segunda-feira, 17 de fevereiro de 2014

A reforma administrativa e o "Aurora"

POR JORDI CASTAN

Nem todos os episódios do início da história de Joinville são suficientemente conhecidos e estão propriamente documentados. Algumas histórias correm o risco de se perder se não forem recuperadas pelo trabalho dos pesquisadores e estudiosos. Conhecer a nossa história recente é importante, para não cometer os mesmos erros do passado.
A chamada reforma administrativa, proposta pelo prefeito Udo Dohler, imediatamente trouxe a memória o episódio protagonizado por Adolph Gottlieb, capitão do navio “Aurora”, que partiu do porto de Hamburgo em janeiro de 1859, com destino a Joinville, naquela época denominada Colônia Dona Francisca.  A saída do porto de Hamburgo foi num dia cinzento e frio, com água e neve batendo a coberta do “Aurora” e dezenas de famílias agasalhadas com pesadas roupas de lã, para se proteger do vento cortante.
À medida que o navio se dirigiu ao sul, as temperaturas ficaram mais amenas e, na costa do Algarve, os tripulantes e os passageiros desfrutaram de um clima quase primaveril. A costa de Marrocos, próximo a Casablanca, os recebeu com um calor sufocante, acentuado pela vestimenta pesada e de cores escuras que todos usavam.
Quanto mais ao sul o “Aurora” rumava, maior o calor e a umidade. E aos poucos também começava a ficar evidente o fedor que exalavam os passageiros e a tripulação, vestidos ainda com pesadas roupas de lã e sem adequadas condições de higiene a bordo. A situação chegou a ficar insuportável e mais de uma dama perdeu o conhecimento, tal a fetidez que exalavam todos. Foi neste momento em que o Capitão Adolph Gottlieb tomou uma atitude heroica e chamou a todos, passageiros e tripulantes, à coberta.
- “As condições de higiene ficaram insustentáveis e para preservar a saúde de todos a bordo, ordeno que troquem de roupas.” Todos quedaram atônitos ante uma ordem deste tipo, nunca vista antes num navio da companhia. Ante o espanto e inação de todos, o capitão bradou: “Helmuth troque as calças com o Norbert, Norbert troque de camisa com o Klaus, Klaus troque de cuecas com o Wolfgang, Wolfgang você troque as meias com o Joseph.” E seguiu dando ordens imperiosas. “Helga, troque a camisola com a Eva, Eva troque as suas anáguas com a Hilde, Hilde troque a blusa com a Heidi, Heidi troque as meias com a Gertrude.” E assim até que todos a bordo trocaram toda a roupa.
O “Aurora” continuou a singrar até chegar à foz do Cachoeira, e a sua chegada foi anunciada pela fetidez antes que se fizesse visível para os habitantes da incipiente colônia. Porque será que a reforma administrativa anunciada pelo prefeito me fez relembrar do episódio do “Aurora” e do capitão Adolph Gottlieb?

11 comentários:

  1. Talvez porque você já esteve lá e saiba muito bem como funciona...

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    1. Ajuda muito a entender como as coisas funcionam ou por que não funcionam.

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  2. quer conhecer o trabalho do jordi ...visita a praça no boa vista que ele projetou .....

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    1. Que nada, melhor ir a Venezuela, antes, quando a leite econômica opressora era dona do pedaço, Jordi fez uns trabalhos por lá, né Jordi? E tem uns esquerdinhas que ainda o acompanham em suas "criticas". Entenda-se esta situação como conveniência, não é?!

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    2. Sim, trabalhei la seis anos em projetos de Roberto Burle Marx. Você tem voltado a beber ou andou cheirando alguma coisa? Por que o seu nivel de imbecilidade tem aumentado sensivelmente.

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  3. Putz...habilidade inconstestavel...em buscar na história "primitiva"...a realidade do contemporaneo...Parbabéns Jordi...!!!......Du Von Wolff

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  4. No Aurora pelo menos eles tentavam disfarçar a fedentina trocando de roupas, por aqui nem com desinfetante o Udo consegue...

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  5. Jordi ....avisa aquele seu amigo la da associação estrada da ilha que o transito de caminhões parados em cima da ciclovia em frente uma determinada empresa na qual tambem esta em cima da ciclovia impede a passagem de ciclistas e carros ....obrigado

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  6. Pra mim essa mudança pareceu mais Il Gattopardo, do Lampedusa. Tudo mudar para que nada mude.

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  7. Nada mudou... como na verdade nada muda... apenas se revestem de uma certa "modernidade".

    Isso me lembra a arca de Noé.
    Lá dentro era tão fedido, mas tão fedido, que as pessoas ó não abandonavam o navio porque sabiam que a coisa lá fora era pior.

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