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terça-feira, 4 de dezembro de 2018

A entrevista do prefeito de Joinville e a sua cidade imaginária

POR JORDI CASTAN
Depois de ler a entrevista que o prefeito Udo Dohler concedeu ao jornal local, acredito que não esteja conseguindo mais diferenciar a fantasia da realidade, que viva na Joinville das suas quimeras, dos seus sonhos e dos seus pesadelos. Mas os sonhos (ou delírios) são só sonhos. A Joinville real está cada dia mais distante daquela em que o prefeito mora, claramente uma cidade imaginária.

É incansável a capacidade que este governo municipal tem de criar projetos, desenvolver propostas e, acima de tudo, querer nos convencer que vivemos numa outra Joinville.Para toda e qualquer coisa que alguém possa imaginar, a Prefeitura Municipal tem mais de um projeto. As alternativas se acumulam em gavetas e caixas empoeiradas. A maioria das soluções e os projetos propostos acabam ficando obsoletos antes de verem a luz.

É incrível a capacidade de inventar soluções que nunca serão executadas, de confundir fantasia e realidade. O risco é levar o prefeito e sua troupe a viver num mundo paralelo, em que não é mais possível discernir o certo do errado. Um caminho perigoso, confuso e difícil de percorrer. A impressão é que o prefeito está perdido no seu labirinto, que perdeu o novelo e não sabe sair da enrascada em que se meteu. Só que acabou nos levando a todos os joinvilenses juntos. 

Os meus filhos cresceram sem poder passear em nenhum dos parques projetados pelos técnicos da Prefeitura, apresentados em lindos desenhos coloridos em não poucas reuniões e palestras. Projetos que mesmo depois de muitos anos e muitos reais continuam sem ser implantados e parecem cada vez mais distantes.

Hoje duas cidades distintas ocupam o mesmo lugar. Uma é a cidade imaginária, só visível para políticos e os seus íntimos, através de um fantascópio. Essa Joinville é invisível a olho nu, para os cidadãos. É a Joinville irreal que nunca sai do papel e que só existe na fantasia dos nossos dirigentes, que acabam acreditando nas próprias fantasias, patranhas e invencionices.

Para nós fica a Joinville real, a das ruas esburacadas, sem espaços para o lazer, sem áreas verdes públicas. A Joinville cinza, do transito lento, dos engarrafamentos, das obras inacabadas, das inaugurações incompletas. A Joinville, que aos poucos vai perdendo o seu brilho de outrora.

Em alguns momentos as duas cidades se cruzam. Por instantes é possível vislumbrar na lanterna mágica as duas Joinvilles. Os desenhos coloridos dos projetos, perdem o brilho, a fantasia da computação gráfica, não sobrevive à claridade da luz do sol. E aos poucos as pessoas percebem que a nossa cidade é a real, a de cada dia, a das filas, dos buracos, que tem poeira na época de seca, a do barro na época de chuva.

A outra é uma fantasia, que existe só nas cabeças e nos sonhos e nas sandices que propalam. 

terça-feira, 27 de novembro de 2012

Os botos do Cachoeira


POR JORDI CASTAN

O brasileiro gosta de acreditar em histórias fantasiosas. A magia, o sobrenatural e o fantástico florescem no nosso imaginário. Do Saci Pererê a Curupira, passando pelo Boto Tucuxi e a Mula Sem Cabeça, temos também a lenda do político honesto. Cada região do país cultua suas lendas e a população acredita nelas. No sul, de forma geral, e aqui em Joinville, em particular, a sensação é que o racional, o cartesiano e a lógica prosperam. E pouca gente acredita em jovens apostos que aparecem nas noites de lua cheia para encantar as donzelas virgens.

Um dos segredos melhor guardados desta cidade - ignorado inclusive por Ficker, que não o cita no seu livro da história de Joinville - é que desde o início da vida política da cidade grupos de gente estudada, inclusive com títulos obtidos nas mais prestigiosas universidade,
 se juntam aos menos escolarizados e de forma quase sorumbática se reúnem às margens do Rio Cachoeira, em maior quantidade la pelos lados do mercado municipal.

Estes encontros ritualísticos acontecem aproximadamente a cada quatro anos e o objetivo não é outro que esperar que se produza o milagre da aparição dos botos do Cachoeira. De acordo com a tradição, entre a baia de Saguaçu e o Museu de Sambaqui nas noites de lua nova, no negrume das horas mortas, no pico da preamar um cardume de botos pretos como o carvão sobe rio acima e um deles, o escolhido pelo destino, sai da água, se alastra torpemente pela margem e, de forma espasmódica, adquire forma humana e se converte no escolhido. Ele será o candidato que na data certa será ungido pelas urnas e se converterá em burgomestre da vila. Encantará eleitores com seus discursos melífluos e enamorará eleitoras com seu olhar penetrante

Neste ano alguma coisa estranha deve ter acontecido. Há preocupação entre os estudiosos das lendas sambaquianas, que entre outras teorias culpam a feérica iluminação que agora margeia o rio, consideram eles se não seria ela a que tenha ofuscado os botos e tenha impedido sua migração. A lenda dos botos do Cachoeira já esteve ameaçada no passado recente quando um prefeito iniciou a construção de um muro de concreto margeando o rio. 


Há preocupação com que os encantadores de eleitores que pregavam a Joinville fantástica acabem desaparecendo. Os mais antigos juram que nada impedira que os botos reencontrassem o seu caminho e voltem periodicamente para cumprir o seu rito sagrado de engabelar eleitores, oferecendo sonhos e deflorando virgens com seu olhar.