sexta-feira, 10 de março de 2017

"Aposentadoria fica, Temer sai"


POR CECÍLIA SANTOS
O título deste post foi o tema da manifestação do dia 8 de março em São Paulo, que reuniu milhares de mulheres. A reforma da previdência é mais uma das muitas medidas que visam desmontar as conquistas sociais e trabalhistas históricas, penalizando os mais pobres. Com o desmonte do SUS e da Previdência, que avança a passos largos, quem tem algum recurso vai contratar planos de saúde e de previdência privada (por que vocês acham que a Fiesp e o mercado financeiro apoiaram o impeachment?), enquanto os mais pobres vão ficar desamparados.

De todos os afetados, as mulheres são as mais prejudicadas com o aumento do tempo de contribuição e a perspectiva de se aposentar depois dos 65 anos.

É totalmente injusto igualar o tempo de contribuição das mulheres, considerando que temos jornadas duplas ou triplas. A divisão do trabalho doméstico continua a ser desigual e, se depender do conservadorismo cada vez mais forte, tem pouca chance de mudar. Pesquisa da Unicamp mostra que mulheres dedicam de 20 a 25 horas por semana ao trabalho doméstico, contra 9 horas pelos homens.

Mas nosso jurássico presidente da república reforça essa condição de desigualdade, conforme seu discurso proferido no próprio dia 8 de março, Dia Internacional da Mulher, deixando claro que a criação dos filhos é atribuição da mulher e não do homem:
Tenho absoluta convicção, até por formação familiar e por estar ao lado da Marcela, do quanto a mulher faz pela casa, pelo lar. Do que faz pelos filhos. E, se a sociedade de alguma maneira vai bem e os filhos crescem, é porque tiveram uma adequada formação em suas casas e, seguramente, isso quem faz não é o homem, é a mulher”
Por outro lado, as mulheres são frequentemente preteridas em contratações e promoções profissionais. E todo mundo sabe que uma pessoa de 40 anos, seja homem ou mulher, já é considerada velha para o mercado de trabalho. Então qual é a chance de uma mulher de 60 anos ser contratada a fim de completar seu tempo de contribuição e continuar a se sustentar? 

Toda essa situação levará a um empobrecimento geral da sociedade e a dependência financeira da mulher. E mesmo para quem se acha acima da questão, é preciso lembrar que o fato de haver uma população com baixíssimo poder aquisitivo compromete a economia. Se não há quem compre, o comércio e a indústria logicamente vão definhar e cada vez mais gente ficará desempregada.

Uma distribuição de renda mais igualitária entre homens e mulheres garante, entre outras coisas, que as mulheres tenham meios de sair do ciclo de violência doméstica, por meio da autonomia financeira. Frear a reforma da previdência não é só uma questão econômica, é também pela vida das mulheres.

quinta-feira, 9 de março de 2017

Xoinville 166 anos - Baron Von Ehcsztein


Joinville 166 anos - José António Baço


Joinville 166 anos - Sandro Schmidt


Joinville 166 anos - Raquel Migliorini


Joinville 166 anos - Jordi Castan


Joinville 166 anos - Felipe Silveira


Como será Joinville em 2040?

POR CHARLES HENRIQUE VOOS

Neste 9 de Março, sempre é preciso lembrar da importância ideológica e discursiva que as datas comemorativas possuem para a manutenção do poder de alguns grupos sociais. Como isso já foi feito com brilhantismo dentro e fora das universidades joinvilenses, quero contribuir em outro viés, construindo uma análise sobre o futuro da nossa cidade.

Infelizmente, a cidade de Joinville sempre foi muito previsível. Quando seus comandantes e gestores quiseram ser ousados foi para manter a ordem e a lógica conservadora. Ou seja, para corrigir os rumos em prol da mesmice. Assim, é muito fácil fazer uma previsão de como estaremos em 2040. Os mandatários locais são os mesmos e circulam há décadas pelos mesmos espaços. Esqueçam essa história de 2020, 2025, 2030 ou qualquer coisa assim porque em 10 anos pouca coisa estrutural mudará, ainda que pese a velocidade da inovação tecnológica e seus impactos na sociedade. Ao falar de cidades, preciso lembrar que as suas rupturas são muito mais lentas, que merecem grandes investimentos e uma mudança de vários paradigmas, e isso está muito longe de termos por aqui, convenhamos.

Bilbau, na Espanha, é um exemplo de como o arrojo transformou a cidade (e seus habitantes) em 15 anos
A análise do futuro passa, portanto, pelo que será e o que poderia ser (focarei agora apenas no primeiro). A aprovação da Lei de Ordenamento Territorial nos dá uma grande oportunidade de entendermos como nosso espaço estará organizado pelos próximos anos. Pouco irá mudar, ainda mais devido ao espraiamento urbano provocado pelo aumento do perímetro urbano, a hype capitaneada pelos empresários visando a expansão para a zona sul e o adensamento burro nas regiões mais centrais, pois lá estarão os prédios de luxo da cidade e com menores densidades (apesar da verticalização dar ideia de que estará adensando).

Com isso, e somado a algumas políticas ultrapassadas de mobilidade urbana, pouco mudaremos para melhor em nossa forma e conteúdo. A Joinville do futuro terá suas periferias aprofundadas, com um distanciamento ainda maior da "cidade oficial", esta acessível apenas para os mais ricos. Surgirão novos bairros e novas localidades ainda mais distantes do centro e muito mais pobres. Por mais que os governos invistam em segurança, uma cidade desigual só tende a aumentar o número de crimes violentos. Copiamos um modelo perfeito que levou à destruição da qualidade de vida das grandes metrópoles brasileiras.

