POR FELIPE SILVEIRA
Quero começar uma campanha aqui no Chuva Ácida contra uma proposta que vamos ouvir com cada vez mais freqüência até as eleições de outubro. “Diga NÃO aos elevados!” Se concordar, espalhe a ideia.
Antes de qualquer coisa é preciso esclarecer que esta é a opinião de um leigo. Gostaria que tal explicação não fosse necessária, já que o blog não é formado por especialistas, mas por gente que tem algumas opiniões sobre alguns temas. Infelizmente, algumas pessoas que comentam anonimamente neste espaço têm dificuldade pra entender coisas simples e por isso a gente se obriga a mastigar.
Continuando...
Não nego que elevados e viadutos sejam soluções para alguns problemas. Há pontos tão críticos que tais obras podem mesmo ser necessárias. No entanto, elevados e viadutos, na minha opinião, devem ser a última solução quando falamos de mobilidade. Antes de pensar em grandes – e caras – obras desse porte, é necessário pensar em diversas outras.
A primeira delas é diminuir o uso do carro. Como fazer isso? Simples, com um transporte público que tenha qualidade e seja barato (ou gratuito) e com boas condições para que os ciclistas possam usar a “zica” para as mais diversas finalidades. Ou seja, ciclovias e ciclofaixas caprichadas (e não aquelas que acabam no meio da rua), estacionamentos seguros para as bicicletas, entre outros incentivos. A própria iniciativa privada poderia pensar em promoções para quem usa o coletivo ou a bicicleta. Empresários poderiam gratificar seus funcionários e os setores de comércio e serviços poderiam fazer promoções.
Mas, claro, o processo descrito acima é mais complicado. Não é impossível, é apenas mais complicado. Por isso, vamos continuar trabalhando com a lógica do carro. Assim, acredito que a solução para o caos no trânsito é investir em soluções simples. Por exemplo, a obra que vi na semana passada em uma rotatória da avenida Beira-rio, perto da lanchonete do Gordão. Veja na foto:
A passagem que ligava a rua Padre Antônio Vieira ao Gordão foi fechada - olha ali o monte de barro! - e eu vi algumas pessoas chiarem por causa disso. O que não elas notaram, porém, é que apenas o fato de fechar aquela passagem, eliminou um ponto onde o trânsito parava. Como era necessário esperar a vez para passar ali no horário de pico, formava-se uma fila que travava o restante da Padre Antônio Vieira. Aí essa fila ia até a rótula no fim da rua Iririú. Com a obra, além de eliminar aquele ponto que causava a fila, foi alargada a saída da Padre Antônio Vieira para a Beira-rio. Com isso, onde só passava um carro que tinha três opções, agora passam dois com duas opções de caminho, direita ou esquerda.
Essa foi uma obra que não custou praticamente nada e vai agilizar o trânsito no local. Não vai resolver, claro, porque os carros que passam mais rápido ali vão parar lá na frente, em outro ponto crítico. Mas de solução em solução as coisas vão melhorando. Assim como essa, podem haver centenas de pequenas soluções para grandes problemas em toda a cidade. Outro exemplo disso são as “mãos inglesas” que também resolveram problemas pontuais.
O problema disso tudo é que tem muita gente com mania de desmerecer essas obras. Preferem implorar por elevados, por grandes gastos. Eu, sinceramente, não sei se gostam de falar por falar ou se falta consciência mesmo do estrago que um elevado vai fazer no meio da cidade.
Para finalizar a minha pequena listinha de alternativas aos elevados, vou falar de um tipo de obra tão cara quanto um elevado, mas muito mais útil e necessária para a cidade: abertura de vias. Praticamente todo o fluxo da cidade passa pela região central e assim fica complicado mesmo. A cidade precisa de mais ligações entre suas regiões para desafogar o centro.
O binário da Vila Nova é o caso mais emblemático. É impossível haver apenas uma ligação entre uma região tão populosa e o resto da cidade. Aliás, duas vias será pouco. O binário da rua Tenente Antônio João com a Santos Dummont é outro caso. É maluquice querer um elevado por ali antes de saber qual será o efeito do binário.
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Enfim, eu acredito que não há solução para o trânsito enquanto tiver essa quantidade de carro na rua. É necessário trabalhar para que as pessoas usem o carro, a bicicleta, o ônibus, o barco, o skate, o patinete. E trabalhar significa dar condições e educação para que as pessoas encarem o trânsito e a mobilidade de outra forma. Enquanto isso não for feito, pode fazer 30 elevados na cidade e nada vai adiantar.
Para encerrar a postagem, deixo uma sugestão de leitura e um convite:
Sugestão: A jornalista Natália Garcia percorreu o mundo para ver como alguns cidades-referência (Paris, Copenhague, Amsterdam) lidam com essa questão do trânsito. As impressões estão no site Cidade para pessoas.
Convite: Um grupo de ciclistas organizados de Joinville vai promover, nesta sexta-feira (24), às 18 horas, o evento Massa Crítica, “que acontece mensalmente em centenas de cidades ao redor do mundo e é aberto a todos que queiram promover as condições necessárias para o uso da bicicleta como meio de transporte no espaço urbano.” Apareça para conhecer e debater o assunto.