terça-feira, 29 de maio de 2018

Você entrava no avião com uma dessas pessoas a pilotar?

POR JOSÉ ANTÓNIO BAÇO
Que tal um exercício de imaginação. Você vai numa viagem de avião e tem a oportunidade de escolher os pilotos, a tripulação e até as pessoas que vão embarcar ao seu lado. É claro que a escolha recairia em pessoas nas quais pudesse confiar e, em especial no caso dos pilotos, gente que saiba o que está fazendo. Ou seja, acima de tudo, pessoas que demonstrem ter conhecimento suficiente para fazer o avião voar. E ficar no ar, claro. É preciso ter estabilidade emocional.

Na política também é assim. Não dá para caminhar ao lado de gente manipulável, que não sabe o que faz e demonstra falta de controle sobre as emoções. Tudo isso para falar no período entre 2013 e 2016, que resultou na queda de Dilma Rousseff e levou o Brasil para o estado caótico em que o país se encontra hoje. O golpe aconteceu e, ao contrário do que muitos esperavam, a situação ficou descontrolada. 

Há uma lógica simples: a democracia é um valor muito frágil e qualquer ruptura pode ter resultados devastadores. Se hoje o Brasil está mergulhado nesse caos, muito é devido ao fato de as pessoas - as que saíram às ruas a fora do golpe -  não terem olhado ao redor para ver ao lado de quem estavam a marchar. Não era gente recomendável. E o filme a seguir mostra uma série de intervenientes que ficaram famosos nos últimos tempos. A maluquice é quem manda.

Antes de ver o filme, fica a pergunta. Você teria coragem de entrar no avião se soubesse uma dessas pessoas era o comandante?  


segunda-feira, 28 de maio de 2018

Olé!


Temei, joinvilenses. O futuro de Joinville pode ser lúgubre e assustador


POR JORDI CASTAN
Uma cidade será tão inovadora, inteligente ou avançada como a soma da totalidade da sua população. O planejamento urbano é um tema importante demais para ser deixado na mão de um pequeno grupo de gênios. Apesar de ser um tema complexo e que requer conhecimento técnico específico, uma peculiaridade do planejamento urbano é que todos os que aqui moram e vivem a cidade podem e devem contribuir.

O primeiro erro é o de pressupor que seja preciso um conhecimento especial, um conhecimento restrito a um pequeno grupo de “çábios” encastelados numa torre de marfim. Eis o problema: quanto mais encastelados e afastados da realidade das ruas e do dia a dia da cidade, mais absurdas e descabeladas serão as soluções encontradas.

O antigo IPPUJ é um exemplo disso. Os donos da verdade e os detentores do conhecimento fizeram mais trapalhadas que acertos, partiam da premissa que o planejamento urbano era complexo demais para que as pessoas comuns pudessem compreendê-lo e que gente sem mestrados e doutorados não poderia contribuir com suas sugestões.

Não lembro que em nenhuma das mais de duas dezenas de audiências públicas em que participei nos últimos anos, uma única sugestão feita por alguém da plateia fosse considerada, anotada e incluída na discussão. Menos ainda que o autor da proposta recebesse uma resposta, ou pudesse rastrear a análise da sua proposta.

Na verdade, as audiências públicas foram convertidas, e continuam sendo, em pantomimas homologatórias. Com o único objetivo de fazer de conta que a população é ouvida. Não canso de repetir que até pode ser que seja ouvida, mas faz tempo que não é escutada.
É por conta desta arrogância superlativa que vemos, a cada dia, novas intervenções no tecido urbano uma pior que a outra. Desde as ciclofaixas que unem nada a coisa alguma, criando uma falsa sensação de segurança para o ciclista. De fato são ciclofarsas que acabam tendo o efeito contrario do pretendido.

As estatísticas estão aí para mostrar que o número de acidentes envolvendo ciclistas tem aumentado. Há mais ciclistas? Deve haver, mas também há mais acidentes. Portanto, as ciclofaixas não melhoraram a segurança dos ciclistas, são verdadeiras armadilhas.
A LOT permite que um maior número de atividades geradoras de tráfego se instalem num maior número de ruas. Até uma criança de oito anos sabe que polos geradores de tráfego, como escolas, supermercados, indústrias, academias ou bares e restaurantes aumentam o número de pessoas e veículos que se dirigem a aquele empreendimento.