Já Elvis!
Sem contar a necessidade feroz para aquisição de um automóvel, as seguidas brincadeiras com a despoluição do Cachoeira, as poucas áreas de lazer (se o "parque" da cidade, para sair do papel, levou sete anos, como esperar alguma coisa maior e mais rápida?) e o pensamento desonesto de que a vocação de Joinville é industrial e por isso não precisamos da diversidade econômica e de pensamento. A UDESC em 50 anos pouco ampliou sua oferta de cursos e estamos há onze tentando fazer um puxadinho de campus da UFSC na curva do arroz. O Carnaval é perseguido. Os movimentos sociais excluídos (que diga o Conselho da Cidade) e criminalizados.

Joinville não se desenvolve. Rasteja. Mendiga. Chafurda. Contenta-se com pouco. Retrocede. E só os de sempre saem ganhando.

Eu não tenho dúvidas que as estruturas da cidade de Joinville serão as mesmas que temos hoje. Se não houver nenhuma mudança drástica, certamente elas serão ainda piores, porque o modelo adotado por aqui já deu errado em várias outras localidades. Ainda temos a mesma cara, os mesmos valores e as mesmas opções de 30 ou até mesmo 40 anos atrás. Como acreditar que, nos próximos 20, a cidade será diferente, e com a projeção de 900.000 habitantes de brinde?

Cenas como essa, do Juquiá, continuarão existindo 
Os donos do poder não vão deixar nada original acontecer, podem apostar. Será uma cidade para o trabalho dito como "produtivo", aquele manufatureiro e que faz "Joinville ser o que é". Para eles, sempre foi preciso manter a "vocação" ou, melhor dizendo: manter a cidade do jeito que está porque assim o poder também estará mantido em suas mãos brancas, preconceituosas, centrais e masculinas. Os mesmos que te dizem que o 9 de Março é importante e o 20 de Novembro, não. Ainda bem que não acredito mais nisso. E nem no conto de fadas que a cidade irá melhorar.

Os poucos lutadores que restaram são limitados por uma grande barreira invisível e que está presente nas almas e consciências daqueles que mandam. Segundo um empresário local, "gente assim não há de prosperar por aqui". Morreremos no mesmo quintal sujo e hostil de outras primaveras?

quarta-feira, 8 de março de 2017

Vozes no feminino


O ecofeminismo, os ciclos e Dona Iraci

 POR RAQUEL MIGLIORINI
Hoje é comemorado mundialmente o Dia da Mulher. O Google nos lembra disso, as manchetes de jornais, mensagens nas redes sociais, e inúmeros “parabéns”. Como em todos os anos, tenho a sensação que corre uma história paralela a esse dia e que as homenagens do dia 08 de Março foram criadas para ofuscar essa outra face. Uma parte importante do dia de hoje é a luta das mulheres pela igualdade, respeito, valorização e, principalmente, pela liberdade dos grilhões que nos aprisionam em papéis determinados por homens e perpetuados culturalmente pela maioria das mulheres. E essa luta é longa e árdua.

Mas a história paralela nos mostra que é preciso a luta pelo feminino, que foi desvalorizado pela cultura contemporânea por ser associado à fraqueza, desespero, histeria, etc. E ele é exatamente o oposto disso. Um movimento que retrata bem o que quero dizer é o Ecofeminismo, que mostra o quanto homens e mulheres podem se ligar à Natureza se deixarem o feminino transbordar.

As mulheres perceberam isso mais cedo por terem ciclos, como os ciclos ambientais, e também porque a elas coube o cultivo da terra por milhares de anos. Ao migrarem para as cidades, trouxeram os jardins e as hortas urbanas para suas casas. O equilíbrio ambiental é entendido pelo feminino como fundamental para a qualidade de vida familiar. A preservação da Natureza, para o feminino, contrapõe o masculino que só vê no ambiente natural um local de exploração e dominação, com o único objetivo de conseguir dinheiro e poder. Dominar a natureza e as mulheres passa a ser sinônimo.

Em Joinville temos excelentes exemplos de mulheres que tiram o sustento de suas famílias em trabalhos que minimizam os impactos ambientais. Uma grande mulher é a Dona Iraci, do Paranaguamirim, que começou a primeira cooperativa de materiais recicláveis. Essa mulher conseguiu a construção de uma horta para os moradores locais e a cooperativa gerou renda para mais de dez famílias. A sabedoria dessa mulher e a forma feminina de ver o mundo é cativante. Outros exemplos são vistos na área rural, onde mulheres transformam a colheita de suas lavouras em produtos coloniais de excelente qualidade ou ainda, mulheres que tecem em conjunto para completar a renda familiar.

A luta paralela ao dia de hoje deve mostrar o quanto as mulheres tem se afastado da natureza e com isso se deixam dominar por um lado masculino muito forte, competindo de forma agressiva e devastando o Meio Ambiente com um consumo desenfreado. Em contrapartida, homens que afloram o feminino cuidam da terra, do ambiente natural, dos animais humanos ou não.

Talvez, quando as desigualdades diminuírem, quando os corpos das mulheres não forem mais violentados, quando a valorização for pela vida, independente do sexo, chegaremos perto do equilíbrio entre o feminino e o masculino e entre o ser humano e o ambiente natural.