleta
intelectual do povo da Reaçolândia. Aliás, o pessoal nem esperou a revista ir
para as bancas, não se importou em ler a matéria e, a partir da réplica da capa
nas redes sociais, já tinha um veredito: Lula era culpado. Do quê? Não importa.
O que interessa é que ele seja culpado. É educativo ver como as mentes simples
funcionam.
O ódio de classe cega. Qualquer pessoa com
dois dedinhos de testa ficaria obviamente com um pé atrás. Afinal, a revista
parece não ter um projeto editorial, mas uma obsessão editorial: torpedear Lula
e o Partido dos Trabalhadores. E a seguir essa linha, a notícia e os fatos não
precisam ser exatamente a mesma coisa.
Os caras da Reaçolândia só acreditam no
que querem acreditar. E só veem o que interessa à sua versão dos fatos. Ora,
não fazia qualquer sentido Marcos Valério dar uma entrevista naquele momento. E
justo para a “Veja”, um título hostil. Se ele tem algum material quente, é
óbvio que saberá usar de uma maneira que lhe dê alguma proteção, poder de troca
ou vantagem.
Aliás, esse pessoal fez ouvidos moucos e
nem quis saber se no mesmo dia o advogado de Marcos Valério desmentiu qualquer
entrevista. Ou se a própria revista esclarecia que a entrevista de Marcos
Valério afinal era de depoimentos indiretos. Ou seja, a manchete foi feita
através de interpostas pessoas a dizerem o que ele “teria dito”. Ora, com
depoimentos indiretos eu escrevo uma reportagem em que você, leitor ou leitora,
pode parecer deus ou o diabo.
Ah... e antes que alguém comece a disparar
comentários, vou lembrar: não estou a discutir a inocência de ninguém. Se
houver culpas provadas, espero nada menos que o rigor da lei. Mas o tema aqui é
a cegueira dos conservadores, que não conseguem disfarçar o ódio de classe. Esse é o retrato da Reaçolândia.