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terça-feira, 12 de março de 2013

Trupe de Polyanas

POR JORDI CASTAN



Faz agora exatamente um ano que publiquei um post sobre o conjunto habitacional Trentino I, o maior projeto habitacional do programa Minha Casa, Minha Vida em Santa Catarina. O texto, que está no link Minha Casa. Minha Arrozeira , alertava para os problemas que uma obra desta envergadura apresentava já antes da sua inauguração e entrega aos proprietários.

O jornal A Notícia publicou, na sexta feira, dia 8 de março, um editorial com o título “Atendimento ao Trentino”, em que denuncia a situação do conjunto habitacional e faz um chamado para que os problemas existentes sejam resolvidos antes que se agravem ainda mais.

A falta de planejamento, a imprevidência e, principalmente, o imediatismo  como são tratados os temas públicos são as causas principais dos problemas citados, tanto no post, como no editorial. Mas é bom não esquecer que por trás desta situação há pessoas que podem e devem ser responsabilizadas pela gestão irresponsável, pelo descaso com os recursos públicos e pela falta de respeito com as pessoas que hoje são moradores do conjunto Trentino I e II. Dificilmente os problemas ocasionados pela escolha e a localização do local, pela falta de infraestrutura adequada, pela má qualidade da construção e pela falta dos equipamentos básicos necessários, serão resolvidos com rapidez e de forma definitiva. Quando os problemas forem enfrentados, isso gerará ainda um custo adicional para o município. Em outras palavras, todos nos pagaremos uma parte do preço deste acumulado de erros.

O Trentino não é um caso isolado, tampouco representa um ícone específico da administração passada. Cada uma das últimas administrações municipais legou a Joinville outros exemplos de má gestão pública. O Flotflux, cujas ruínas ainda atrapalham o curso natural do Rio Cachoeira. O elevador para deficientes na passarela que une a Catedral e o Colégio Santos Anjos. As repetidas mudanças do modelo de calçadas no centro, que mudam a cada duas gestões. Ou as reformas constantes de obras ainda inconclusas. Esse são alguns exemplos pontuais de desperdício de recursos públicos e de descaso com Joinville e os joinvilenses.

O preço e, principalmente, os custos para esta geração e as futuras onera o caixa e drena recursos de todos que são necessários para construir uma cidade melhor para todos. Mas os ufanistas não toleram que estas coisas sejam comentadas, acreditam piamente que vivemos no melhor dos mundos possíveis. E atacam impiedosamente quem ousa discordar desta visão. Da mesma forma como o fizeram com o texto postado agora faz um ano. O ufanismo nubla a visão e não permite enxergar a realidade como ela é. Cria um filtro rosado que distorce a sua visão da cidade e os converte em uma animada trupe de Polyanas.

quinta-feira, 8 de março de 2012

Minha casa, minha arrozeira

POR JORDI CASTAN

Minha casa, minha vida... sem ônibus, sem lazer, sem escolas.



No bairro Boehmverwald, uma plantação de arroz foi transformada no maior projeto do programa MCMV (Minha Casa Minha Vida) do Estado. O conjunto Trentino será formado por 496 apartamentos, no Trentino 1, e outros 288, no Trentino 2. O projeto prevê que 784 famílias se beneficiem do programa do Governo Federal. Numa conta rápida, estamos falando de mais de 3.000 pessoas morando no que até poucos dias atrás era uma arrozeira. Algum problema? Aparentemente não. Agora com os apartamentos praticamente prontos - só faltando marcar a data para o foguetório, os discursos e a politicagem - é que começam as cobranças.

O bairro Boehmerwald carece da infraestrutura adequada para receber, de uma só vez, uma demanda tão grande e pontual. A oferta de vagas nas escolas próximas ao conjunto Trentino deverá ser reforçada e novas vagas criadas. A saúde deverá também prever o crescimento da demanda que estes novos moradores do bairro, com toda razão, vão exigir. Até as linhas de ônibus precisarão aumentar suas frequências para atender a uma demanda que inicialmente não estava prevista.


DOIS ANOS DE ATRASO - O poder público, mesmo tendo conhecimento há mais de dois anos, de que esta nova demanda se produziria na região, não se preparou, não agiu preventivamente. Agora começará a pressão - sobre as mesmas autoridades que deram o aval à construção de um pombal numa arrozeira - para que as novas necessidades sejam atendidas de forma rápida.

O curioso é que o planejamento urbano serve - ou melhor dizendo, deveria servir - para evitar que se coloque o carro na frente dos bois. Autorizar projetos habitacionais em áreas anteriormente destinadas à agricultura, e que careciam da infraestrutura adequada para atender este tipo de empreendimentos, significa que agora, depois dos apartamentos entregues aos seus proprietários, será preciso fazer o que deveria ter sido feito antes. Simples assim. 

É um caso isolado? Nada disso. No bairro Vila Nova, outro empreendimento semelhante do Minha Casa Minha Vida, também implantado numa antiga arrozeira, receberá aproximadamente 600 novas famílias, que representarão mais de 2.000 novos moradores. Gente que passará a exigir novos espaços de lazer, vagas nas escolas próximas, mais médicos, mais remédios nos PAs do bairro e mais e melhores ônibus. Tudo isso sem falar nas demandas de educação, saúde, lazer e mobilidade, por citar só algumas.

E assim cresce esta Joinville que não planeja, que avança sobre a sua área rural, que paga o preço da improvisação e da falta de planejamento e que aumenta, de forma mascarada, o seu perímetro urbano, convertendo arrozeiras e campos de cultivo em futuros focos de problemas. 


P.S.
Não tenho e nada poderia ter contra o programa Minha Casa, Minha Vida, que oferece una oportunidade de moradia digna para milhares de brasileiros. Porém, continuo firme na minha cruzada contra a ausência de planejamento.