Portanto, aquelas ruas que já não davam conta do trânsito local agora terão que absorver um volume ainda maior e o risco de colapso será cada vez mais forte. Parques, praças, ruas arborizadas e ambientes mais caminháveis melhoram a saúde das pessoas, reduzem o risco de doenças e melhoram a qualidade do ar. Em Joinville a cobertura arbórea urbana diminui a cada ano, poucas gestões municipais tem tido uma relação mais perversa com o verde urbano e com a qualidade de vida dos joinvilenses que esta.

Ignorar o bom senso, alijar a participação da sociedade do debate do modelo de cidade e desconsiderar a sabedoria e o conhecimento popular não é a melhor solução para o futuro desta cidade. Mas é o que fazem as gestões  autocráticas. O resultado é que tanto o gestor, como seu séquito de tecnocratas, tem se convertido no “faz-me rir” da maioria da população. Essa gente tem caído no descrédito e é motivo de chacota de um extremo ao outro da cidade.

Extinguir o IPPUJ foi um erro. Desmantelar o pouco conhecimento que o instituto foi capaz de produzir ao longo de três décadas foi desastroso, mas foi o preço a pagar por planejar de costas ao cidadão. A realidade atual é ainda pior. Sem conhecimento, sem referências, sem capital humano capaz e sem a humildade de reconhecer que estão perdidos e sem rumo. O futuro é lúgubre e assustador.

sexta-feira, 25 de maio de 2018

Efeito Dunning-Kruger: os idiotas não sabem que são idiotas

POR JOSÉ ANTÓNIO BAÇO
“Como essa gente fazia para passar vergonha antes da internet?”. É uma pergunta que muitas pessoas fazem no dia a dia. Afinal, as manifestações de idiotia ganharam uma proporção desmesurada com a world wide web e, em especial, as redes sociais. Não por acaso a expressão “vergonha alheia” entrou para a fraseologia do dia a dia dos falantes de língua portuguesa. Mas a ciência tem uma explicação: os idiotas não sabem que são idiotas.

Já ouviu falar no Efeito Dunning-Kruger? É um fenômeno identificado pelos investigadores David Dunning e Justin Kruger há algum tempo, quando trabalhavam na Universidade de Cornell, nos Estados Unidos. O que é o tal efeito? Simples. É uma situação muito comum nos dias de hoje: as pessoas com poucos conhecimentos acreditam saber mais do que as pessoas melhor preparadas.

É mais ou menos o seguinte: quando você entra numa discussão (acontece muito no online), uma pessoa que se informa pelas redes sociais, em especial Whatsapp e Facebook, acha que tem uma capacidade de argumentação superior a alguém com um doutorado, por exemplo. Dominadas pelo anti-intelectualismo, as redes sociais fizeram tábula rasa do conhecimento. E o resultado é a ideia de superioridade das pessoas menos cultas. Ora, sem meias palavras: são os ignorantes.

Uma pessoa com maior instrução (não estou a falar de educação) sabe que tem muitos vazios de conhecimento a preencher. O que, muitas vezes, chega a provocar insegurança. Já os indivíduos de pouco conhecimento não têm dúvidas. Só certezas. Ou seja, a incompetência destes últimos os impede de reconhecer as suas próprias limitações. É o que Dunning e Kruger denominaram “superioridade ilusória”.

O mais curioso no estudo dos dois pesquisadores é a constatação de um fenômeno que afeta os melhor preparados. Por identificarem muitas lacunas no próprio conhecimento, essas pessoas acabam se sentindo uma espécie de fraude. E passam a sofrer daquilo que Dunning e Kruger chamaram “síndrome do impostor”. Eis a conclusão: a ignorância gera confiança (ilusória, claro) e o conhecimento gera dúvidas.

O estudo se ocupou de tão distintas como raciocínio lógico, compreensão de texto, conhecimento financeiro, matemática, inteligência emocional, xadrez e até dirigir automóveis. O resultado foi de que as pessoas menos preparadas têm dificuldades em reconhecer a própria incompetência, ao mesmo tempo que falham ao reconhecer as qualidades das pessoas mais preparadas.

