segunda-feira, 26 de março de 2012
As palmeiras e o chilique dos marmanjos
POR JOSÉ ANTÓNIO BAÇO
É uma tristeza ver marmanjo tendo chilique. Mas na
semana passada houve uns barbados que fliparam e pareciam adolescentes
histéricas por causa das obras na Rua das Palmeiras. O berreiro era tão alto
que fiquei com a sensação de que uma bomba atônita estava a cair sobre o centro
de Joinville.
Li, aqui mesmo no “Twitting in the Rain”, do Chuva Ácida, um exemplo interessante:
“O Carlito está destruindo a Rua das Palmeiras. Enorme buraco feito com
retroescavadeira vai derrubar tudo”. Fujam para as montanhas, joinvilenses! Dá
para imaginar a cena. O prefeito alucinado, a dirigir uma máquina escavadora de
toneladas e a mandar abaixo tudo o que aparecia pela frente.
Pensei que fosse apenas um faniquito, mas depois
percebi que a coisa fazia sentido. Afinal, Carlito é torcedor do Corinthians e
estava apenas a antecipar o jogo de ontem no Pacaembu. O objetivo era derrubar
o Palmeiras. E parece que o treino resultou, porque ontem o Palmeiras caiu. Viram? O Palmeiras e as palmeiras. Uma confusão compreensível.
Mas deixemos o futebol e voltemos à Rua das Palmeiras. Não
vou entrar em questões técnicas porque essa não é a minha praia. Ou melhor, não
é a minha alameda. Não sei o que se pretende com as obras (vejam o P.S.), mas era preciso fazer alguma coisa. Os cartões postais da cidade não
devem servir apenas para as fotografias. É essencial serem vividos.
LINHAS QUE NÃO CONVIDAM A ENTRAR - Quando
estive de férias em Joinville, no mês passado, levei uns amigos para conhecer a
Rua das Palmeiras (na verdade, foram eles a insistir) e a impressão que eles levaram não foi das
melhores. O lugar acabou por se tornar numa espécie de gueto. Aliás, o projeto
– que tem quase três décadas – pode ter ficado bonito no papel ou numa maquete,
mas na prática nunca funcionou. O lugar não é fluído, inclusivo.
Qualquer leigo como eu – que nada entende de paisagismo, urbanismo, arquitetura e
essas coisas – percebe que a praça parece uma pista de obstáculos, quando
deveria parecer um corredor. Que o traçado é estanque e não convida o visitante
a entrar. Que as linhas criam zonas de contenção. E ainda reclamam que o
pessoal da droga tenha feito da alameda um ponto de encontro.
Vou repetir. Não sei se a alameda vai ficar melhor com
as obras, mas pior não pode ficar. Aliás, fico com uma certeza: a maioria dos
críticos não deve pôr os pés na Rua das Palmeiras há muito tempo. Porque se
tivessem dado uma única caminhadinha pelo local não se sentiriam tão à vontade
para tanto estrilho.
Ah... antes de acabar, imagino que esta hora haja
gente a pensar que estou a fazer a defesa de Carlito Merss. Nada disso. Estou a
fazer o ataque aos caras – viúvas do antigo senhor do feudo – que não medem os
decibéis da própria histeria. É importante saber: quando se exagera na causa, a coisa fica inverosímil e as pessoas deixam de acreditar.
E por falar nisso, o berreiro da semana passada não
lembra o mesmo de tempos atrás, quando iniciaram as obras na JK? Era a desgraça
do paisagismo, o apocalipse do urbanismo, a falência do planejamento. Mas no
fim ficou mais bonito e funcional. Ou vai discordar?
sábado, 24 de março de 2012
Somos analfabetos ambientais?
POR AMANDA WERNER
Desde
muito cedo aprendi com meus pais a reciclar o lixo. Tínhamos até uma
composteira para resíduos orgânicos em casa. Naquela época era mais difícil,
pois não havia coleta seletiva e tínhamos que acumular latinhas, papelões e plásticos
para entregar para o “homem da lata” que vinha de quando em vez para apanhar o
nosso lixo. Hoje, o caminhão de coleta seletiva cobre todos os bairros da
cidade, restando-nos apenas o trabalho de separar o lixo.
