quarta-feira, 4 de novembro de 2015

O jornalismo do Profissão Repórter precisa ser regra, e não exceção

Imagem do filme Boa Noite, e Boa Sorte
POR FELIPE SILVEIRA

O Profissão Repórter de ontem, 3 de novembro de 2015, mostrou mais uma vez a diferença que o jornalismo pode fazer na vida das pessoas. Você não deve ter visto, pois o programa da Rede Globo comandado pelo experiente e compromissado Caco Barcellos, que coordena uma equipe de jovens jornalistas, vai ao ar na última hora das terças-feiras, às vezes na primeira hora das quartas – talvez propositalmente.

No programa de ontem, Caco e sua equipe contaram histórias de agricultores que foram afetados pelo uso de agrotóxicos nas plantações, especialmente de tabaco. Ouviram as famílias de pessoas que tiraram a própria vida, pois o agrotóxico gera e agrava o quadro. Da mesma forma com o câncer, causado pela exposição ao veneno. Mostraram também como esses trabalhadores estão sujeitos a péssimas condições.

Ou seja, o programa apresentou ao Brasil uma questão fundamental que afeta a todos nós, mas que, talvez pelo horário, talvez pelo estilo do programa, poucos viram. Certamente, uma maior exposição de temas como esse causaria um maior debate e mudanças na sociedade. E, talvez, dessa forma, resolvêssemos melhor nossos problemas. Neste caso, notadamente, poderíamos avançar na questão da saúde.

Mas, infelizmente, não é assim que a banda toca. Como o jornalismo tem a capacidade de apresentar soluções aos problemas, quem não quer resolvê-los achou um jeito de anular este poder. O jeito encontrado é não fazer jornalismo, ou fazer um jornalismo tacanho, insuficiente para promover o diálogo e encontrar soluções. Há cada vez menos jornalistas nas redações, e as opções de carreira em outras áreas são cada vez mais atraentes aos novos e velhos profissionais.

Há, sem dúvida, bom jornalismo sendo feito em diversos lugares. Às vezes nas redações mais tradicionais, às vezes na própria Globo, como o caso que abre o texto. Novas e independentes alternativas surgem com mais ou menos força. Mas ainda é muito pouco para a demanda. A TV e o rádio, que alcançam a maior parte da população, raramente discutem grandes questões. Algumas, pelo contrário, se especializaram em fazer terrorismo político. Ao tratar questões de maneira superficial, como o aumento de preços, sem tratar das causas, sem aprofundar as explicações, sem propor soluções, os donos das emissoras fazem a pior política.

É ótimo que existam programas como o Profissão Repórter, mas ele não pode ser a exceção. Este tipo de jornalismo precisa ser a regra.

Força, Lola

Lola Aronovich é uma blogueira feminista das mais atuantes, que publica quase que diariamente em seu blog Escreva Lola Escreva. Pela firme atuação, Lola é odiada por canalhas misóginos que tentam, de todas as formas, fazer com que ela pare. Além das terríveis ameaças de violência e morte para ela e para a família, o que já é gravíssimo, os vermes usam de outras táticas para atingi-la.

A última delas foi a criação de um site falso com conteúdos preconceituosos e de ódio que, quem conhece a Lola, sabe que ela jamais escreveria algo parecido. Como se não bastasse tamanha escrotice, o conteúdo foi compartilhado por perfis com diversos seguidores de direita, como Olavo de Carvalho e Roger, duas formas decadentes de existência. Roger, mesmo alertado da falsidade do site, manteve o compartilhamento e ainda tentou justificar.


A perseguição à Lola é uma perseguição a todas as mulheres. As mulheres têm conquistado grandes vitórias em sua luta por igualdade e direitos e é por isso mesmo que tem sido cada vez mais atacadas pelos vermes que não suportam perder seus privilégios. Vermes que querem liberdade para odiar, explorar e violentar. Mas eles vão perder.