Onde já vimos isso? Ora, Dunning e Kruger investiram enorme tempo e recursos da universidade em pesquisas. Mas talvez nem fosse necessário. Era só dar uma passadinha nas redes sociais. Ou dar olhada nos comentários anônimos aqui no Chuva Ácida. 

É a dança da Chuva.

A seguir, um filme sobre o Efeito Dunning-Kruger.





As ideias dos anônimos. Ou a falta delas...*

POR ANÔNIMOS
Foi o que restou dos esquerdistas, atacar uma foto do Moro em eventos no qual ele foi convidado. É uma mistura de vários sentimentos. No caso do Baço o principal é a inveja.

Narcisista ou não ele é um excelente profissional. Seus despachos foram aceitos por juízes e ministros das cortes mais elevadas, e ele colocou muito peixe grande atrás das grades. Sobre a foto que João Dória (candidato a governo de SP) tirou ao lado do juiz, é realmente uma bobagem.

Primeiro porque João Dória é simplesmente um candidato (goste ou não dele, é um sujeito ilibado, não está envolvido em corrupção!) que tentou surfar na onda da Lava-Jato. Segundo porque qualquer um pode tirar a foto e publicar com ou sem o consentimento do juiz. Terceiro, Sérgio Moro representou em NY a força-tarefa da Lava-Jato num evento que tinha esse objetivo. Agora, quer conhecer um sujeito narcisista? Tem um capo safado bem narcisista no xilindró da PF em Curitiba.

“O comitê de direitos humanos aceita o pedido de medidas cautelares de Lula”. Brincadeira, eles rejeitaram porque as instituições estão funcionando no Brasil... “Meudeus! Vão prender o tucano Azeredo!!!! Estamos desolados!!!! #SQN

Viu como ser coerente e honesto consigo mesmo é libertador? Você não tem amarras e não é obrigado a tentar convencer outras pessoas a aceitar o seu bandido de estimação.

O Moro é um tucano togado. Volta Lula, o presidento Lula que, tirou 600 milhões da pobreza, inventou o futebol, descobriu o Brasil, adotou Che, Fidel e Stalin como filhos, foi à Lua, ressuscitou no 3° dia, inventou o petróleo, lutou com Goku, mostrou o caminho de volta pra casa em "Caverna do Dragão", atirou o pau no gato e não morreu, descobriu a gravidade, inventou o avião, é a alma mais honesta e nunca foi dono do Triplex.

Quando não se tem condição de contestar a mensagem, ataque o mensageiro.

* A peça acima resulta de uma compilação das respostas dos anônimos ao texto publicado na terça-feira, sobre o narcisismo do juiz Sérgio Moro. Há duas hipóteses: 1. o anônimo é uma única pessoa que faz muitos comentários. 2. os anônimos escrevem todos as mesmas coisas. A lógica é bisonhamente repetitiva: atacar o autor, defender os seus heróis conservadores e acabar sempre a falar de Lula e do PT.

quarta-feira, 23 de maio de 2018

Seguidores de Bolsonaro e o mico do tamanho do King Kong

POR ET BARTHES
As pessoas perderam mesmo a noção de ridículo. O cara quer votar em Jair Bolsonaro? Tudo bem. É um direito. Mas daí a pagar um mico do tamanho do King Kong nas redes sociais é um passo muito louco. "Eu sou robô do Bolsonaro"? Putz. Fica a pergunta: como essa gente fazia para passar vergonha antes da internet? Com você, leitor e leitora, o vídeo devidamente adaptado com uma música que diz tudo.


terça-feira, 22 de maio de 2018

Moro é um deslumbrado ("diz com quem andas e direi quem és")


POR JOSÉ ANTÓNIO BAÇO
Sérgio Moro é um deslumbrado. E está a viver uma espécie egotrip que o faz se sentir um menino superpoderoso, quase uma divindade a pairar sobre os mortais comuns. No seu delírio narcísico, o juiz parece só ter olhos para si mesmo e para a imagem que vê refletida. Só isso explica o fato de aparecer, repetidas vezes, ao lado de tucanos. O juiz parece se achar acima do ensinamento bíblico: “diz-me com quem andas, dir-te-ei quem és”.

