POR JORDI CASTAN
Minha casa, minha vida... sem ônibus, sem lazer, sem escolas.
No bairro Boehmverwald, uma plantação de arroz
foi transformada no maior projeto do programa MCMV (Minha Casa Minha Vida) do Estado. O conjunto Trentino será formado por 496 apartamentos, no Trentino 1, e
outros 288, no Trentino 2. O projeto prevê que 784 famílias se beneficiem do
programa do Governo Federal. Numa conta rápida, estamos falando de mais de 3.000
pessoas morando no que até poucos dias atrás era uma arrozeira. Algum problema?
Aparentemente não. Agora com os apartamentos praticamente prontos - só
faltando marcar a data para o foguetório, os discursos e a politicagem - é que
começam as cobranças.
O bairro Boehmerwald carece da infraestrutura
adequada para receber, de uma só vez, uma demanda tão grande e pontual. A oferta
de vagas nas escolas próximas ao conjunto Trentino deverá ser reforçada e novas
vagas criadas. A saúde deverá também prever o crescimento da demanda que estes
novos moradores do bairro, com toda razão, vão exigir. Até as linhas de ônibus
precisarão aumentar suas frequências para atender a uma demanda que
inicialmente não estava prevista.
DOIS ANOS DE ATRASO - O poder público, mesmo tendo conhecimento há mais de dois anos, de que esta nova demanda se produziria na região, não
se preparou, não agiu preventivamente. Agora começará a pressão - sobre as mesmas
autoridades que deram o aval à construção de um pombal numa arrozeira - para que
as novas necessidades sejam atendidas de forma rápida.
O curioso é que o planejamento urbano serve - ou
melhor dizendo, deveria servir - para evitar que se coloque o carro na frente
dos bois. Autorizar projetos habitacionais em áreas anteriormente destinadas à agricultura, e que careciam da infraestrutura adequada para atender este tipo
de empreendimentos, significa que agora, depois dos apartamentos entregues aos
seus proprietários, será preciso fazer o que deveria ter sido feito antes. Simples assim.
É um caso isolado? Nada disso. No bairro Vila Nova, outro
empreendimento semelhante do Minha Casa Minha Vida, também implantado numa antiga arrozeira, receberá aproximadamente 600 novas famílias, que representarão mais de 2.000
novos moradores. Gente que passará a exigir novos espaços de lazer,
vagas nas escolas próximas, mais médicos, mais remédios nos PAs do bairro e mais
e melhores ônibus. Tudo isso sem falar nas demandas de educação, saúde, lazer e
mobilidade, por citar só algumas.
E assim cresce esta Joinville que não planeja, que
avança sobre a sua área rural, que paga o preço da improvisação e da falta de
planejamento e que aumenta, de forma mascarada, o seu perímetro urbano,
convertendo arrozeiras e campos de cultivo em futuros focos de problemas.
P.S.
Não tenho e nada poderia ter contra o programa Minha Casa, Minha Vida, que oferece una oportunidade de moradia digna para milhares de brasileiros. Porém, continuo firme na minha cruzada contra a ausência de planejamento.