Você já parou para contar o quanto de lixo reciclável você e sua família
produzem por semana? Eu já. Posso afirmar que em se tratando de volume e peso,
a quantidade de lixo reciclável produzida é, no mínimo, o dobro da quantidade
de lixo orgânico. Faça o teste em sua casa. Após, por favor, me corrija se eu
estiver errada.
Poucos reciclam. Parece que a ideia de reciclagem aplica-se somente às latinhas
de cerveja e refrigerantes. Talvez pelo incômodo que causem, ocupando grande
volume dentro do lixo de cozinha comum. Dá tanto trabalho assim lavar o plástico
que veio como embalagem da carne a vácuo? Sendo a resposta afirmativa, o esforço
não terá valido a pena?
Não avançar é recuar. Com tanta informação sobre reciclagem nas escolas e meios
de comunicação, continua-se fazendo mais do mesmo. Não reciclando ou reciclando
somente o que convém. O analfabetismo ambiental cobra custos elevados, quando,
por exemplo, durante uma enchente, garrafas pet e todo o tipo de resíduos sólidos
que deveriam ter sido reciclados, entopem os bueiros, e nos vemos em meio a um
verdadeiro caos de sujeira e entulho.
Pouco adianta nos sentirmos conscientes, ao optarmos por comprar produtos com
embalagens recicláveis, quando na hora de descartarmos esta mesma embalagem,
misturamos tudo com os resíduos orgânicos. O ato da compra da embalagem
correta, não torna ninguém, por si só, ecologicamente responsável. É imprescindível
que o lixo seja adequadamente separado.
A preocupação persiste quando se pensa que no momento da entrega do lixo reciclável
para o caminhão de coleta o problema está resolvido. A nossa cidade estaria
preparada para dar o destino correto ao lixo separado? Me pergunto se, ao
deixar minha casa limpa, mandando o lixo pelo caminhão, não estaria apenas
empurrando esse lixo para outro lugar.
A Ambiental, que é a empresa que faz a coleta seletiva de lixo em nossa cidade,
informou que os resíduos recicláveis são encaminhados para cooperativas e
associações de pessoas carentes, que separam e revendem o material. Ou seja, o
que pra nós não passa de lixo, para outros é renda, forma de sustento.
Na cidade de Wiesbaden, na Alemanha, alguns mercados possuem uma grande máquina,
onde as pessoas depositam resíduos sólidos recicláveis dentro de um buraco. De
acordo com o tipo de resíduo, aparece um valor no visor da máquina, que
corresponde à quantidade de créditos que a pessoa recebe para utilizar na
compra de alimentos dentro dos próprios mercados. Não é genial? Você pode
argumentar, que não funcionaria aqui em Joinville, que na Europa é diferente e
tudo mais. Mas que tal se a partir desse exemplo, pensarmos em algo semelhante,
algo que funcione como estímulo para os que ainda não reciclam? Há diversos
bons exemplos mundo afora.
O fato, é que nossas ações testam diariamente a capacidade de suporte dos
ecossistemas. Estamos diante de recursos naturais finitos. Se por um lado
faltam políticas públicas para tratar da questão, por outro, falta boa vontade
para separar corretamente o lixo reciclável. Devemos nos lembrar que a
capacidade de resiliência da Terra é limitada e a nossa forma atual de consumo
não.
Amanda Werner integra o Chuva Ácida
POR COLETIVO CHUVA
Hoje o Chuva Ácida tem a estreia de Amanda Werner como integrante do coletivo. Quem acompanha o blog provavelmente já a conhece, pelos comentários ou pelo texto publicado na semana passada, como convidada do Brainstorming. Formada em Direito e moradora de Joinville há quase duas décadas, Amanda Werner vai publicar quinzenalmente e trazer para o Chuva Ácida um outro tipo de visão sobre a vida da cidade. Mas é apenas o primeiro ingresso. Como já foi informado, o Chuva Ácida continua a buscar novos nomes - um forma de ampliar o perfil do seu público leitor - e por isso nos próximos dias teremos novidades.
Bem-vinda, Amanda.
Assinar:
Postagens (Atom)