A gestão da imagem não é o forte de Sérgio Moro. É que ele não consegue vencer o narcisismo. “Diz-me com quem andas” é um aviso para as figuras tóxicas capazes de contagiar quem delas se acerca. Mas o aviso parece não incomodar o juiz, que já demonstrou não ter pudores em aparecer ao lado de políticos tucanos. A imagem mais famosa é aquela em que aparece em divertida cavaqueira com Aécio Neves, fulaninho conhecido no submundo das delações como “Mineirinho”.

O último caso foi o episódio de Nova Iorque, em que Sérgio Moro aparece sorridente ao lado de João Doria, candidato do PSDB ao governo de São Paulo. Mas para o menino superpoderoso de Curitiba, que não consegue desviar o olhar do próprio umbigo, isso é apenas uma bobagem. “Estou num evento social e tiro uma foto, isso não significa nada. É uma bobagem isso. Não me arrependo nem um minuto de aceitar esses convites”, teria declarado à imprensa nossa de cada dia.

Narciso acha bobagem o que não é espelho. Aliás, todos sabemos da frase secular segundo a qual “à mulher de César não basta ser honesta, tem que parecer honesta”. Mas para Sérgio Moro esse adágio é letra morta. Aparecer ao lado do tucanato (sempre) não tem qualquer importância, é apenas bobagem. Por quê? Porque o narcisismo traz sintomas como a arrogância, os sentimentos de autoridade e as atitudes abusivas. O deslumbramento é sempre inimigo do bom-senso.

É a dança da chuva.



segunda-feira, 21 de maio de 2018

Joinville aposta nos carros voadores


POR JORDI CASTAN
Já critiquei muito, neste blog e outros espaços de opinião, o planejamento e a gestão de Joinville. O fato é que estão perdidas num labirinto, aparentemente sem saída. O prefeito não sabe sair do enrosco em que a sua própria inépcia e a incompetência da equipe que escolheu colocaram a cidade.

Depois das intervenções desastradas - em volta do Mercado Municipal primeiro e da Beira Rio depois - a própria “duplicação” da avenida Santos Dumont acabou por ser outra trapalhada. Mas já se sabe que trapalhões fazem trapalhadas.

Agora é a vez do cruzamento da Ottokar Doerffel com a Marques de Olinda e a ideia genial de utilizar o Waze como ferramenta de planejamento. A ideia passa por melhorar a mobilidade urbana convertendo a Rua Marajó em parte de um inusitado binário, coisa que deve fazer que os locais e os turistas ficarem vagando eternamente no loop criado pelos técnicos, em seus devaneios oníricos. 

Quando tudo parecia perdido e quando nada mais fazia sentido, o prefeito e os Udoboys buscaram em um outro aplicativo tecnológico a solução aos problemas do trânsito de Joinville. Sem saber o que fazer, o prefeito e os técnicos da SEPUD solicitaram ajuda a São Cristovão, padroeiro dos motoristas, que prontamente os encaminhou para a Uber.

A solução para o caos em que a cidade está mergulhada vem da visão inovadora e moderna da Uber. Sim, a Uber vai nos salvar. O trânsito de Joinville tem solução. Obrigado, Senhor por nos tirar dessa sinuca de bico em que a incompetência, a cobiça e a LOT nos meteram.
Se fôssemos depender dos técnicos, estávamos no mato sem cachorro. Só olhar o que tem preparado para o entorno do novo supermercado Condor, no Bairro América, já poria os cabelos do Karnal em pé. Uma verdadeira enjambração. Mais uma.

Querer resolver a mobilidade sem conhecimento, sem sair do escritório e sem entender que cada novo polo gerador de tráfego autorizado cria uma maior demanda é mais do mesmo. Para um sistema que já está saturado, mudar o sentido da rua não resolve mais.

A Joinville moderna, inovadora e global deverá ser uma das cidades que se somem a São Francisco, Los Angeles e Dubai e adotem o novo serviço dos veículos voadores da Uber. O prestigioso Financial Times informa que a Uber busca cidades candidatas a receber o serviço de carros voadores. Nenhuma outra cidade reúne mais pré-requisitos que Joinville.

O trânsito já faz tempo que parou, o pavimento desapareceu, os buracos menores foram tomados pelos maiores. Os técnicos não têm noção do que fazer, Joinville é a cidade perfeita para candidatar-se ao novo serviço que a Uber tem previsto iniciar comercialmente em 2023. Antes, portanto, que esteja pronta a idílica Joinville de 2030. Aquela cidade que o prefeito sonha e os joinvilenses teme. Enquanto ele e seus acólitos imaginam e propagam uma visão quase paradisíaca, a Joinville atual projeta um cenário mais próximo do imaginado por Ridley Scott no filme Blade Runner. O tempo dirá quem estava certo. Mas até hoje todas as cartas estão mais para Blade Runner que para o paraíso do onkel.

