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sexta-feira, 14 de dezembro de 2012

A tortuosa e gratificante missão de ser um Sociólogo em Joinville


POR CHARLES HENRIQUE VOOS

Octávio Ianni
Nesta semana, no último dia 10 de dezembro, foi comemorado o dia do Sociólogo. Esta data foi escolhida por remeter à Lei n º 6.888, de 10 de dezembro de 1980, a qual dispõe sobre o Exercício da Profissão de Sociólogo. São 32 anos de atuação formalizada, mas um século inteiro de serviços prestados à sociedade brasileira. O Sociólogo é o maior responsável por encontrar perguntas e respostas no palco mais complexo da face da Terra: a sociedade.

Em Joinville, segundo as minhas breves pesquisas, o primeiro contato de um sociólogo com a cidade aconteceu através do Plano Básico de Urbanismo em 1965, momento em que o Dr. Octávio Ianni (1926-2004) fez uma análise da conjuntura social de nossa cidade, e montou um capítulo específico sobre este tema no referido plano.

Desde lá tivemos vários profissionais que se utilizaram da sociologia para embasar seus estudos, mesmo não possuindo formação específica em Sociologia (graduação ou licenciatura). Podemos citar Carlos Ficker, Adolfo Bernardo Schneider, Carlos Gomes de Oliveira, Thereza Bobbel, Raquel S. Thiago, Valdete Daufemback, Belini Meurer, Dilney Cunha, Ilanil Coelho, Naum Santana, Luiz Alberto de Souza, Regina Colin, Apolinário Ternes, Afonso Imhof, dentre tantos outros colegas de Ciências Humanas e outras áreas do comnhecimento, para os quais peço desculpas por não citar aqui.

Entretanto, no dia de hoje quero parabenizar os meus colegas de profissão que, a partir dos anos 90 vão dominando um espaço inabitável dentro da produção e repasse de conhecimento na cidade de Joinville. Moramos e atuamos em uma cidade industrial, onde a técnica é mais importante que o conhecimento pleno, o trabalho fala mais alto que o estudo, o empresariado local é visto como semideus, políticos se assemelham a coronéis urbanos, planejamento urbano é feito pelas mãos de poucos para poucos, escolas interditadas e mídia parcial em muitos casos. O sociólogo apareceu nesta cidade para abrir os olhos da população para muitas coisas, e me sinto orgulhoso por fazer parte desse cenário desde 17 de julho de 2009. Tortuoso, difícil, desanimador (já pensei em me mudar daqui várias vezes), mas é extremamente gratificante mudar um paradigma com os ensinamentos, alertas e palavras proferidas.

Por este motivo, cito aqui Darci dos Santos Filho (meu primeiro professor de Sociologia no ensino médio), Roberta Nabuco, João Manfio, Karolina Mattos Roeder, Viviane B. Marques e tantos outros colegas Sociólogos que ainda não tive a oportunidade de conhecer pessoalmente e que atuam na cidade de Joinville. Seja em qual subárea for (Sociologia Urbana, Econômica, do Trabalho, Rural, Gênero, Cultura, Poder, Políticas Públicas, etc) todos estes profissionais são guerreiros e se posicionam perante a cidade de Joinville e o mundo. Infelizmente não temos nenhum curso superior em Ciências Sociais na região norte de Santa Catarina, mas mesmo assim resistimos a opressão ideológica de alguns setores dominantes para fazer aquilo que mais amamos. E este é o momento de dizer para todos, em alto e bom som: EU SOU SOCIÓLOGO E TENHO O MAIOR ORGULHO DISSO.

terça-feira, 13 de dezembro de 2011

Um tamanduá perdido


POR CHARLES HENRIQUE

Ao ler o texto do historiador Clóvis Gruner aqui no Chuva Ácida semana passada, me deparei com os questionamentos da época em que eu era apenas um graduando em Ciências Sociais, pisando em ovos, e tentando descobrir qual a minha “função” neste mundo capitalista-tecnicista. Afinal, ser cientista social não é uma tarefa fácil hoje em dia. Encontrar um aqui em Joinville é tão raro quanto achar um tamanduá na fauna brasileira.

Pode ser um desabafo - ou apenas um texto para lembrar o dia do sociólogo que foi comemorado neste último sábado, dia 10, mas ao ler este mesmo texto do Gruner, relembrei muito de uma das últimas aulas antes de me formar, quando um professor pediu para comparar a função do cientista social com algum animal. Não tive dúvidas: o tamanduá além de ser raro (sofre um vertiginoso processo de extinção), “fuça” os lugares mais inimagináveis em busca de seu alimento (no caso do cientista é o conhecimento) e é um bicho estranho para os demais. Em Joinville, cidade “industrial” e cheia de ideologias impregnadas, é triste ver que não há a valorização deste profissional, bem como centros acadêmicos que repliquem e construam outros curiosos e descobridores dos porquês das relações sociais. Muitos querem que não haja “ninhos de cupins e formigas” aqui nessa cidade, infelizmente.


Em Joinville, sem generalizar, se você está em busca de conhecimento e de ter uma profissão, o que importa é ir para as exatas ou partir para as “sociais aplicadas” (termo bonito esse, né? as sociais “inaplicadas” seriam o quê?) que terá um vasto campo. Profissionais das ciências humanas dependem da sala de aula para conseguir atuar, até o dia em que outra pessoa de uma formação nada a ver com a condizente dê aulas em seu lugar, seja na rede de ensino regular ou em universidades.

O Estado também não colabora. Na Prefeitura há um ou dois tamanduás. A rede pública estadual chega a colocar qualquer um como professor de sociologia. É triste. Quando trazem universidades públicas para cá, são aquelas que atendem a “vocação” da cidade, ou seja, com um perfil perfeito para o grande capital industrial: formar mão-de-obra para o setor secundário de nossa economia. Ok, a cidade de Joinville tem esse tamanho e “poderio” justamente por ser deste perfil, mas não podemos replicar este modelo cegamente. A variedade de conhecimentos construídos e compartilhados enriquece, ao contrário do modelo vigente, que segrega.

Por isso somos poucos aqui. Se não há um “habitat” propício, muitos migram para outras cidades, e outros, largam tudo. A sociedade não está acostumada. Poucos conhecem e são amigos de um cientista social. Mas há uma luz no fim do túnel, pois vejo em cada dia brotar um pensamento crítico em especial na geografia e na história, ciências que possuem cursos de formação em nossa cidade.

Peço desculpas ao leitor pelo “low profile” deste texto, mas, o barulho tem que ser feito. Não é “puxar sardinha” para um lado ou outro, muito menos preconceito com todas as outras profissões, mas cada uma tem sua parcela de contribuição na sociedade. Aqui em Joinville, muitos não querem que o pensamento crítico aflore e que os questionadores surjam. O Chuva Ácida é um exemplo de que olhares de diversas correntes tenham uma essência equiparada pela visão crítica das coisas. Por isso que faço parte deste grupo e me identifico com todos. O nosso convívio como urbanitas necessita de mais tamanduás para “equilibrar o ecossistema” de Joinville.