De minha parte, quero demonstrar aqui minha solidariedade à Lola, ajudando a divulgar a história do site fake, e também minha solidariedade a todas as mulheres.

Cunha sai, pilula fica!

Nesta sexta, às 18 horas, na Praça da Bandeira, vai rolar o ato contra o PL 5069, de autoria de Eduardo Cunha. A movimentação está acontecendo em todo o Brasil e levou milhares de mulheres às ruas na semana passada. A manifestação em Joinville foi adiada por causa da chuva. Cunha tem sido tratado, com razão, por causa da condução do legislativo, como um inimigo das mulheres. E elas estão protagonizando o movimento que vai derrubá-lo. Venha ajudar. Evento aberto a todos e todas.

Confirme presença e saiba mais aqui.

9 comentários:

  1. “Ao tratar questões de maneira superficial, como o aumento de preços, sem tratar das causas, sem aprofundar as explicações, sem propor soluções, os donos das emissoras fazem a pior política.”

    Alto lá! A mídia, principalmente a televisiva não trata de “maneira superficial” os aumentos dos preços, muito pelo contrário, uma pá de economistas das mais variadas correntes são convidados para expor à população aquilo que ela já sabe. Os mesmos convidados também propõem soluções (alguns até avisaram o governo sobre o erro que cometeria), porém penso que já existem (ou deveriam existir) profissionais bem pagos dentro do executivo.

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    1. Uma pá de economistas da mesma linha ideológica.
      Perambule pela internet e verá muito mais coisa do que a TV se permite exibir.

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    2. Dou-lhe outro conselho: esqueça a cartilha!

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  2. Acho que ficou bem claro anônimo, na maior parte das vezes aumentos de preços são tratados de forma sensacionalista e irresponsável principalmente pela Globo e suas associadas. Quem não se lembra da Ana Maria Braga com colar de tomates, ou da Miriam Leitão fazendo urubologia diária, ou de boa parte da emissora determinando que a Copa não aconteceria, e por aí vai. A pregação do quanto pior melhor é causa determinante na economia e preços, alimenta a especulação.

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    1. Só posso afirmar que, nesses treze anos de governo petista com as atuais conjunturas econômica e política pelas quais o país está atravessando, estou demasiadamente satisfeito – que continue assim!

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  3. Felipe, obrigada por se posicionar a favor da Lola e dos atos que estão sendo realizados em todo o Brasil contra os desmandos do Cunha e contra os poucos direitos das mulheres, duramente obtidos e sempre sob ameaça.

    Aproveito para deixar registrada aqui a minha tristeza em ver que, além da sua, são poucas as vozes falando de feminismo aqui no Chuva Ácida, inclusive e principalmente pelas próprias mulheres. O blog já foi bem melhor nesse sentido. Há poucos dias vocês publicaram um artigo sobre assédio escrito por um homem. Não tinha uma mulher para falar do assunto? Vocês não vão aderir à campanha Agora é que são elas?

    Um abraço!

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    1. Oi, Cecilia. Obrigado pelo comentário.
      Eu convidei mulheres do meu partido pra escreverem, mas tava bem em cima da hora e ninguém pode. Também convidei outra pessoa que não pode pelo mesmo motivo.

      Sobre a ausência de mulheres, sim, é um problema. Várias já escreveram para o blog, mas pararam pelos mais variados motivos - saúde, divergência etc. Seguimos fazendo convites.

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    2. Não conhecia a dita cuja, mas depois de tanto alvoroço, acessei o blog da moça. Já na primeira página a madame escreve coisas meio desconexas. Não tem nada a ver com misoginia ou “misandria”, o problema dela parece autocompaixão, como se outros meninos e meninas não sofressem o que hoje eles chamam de bullying na escola ou na família.

      Por outro lado ela tem um naco de razão, se o bullying constrói feministas, pode fazer o mesmo com os machistas.

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    3. Anonimo volta lá e leia mais um pouco o blogue da Lola vale a pena!

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