Voltando aos carros voadores, a Uber abriu processo seletivo em que solicita que cidades aspirantes a cidades do futuro. E nessa coisa de falar de futuro Joinville é campeã. Ou metrópoles que enfrentam congestionamentos infernais, no tema metrópoles estamos mal, não superamos a fase pequena vila provinciana do interior. Mas se o pessoal da Uber vier e experimentar as empadas do Jerke e a cerveja do Opa, este quesito estará facilmente resolvido.

Sobre os congestionamentos, não precisamos dizer nada. São infernais e neste quesito não teremos menos de 8,5 pontos. A outra grande vantagem ajuda a candidatura de Joinville é que a Uber quer implantar o serviço, também fora dos Estados Unidos. Já há planos para iniciar o “serviço de compartilhamento de jornadas aéreas” em Dallas, Los Angeles e Dubai.

Para dar o empurrãozinho que faltava, a Embraer apresentou, no dia 8 de maio, a ilustração do projeto que desenvolve para a Uber do veículo voador elétrico para transporte urbano, conhecido pela sigla eVTOL e que deverá estar operacional até 2020. Assim em quanto Joinville segue com o transporte coletivo operado pelas duas “irmãs”, o mundo avança a passos de gigante.

Assim que vamos esquecer os buracos, os congestionamentos, a inépcia, a incompetência, a falta de planejamento e de gestão e acreditar que bem antes de 2030 Joinville será a cidade dos carros voadores de uso compartilhado. Só é preciso que os Udoboys preencham o formulário da Uber e não percam o prazo para candidatar-se a cidade do futuro, porque a cidade do presente já foi.

sexta-feira, 18 de maio de 2018

É a favor da pena de morte mas não tem colhões para ser o carrasco

POR JOSÉ ANTÓNIO BAÇO
O leitor e a leitora sabem que é Paul Kersey? É preciso ter uma certa idade e alguma cultura cinematográfica – ou a falta dela – para saber que estou a falar do personagem do filme “Desejo de Matar” (Death Wish), interpretado pelo ator Charles Bronson, na década de 70.

Se nunca ouviu falar, aí vai uma pequena sinopse. Paul Kersey é um arquiteto que vive em Nova Iorque e um dia tem a vida virada pelo avesso. Um trio de anormais invade a sua casa, mata a mulher e viola a filha, que acaba num estado quase vegetativo.

Ante a falta de ação da polícia para prender os marginais, o pacato Paul Kersey decide sair pessoalmente à caça dos mauzões. Ou melhor, de todos os mauzões. O arquiteto se transforma num justiceiro e enche a cidade de cadáveres e mais cadáveres.

Mas por que trago este tema “charlesbronsoniano”? É para introduzir um comentário sobre os defensores da pena de morte. Porque tenho ouvido gente demais a insistir no tema: na política, na comunicação social, nas redes sociais. Quem nunca ouviu ou leu coisas como “bandido bom é bandido morto”?

Um aviso. Não pretendo discutir a pena de morte ou falar de direitos humanos – muita gente acha que nem se devem aplicar à bandidagem. E deixo logo claro que sou contra a pena capital. Pronto. Mas o objetivo é falar dos colhões desses tipos que andam por aí a defender a pena capital.

Eis a questão: você, que é a favor da pena de morte, teria coragem de ser o executor da pena? Ou seja, matar o condenado com as próprias mãos? Duvido. A maioria dessas pessoas não tem tomates para fazer isso pessoalmente. Ou seja, são a favor da pena de morte, mas por interposta pessoa e sem olhar a morte nos olhos. Tem que ser Estado executar a sentença. 

Até que ponto você seria um Paul Kersey? Falar é fácil. Muitas pessoas têm a coragem “moral” para defender a pena de morte, mas falta-lhes a coragem “física” para a aplicar. Diga, leitor ou leitora, se você era capaz de ser o carrasco, olhando a sua vítima olho no olho? Duvido outra vez. Isso explica esse desejo de uma lei que permita ao Estado a fazer o trabalho sujo.

