Mês de novembro chegou e com ele vem o dia da Consciência Negra. Muitas pessoas questionam o motivo de tal data, reforçando que o que deveríamos ter, realmente, era um dia da Consciência Humana.
Muito admira os questionamentos e as intromissões quando se trata das pautas da população negra. Em outubro tivemos três festividades germânicas no estado, mas os mesmos questionamentos não foram feitos. Não foi cobrado, por exemplo, para que fosse realizado uma festa das tradições joinvilenses, com todas as culturas representadas, ao invés de celebrarmos apenas a cultura germânica.
Esses questionamentos mostram uma tentativa de silenciar quem sempre lutou e luta para ser escutado e representado. Esses questionamentos são frutos de uma cultura racista que nunca permitiu ou viu com bons olhos o que era produzido pela população negra que, aqui na região, insistem em afirmar que não existia, mesmo que a história afirme o contrário e mostre que, em Joinville, os negros e negras – escravizados e libertos – já frequentavam a região, junto com as famílias luso-brasileiras, e ajudaram os primeiros colonizadores, alemães e noruegueses, que aqui chegaram, em 1851. Para quem ainda duvida, visitem o Cemitério dos Imigrantes de Joinville e vejam lá enterrados alguns dos escravos que aqui viveram.
Além do resgate e da luta para que essa história seja propagada e apresentada tanto para moradores, quanto para turistas, a Consciência Negra se faz necessária em uma cidade que continua a insistir ser pertencente a um só povo e que, com isso, contribui para o surgimento de grupos neonazistas e separatistas.
Ao acreditar que o problema racial seria resolvido se fosse silenciado, seguindo a lógica Morgan Freemiana, permitiu-se que o problema crescesse, fazendo surgir diversos casos e denúncias de racismo.
Recentemente, o caso envolvendo a modelo Haeixa Pinheiro, na disputa do concurso para eleger a rainha da 77ª Festa das Flores, viralizou na internet e deixou mais do que evidente a importância de uma data que relembre o sofrimento da população negra no período escravocrata e as consequências dessa época que persistem até hoje. A invisibilidade negra nos concursos de beleza, por exemplo, é parte das grandes consequências geradas pela escravidão em terras brasilis.
Não me agrada esses tipos de concursos, a objetificação da mulher e sua exposição, tendo que corresponder a um padrão pré-estabelecido, reduzindo todas as suas qualidades a simples aparência, tentando criar padrões que demonstrem o que é belo e o que é feio, o que é bom e o que é ruim, o que deve e o que não deve ser aceito, mas diante dos fatos é preciso fazer uma outra análise sobre outra problemática existente: o racismo.
Se é permitido a presença de mulheres brancas disputando a coroa de rainha das Escolas de Samba, no Carnaval, por que não é permitido a presença de mulheres negras na disputa pela coroa em eventos da cultura germânica?
Ainda insistem em nos intitular como extremistas e intolerantes, quando a realidade nos mostra o contrário.
Haeixa pode até não saber, mas representa a negritude joinvilense, todos aqueles e aquelas que se escondem, não querem tocar no assunto, sentem medo. Haeixa está encorajando negros e negras a buscarem a Consciência, a representatividade e o direito de dizer que estamos aqui, que ajudamos a construir essa cidade e que queremos respeito.
Respeito à nossa cultura, as nossas tradições. Respeito à diversidade.
Somos diferentes, sim. Minha pele negra é diferente da pele branca, mas não é isso que gera o racismo. O que gera o racismo é querer usar dessa diferença para sobressair, tirar vantagem das outras pessoas, hierarquizar. Foi isso que foi feito na escravidão e persiste até os dias de hoje. Sobre os que têm e os que não têm, os que mandam e os que obedecem, os que vivem e os que morrem, os que são livres e os que são encarcerados...
Acredito também que devemos ver o que nos une, mas sem um olhar clínico, crítico e analítico do que nos separa, jamais atingiremos a unidade que tanto queremos. É esse olhar clínico que a Consciência Negra tenta trazer todos os anos, todos os meses, todos os dias, mas nunca consegue ser escutada. Os problemas raciais são estruturais no nosso país, não é esvaziando os debates, não é tentando silenciar que iremos chegar a uma solução eficaz. É justamente por meio da escuta, da educação, da pesquisa, da leitura, do conhecimento e, principalmente, da empatia.
Se você quer mesmo ter uma Consciência Humana, comece entendendo que a Consciência Negra é importante, pois com todas as desumanidades que nós enfrentamos nos mantemos de pé, tentando dialogar e ensinar um pouco mais sobre a nossa cultura, a pedir mais respeito, a lutar pelo fim do genocídio e da marginalização da nossa população, da nossa religião, das nossas tradições.
Salve Zumbi! Salve Dandara! Salve Tereza! Salve todos os heróis e heroínas, negros e negras, que morreram lutando por justiça e liberdade! Estão vivos e serão sempre lembrados.
O quilombo é inspiração! UBUNTU!
Seguinte, não vais angariar simpatia de pessoas sensatas com coitadismos. Quando as vítimas daquilo que os politicamente corretos chamam de racismo entenderem que foram vítimas de injuria (e apenas injuria), talvez num futuro próximo deixaremos as divergências raciais de lado.
ResponderExcluirSobre a moça que disputava a rainha das flores, de fato ela é espetacularmente linda, mas não creio que ela mereça ser eleita por algum tipo de “cota de reparação”, ninguém merece passar por esse tipo de coisa. Ela não estava invisível, pelo contrário, por ser a única negra a disputar, foi quem mais chamou atenção. Mas não é apenas a beleza que conta na disputa.
“O que gera o racismo é querer usar dessa diferença para sobressair, tirar vantagem das outras pessoas, hierarquizar.” Quem é o interlocutor desta frase? Difícil saber! Será que a lógica Morganfreemiana está de todo errada? Não é isto que estás fazendo, diferenciando para depois tentar equalizar? Será que dá certo? Até o momento parece que não.
Em tempo, quantas festas germânicas ocorreram na Bahia?
Coitadismo? Injuria? Cara, você realmente está bem por fora do tema.
ExcluirNinguém falou que a Haeixa merece ser eleita por causa da cor, você está distorcendo o que foi falado. Não, ela não foi a que mais chamou a atenção e estava sim invisível. Na foto oficial do A Notícia ela estava lá trás e foi isso que fez as pessoas votarem nela. Por ser a única negra o que chamou a atenção foi a falta de diversidade étnica no concurso.
Estude alguns teóricos como Lélia Gonzales, Carlos Moore, Abdias do Nascimento, Milton Santos, Angela Davis... são vários os interlocutores desta frase. Não fui eu que diferenciei, cara. Quem fez isso foi Charles Darwin.
Não sei quantas festas germânicas, mas parece que, na Bahia, os concursos de beleza apresentam o mesmo racismo daqui, dá só uma olhadinha no link: http://goo.gl/2jedHd
Aproveita e lê esse texto: http://pitacosdeumsociologo.blogspot.com.br/2013/05/mais-sobre-racismo-e-padrao-de-beleza-o.html
Abraço.
Boa Felipe...ótimo texto!!!
ResponderExcluirValeu, Leco!
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