Ok... temos que considerar os fundamentos psicológicos e imaginar que alguém seria capaz de entrar nas vestes de carrasco (Menninger fala nas componentes de hostilidade: o desejo de matar, de ser morto e de morrer). É possível que alguém tenha essa coragem. Mas aí temos um dilema.

Pense bem. Se você for mesmo capaz de ser o carrasco, então está a se transformar naquilo que repudia: uma pessoa capaz de tirar a vida de outra. E, pela sua lógica, o que deve acontecer a alguém capaz de matar? A pena de morte. Eis uma aporia, senhoras e senhores (e lá estou eu novamente com os relativismos).

Enfim, como diz a antiga expressão, “quando se instala a pena de morte, a primeira a morrer é a inteligência”. E em tempo: os filmes com o Paul Kersey são muito ruins, uma morte lenta do cinema.

É a dança da chuva.

quarta-feira, 16 de maio de 2018

A dimensão do problema de moradia no Brasil e em Joinville

POR IVAN ROCHA DE OLIVEIRA
“Não sei o que torna o homem mais conservador: conhecer apenas o presente, ou apenas o passado” 
John Maynard Keynes

O incêndio que fez desabar o prédio de 26 andares no centro de São Paulo foi notícia na semana passada no Brasil e em todo o mundo. O episódio fez surgir alguma discussão sobre a questão da habitação no país, mas logo o tema desapareceu da mídia. No entanto, é preciso não abandonar o debate sobre a questão da habitação.

O problema de moradia é absolutamente escandaloso no Brasil e em Joinville. Gostaria de começar esse texto de modo menos enfático, mas me parece impossível. A indignação moral com aqueles que tem seus salários consumidos improdutivamente por aluguéis, que têm suas horas de lazer diminuídas por morarem longe dos locais de lazer, por morarem em condições deploráveis é condição básica para se voltar a esse problema social. 

O problema é escandaloso porque as sociedades modernas já criaram condições de resolvê-lo. Não há, rigorosamente falando, falta de casas e condições de moradia no Brasil e em Joinville. Para ficarmos apenas nessa última, o censo de 2010 mostrava que há 12.111 lotes baldios, 12.331 domicílios vagos e mais de 17 mil lotes construídos com coeficiente de aproveitamento menor que 10%. A fila da habitação tem números elásticos e nem sempre muito transparentes, mas há uma estimativa de que 15 mil famílias estejam à espera da casa própria. Ao mesmo tempo, há altíssima concentração de terras na cidade. Os dados não estão inteiramente atualizados, mas um extrato deles pode ser consultado na importante dissertação de Naum Alves Santana (“A produção do espaço urbano e os loteamentos na cidade de Joinville”). 

Ou seja, a desigualdade é a questão subjacente ao problema da moradia. Não se trata aqui de estigmatizar esse tipo de diagnóstico e sugerir que se trata de um tipo de visão que poderia ser compartilhado apenas por pessoas pouco razoáveis, empenhadas autoritariamente em sobrepujar a noção de propriedade. Ao contrário, o que está em questão aqui é simplesmente notar que dada essa desigualdade existem mecanismos no interior do enquadramento da frágil democracia brasileira que são capazes de fazer essa situação ser modificada. O Estatuto das Cidades, de 2001, instituiu o IPTU progressivo (entre outras ferramentas) que permite uma melhor distribuição da propriedade. No fundo se trata disso: de garantir que a propriedade verdadeiramente se realize. 

É claro que dada a morosidade dos mecanismos legais existem os movimentos sociais que visam pressionar que a legislação seja cumprida. O MTST - Movimento dos Trabalhadores Sem Teto, no último período, sobretudo após junho de 2013, tem cumprido um papel importante em publicizar o problema e lutar pela sua superação. 

É importante conhecer o passado do problema (a concentração de terras desde a invasão portuguesa), o presente dela (que extravasa em muito os números aqui apresentados e pode ser constatado por seu conhecido, prima ou irmão espremido no aluguel ou vivendo em condições precárias). Mas é preciso também um pouco de humanidade e se indignar ao ver um igual a você sem um teto digno para morar. Se não formos capazes dessa empatia moral receio que teremos fracassado enquanto sociedade.